domingo, 23 de setembro de 2012

VIDA EM VIRTUÁLIA


O Mega Superintendente 

O cronograma da obra de terraplenagem estava atrasado em mais de uma semana. Quatro dos megas tratores-escavo-transportadores, franceses, estavam quebrados, e como eram antigos e fora de linha de produção, - a fábrica estrangeira falira, - não se conseguiam as peças de reposição, para os mesmos, no mercado interno. Só seria possível importando e tal importação, se fosse autorizada pelo MF, demoraria quarenta e cinco dias, isto se conseguissem as peças.
            - Engenheiro Evandro, vá até ao canteiro de obras e verifique as reais situações desses equipamentos, “se vira”!- disse asperamente o Dr. Bolívar todo poderoso presidente e dono da empresa ao engenheiro novato, - seu filho único.
            No dia seguinte às 14h00min, depois de muitas horas de voo e escalas, Evandro chegou ao Aeroporto Sideral de Virtuália (ASV); já o esperava um carro da empresa para levá-lo direto à reunião e lá chegando:
            - Sentem-se senhores, por favor! Eu sou o Engenheiro Evandro Martelos! Sou gaúcho de Agudo, superintendente sênior da empresa. Sou formado pela Harvard University-USA, fiz pós-graduação na University Cambridge- Inglaterra, doutorado na University Oxford- Inglaterra, doutorado em equipamentos pesados na University Toronto-Canadá, doutorado em mecatrônica na Kyoto University - Japão, falo inglês, espanhol, francês, italiano, mandarim e, além disto, tudo, e o que eu considero mais importante, são assessor virtual estratégico da Universidade Sideral de Virtuália (USV). Pedi que o Dr. Rafael, aqui presente, convocasse para esta reunião: os operadores das máquinas-paradas, o chefe da oficina, os mecânicos, o almoxarife e só depois vou ter uma reunião final com o engenheiro chefe da obra, - Dr. José Maurício!
            - Primeiro quero falar com o chefe da oficina e...
            - Sou eu doutor, meu nome é Paulo Tacir! – prontificou-se a se apresentar Galegão, eufórico.
            - Prazer meu senhor! O que tens a dizer? – perguntou Evandro.
            - “Óia” doutor, o que acontece é que o Bento, o Chico, o Tião e o Lelê estão muito velhos e não agüentam mais o “rojão”. “Se” trabalham dois dias, ficam dez no “estaleiro”. Eu acho que esses quatro deveriam ser “aposentados” e vocês mandariam quatro mais novos! Se não a obra não vai deslanchar! Não é pessoal?
            - “Ocê” tem razão, Galegão!  - disse Zé Mineiro.
            - “Ôchente”, é isso aí, cabra-macho! – disse Zé Calango.
            - Desembaçou meu mano!     – disse Zé Paulista.
            - Bah tchê, matou a pau!       – disse Zé Gaúcho.
            - Como engenheiro mecânico da obra, o que tens a dizer Dr. Rafael? – perguntou o superintendente.
            - Meu pessoal tem razão! Concordo em tudo com o Galegão, digo, Paulo Tacir! -falou o Rafael.
            - Eu não acredito no que ouço e vejo aqui! – disse o filho do dono da empresa, e continuou:
            - O presidente convoca uma reunião com a altíssima cúpula da empresa lá na capital, todos concordaram em me enviar para este sertão distante para resolver o problema e o que ouço: - um bando de homens “dedurando” quatro funcionários que, pelos nomes, devem ser de baixo escalão e humildes! Vocês não se envergonham de falar assim de quatro idosos sem que os mesmos estejam presentes?
            - É que eles não cabem aqui na sala Doutor! – falou Zé Calango segurando o riso.
            - Como assim? Não cabem na sala? Senhor Almoxarife, vai buscá-los imediatamente! É uma ordem!
            De pronto Geraldo Manoel respondeu:
            - Não tem como doutor!  O Bento, Chico, Tião e o Lelê são nomes de batismo dos tratores que estão quebrados. Os equipamentos da empresa são apelidados para controle dos bens patrimoniais. É assim na empresa toda! Vossa superintendência não sabia deste pequeno detalhe?
 Os risos comprimidos se soltaram num alarido só. Evandro não falou mais nada e encerrou a reunião e, junto com o Dr. José Maurício, seguiram para a capital. Com autorização superior, dos quatro tratores antigos fizeram dois que funcionavam razoavelmente. Quinze dias depois chegaram à obra: Zé Mineiro, Zé Calango, Zé Paulista e Zé Gaúcho – os novos tratores da empresa. Eram os primeiros produzidos em terras tupiniquins. Os nomes foram sugeridos pelo superintendente Dr. Evandro Martelos.



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