domingo, 1 de julho de 2012

Arizinho


           Ari estava encostado, quase sentado, no capô de um automóvel de luxo; era o modelo mais moderno daquele ano. Nisto chega um soldado e um sargento recém formado, responsáveis pelo trânsito naquela área e, este o intima:
          - Tire esse carro daí, tchê! Não vê que aí é estacionamento de carros oficiais?
 Ari, nascido em Mato Castelhano, - planalto médio gaúcho, perto de Passo Fundo-, sujeito gaiato, bem apessoado, maleva e criado a revelia, andava sempre muito bem vestido apesar de viver como autônomo no ramo de capina de pastos e limpando terrenos a quem lhe procurasse. As suas roupas eram lhes dada pelo irmão, dois anos, mais velho, - um juiz do trabalho na comarca de Virtuália. O cargo importante do irmão lhe dava uma falsa autoridade:
         - Eu não vou tirar e não tem ninguém que me faça tirá-lo daí, tchê! 
         - Ah é! - bradou o sargento enquanto ligava de seu telefone móvel para o guincho vir rebocar o carro e levá-lo ao depósito municipal. Em cinco minutos o guincho, que estava nas imediações, encostou-se à frente do luxuoso automóvel. Arriou uma parafernália para debaixo das rodas dianteiras e levantou a frente do carrão. O ajudante do guincheiro entrou debaixo do rebocado e cortou o cabo do freio de estacionamento liberando as travas das rodas traseiras. Ari, então, saiu de lado e o sargento já preenchendo a multa, pediu os documentos dele e do carro.
         - Estou sem meus documentos e o do carro eu não tenho! -respondeu-lhe Ari. O sargento resmungou um indecifrável palavrão e fez sinal para o guincheiro recolher o carrão. Quando o guincho já estava a uma quadra de distancia o sargento ouviu um grito firme, grave e raivoso:
         - Sargento, que diabos tu estás fazendo? Por que rebocou meu carro novo? Não vistes o símbolo da brigada no para-brisa? -era o coronel comandante de a Brigada Militar da região. Ele deixara seu carro, particular, na vaga de veículo oficial para ir ao banheiro de um bar, pois estava com uma doída e solta indisposição intestinal. O sargento, sem saber o que falar, olhou para os lados e viu o Ari se distanciando e acelerando uma antiga e surrada bicicleta Monark 60 - aro 28, numa trilha, mato à dentro.

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