Pavão Misterioso
A
grande final do desfile de fantasia estava prestes a se iniciar. Naquela noite
o terreiro do samba, um imenso gramado, preservado pela prefeitura, estava
lotado pela maioria da população de Virtuália.
O palco e os jurados, três do Rio de
Janeiro, dois de São Paulo, dois de Analogicópolis – cidade fronteiriça, e dois
da própria localidade, estavam prontos e aguardando.
Juliano estava em cólicas psicológica
de tanta ansiedade. Afinal, disputava um prêmio de R$10.000,00 com seu rival em
tudo: - na disputa de presidente da liga das escolas de samba da cidade; na
escola onde eram os melhores professores; nas lojinhas de roupas - dois brechós
- e no espiritismo, sendo o rival mesa-branca e ele da “pesada”.
Juliano não mediu esforços para confeccionar
sua fantasia; o nome: Rabo Quente de um Pavão Misterioso. Para isso, sem
que ninguém visse, há um mês e à noite, invadiu a reserva biológica de Analogicópolis
e arrancou as penas dos rabos dos pavões, faisões e avestruzes. O pessoal do
meio ambiente, de lá, estava afim de “por as mãos” no responsável, pois duas
aves morreram. Mas, o importante era ganhar e o premio já tinha destino: -
pagar o Black-Hulk, o agiota mais perverso que se tem notícia na região. E ele
estava na porta de saída do camarim, do evento, esperando pelo seu prometido
dinheiro.
A fantasia do rival estava
deslumbrante, feita no Rio de Janeiro, mas a de Ju estava divina. Todo
emplumado e com um adereço de penas que ia dos cabelos, tipo moicano, até o
rabo enorme e cheio das penas roubadas coladas com uma resina altamente inflamável.
O rival passou pela passarela e teve
oito notas dez e um nove.
-
É agora ou agora! Que o Babacorixá me proteja! – pensou alto, Ju, e entrou
como um pavão garboso e os aplausos eclodiram. Total de suas notas: oitenta e
nove. Empate!
Os jurados concluíram:
- Desfilarão novamente e quem mostrar
uma única novidade, que seja, ganhara!
O rival foi o primeiro e mudou o jeito
de desfilar. Dava três passos para frente, um para trás, um pulinho
desmunhecando e gargalhava, era a sua novidade.
Ju estava sorridente. Agora, o
dispositivo que colocara na fantasia, daria certo -não falharia como há poucos
minutos - e sorria muito, tipo: - Já ganhei!
Entrou na passarela e apertou um
dispositivo no pulso esquerdo e... e... e..., a intenção era acender várias
lâmpadas coloridas no meio das penas da cauda, mas a bateria de 12 V de moto,
escondida no rabo, deu curto e a resina das penas incendiou instantaneamente.
Tumulto geral!
Juliano passou como um cometa pela
passarela e se jogou sentado no gramado tentando apagar o fogo do rabo. Mas,
foram os bombeiros que o apagou depois de uns três minutos.
Ju foi desclassificado por colocar em
risco a todos. Ficou quinze dias internado de bruços e processado pelo pessoal
do meio ambiente da cidade vizinha.
No dia da alta do hospital, pela manhã,
sairia às 10h00 min, Black-Hulk e mais dois enormes capangas o esperavam na
frente do hospital, há duas horas e, impaciente, foi à recepção e perguntou por
ele:
- Fugiu do hospital há dois dias! Dizem
que foi para a casa de uma tia lá pelas bandas do sul do Brasil, - Pelotas - disse-lhe Tininha a recepcionista.
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