INGRATA
Janete,
este era o nome da beldade.
Paraense, não só de nascimento, mas de genes, também; morena
cor de jambo maduro; cabelos lisos e negros – como essa cor têm que ser -, sorriso
alvíssimo e regado a uma angelical simpatia. Se existe um narizinho perfeito,
este, é o de Nete.
Às vezes Nonato se pergunta:
- O que essa obra prima
dos deuses da criação viu em mim? Sou
simples ao cubo e com o pior dos defeitos, para a sociedade: sou pobre, aliás,
pobre não, paupérrimo!
Conheceram-se desde os quinze anos e, lá se vão sete anos de
namoro.
Ah! Nete tinha um defeitozinho: - tinha o olho direito
estrábico; não era voltado para dentro como querendo ver o que o outro
enxergava, era bem pior e mais esquisito, o cristalino e a pupila, estavam
sempre voltados para a orelha do lado direito. Quando ela o fitava de frente, tal
olho, quase sempre, se fechava. Era esse olho que afastava a rapaziada, menos o
Nonato.
Como Nonato trabalhava em uma firma que confeccionava carimbos
diversos e, tal microempresa, prestava serviços na confecção dos carimbos para
o pessoal do, na época, INPS, ele conseguiu por simples amizade, tudo para que
Nete fizesse uma cirurgia no torto olho direito e sem gastar um único centavo.
Sete dias depois, Nete o fitava com os dois olhos abertos e
suas lindas pupilas direcionavam-se às dele, mas ele não via mais o brilho que
via no, outrora, olho esquerdo arregalado.
Um mês depois e sem fitá-lo, nos olhos, Janete o dispensou
abruptamente, terminando o longínquo namoro; seis meses depois a ingrata lhe
mandou o convite de casamento dela com o oculista que colocou seu olho direito
e destino no prumo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário