domingo, 25 de novembro de 2012

VIDA EM VIRTUÁLIA


Abaixo de DEUS estão os MÉDICOS

            Aquela segunda-feira de fim de primavera começava com uma chuva forte e intermitente. O ônibus coletivo – lotação - comumente chamado, cujo itinerário ia do subsdistrito de Bispo-cardeal à Virtuália, estava com quase todos os lugares ocupados; somente ao lado do Vanderlino é que tinha uma poltrona vazia e, o próximo ponto de parada tinha umas vinte pessoas para embarcar. Estavam quase todas encharcadas. Vanderlino espichou o pescoço e não acreditou:
            - Caramba, se aquele sujeito, com obesidade mórbida, sentar aqui do meu lado serão, com certeza, quarenta minutos de sufoco ainda maior – não deu outra, o obeso, por gentileza de todos, foi o primeiro a embarcar no ônibus:
            - Bom dia, meu jovem! Dá-me sua licença para sentar-me ao seu lado – perguntou o descendente de uma raça africana cuja pele era de um negror belíssimo. Vanderlino só acenou com a cabeça afirmativamente. Tinha opção?
            O pior é que o sujeito começou a puxar assunto e esticou a mão direita, enorme. Por sinal:
            - Sou Luís Angelito dos Anjos, prazer!
         - Prazer, sou VANDERLINO – ele adorava o nome e detestava apelido.
            - Sabe LINO – com liberdade puxou conversa -, meu primo, mais novo do que eu, de uns trinta e dois anos e magérrimo, teve que amputar ambas as pernas na altura do quadril, por conta da diabete. Não seguiu os conselhos médico e se deu mal. Vivia dizendo que qualquer problema o babacaorixa dele o curava e que qualquer coisa mais séria o “fiío du hômi” lhe safaria. Agora, além de diabético ficou aleijado!
            - É por isso que, na ignorância dos meus 208 quilos, sempre digo:
         - Abaixo de DEUS estão os MÉDICOS; o resto é conversa jogado fora!
            Vanderlino levantou-se, pediu licença, apertou a campainha e se preparou para descer do coletivo, apesar de estar a mais de cinco quarteirões do seu trabalho.
            - Ok, Lino, tenha um bom dia e cuide de sua saúde – disse-lhe o Luís Angelito.
            Vanderlino iria descer do local de trabalho para se livrar do gorducho incomodo. Na pressa, tropeçou e caiu de “cata-cavacos” e se estatelou, por coincidência, na entrada do Pronto Socorro Sideral de Virtuália (PSSV) e desacordou. Duas horas depois:
            - O senhor toma esses antibióticos e aplique essa pomada nessa ferida que tens no tornozelo direito, pelo jeito há mais de dois anos. Esta pomada vai fazê-la parar de coçar e não deixá-la crescer ainda mais. Faça esses exames de sangue e traga-me aqui com urgência, ok, senhor Vander? – falou-lhe Patrício Ruffus o médico plantonista.
            Vanderlino achava que não era diabético, mas antes de pedir a DEUS para curá-lo resolveu cuidar de sua saúde. Seguiu um conselho de uma pessoa incomoda ou, quem sabe, de um anjo obeso. Mas nunca mais se esqueceu de que:
“Abaixo de DEUS estão os MÉDICOS!”

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