O Mega Superintendente
O
cronograma da obra de terraplenagem estava atrasado em mais de uma semana.
Quatro dos megas tratores-escavo-transportadores, franceses, estavam quebrados,
e como eram antigos e fora de linha de produção, - a fábrica estrangeira falira,
- não se conseguiam as peças de reposição, para os mesmos, no mercado interno.
Só seria possível importando e tal importação, se fosse autorizada pelo MF,
demoraria quarenta e cinco dias, isto se conseguissem as peças.
-
Engenheiro Evandro, vá até ao canteiro de obras e verifique as reais situações
desses equipamentos, “se vira”!- disse asperamente o Dr. Bolívar todo
poderoso presidente e dono da empresa ao engenheiro novato, - seu filho único.
No dia seguinte às 14h00min, depois
de muitas horas de voo e escalas, Evandro chegou ao Aeroporto Sideral de Virtuália
(ASV); já o esperava um carro da empresa para levá-lo direto à reunião e lá
chegando:
-
Sentem-se senhores, por favor! Eu sou o Engenheiro Evandro Martelos! Sou gaúcho
de Agudo, superintendente sênior da empresa. Sou formado pela Harvard
University-USA, fiz pós-graduação na University Cambridge- Inglaterra,
doutorado na University Oxford- Inglaterra, doutorado em equipamentos pesados
na University Toronto-Canadá, doutorado em mecatrônica na Kyoto University - Japão,
falo inglês, espanhol, francês, italiano, mandarim e, além disto, tudo, e o que
eu considero mais importante, são assessor virtual estratégico da Universidade
Sideral de Virtuália (USV). Pedi que o Dr. Rafael, aqui presente, convocasse para
esta reunião: os operadores das máquinas-paradas, o chefe da oficina, os
mecânicos, o almoxarife e só depois vou ter uma reunião final com o engenheiro
chefe da obra, - Dr. José Maurício!
-
Primeiro quero falar com o chefe da oficina e...
-
Sou eu doutor, meu nome é Paulo Tacir! –
prontificou-se a se apresentar Galegão, eufórico.
-
Prazer meu senhor! O que tens a dizer? – perguntou Evandro.
-
“Óia” doutor, o que acontece é que o Bento, o Chico, o Tião e o Lelê estão
muito velhos e não agüentam mais o “rojão”. “Se” trabalham dois dias, ficam dez
no “estaleiro”. Eu acho que esses quatro deveriam ser “aposentados” e vocês
mandariam quatro mais novos! Se não a obra não vai deslanchar! Não é pessoal?
- “Ocê”
tem razão, Galegão! - disse Zé Mineiro.
-
“Ôchente”, é isso aí, cabra-macho! – disse Zé Calango.
-
Desembaçou meu mano! – disse Zé
Paulista.
-
Bah tchê, matou a pau! – disse Zé Gaúcho.
-
Como engenheiro mecânico da obra, o que tens a dizer Dr. Rafael? – perguntou o superintendente.
-
Meu pessoal tem razão! Concordo em tudo com o Galegão, digo, Paulo Tacir! -falou
o Rafael.
-
Eu não acredito no que ouço e vejo aqui! – disse o filho do dono da
empresa, e continuou:
-
O presidente convoca uma reunião com a altíssima cúpula da empresa lá na
capital, todos concordaram em me enviar para este sertão distante para resolver
o problema e o que ouço: - um bando de homens “dedurando” quatro funcionários
que, pelos nomes, devem ser de baixo escalão e humildes! Vocês não se
envergonham de falar assim de quatro idosos sem que os mesmos estejam
presentes?
-
É que eles não cabem aqui na sala Doutor! – falou Zé Calango segurando o
riso.
-
Como assim? Não cabem na sala? Senhor Almoxarife, vai buscá-los imediatamente!
É uma ordem!
De pronto Geraldo Manoel respondeu:
-
Não tem como doutor! O Bento, Chico,
Tião e o Lelê são nomes de batismo dos tratores que estão quebrados. Os
equipamentos da empresa são apelidados para controle dos bens patrimoniais. É
assim na empresa toda! Vossa superintendência não sabia deste pequeno detalhe?
Os risos comprimidos se soltaram num alarido
só. Evandro não falou mais nada e encerrou a reunião e, junto com o Dr. José
Maurício, seguiram para a capital. Com autorização superior, dos quatro
tratores antigos fizeram dois que funcionavam razoavelmente. Quinze dias depois
chegaram à obra: Zé Mineiro, Zé Calango, Zé Paulista e Zé Gaúcho – os novos
tratores da empresa. Eram os primeiros produzidos em terras tupiniquins. Os
nomes foram sugeridos pelo superintendente Dr. Evandro Martelos.
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