$orte Num Maço de Cigarro$
- IHHH! Paulo, lá vem a “mala” do Tio
Tião!
-
Vou nessa, Pedro... se ele começar a conversar conosco vai querer nos convencer
que esta semana ele vai acertar o acumulado da sorte grande na loteria,... até
mais!
-Pô!
Se pelo menos ele ficasse quieto na casa dele lendo suas revistas de UFO e ETs!
-
É mesmo, Paulo, depois que ele perdeu uma perna e se aposentou, fica “batendo”
muletas por toda a cidade... Eh!Eh!Eh!
-
Credo primo, com isto a gente não brinca! Fui! Tchau!
- Tchau!
Desapareceram como por encanto, cada um para um lado oposto ao do que Tião
vinha, num cruzamento.
Tião, com seus quarenta e dois anos, perdeu uma perna em acidente de
trabalho. A mulher, com quem estivera casado por vinte anos, não lhe dera
filhos e o abandonou, a dois anos, de papel passado, - em cartório:
- Nossos dois salários mínimos, com todos os
seus descontos, não dava nem para comer direito, pois ele gastava o dele todo
tentando ganhar a sorte grande! - sempre reclamava Géssica na esbelteza de
seus trinta e seis anos; e ela tinha razão.
Tião era evitado por todos da família, pois
vivia pedindo dois reais para “cercar” a sorte grande. Ele acreditava que iria
ganhar a “bolada” da loteria que estava acumulada em quase cinqüenta milhões.
Foi o Juliano Shit Scheiβe, “encorporado” na entidade de Cabloclo Vendaval ,
quem disse a ele, que antes dos quarenta e três anos ficaria riquíssimo, por
isso tinha tanta fé. O engraçado, da história, é que no dia seguinte a essa
previsão o Sebastião ficou aleijado. Pura distração sonhando acordado.
- Puxa vida, hoje é quarta-feira e eu
preciso de dez reais para fazer meus jogos. Num final de mês ninguém tem
dinheiro, imagina eu? E pensar que amanhã faço quarenta e três anos e nada de
eu... peraí! Que é aquilo dentro daquele maço de cigarros vazio e amassado?
- Tião encostou as muletas num muro e pegou o que vira no chão.
-Ah! Meu São Nunca do Vale do Rio do Peixe,
são dez reais! Alguém deve ter guardado o dinheiro no maço de cigarros e,
quando fumou o último, amassou e jogou o maço fora.
Meteu as muletas debaixo dos sovacos e
rumou para a tradicional Lotérica Número da Sorte de Vituália. Chegando lá, todas as portas já estavam fechadas, menos uma
que estava pela metade, mas Rosinha, muito prestativa com Tião, o atendeu.
Aliviado foi para casa e faltando quarenta e
três minutos para as vinte e uma horas viu pela televisão o grande sorteio. Não
deu outra. Antes de completar quarenta e três anos ele era dono de quarenta e
três milhões de reais.
Houve a brusca mudança.
Tião
tinha anotações de todos que lhe emprestavam ou davam-lhe uns trocados, até
cinqüenta centavos estavam anotados num caderninho. Não eram muitos, mas a
todos ele enviou um envelope lacrado com dez notas de cem reais e, a cada
empréstimo, ele multiplicava essa quantia.
O tratamento com o Sr. Sebastião mudou do fel
para o mel. Os parentes viviam tentando se aproximar dele, mas agora ele é quem
os evitava. Quando ele era encurralado, por algum parente e não tinha como se
esquivar, tirava do bolso do terno de grife um envelope lacrado e dava ao tal
parente e este nunca mais o importunava.
Tião vivia feliz com a prótese de última
geração, de perna direita, importada da Alemanha, abandonou as muletas e,
estava de viagem marcada para percorrer o mundo. Sua companhia? - Rosinha, a
mocinha da lotérica com quem sempre dividia seus problemas e o tratava muito
bem.
Sabem o que
tinha nos envelopes que Tião dava aos parentes?
- Um volante de
loteria e um bilhete com os dizeres: - Preencha, arrume dois reais e boa sorte!
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