DELÍRIOS DA “MELHOR” IDADE
Horácio, gaúcho, feio, desengonçado, suado,
descabelado – nas laterais de sua cabeça
ainda lhe resta alguns fios grisalhos de cabelos –, casado - próximo de sua bodas de crizopala, entrou no ônibus coletivo abafado e lotado;
findara mais um dia de labuta:
- Com licença, com licença – “me” desculpa
senhora foi sem querer! – com a pisada no pé a mulher fez careta, mas
balançou a cabeça, afirmativamente, aceitando
a desculpa.
Parou, em pé, no meio do ônibus, segurou-se no suporte acima
da cabeça e ali ficou. Na medida em que o coletivo rumava para o destino – do centro
aos bairros - iam descendo passageiros, mais que subiam, e foi abrindo espaço
no corredor.
De
repente uma jovem, muito jeitosa, nos seus vinte e quatro anos fitou-lhe o rosto,
demoradamente, que Horácio ficou sem jeito e pensou:
- A la pucha! Que guria bonita, tchê! Que
será que essa chinoca viu em mim? –
mudou de posição e olhava aquela formosura de
revesgueio.
Alguns minutos
depois a moça demorou seu olhar no sessentão Horácio e, desta vez, o olhou de
cima a baixo e esboçou um largo sorriso.
- Bah! Será que, depois de tanto tempo, vai
chover na horta do Horá? – faceiro, imaginou isso e, por coincidência, a
pessoa que estava sentada com a garota deu sinal para descer e ele pensou:
- Eh!Eh!Eh! Todo o universo está a favor deste
taura adormecido – pensou isso, tirou o lenço do bolso traseiro da calça bege
de brim e limpou o suor do rosto. Tão logo a passageira, que dera o sinal
levantou-se ele, no afã de sentar-se ao lado do broto, deixou cair a penca de
chaves – catorze chaves ao todo. A menina pegou as chaves entregou-lhe e, se
ajeitou na poltrona do ônibus, sorrindo lhe disse:
- Nossa Horácio você... – ela foi,
abruptamente, interrompida:
- Oigalê! Como tu sabes o meu nome?
-
É que o senhor se esqueceu de tirar o crachá do pescoço, seu nome está nele e
bem “grandão”. É impressionante como o senhor
é a cara do meu avô paterno! Até o jeito
de enxugar o rosto com o lenço branco manchado de marrom do rapé, o molho de
chaves que ele sempre carrega e o crachá que, até hoje, ele guarda como
lembrança de ferroviário da RFFSA; sem falarmos na braguilha aberta!
-
Ah! Tá, com licença que vou apear no próximo ponto – apertou a
campainha, foi para perto da porta de saída do coletivo, pensando raivosamente:
-
Faltam cinco paradas de ônibus antes de
eu chegar a minha casa, mas depois dessa eu mereço andar; andar não, vou
troteando. Essa pinguancha me tirou do sério!
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