“Quem
acredita nos sonhos não espera dormindo! “ - Lefus
Há
sete anos, verão de 2005.
Paulinho Goró foi alcoólatra durante
vinte anos dos seus trinta e oito vividos. Perdeu tudo que herdara, como único
dono, da fortuna da sua falecida avó paterna. O álcool achou que o tinha
derrotado, mas Goró deu a volta por cima. Já tem sete anos que está sóbrio, por
livre e espontânea vontade. Como tem pouco estudo, menos cultura ainda, nunca
precisou trabalhar e, não ter profissão, se determinou:
-
Vou ser o dono do maior restaurante especialista em galeto assado da cidade e,
também caldos e ensopados! Ah! Se vou, vou sim!- tinha esses delírios
quando estava faminto e não tinha nada para comer.
-
Mas como? Se me tornei um paupérrimo e sobrevivo de catar materiais
recicláveis? – pensava Goró numa sexta-feira de lua cheia, exuberante, à
meia noite, perto onde o Ribeirão Limpo deságua no Rio do Peixe. Ali ele nunca
tinha passado antes. Parou de abrupto ao ouvir um batuque e um canto esquisito.
Era Juliano, pai de santo, delegado de Oriximbanda – que retornara à Virtuália
após a morte do agiota Black Hulk (*) - com uma senhora, aparentemente, rica e
não era de Virtuália, pois nunca a vira antes.
Ficou escondido até terminar o ritual.
Meia hora depois que o Ju e a dona, no carrão importado, foram-se embora e,
quando voltou o silêncio, ele saiu detrás da moita alta e foi até ao local do
despacho e viu:
-
Caramba, o que temos aqui: - dois frangos assados, três garrafas de champanhe
francês, três garrafas de vinho chileno, uma caixa com lantejoulas, plumas,
paetês e purpurinas... mais... bacalhau, carne seca, um fardo de refrigerantes
e... e... cinco notas de cem reais amarradas uma na outra!
Como estava com seu carrinho de catar
sucatas, não pensou duas vezes e o encheu com tudo e saiu dali rapidinho, não
se esquecendo de ir apagando as marcas da roda do carrinho. Numa certa
distância notou que alguém se aproximava numa Variant azul cobalto de portas
rosa e se escondeu no mato para ver o que aconteceria.
-
Pô! Não é possível! O Babacaaxé e o
Boborixá não podem ter levado tudo, eles não existem! Como pode ter sumido tudo
em menos de meia hora? – era o Juliano que voltou para levar para si as
oferendas:
-
Cacete, fora os R$500,00, tinha mais de dois mil em mercadorias e sem falar na
caixa com materiais para a minha fantasia que aquela rica otária comprou!
Cacete...cacete...cacete - e foi embora praguejando.
Paulinho, em poucos minutos, chegou ao
seu barraco, perto da sanga no fim da Rua Lúcifer:
-
Ahhhhh! Frango assado, farofa e refrigerante, que banquete! – comeu até se empanturrar
e foi dormir.
No dia seguinte, Goró, foi até ao
vistoso e ornamentado templo da Igreja Sideral Eva-Angelica de Virtuália e,
como sabia que o pastor Jairo Edson, comprava muamba, vendeu todas as bebidas
para ele. A caixa com os materiais para fantasia vendeu para o rival
carnavalesco do Juliano e, vendeu caro, pois era produto vindo do Rio de
Janeiro.
Juliano passou a mudar os locais dos
despachos que fazia todas as segundas, quartas e sextas-feiras. Mas, Goró,
estava atento e esperto.
Sem querer o Boborixá e o Babacaaxé ajudavam um ser humano: - Paulinho
Goró. E, este ser humano, ajudava a manter limpas as margens do Rio do Peixe,
recolhendo as oferendas que sujavam o meio ambiente.
Hoje, graças à “ajuda” do pastor Jairo
Edson e do idiota do Juliano, que passou a acreditar que as suas entidades o
estavam atendendo, por conta das oferendas cada vez mais caras, Goró nunca mais
passou fome. Coincidência ou não, Juliano, passou a atender em dobro suas
consultas, pois eram muitos os amores que voltavam aos antigos donos, gente que
se livrava de encosto, má sorte e até gente que sumia por conta das entidades.
Nos dias de hoje, Goró já completou um
ano que vende churrasquinhos especiais no carrinho que comprou da mãe do
desaparecido Cilon, o Massa Bruta (**). Não mora mais perto da sanga, mora nos
fundos do quintal do Juliano, num quarto e sala alugado e mobiliado na Rua
Aparício Ribeiro esquina com a Rua Índio Largado.
Alguém duvida do sonho do Goró?
(*)
Leia “Pavão Misterioso”
(**) Leia “Negócio
da China”
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