SÁBADO NO JUBILEU
Na
Capital Sideral dos Sonhos qualquer evento importante é de praxe ocorrer concursos de fantasias. Por isso, na semana do enésimo aniversário de Virtuália
a grande expectativa, no penúltimo dia das festas, sábado à noite - que também
é o jubileu do padroeiro São Nunca do
Vale do Rio do Peixe – é o grande desfile de fantasias. Só podem participar os
habitantes do Vale Virtualiano do Rio do Peixe, ou seja, as cidades de
Virtuália, Realópoles e Analogicópoles.
-
Caramba, carambolas e caracóis! Não vou poder participar fantasiado do “Gaúcho,
- O Rei dos Coxilos!” Se vestir bombacha, chapéu, pala e botas vou ficar
parecendo àquele presidente baixinho e gordinho do início da década de
cinquenta! – lamentava-se Juliano Scheiβe em seu atelier de costuras e
continuava a pensar em voz alta:
-
Mas eu tenho que continuar o regime para “engordecer” e participar do concurso
de Rei Momo, pois dos cento e vinte quilos mínimo exigidos faltam-me dezenove
quilos e com minha altura de um metro e sessenta e dois centímetros pareço que
já tenho duzentos e vinte quilos, mas vai valer a pena! Ahhhhhhhhh, ser o Rei
do Carnaval é o meu maior desejo, depois – é claro – de já ser professor de
Zoologia Pré-histórica do Estado; eu vou conseguir nem que eu exploda de gordo!
– o grande delegado de oriximbanda parecia que estava sem inspiração até
que:
-
Mas o que vou vestir no desfile de sábado à noite... o que... o que... o que...
o que...eureeeekaaaa! Já sei, já sei e vou arrasar! Ah, Juju, grande Lisbela tu
és um gênio, se não vejamos:
- O
Julho Baiano, meu maior rival em tudo, com certeza, vai desfilar fantasiado de baiana e eu vou matar dois Java
porcos com uma só cacetada, ou seja, vou aproveitar minha gordura e desfilar de
Carmem Merenda, só que gravidíssima! Ah!Ah!Ah! Vou matar a pau!
Chega o esperado sábado.
A Praça Bispo-Cardeal estava lotada de
pessoas de toda a região e no centro, da mesma, a passarela montada. Ju era o
penúltimo que desfilava. Todo “senhora” de si flutuava como uma baiana nos
últimos dias de gravidez. A fantasia
multicolorida valorizava a enorme pança.
-
Já ganhou! Já ganhou! – gritava eufórico Hibisco, seu companheiro – que é
conhecido como Beijo, - e sua família, incluindo, o Zé das Flores mais o pequeno, peludo e estranho ETevaldo.
Ju terminou seu desfile esvaindo-se em lágrimas de emoção e, com certeza, achava que
já tinha ganhado o prêmio.
Prêmio? Ah! - e que prêmio: Pacote
completo (passagens de ida e volta, estadia e ingressos para duas pessoas) para
assistirem a decisão do Brasileirão série D, quando for um GRENAL, - se isso
acontecer um dia.
Todos aguardavam o último candidato a
desfilar que, por sinal, seria o Julho Baiano. Ninguém sabia como seria a
fantasia, pois ele, até ser chamado para entrar na passarela, se escondera
dentro de sua Towner furgão cor de rosa marca- texto.
- E,
por último a desfilar... que entre o Juuuuulho Baaaaiaannnoooo! – gritou o
prefeito Jairo Edson, imitando uma voz
de FM.
Todo garboso entrou o Julho e o
prefeito narrava a composição da fantasia:
-
Julho está fantasiado de Gaúcho Alegre da Fronteira e traja: bombacha rosa
choque em acabamentos dourados; botas vermelhas com detalhes branco, camisa pink;
lenço lilás; poncho com as cores do arco-íris; fita-apache vermelha e azul
segurando a peruca e nas mãos um laço de doze braças enfeitado com purpurinas!
-
Ohhhhhhhhhh! – exclamava a multidão e, Julho, deslizava sobre a passarela, boleava
o laço por sobre a cabeça e cantava com seu sotaque baiano:
“Gaucho
eu sou...
Nasci
feliz...
Nesta
terra formosa
Onde
estou...
No sul
deste meu país...”
Juliano ao ver aquilo arregalou os
olhos e desmaiou nos braços do Beijo e não viu o fim da festa, nem a vitória,
indireta, da Bahia através do Baiano e
nem ouviu o que disse o Delfino Drew – gaúcho macho pra mais de metro – dono do
Restô, que nas festas sempre vai vestido como manda a tradição:
-
Bah! Tchê é isso que denigre a nossa imagem de macho; nunca mais eu patrocino
nada em Virtuália! Só aqui mesmo na Capital Sideral dos Sonhos é que um gaúcho,
fantasiado de baiana prenha, perde para um baiano fantasiado de gaúcho “flozô”!
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