sexta-feira, 26 de outubro de 2012

VIDA EM VIRTUÁLIA


  • ETevaldo volta para casa 

    ... CONTINUAÇÃO DA  Primeira parte: A mãe do ouro
Parte Final: A bola de fogo

Cinco dias se passaram depois desta última visita ao Nhô.
Por volta das quinze horas, no alpendre de sua casa, no terreno do CMV (Cemitério Municipal de Virtuália), Juliano fazia sua sesta:
         - Mamy... Papy, Etavaldo tá com fome, Mamy! – falava e balançava a rede de dormir do Juliano.
         - Ahhhhhhhhh! Beijoooooooo, socorro!  - era o Juliano levando o maior susto de sua vida.
         - O que foi Juju eu ... nooosssa quem é você? De onde você saiu? – perguntou o apavorado Beijo.
         - Eu sou Etevaldo! Etevaldo voltou prá casa! – respondeu.
         - Mas você está sem nenhum pêlo, nenhum cabelo e essas marcas no seu corpo... nossa como você cresceu - balbuciava Hibisco cujo apelido é Beijo.
         - Que roupa é essa? Parece que você foi cobaia de laboratório de filme americano? Olha só, Beijo, essas etiquetas estão todas em inglês!
         - É mesmo Juju, só dá para entender o número cinquenta e um, e esse “Top Secret” eu sei o que quer dizer! Onde será que essa criatura esteve?
         - Vamos levá-lo lá no Nhô Antônio, ele entende de todos os tipos de animais, ele vai ter uma raiz que cura isto. Deve de ser uma doença que ele conhece. Vamos lá agora! – disse Juju.
         - Vamos sim, e aproveitaremos esta ida para trazermos um dos cachorrinhos - poodle-toy - da ninhada que nasceu no sítio do Nhô.
         Em meia hora a Variant azul-cobalto, das portas cor de rosa, parou em frente ao refúgio do Nhô Antônio:
         - Nhô, Nhôôôôôôô, podemos entrar? - berrava Juliano.
         - Aprochegue, misifios, tô aqui na horta! – gritou o dono da casa.
         - Bom dia Nhô, o senhor está bem?
         - Istô ótimu, seu Julianu, u qui ôceis qué dessi nêgu véi?
         - Nosso pimpolho está de volta e parece-nos doente, o senhor pode dar uma olhada nele?
         - Mais é craru, quédi iele?
         - Tá escondido dentro do carro - disse Beijo.
         - Intão vão buscá u bichim prêu botá meus zóios niele, sô.
         - Deixa que eu busco Juju. - falou Beijo.
          Ao se aproximar do Nhô que estava de cócoras replantando uns pés de alface, Beijo disse:
         - Êi-lo, Nhô! Aqui está o Etevaldo!
O ancião virou-se e, mesmo se espantando, sorriu dizendo:
         - Mais zóia só u qui veju, eh!eh!eh!eh! Ôce é iguá quenem u meu amigu Kowauski, eh!eh!eh!eh!
         - Quem é esse Ko...Kowauski, Nhô? – perguntou Juju.
         - Iêle vai vim aqui já, vocês vão conhecê iele. Vamu intranu qui vô perpará um café com brôa prá nóis.·.
Depois de saborearem café com brôa, Nhô falou:
         - Óia, seu Julianu, êssi... êssi... essa criatura num tem nadica di nada, é a natureza déia sê ansim; iela só pegô muitchu sór na cacunda! Êssis vermeião vai saí quandu iele ficá discançanu na sombra. Essas marcas nus pursu , nus tornozelu i na testa... sei não... mais parece qui tava amarradu numa cama di hospitá! Eu achu ...   - nisto houve-se um barulho - um minutu, qui tá cheganu gente, ieu vô vê! – Nhô dirigiu-se à porta da sala, que estava aberta, e deparou com:
         - Boa tarde, Nhô! Vim buscar os cinco quilos de aveia; vim mais cedo e, na claridade do dia, porque hoje à noitinha vou partir e, desta vez, demorarei em voltar.
         - Bastardi Kowauski, vamu inté u varandão da cuzinha qui vô ti mostrá uma coisa. -  seguiram até lá e Nhô foi à dianteira e lá chegando:
         - Julianu i Beju, esti é u Kowauski!
         - Kowauski, Kowauski! – repetiu Etevaldo.
         - Boa tarde, senhores. Quem é essa criança, de onde ela veio? – perguntou Kowauski com voz firme e autoritária.
         - Esse é nosso filho, meu senhor, meu e do Beijo! - áspero falou o espantado Juliano.
         - Eh!Eh!Eh! Êssi é u fioti da chinezinha qui morreu nu partu dêie i essis mininus pegaru prá criá – antecipou o Nhô.
         O estranho retirou do cinturão do  macacão - que parecia confeccionado com um tipo de borracha - uma bola que começou a brilhar e ele pediu:
         - Olhem para esta esfera senhores! – ao falar isso um flash  se fez e...
         ...
         Já passava das vinte e duas horas, desse mesmo dia, e eu chamava por Nhô no portão e ninguém respondia e resolvi entrar.
         - O que é isso? Nhô, Juliano, Beijo, o que aconteceu com vocês? –os três estavam paralisados como que em transe e respiravam vagarosamente.
         De repente um zumbido agudo e persistente vinha de fora da casa. Saí para verificar o que era e vi uma enorme bola incandescente pairando às margens do Rio do Peixe. O brilho e o barulho agudo  aumentaram em muitos lumens e decibéis e a bola veio pairando até ficar encima da residência do Nhô, apagando e ascendendo o brilho, que parecia  código Morse – que eu conheço – e decifrei a palavra “adeus”.  Depois  ganhou velocidade e sumiu verticalmente rumo ao infinito em fração de segundo.
         - Seria a mãe do ouro? Seria uma nave extraterrestre? – pensei alto. Voltei à varanda da cozinha e os três estavam caídos no chão e aos poucos foram acordando.
         - O que houve aqui, Nhô? Porque vocês estavam em transe, Juliano, Beijo  vocês estão bem?
         - Nóis tamu bem seu Lê, mais ieu num sei u qui aconteceu aqui - falou o Nhô.
         - Nos vimos aqui buscar um filhote de poodle-toy que nasceu numa ninhada da cadelinha Lanna e, de repente, tudo ficou escuro e em silêncio. Não me lembro de nada. - disse Juliano.
         - Eu também não - acrescentou o Beijo.
         - De quem é esse macacãozinho caído ali no chão? Parece roupa de hospital militar - peguei nas mãos e exclamei:
         - De onde saiu esta roupa? Tem o número cinquenta e um, adesivo “Top Secret” e essas outras palavras em inglês devem ser código; será que é o que eu penso?
         - Eh!Eh!Eh! Tem coisa qui é mió num intendê, num é seu Lê?  Si é qui ôce mi intendi.
         - Claro que te entendo, Nhô e é melhor ficarmos  quietos!
         Juliano e Beijo pegaram o poodle-toy, o macacãozinho e voltaram para o CMV na Variant e eu fechei meus olhos e saí de Virtuália.
         - Lê, Lêêê, corre até aqui na varanda! - corri para ver o que afligia a Rô, minha patroa.
         - Olha – falava e apontava para o céu - aquela estrela cadente; já tem alguns minutos que cruza o céu.
         Ao firmar meus olhos naquele brilho ele diminuiu e aumentou a intensidade e depois sumiu na escuridão.
         - Não era estrela cadente, deve ser algum fenômeno que a gente ainda não conhece, Rô!
        
         


Nenhum comentário:

Postar um comentário