quinta-feira, 30 de agosto de 2012

COISAS DA VIDA


INGRATA 

                    Janete, este era o nome da beldade.
       Paraense, não só de nascimento, mas de genes, também; morena cor de jambo maduro; cabelos lisos e negros – como essa cor têm que ser -, sorriso alvíssimo e regado a uma angelical simpatia. Se existe um narizinho perfeito, este, é o de Nete.
          Às vezes Nonato se pergunta:
       - O que essa obra prima dos deuses da criação viu em mim?  Sou simples ao cubo e com o pior dos defeitos, para a sociedade: sou pobre, aliás, pobre não, paupérrimo!
       Conheceram-se desde os quinze anos e, lá se vão sete anos de namoro.
       Ah! Nete tinha um defeitozinho: - tinha o olho direito estrábico; não era voltado para dentro como querendo ver o que o outro enxergava, era bem pior e mais esquisito, o cristalino e a pupila, estavam sempre voltados para a orelha do lado direito. Quando ela o fitava de frente, tal olho, quase sempre, se fechava. Era esse olho que afastava a rapaziada, menos o Nonato.
    Como Nonato trabalhava em uma firma que confeccionava carimbos diversos e, tal microempresa, prestava serviços na confecção dos carimbos para o pessoal do, na época, INPS, ele conseguiu por simples amizade, tudo para que Nete fizesse uma cirurgia no torto olho direito e  sem gastar um único centavo.
       Sete dias depois, Nete o fitava com os dois olhos abertos e suas lindas pupilas direcionavam-se às dele, mas ele não via mais o brilho que via no, outrora, olho esquerdo arregalado.
       Um mês depois e sem fitá-lo, nos olhos, Janete o dispensou abruptamente, terminando o longínquo namoro; seis meses depois a ingrata lhe mandou o convite de casamento dela com o oculista que colocou seu olho direito e destino no prumo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário