sábado, 1 de setembro de 2012

COISAS DA VIDA


IMORTAIS SENHORES DE SI MESMOS

            171.171 anos AEM (*)
            O sol castigava as planícies, vales, montanhas, mares, rios, lagos, enfim, todo o planeta. A seca assolava geral, mas Hungh, na sua esperteza, colheu e guardou, para ele e os que o acompanhava, grande quantidade da planta super verde que, quando mascada, dava ânimo, euforia, alegria e deixava tudo melhor naqueles dias de vida duríssima. Porém com o passar do tempo até os pés colhidos e armazenados no fundo fresco da caverna estavam secos e difíceis de mascar.
            Certo dia Hingh, filho de Hungh com Hangha, beirando seus dez anos, brincava na entrada da caverna com um galho seco da planta e um pedaço de cristal. Ele colocava o cristal diante dos olhos e sorria vendo os tamanhos das formigas, que estavam tirando nacos das folhas secas do galho, com o qual brincava aumentarem seus tamanhos. Num determinado momento o sol, a pino, fez com que sua incidência sobre o cristal, provocasse fogo na planta seca. Hingh começou a gritar e seu pai veio acudi-lo:
            - Hingh up ag ting fog ig?   (traduzindo: - Hingh, o que houve?)
            - Hingh fex lux fol id fum(- Hingh fez luz e fumaça!)
Hungh pegou o galho que queimava e produzia muita fumaça e a aspirou. Ao inalá-la deu um grito:
            - Iiiiiiiiiiiiçá! Ist it meg masc! (- Içá! Isto é melhor do que mascar a planta!)
Hingh explicou ao pai como havia conseguido por fogo na plantinha seca; e a partir daquele momento foi inventado o isqueiro natural e uma moderníssima ideia veio à cabeça de Hungh: Trocar pequenas porções da planta seca por pedaços de carnes, frutas, raízes, peixes, peles e, etc... Ele fornecia, ainda, um caquinho do isqueiro natural e ensinava a usá-lo.
            Espalhou-se pela planície, daquela região, a mágica que Hungh trocava por víveres e isto o tornou poderoso.
            Fungt, um pretensioso a tomar o lugar do chefe dos nômades e com inveja, roubou uma grande quantidade das plantas secas de Hungh e fugiu para o outro lado da planície. Fornecia a quatro amigos enormes, que o acompanhou, quantidades da planta e deu a cada, um pedaço do cristal mágico, isto, em troca de sua proteção.
            A seca prosseguia e já durava um ano. Fungt e Hungh entraram em guerra tentando tirar um do outro o que ainda restava da planta seca.
Os indivíduos se matavam por um galhinho por mais pequenino que fosse. Estavam dependentes da fumaça que ele produzia quando queimado; porém não existia sequer um ramozinho em lugar nenhum conhecido por eles.
            Não chovia a mais de um ano e nada brotava naquela região do planeta e o que existiu esturricou-se pelo infernal calor. Todos que habitavam aquela região pereceram e com eles o segredo da planta que, queimada, produzia uma fumaça que, ao ser inalado, dava uma ilusão idiota que os tornavam “imortais senhores de si mesmos”.

            Será que a mágica descoberta pelos aborígenes pereceu com eles? Será que a ideia de Hungh, assim como a planta, se alastrou?

(*)AEM = Antes da Era Moderna

Nenhum comentário:

Postar um comentário