sexta-feira, 14 de setembro de 2012

VIDA EM VIRTUÁLIA


FRUTA MADURA
Quinta-feira, seis de setembro, véspera de feriado.
Fugi do calorão de um inverno sem graça e seco como o ártico, fui eu e minha família para Praia do Morro no litoral capixaba. A brisa estava simplesmente divina e, enquanto todos foram ao mar, resolvi:
         - Vou dar uma fugida para Virtuália para ver o que estão preparando para o desfile do jubileu do enésimo aniversário da Hy-brazil, o paraíso perdido, onde tal cidade é a metrópole.
         Na Praça Bispo-Cardeal:
         - Ei, seu Lê, há quanto tempo hein, cara!
         - Oi, Paulo de Paulli, meu grande amigo Goró, como tem passado? – perguntei ao sóbrio e ex- etílico Paulinho.
         - Estou bem e prosperando no meu negócio de churrasquinho no palito! Você procura pelo Nhô Benzedô? Eu o vi entrando no HPSV, foi visitar a Xerequéia; ela foi operada de um esporão no pé direito. À tardezinha ele vai lá ao meu trabalho comer um espetinho de Java-porco! – informou o meu amigo.
         - Eu vou até a Escola Municipal Dona Bela Bispo-Cardeal ver o ensaio da banda e da petizada, depois eu procuro vocês lá na praça, ok?
         - Beleza, seu Lê!
          Cheguei à escola por volta das onze horas e a diretora, Dona Carmen Ferreira, estava em reunião com um pessoal da Secretaria Municipal de Educação de Virtuália e resolvi não atrapalhar e comecei a circular dentro do estabelecimento de ensino. Nunca tinha visto escola tão organizada: as paredes, todas, foram pintadas recentemente; placas de energia solar nos telhados; da cozinha e refeitório, extremamente limpos, vinha um aroma de carne cozida com legumes que me fazia salivar, pois tal carne de panela foi cozida juntamente com osso e tutano, - seria a refeição dos alunos; jardins impecáveis; banners com pinturas de personagens da história, - inclusive da turma do Monteiro Lobato -, e nos muros, que guarneciam todo o complexo, tinham poesias grafitadas em letras grandes, como por exemplo:
         -“O que o vento não levou...
         No fim tu hás de ver que as coisas mais leves
São as únicas que o vento não conseguiu levar...” (Mário Quintana)

-“ Desejo a você
 Cheiro de jardim
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Queijo com goiabada
Uma seresta
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinhos meus... “(Carlos Drummond de Andrade)

Num dos muros estava escrito os seguintes versos de Drummond:
- “No meio do caminho tinha uma pedra
   Tinha uma pedra, no meio do caminho tinha uma pedra...” – estavam entre um poste de concreto sem utilidade e um imenso tronco de mais ou menos um metro e meio de altura por um metro de largura, do que foi uma mangueira, recém-cortada, pois ainda minava resto de seiva. Aquilo me chamou a atenção e perguntei a um rapazote que tinha terminado de pintar as letras:
- O que houve com esta, que já foi uma mangueira, meu jovem?
         - A diretora mandou cortar porque estava sujando muito o pátio com as mangas maduras que caiam e a meninada chupava!
         Eu, subversivamente, peguei um spray preto das coisas do garoto e tarjeei, nos versos de Drummond, onde tinha a palavra pedra e grafitei, acima da tarja, a palavra: fruta madura. Falei ao rapazote:
         - Fale para a Dona Carmen que fui eu, o Lê quem fez isto que ela vai entender ok?
         Saí de Virtuália e voltei para a praia pedindo, em oração, perdão ao Drummond e sei que ele me entendeu.  Outro dia me desculpo com o Goró e o Nhô pela pérola que encontrei pelo caminho e me tirou do sério.



         

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