Abaixo
de DEUS estão os MÉDICOS
Aquela segunda-feira de fim de
primavera começava com uma chuva forte e intermitente. O ônibus coletivo – lotação
- comumente chamado, cujo itinerário ia do subsdistrito de Bispo-cardeal à
Virtuália, estava com quase todos os lugares ocupados; somente ao lado do
Vanderlino é que tinha uma poltrona vazia e, o próximo ponto de parada tinha
umas vinte pessoas para embarcar. Estavam quase todas encharcadas. Vanderlino
espichou o pescoço e não acreditou:
- Caramba, se aquele sujeito, com
obesidade mórbida, sentar aqui do meu lado serão, com certeza, quarenta minutos
de sufoco ainda maior – não deu
outra, o obeso, por gentileza de todos, foi o primeiro a embarcar no ônibus:
- Bom dia, meu jovem! Dá-me sua licença
para sentar-me ao seu lado – perguntou o descendente
de uma raça africana cuja pele era de um negror belíssimo. Vanderlino só acenou
com a cabeça afirmativamente. Tinha opção?
O pior é que o sujeito começou a
puxar assunto e esticou a mão direita, enorme. Por sinal:
- Sou Luís Angelito dos Anjos, prazer!
-
Prazer, sou VANDERLINO – ele adorava o
nome e detestava apelido.
- Sabe LINO – com liberdade puxou conversa -, meu primo, mais
novo do que eu, de uns trinta e dois anos e magérrimo, teve que amputar ambas
as pernas na altura do quadril, por conta da diabete. Não seguiu os conselhos
médico e se deu mal. Vivia dizendo que qualquer problema o babacaorixa dele o
curava e que qualquer coisa mais séria o “fiío du hômi” lhe safaria. Agora,
além de diabético ficou aleijado!
- É por isso que, na ignorância dos meus
208 quilos, sempre digo:
-
Abaixo de DEUS estão os MÉDICOS; o resto é conversa jogado fora!
Vanderlino levantou-se, pediu
licença, apertou a campainha e se preparou para descer do coletivo, apesar de
estar a mais de cinco quarteirões do seu trabalho.
- Ok, Lino, tenha um bom dia e cuide de
sua saúde – disse-lhe o
Luís Angelito.
Vanderlino iria descer do local de
trabalho para se livrar do gorducho incomodo. Na pressa, tropeçou e caiu de “cata-cavacos”
e se estatelou, por coincidência, na entrada do Pronto Socorro Sideral de
Virtuália (PSSV) e desacordou. Duas horas depois:
- O senhor toma esses antibióticos e
aplique essa pomada nessa ferida que tens no tornozelo direito, pelo jeito há
mais de dois anos. Esta pomada vai fazê-la parar de coçar e não deixá-la
crescer ainda mais. Faça esses exames de sangue e traga-me aqui com urgência,
ok, senhor Vander? – falou-lhe
Patrício Ruffus o médico plantonista.
Vanderlino achava que não era
diabético, mas antes de pedir a DEUS para curá-lo resolveu cuidar de sua saúde.
Seguiu um conselho de uma pessoa incomoda ou, quem sabe, de um anjo obeso. Mas
nunca mais se esqueceu de que:
“Abaixo de DEUS estão
os MÉDICOS!”
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