terça-feira, 25 de setembro de 2012

VIDA EM VIRTUÁLIA


SÁBADO NO JUBILEU

Na Capital Sideral dos Sonhos qualquer evento importante é de praxe ocorrer concursos de fantasias. Por isso, na semana do enésimo aniversário de Virtuália a grande expectativa, no penúltimo dia das festas, sábado à noite - que também é o jubileu do padroeiro  São Nunca do Vale do Rio do Peixe – é o grande desfile de fantasias. Só podem participar os habitantes do Vale Virtualiano do Rio do Peixe, ou seja, as cidades de Virtuália, Realópoles e Analogicópoles.
         - Caramba, carambolas e caracóis! Não vou poder participar fantasiado do “Gaúcho, - O Rei dos Coxilos!” Se vestir bombacha, chapéu, pala e botas vou ficar parecendo àquele presidente baixinho e gordinho do início da década de cinquenta! – lamentava-se Juliano Scheiβe em seu atelier de costuras e continuava a pensar em voz alta:
         - Mas eu tenho que continuar o regime para “engordecer” e participar do concurso de Rei Momo, pois dos cento e vinte quilos mínimo exigidos faltam-me dezenove quilos e com minha altura de um metro e sessenta e dois centímetros pareço que já tenho duzentos e vinte quilos, mas vai valer a pena! Ahhhhhhhhh, ser o Rei do Carnaval é o meu maior desejo, depois – é claro – de já ser professor de Zoologia Pré-histórica do Estado; eu vou conseguir nem que eu exploda de gordo! – o grande delegado de oriximbanda parecia que estava sem inspiração até que:
         - Mas o que vou vestir no desfile de sábado à noite... o que... o que... o que... o que...eureeeekaaaa! Já sei, já sei e vou arrasar! Ah, Juju, grande Lisbela tu és um gênio, se não vejamos:
         - O Julho Baiano, meu maior rival em tudo, com certeza, vai desfilar  fantasiado de baiana e eu vou matar dois Java porcos com uma só cacetada, ou seja, vou aproveitar minha gordura e desfilar de Carmem Merenda, só que gravidíssima! Ah!Ah!Ah! Vou matar a pau!
         Chega o esperado sábado.
         A Praça Bispo-Cardeal estava lotada de pessoas de toda a região e no centro, da mesma, a passarela montada. Ju era o penúltimo que desfilava. Todo “senhora” de si flutuava como uma baiana nos últimos dias de gravidez.  A fantasia multicolorida valorizava a enorme pança.
         - Já ganhou! Já ganhou! – gritava eufórico Hibisco, seu companheiro – que é conhecido como Beijo, - e sua família, incluindo, o Zé das Flores mais  o pequeno, peludo e estranho ETevaldo.
         Ju terminou seu desfile esvaindo-se em  lágrimas de emoção e, com certeza, achava que já tinha ganhado  o prêmio.
         Prêmio? Ah! - e que prêmio: Pacote completo (passagens de ida e volta, estadia e ingressos para duas pessoas) para assistirem a decisão do Brasileirão série D, quando for um GRENAL, - se isso acontecer um dia.
         Todos aguardavam o último candidato a desfilar que, por sinal, seria o Julho Baiano. Ninguém sabia como seria a fantasia, pois ele, até ser chamado para entrar na passarela, se escondera dentro de sua Towner furgão cor de rosa marca- texto.
         - E, por último a desfilar... que entre o Juuuuulho Baaaaiaannnoooo! – gritou o prefeito Jairo Edson,  imitando uma voz de FM.
         Todo garboso entrou o Julho e o prefeito narrava a composição da fantasia:
         - Julho está fantasiado de Gaúcho Alegre da Fronteira e traja: bombacha rosa choque em acabamentos dourados; botas vermelhas com detalhes branco, camisa pink; lenço lilás; poncho com as cores do arco-íris; fita-apache vermelha e azul segurando a peruca e nas mãos um laço de doze braças enfeitado com purpurinas!
         - Ohhhhhhhhhh! – exclamava a multidão e, Julho, deslizava sobre a passarela, boleava o laço por sobre a cabeça e cantava com seu sotaque baiano:
         “Gaucho eu sou...
         Nasci feliz...      
         Nesta terra formosa
         Onde estou...
         No sul deste meu país...”
         Juliano ao ver aquilo arregalou os olhos e desmaiou nos braços do Beijo e não viu o fim da festa, nem a vitória, indireta,  da Bahia através do Baiano e nem ouviu o que disse o Delfino Drew – gaúcho macho pra mais de metro – dono do Restô, que nas festas sempre vai vestido como manda a tradição:
         - Bah! Tchê é isso que denigre a nossa imagem de macho; nunca mais eu patrocino nada em Virtuália! Só aqui mesmo na Capital Sideral dos Sonhos é que um gaúcho, fantasiado de baiana prenha, perde para um baiano fantasiado de gaúcho “flozô”!





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