Duas Paixões
Distintas
Vinte e quatro de Janeiro de mil novecentos e oitenta e um,
- dezenove horas.
A angústia de um dia sem vê-la estava
por findar. Em hipótese alguma, sequer, eu poderia saber com qual traje ela
adentraria pela grande porta do cerimonial.
Ali estava eu, de fatiota, impecável,
no centro das atenções.
À minha mente vieram as juras de amor e
a certeza de que era o que completava a minha vida. Disse-me ela, certa vez:
- Você, no dia “D”, vai ter uma grande
surpresa e uma prova do meu amor, - será inesquecível, pode esperar!
De repente uma saraivada de fogos de
artifícios espocou no pátio do evento e meus pensamentos voltam àquele
presente. Um piano começa a ser dedilhado e a obra-prima de Gounod é entoada
pela doce voz da cantora-mór, - Dona Cotinha.
A porta principal é iluminada. O
corredor estava coberto, fora-a-fora, por um tapete vermelho-sangue e em cada
lado dos bancos, que ladeavam o corredor, estava, alternadamente, ornado por
ramalhetes de rosas brancas e vermelhas.
O murmurinho é interrompido e dá lugar
a uma só exclamação:
- Ooooooohhhhhhh?!
Meus olhos marejaram. Passei as costas
das mãos para desembaçá-los e tive a visão mais encantadora, até hoje, que
minhas retinas receberam. Escoltada pelo patriarca ali estava ela, vestida dos
pés aos cabelos com minha cor preferida e sorrindo, linda, deslumbrante como eu
nunca vira antes.
- Olha a tiara, o véu, o vestido
comprido e os sapatinhos dela são vermelhos, - que liiiiindoooo! - cochichou uma mocinha para outra e, eu ouvi.
Admirei cada passo, compassado, que ela
dava até ser-me entregue pelo pirotécnico Nicolino, - prestes a se tornar meu
sogro. Beijei-lhe a testa e ela sorrindo e com os olhos brilhando de felicidade
me disse:
- Eu te amo... gostou da surpresa, - Colorado?
“Caí em mim” e só então notei que as
daminhas de honra, todas vestidas com vários tons de vermelho, tinham broches
com o escudo do meu time do coração e até a túnica do padre era vermelha.
Enfim juntos:- Eu e as minhas duas
distintas paixões.


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