sexta-feira, 27 de julho de 2012

VIDA E FÁBULAS


O mogno e a amoreira

              - E muito bonito a vista aqui de cima, amoreira, dá para eu ver todos os cantos da floresta, sendo eu, a árvore mais alta! – gabava-se o pé de mogno.
            - Você podia arredar um pouco seus galhos que me sombreiam, pois estou em floração e preciso de luz para que as abelhas e os pássaros venham a mim para a polinização! – gritava a amoreira silvestre em seu pequeno tamanho.
            - Não tem como, se eu arredar algum dos meus galhos, vem um vizinho nosso e ocupa o lugar! Contente-se com a penumbra! Aliás, não sei como viestes parar aqui na minha região, se tua espécie é  nativa da Alta Mantiqueira, de Campos do Jordão,... de região fria?! Ah! Ah! Ah! Ah!
                Triste a amoreira produzia poucos frutos, porém eram grandes e muito saborosos.
            ...
            Passaram-se cinco anos daquela vida vegetativa e certa manhã o mogno amanheceu aos gritos:
            - Não pode ser, não pode ser! Os humanos estão devastando este lado da floresta, estamos perdidos!
            - Conte-nos o que se passa grande árvore?! – implorou a amoreira que servia seus poucos frutos, a um bando de maritacas.
            - Eles, pelo visto, precisam de mais espaço e estão desmatando tudo para formar pasto para gado nelore. Estão usando dois grandes tratores, um em cada extremidade de uma corrente enorme, com quase cinquenta metros, para derrubar rapidamente vocês, árvores menores. Com certeza vou me safar disto, visto que, tenho quase cem anos e sou uma madeira nobre em processo de extinção; sou protegida por lei federal, entendeu amoreirazinha? – soberbamente falou o mogno.
               Na manhã de dois dias depois:
            - Olhe só doutora Nádia, o tamanho deste pé de mogno?! –falou Raimundo à ricaça, dona da nova fazenda que estava se formando.
            - Que ótimo, não é Raí, termos esta árvore justo aqui neste platozinho, pois é aqui que farei a sede da fazenda! – disse Nádia ao administrador do empreendimento.
           - Ahhhhhhhhhh! Estou salvo, como é bom ser uma árvore nobre! – suspirou em seu silêncio vegetal o mogno. E a doutora prosseguiu o diálogo com Raí:
            - Com este mogno faremos a casa-sede da fazenda e também os móveis; peça para cortá-lo ainda hoje que daqui a quinze ou vinte dias, neste calorão, a madeira já vai estar seca, ok?
            - Ok, patroa!
            - Ah, Raimundo, tem mais um detalhe:  Façam com que, na derrubada, o mogno caia para a direita, pois não quero que ele desabe sobre essa amoreira silvestre; eu simplesmente adoro amoras! Tome, prove uma e sinta que delícia de sabor, é muito mais doce que as que dão lá no sul do país; como veio parar aqui e como se desenvolveu nós nunca vamos saber, deve ser obra do Criador!
               Raimundo provou e falou:
- Tem razão, doutora, que delícia de fruta; vão ficar mais saborosas as próximas safras, pois esta arvorezinha terá luz do sol abundantemente todos os dias!
            - Será a rainha de nosso futuro pomar, Raimundo! – terminando o diálogo entre Nádia e o Raimundo.

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