sexta-feira, 7 de setembro de 2012

VIDA EM VIRTUÁLIA


O BEBÊ  DA  AMIZADE   ARCO- ÍRIS


        O caso do OVNI em Virtuália tornou-a uma chacota de grandeza Sideral.
               Édila Dron, dois dias depois do ocorrido, foi enviada por Orestino Treviso à Fazenda Treviso, de rizicultura, da família deste, num município do sul do país conhecida como Capital Nacional de Arroz Doce sem Canela e, lá, foi esquecida até que às duas horas da madrugada de um sábado, seis meses depois do objeto voador não identificado ser identificado e desmascarado, o telefone na casa paroquial, do Templo Mor de Vituália tocou e Orestino, que estava acordado vendo filmes eróticos no DVD, atendeu:
                - Alô, o que desejas às duas da manhã?
         - Tchê, aqui é teu tio Floriavanti, eu não tenho boas notícias para te dar! É que a chinesinha que tu deixaste aqui, desapareceu já tem três dias; procuramos em toda a região, sem a polícia e não encontramos. Se ela aparecer por aí tu me avisas, ok, “cuera”?
            - Tá certo, tio Vanti, obrigado e não fale nada com ninguém, principalmente com a polícia! – e desligou o telefone praguejando baixinho:
            - Por todos os diabos das quintas dos infernos, será que a excomungada tá vindo para Virtuália?
            . . .
            Segunda- feira seguinte, faltando treze minutos para as vinte e quatro horas:
            - Pô, Juju, não seria melhor deixarmos esse despacho lá no cemitério? Lá estaria dentro de casa! – falou Beijo à sua amizade arco-íris.
            - Não Beijinho, “my Love”, a madame queria que o feitiço fosse para a rival asiática dela chorar, como uma criança desmamada, com o abandono dela pelo seu ex-noivo! Eu sugeri a ela que tinha que ser onde um rio desaguasse em outro rio maior; por isso cobrei o triplo do que de costume!
            Depois da explicação, pararam perto onde o Ribeirão Limpo deságua no Rio do Peixe e começaram o ritual.  Hibisco, o Beijo, filmava tudo, pois foi exigência da madame que os contratou e que só iria pagar quando visse o filme no celular.
            Exatamente a meia-noite, treze minutos e treze segundos, encerrou-se o ritual. A hora estava na gravação do comprovante.
            - Pode parar de filmar, “mon’amour”, que já acabei, vamos entrar no carro e irmos embora! – disse Ju ao amado. E ao entrarem na Variant, de cor azul cobalto com as portas rosa choque, ouviram um choro de criança.
            - Juju do céu, o ribeirão está chorando igual a uma criança recém-nascida; o feitiço já começou a dar certo! – falou assustado o Beijo.
            - Que feitiço que nada, tesão, isto é choro de bebezinho, vamos ver de onde vem! – disse Juliano.
            Procuraram e espantados viram uma cena incrível: a Édila Dron tinha parido pouco adiante da curva do rio, onde a estrada ruma para o portal de entrada do Vale Virtualiano do Rio do Peixe.
Beijo, horrivelmente, assustado verificou que Édila ainda respirava:
            - Ela ainda está viva, Juju, vamos levá-la, junto com o bebê, para a Maternidade Maria Sem Salvação e... - Beijo foi interrompido pela moribunda:
            - Não... não... pre-pre-precisa eu vi... vim de carona lá do sul a-a-até na ro-ro-rodovia federal e não a-a-aguentei, e..e...eu estou mo...morrendo; SALVEM MEU FILHO! Eu... eu... nossa moço como você é feio! Eu... eu...! – e morreu.
            - Chinesa nojenta! Bem feito! Estava morrendo e me chamou de feio! – praguejou Beijo.
            - Mas eu não acho você feio, “amoré”; vamos levar os dois para o delegado Carabina Doze, ele vai saber o que fazer!
            - Por falar em feio, olhe só, este guri; isto é que é ser feio: é escuro, com olhos orientais, vesgo, com os braços mais compridos que o próprio corpo e é muito peludo! – falou Juju.
            - Mas é filho do Criador, Juju e eu sei o que é ser feio; este vai sofrer muito! – balbuciou, quase chorando o Beijo.
            - Lembre-se, Beijinho, você é a pessoa mais linda do mundo para mim e isto basta! – consolava-lhe Juliano.
            Colocaram tudo na Variant: o cadáver da oriental e o neném enrolado no veludo vermelho do despacho e rumaram acelerados para a cidade e, no caminho:
            - Já sei Juju, vamos pedir para o papai adotá-lo e deixar que o criemos como nosso filhinho, o que achas? – idealizou o Hibisco.
            - Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, meu amor, acabei de parir nosso rebento; agora eu sou a Mamy e você o Papy do... do..., bem, depois nós escolhemos o nome tá bom? – concordando com a ideia o Ju, que tem o nome de Lisbela, no seu lado feminino.
            - Será que conseguiremos Juju? – apreensivo e já amando o achado, falou o Beijo.
            - Não tenha dúvida, Papy, quem vai querer adotar essa... essa... essa, digamos, essa criatura ímpar? Só mesmo nós um “casal sui generis”! – convicto e eufórico falou o Ju.
       Alguns minutos depois, na delegacia e na presença de Orestino que explicava calma e santamente:
            - Dr. Carabina, aqui está a cópia do BO que fiz, há seis meses, quando Édila fugiu da casa paroquial, nunca mais tive notícias dela; eu não sabia onde ela andava!
            - O corpo dela vai para o IMLV e depois... - o delegado foi interrompido pelo Beijo:
            -Delegado, a minha família, Vaz Thomas, cuidará completamente do funeral e o bebê, que deixamos na maternidade, em meu nome e por minha conta, meu pai ou eu mesmo o adotarei, se a lei permitir! – falou Beijo que antes já tinha sido orientado pelo professor de ciências ocultas e zoologia Juliano Scheiβe, - a Lisbela.
            E assim foi feito.
            Três dias depois Ju, - a Mamy, Beijo, - o Papy batizaram, em companhia de toda a família Vaz Thomas e seguidores do Babacaorixá o bebê que passaria a chamar ETevaldo. O padrinho seria o jovem e paupérrimo Vigarildo Bispo- Cardeal último da estirpe de tal família quatrocentona que, desiludido com os deuses das religiões dos homens, virou auxiliar de delegado de Oriximbanda e amigo de Juliano.
        Juliano, a Mamy, agora estava vestido de delegado de Oriximbanda e escolheu aquela margem do Ribeirão Limpo para o batismo porque foi ali que Babacorixá, senhor das águas poluídas, lhe entregou o rebento.
            Recusaram a fazer o batismo:
            Pastor da Igreja Sideral Eva-Angelica de Virtuália, Jairo Edson que disse:
            - Não vou batizar essa “coisa” pode ser a encarnação do anti-cristiano!
         O vigário, pois a cúria daquele braço da Igreja Caótica Apostrófica Romana, alegou que aquela besta não era humana, e Orestino Treviso acatou aos superiores.
            Por fim, o CMV teve um enterro depois de sete anos, mas só os funcionários, além de Ju e do Vigarildo participaram. A chinesa foi enterrada sem extrema unção e sem culto, mas o Ju falou meia dúzia de baboseira e, fim.
         - A honradez, a felicidade e a tranquilidade fazem da nossa pacata Virtuália, um lugar sideral, virtual e celestial para se viver!   -falava o vigário Oristino na missa de domingo, crente que estava livre do fardo que pôs no mundo e que está sendo criado pelo “casal” da amizade arco-íris.

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