sexta-feira, 2 de novembro de 2012

COISAS DA VIDA



DELÍRIOS DA MELHOR” IDADE


Horácio, gaúcho, feio, desengonçado, suado, descabelado – nas laterais de sua  cabeça ainda lhe resta alguns fios grisalhos de cabelos –, casado - próximo  de sua bodas de crizopala,  entrou no ônibus coletivo abafado e lotado; findara mais um dia de labuta:
         - Com licença, com licença – “me” desculpa senhora foi sem querer! – com a pisada no pé a mulher fez careta, mas balançou a cabeça, afirmativamente,  aceitando  a desculpa.
Parou, em pé,  no meio do ônibus, segurou-se no suporte acima da cabeça e ali ficou. Na medida em que o coletivo rumava para o destino – do centro aos bairros - iam descendo passageiros, mais que subiam, e foi abrindo espaço no corredor.
         De repente uma jovem, muito jeitosa, nos seus vinte e quatro anos fitou-lhe o rosto, demoradamente, que Horácio ficou sem jeito e pensou:
         - A la pucha! Que guria bonita, tchê! Que será que essa chinoca  viu em mim? – mudou de posição e olhava aquela formosura   de revesgueio.
         Alguns minutos depois a moça demorou seu olhar no sessentão Horácio e, desta vez, o olhou de cima a baixo e esboçou um largo sorriso.
         - Bah! Será que, depois de tanto tempo, vai chover na horta do Horá? – faceiro, imaginou isso e, por coincidência, a pessoa que estava sentada com a garota deu sinal para descer e ele pensou:
         - Eh!Eh!Eh! Todo o universo está a favor deste taura adormecido – pensou isso, tirou o lenço do bolso traseiro da calça bege de brim e limpou o suor do rosto. Tão logo a passageira, que dera o sinal levantou-se ele, no afã de sentar-se ao lado do broto, deixou cair a penca de chaves – catorze chaves ao todo. A menina pegou as chaves entregou-lhe e, se ajeitou na poltrona do ônibus, sorrindo lhe disse:
         - Nossa Horácio você... – ela foi, abruptamente,  interrompida:
         - Oigalê! Como tu sabes o meu nome?
- É que o senhor se esqueceu de tirar o crachá do pescoço, seu nome está nele e bem “grandão”. É impressionante como o  senhor  é a cara do meu avô paterno! Até o jeito de enxugar o rosto com o lenço branco manchado de marrom do rapé, o molho de chaves que ele sempre carrega e o crachá que, até hoje, ele guarda como lembrança de ferroviário da RFFSA; sem falarmos na braguilha aberta!
- Ah! Tá, com licença que vou apear no próximo ponto – apertou a campainha, foi para perto da porta de saída do coletivo, pensando raivosamente:
- Faltam cinco paradas  de ônibus antes de eu chegar a minha casa, mas depois dessa eu mereço andar; andar não, vou troteando. Essa pinguancha me tirou do sério! 

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