quarta-feira, 11 de julho de 2012

VIDA EM VIRTUÁLIA



Pavão Misterioso

A grande final do desfile de fantasia estava prestes a se iniciar. Naquela noite o terreiro do samba, um imenso gramado, preservado pela prefeitura, estava lotado pela maioria da população de Virtuália.
         O palco e os jurados, três do Rio de Janeiro, dois de São Paulo, dois de Analogicópolis – cidade fronteiriça, e dois da própria localidade, estavam prontos e aguardando.
         Juliano estava em cólicas psicológica de tanta ansiedade. Afinal, disputava um prêmio de R$10.000,00 com seu rival em tudo: - na disputa de presidente da liga das escolas de samba da cidade; na escola onde eram os melhores professores; nas lojinhas de roupas - dois brechós - e no espiritismo, sendo o rival mesa-branca e ele da “pesada”.
         Juliano não mediu esforços para confeccionar sua fantasia; o nome: Rabo Quente de um Pavão Misterioso. Para isso, sem que ninguém visse, há um mês e à noite, invadiu a reserva biológica de Analogicópolis e arrancou as penas dos rabos dos pavões, faisões e avestruzes. O pessoal do meio ambiente, de lá, estava afim de “por as mãos” no responsável, pois duas aves morreram. Mas, o importante era ganhar e o premio já tinha destino: - pagar o Black-Hulk, o agiota mais perverso que se tem notícia na região. E ele estava na porta de saída do camarim, do evento, esperando pelo seu prometido dinheiro.
         A fantasia do rival estava deslumbrante, feita no Rio de Janeiro, mas a de Ju estava divina. Todo emplumado e com um adereço de penas que ia dos cabelos, tipo moicano, até o rabo enorme e cheio das penas roubadas coladas com uma resina altamente inflamável.
         O rival passou pela passarela e teve oito notas dez e um nove.
         - É agora ou agora! Que o Babacorixá me proteja! – pensou alto, Ju, e entrou como um pavão garboso e os aplausos eclodiram. Total de suas notas: oitenta e nove. Empate!
         Os jurados concluíram:
- Desfilarão novamente e quem mostrar uma única novidade, que seja, ganhara!
         O rival foi o primeiro e mudou o jeito de desfilar. Dava três passos para frente, um para trás, um pulinho desmunhecando e gargalhava, era a sua novidade.
         Ju estava sorridente. Agora, o dispositivo que colocara na fantasia, daria certo -não falharia como há poucos minutos - e sorria muito, tipo: - Já ganhei!
         Entrou na passarela e apertou um dispositivo no pulso esquerdo e... e... e..., a intenção era acender várias lâmpadas coloridas no meio das penas da cauda, mas a bateria de 12 V de moto, escondida no rabo, deu curto e a resina das penas incendiou instantaneamente.
         Tumulto geral!
         Juliano passou como um cometa pela passarela e se jogou sentado no gramado tentando apagar o fogo do rabo. Mas, foram os bombeiros que o apagou depois de uns três minutos.
         Ju foi desclassificado por colocar em risco a todos. Ficou quinze dias internado de bruços e processado pelo pessoal do meio ambiente da cidade vizinha.
         No dia da alta do hospital, pela manhã, sairia às 10h00 min, Black-Hulk e mais dois enormes capangas o esperavam na frente do hospital, há duas horas e, impaciente, foi à recepção e perguntou por ele:
- Fugiu do hospital há dois dias! Dizem que foi para a casa de uma tia lá pelas bandas do sul do Brasil, - Pelotas - disse-lhe Tininha a recepcionista.


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