sábado, 10 de novembro de 2012

VIDA EM VIRTUÁLIA


$orte Num Maço de Cigarro$

                - IHHH! Paulo, lá vem a “mala” do Tio Tião!
         - Vou nessa, Pedro... se ele começar a conversar conosco vai querer nos convencer que esta semana ele vai acertar o acumulado da sorte grande na loteria,... até mais!
         -Pô! Se pelo menos ele ficasse quieto na casa dele lendo suas revistas de UFO e ETs!
         - É mesmo, Paulo, depois que ele perdeu uma perna e se aposentou, fica “batendo” muletas por toda a cidade... Eh!Eh!Eh!
         - Credo primo, com isto a gente não brinca! Fui! Tchau!
         - Tchau!
           Desapareceram como por encanto, cada um para um lado oposto ao do que Tião vinha, num cruzamento.
           Tião, com seus quarenta e dois anos, perdeu uma perna em acidente de trabalho. A mulher, com quem estivera casado por vinte anos, não lhe dera filhos e o abandonou, a dois anos, de papel passado, - em cartório:
          - Nossos dois salários mínimos, com todos os seus descontos, não dava nem para comer direito, pois ele gastava o dele todo tentando ganhar a sorte grande! - sempre reclamava Géssica na esbelteza de seus trinta e seis anos; e ela tinha razão.
          Tião era evitado por todos da família, pois vivia pedindo dois reais para “cercar” a sorte grande. Ele acreditava que iria ganhar a “bolada” da loteria que estava acumulada em quase cinqüenta milhões. Foi o Juliano Shit Scheiβe, “encorporado” na entidade de Cabloclo Vendaval , quem disse a ele, que antes dos quarenta e três anos ficaria riquíssimo, por isso tinha tanta fé. O engraçado, da história, é que no dia seguinte a essa previsão o Sebastião ficou aleijado. Pura distração sonhando acordado.
          - Puxa vida, hoje é quarta-feira e eu preciso de dez reais para fazer meus jogos. Num final de mês ninguém tem dinheiro, imagina eu? E pensar que amanhã faço quarenta e três anos e nada de eu... peraí! Que é aquilo dentro daquele maço de cigarros vazio e amassado? - Tião encostou as muletas num muro e pegou o que vira no chão.
          -Ah! Meu São Nunca do Vale do Rio do Peixe, são dez reais! Alguém deve ter guardado o dinheiro no maço de cigarros e, quando fumou o último, amassou e jogou o maço fora.
         Meteu as muletas debaixo dos sovacos e rumou para a tradicional Lotérica Número da Sorte de Vituália. Chegando  lá,  todas as portas já estavam fechadas, menos uma que estava pela metade, mas Rosinha, muito prestativa com Tião, o atendeu.
          Aliviado foi para casa e faltando quarenta e três minutos para as vinte e uma horas viu pela televisão o grande sorteio. Não deu outra. Antes de completar quarenta e três anos ele era dono de quarenta e três milhões de reais.
          Houve a brusca mudança.
Tião tinha anotações de todos que lhe emprestavam ou davam-lhe uns trocados, até cinqüenta centavos estavam anotados num caderninho. Não eram muitos, mas a todos ele enviou um envelope lacrado com dez notas de cem reais e, a cada empréstimo, ele multiplicava essa quantia.
          O tratamento com o Sr. Sebastião mudou do fel para o mel. Os parentes viviam tentando se aproximar dele, mas agora ele é quem os evitava. Quando ele era encurralado, por algum parente e não tinha como se esquivar, tirava do bolso do terno de grife um envelope lacrado e dava ao tal parente e este nunca mais o importunava.
          Tião vivia feliz com a prótese de última geração, de perna direita, importada da Alemanha, abandonou as muletas e, estava de viagem marcada para percorrer o mundo. Sua companhia? - Rosinha, a mocinha da lotérica com quem sempre dividia seus problemas e o tratava muito bem.

Sabem o que tinha nos envelopes que Tião dava aos parentes?
- Um volante de loteria e um bilhete com os dizeres: - Preencha, arrume dois reais e boa sorte!

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