domingo, 18 de novembro de 2012

VIDA EM VIRTUÁLIA


ABDUÇÃO PACÍFICA
Continuação de: Procurando Pistas do JULIANO E BEIJO

Quinze para as cinco horas e o céu continuava estrelado:
         - Seu Lê acorda qui já tá na nossa hora – sacudia-me o Nhô na rede vermelha da varanda.
         - Bom dia, Nhô! Puxa vida eu não consegui pregar os olhos esta noite, meu amigo – falava e me espreguiçava ao mesmo tempo.
         - Eh!Eh!Eh! ieu é qui sei, misifiu; pur duas veiz nessa noite vim aqui na varanda vê cum quem ôce tava cunversanu – disse-me ele.
         - Com quem eu conversava Nhô, não me lembro de nada – repondi-lhe.
         - Ôce cunversava cum a sua patroinha, a Dona Rô! Ôce fala druminu seu Lê - Eh!Eh!Eh!
         - Ora, ora... e eu achando que passei a noite inteira olhando o céu!
         - Vamu dexá di prosa i tumá um café reforçadu; tem café frescu, brôa, quejo, leiti i dois produtu qui ieu memu façu: - pão i mantega!
         - Vou passar uma água no rosto e já venho, meu amigo!
         Em meia hora já estávamos a caminho do objetivo. O pangaré Betancourt, apesar de idoso, puxava a carroça com maestria e desenvoltura e, quando a barra do dia começava no horizonte, paramos aos pés da Serra Madre e entramos por uma trilha. Quando chegamos próximo à entrada da mina deixamos a carroça às margens do Ribeirão Limpo – este curso de água nasce na mencionada serra.
         - O senhor não vai amarrar o Bitancourt, Nhô? Aliás, agora que estou reparando ele não usa cabresto, só essa corda em volta do pescoço – admirado perguntei ao meu amigo.
         - Num percisa amarrá u meu cumpanheru, ieli intendi tudu u que ieu falu – respondeu-me o ancião e continuou:
         - Bitancourt, meu véi, ôce podi í imbora prá casa, oviu? I vorta prá buscá nóis di tardinha i tráis juntu u Bili i u Lezivu, iscuitô? – incrível, mas o cavalo deu um relincho diferente e baixou a cabeça e começou a pastar o capim orvalhado, que era muito naquela margem direita do ribeirão, e eu perguntei ao Nhô:
         - Ué, Nhô, o senhor o mandou voltar e ele baixou a cabeça a pastar?
         - Ôce acha qui ieli é burru di não fazê uma boquinha nessi capim verdim, eh!eh!eh!eh! – agurinha memu ieli si pirulita!
         Entramos por um atalho e só paramos quando, escondidos atrás de uma enorme pedra de granito vimos uma coisa impressionante e o Nhô me cochichou:
         - Óia seu Lê cumu aquéia criatura c’uma arma isquisita na mão pareci c'o Kowauski, só é mais maiô!
         - Realmente, meu amigo, e olha quem sai da mina com um enorme cesto nas costas cheio de pedras brilhantes, não parece com a criatura que está armada e nem com um humano, o que será que estão fazendo – perguntei baixinho para o Nhô.
         - Parece cum macacu, mais anda dimpé íngua a genti i é mutcho grandão; óia só u tamanhão dus pé dêie! Seu Lê, - alertou-me o Nhô - óia a cachanga azuli du Julianu atrais daquéia moita di matu!
         Quando fui responder para o meu amigo ficamos paralisados e surgiu em nossa frente outra criatura igualzinha o Kowauski e perguntou-nos sem emitir nenhum som ou fazer gesto algum – parecia que ele entrara dentro de nossas mentes:
         - O que querem aqui?
         Veio-me à mente a figura do Kowauski e do Etevaldo e o ser me respondeu mentalmente:
         - Acompanhem-me, vou levá-los até eles!
         Fomos desparalisados e o seguimos. Entramos num portal de luz entre dois pés de pitangas  e ali tinha uma enorme esfera que abriu uma entrada na lateral com um gesto da criatura:
         - Vamos entrem e não mecham em nada, só observem – ordenou o ser com seu uniforme que lembrava borracha sintética na cor branca.
         Ouvimos um zumbido que começou alto e foi diminuindo a intensidade e de dentro da esfera víamos tudo do lado de fora, parecia que estávamos suspensos no ar sem nada debaixo dos pés. A esfera se elevou e, rapidamente, ganhou velocidade na horizontal. Em questão de um piscar de olhos ela desacelerou e pousou no meio de uma enorme floresta. O dia já estava clareando; a portinhola abriu-se e, mentalmente, o ser nos disse:
         - Sigam-me!
         Estávamos perto da entrada de outra mina e ouvimos uma voz que parecia conhecida:
         - Nhô, seu Lê, nós já os esperávamos – por incrível que pareça era o Juliano e junto com ele o Beijo.
         - O que significa isso Juliano – perguntei-lhe.
         - U qui tá acuntecenu, misifiu?
         - Fiquem tranquilos, estamos entre amigos e olha quem vem recebê-los – falou isso apontando para a entrada da mina.
         - Nhô Antônio, seu Lê, que prazer em revê-los – era o Kowauski e junto dele vinha o Etevaldo.
         - Eh!Eh!Eh! issu nóis num isperava, num é patrão – sorrindo me falou o Nhô.
         - Todo bem Kowauski! E você Etvaldo, quando vai parar de crescer? Já está maior do que o seu pai verdadeiro – cumprimentei-os.
- Nós alcançamos a maioridade rapidamente, seu Lê; agora já parei de crescer – respondeu nosso conhecido meio-semelhante.
         - Vocês vieram procurar pelo Juliano e o amigo dele, não é mesmo? Eles estão aqui só a passeio a pedido de meu filho – disse-nos o Kowauski e continuou:
         - Vocês podem conversar à vontade à sombra daquela árvore; tenho que continuar o que estava fazendo. Venha Etevaldo que vou te passar as coordenadas para o retorno ao nosso lar definitivo – ET o seguiu dando um sorriso para nós.
         - Onde estamos Juliano, o que está se passando, você pode nos... – Ju nos interrompeu:
         - Calma seu Lê, vou contar desde o começo. Eu recebi uma mensagem em sonho que tinha que ir de minha casa até a mina do Morro Velho e que eu levasse só o Beijo, isto já deve de ter acontecido a pelo menos uns dois anos e... – foi minha vez de interrompê-lo:
         - Não Juliano, não se passaram dois anos e sim só cinco ou seis dias!
         - Caramba, Juju, que doideira será isso? – perguntou o Hibisco cujo apelido é Beijo.
         - Tudo bem, que seja então, mas o que importa é o que está acontecendo, Seu Lê. Nós estamos no Norte do Estado do Pará numa mina desativada já tem muito tempo. Estamos perto de Apiacás, melhor dizendo. Aqui eles encontraram ouro monoatômico igual ao que acharam lá na mina do Morro Velho. Estão retirando esse tipo de metal, também, na Sibéria, numa região do Egito, na fronteira do USA com Canadá, nas matas da Colômbia e embaixo de uma geleira no Polo Sul. O Kowauski me falou que eles precisam desse metal para pulverizar a atmosfera do planeta deles. Precisam fazer isso para que não percam o calor interno e manter uma luminosidade artificial desse planeta errante.
         - Planeta errante? O que quer dizer isso, cara – perguntei-lhe.
         - É um planeta parecido com a terra que desgarrou de sua estrela por causa de uma catástrofe que aconteceu quando recebeu o impacto de um cometa. Parece ficção, mas é isso mesmo que ocorreu.
         - Por que eles não dominam nossa humanidade e se apoderam da Terra – perguntei-lhe.
         - É porque nosso planeta vai virar um planeta errante e não demorará muito e, segundo eles, não compensa interferir na vida da Terra!
         - Quer dizer que o planeta deles está morrendo; e o que eles pretendem fazer? Ficar procurando ouro para sempre o injetando na atmosfera?
         -Não seu Lê, eles já descobriram um planeta maior, desabitado por vida inteligente e com atmosfera até melhor do que a deles e a de nossa Terra – respondeu-me o Juliano e continuou:
         - Esse planeta, segundo o Etevaldo me contou, está na órbita de uma estrela anã tranquila a quarenta e dois  anos-luz terráqueos de distância de nossa Terra e, pouco mais que quatro anos-luz, hoje, do planeta deles. Ele me contou que os nossos cientistas já detectaram esse exoplaneta e deram a ele o número HD-40307g por estar girando ao redor dessa anã vermelha de número HD-40307. Com o sistema de navegação que a raça do Kowauski conhece eles levam cinco anos dos nossos para chegar até esse novo planeta. Já existe uma colônia deles lá e, antes que o planeta do pai do Etevaldo seja impossibilitado de continuar a manter a vida, praticamente, todos os habitantes estarão nesse novo lar – entendeu, seu Lê?
         - Incrível, mas creio que sim – respondi-lhe.
         - Entendeu Nhô – perguntei ao inteligentíssimo ancião.
         - Issu é muntcho prá cabeça dessi véi aqui, mai dédisê inguá tô mi sintinu aqui nessi lugá, ô cheja, saí di meu sítiu i to mai longi du qui minhas vista arcança i vim num sei cuma nessi lugá disabitadu, eh!eh!eh!eh! 
         - O senhor entendeu Nhô Antônio – afirmou o Beijo.
      - Então eles estão mantendo a atmosfera artificial deles até todos os habitantes irem para lá... entendi... entendi, mas onde fica o atual  planeta do Kowauski; você já descobriu isso, Juliano?
         - O Etevaldo me falou que fica rondando próximo ao nosso sistema solar e que eles mantêm uma base secreta, também, na lua Ganimedes de Júpiter – respondeu-me o expert em UFO o carnavalesco Juliano.
         - Ju, se a raça do Kowauski é tão avançada a ponto de viajar através de portais que desconhecemos, por que usam aqueles seres dos “pés grandes” para carregar as rochas de dentro das minas – questionei.
         - São autômatos, criado para o serviço pesado, ou seja, robôs feitos de materiais quase iguais nossas massas corporais, mas são robôs. A aparência é para causar medo e evitar os curiosos. Tem os pés grandes para suportar os pesos das cargas que carregam. Não têm sentimentos e sim um tipo de chip programado para determinados tipos de serviços e a energia, que os mantêm, são captadas do meio ambiente de um jeito que não conhecemos. Se algum objeto perfurar sua pele artificial ele se incendeia espontânea e automaticamente – explicou-me o Juju.
         Conversamos por mais ou menos uma hora quando Etevaldo convidou-nos para um almoço, pois no horário nosso já era duas horas da tarde:
         - Seu Lê, Nhô, Papy e Mamy venham saborear junto com meu pai e a tripulação um prato que preparei cuja receita, aprendi lá na casa do Juliano; vamos ver se advinham que tipo de carne é!
         O almoço foi no interior de outra esfera de tamanho que não sei expressar; só percebi que ela flutuava o tempo todo e em silêncio.
         Após alguns minutos do início da farta refeição:
         - Eh!Eh!Eh! issu é carni di javaporcu, num é patrão – antecipou o Nhô .
         - É o que parece, meu amigo – respondi-lhe.
         - É sim, Nhô; é javaporco. E lá para onde vamos já tem milhares desses animais reproduzindo tranquilamente. É uma carne riquíssima em proteínas e uma das mais saudáveis que encontramos até onde conhecemos do universo – falou Kowauski.
         O almoço transcorreu sem mais novidades e uma hora após Kowauski chamou nos quatro e em companhia de Etevaldo avisou-nos:
         - Agora vocês têm que voltar ao lugar de onde vieram; futuramente, ou quando o Etevaldo sentir saudades, ele irá até vocês, ok? Agora, olhem para essa esfera – falou isso e tirou uma pequena esfera do boldo do macacão que parecia de um tipo de borracha sintética e esta soltou um fortíssimo flash.
        
         ...
         - Ô Biliato nós não deviamos de ter seguido o Bitancourt nessa carroça até a mina do Morro Velho; ôce sabe que esse lugar é assombrado – medrosamente falava o Lezivo.
         - Calma, sô, se o Nhô não tiver lá a gente volta antes de escurecer; de dia não tem perigo – respondeu o Biliato e acrescentou:
         - Tá vendo, já chegamos e não são nem dezesseis horas; vamos apear para aliviar o peso do Bitancourt!
         - Olha Bili, atrás daquela moita a Variant do Juliano! Como será que ela veio parar ali?
Desceram da carroça e o pangaré voltou a pastar da grama verdinha só que agora sem o orvalho da madrugada, é claro.
         Quinze minutos depois se ouve um estrondo e um clarão muito forte se fez do lado oposto onde estava a Variant azul cobalto das portas cor de rosa:
         - Aí meu “Deusdoceu” eu não falei que esse lugar é mal-assombrado, Bili, tá vendo, nós estamos fritos!
         - Deixa de ser cagão, Lelê, foi só um trovão e um relâmpago – berrou o Bili.
         - Ah! é, trovão antes do relâmpago? Olha o céu tá limpinho!
         -  Sabe que você tem razão, acho melhor nós... – Biliato foi interrompido:
       - Ói íeis aqui seu Lê; num falei prôce qui u Bitancourt ia trazê íeis inté aqui?
         - Tem razão Nhô, eu ainda não aprendi que você tem sempre razão!
         - E aí, Nhô, tudo bom? O que vocês fazem aqui perto da entrada da mina – perguntou o Biliato.
         - Noi tava percuranu u Julianu i u Bejo i já incontramu!
         - É tamos vendo! Tudo bem com vocês? Tudo bom com o senhor seu Lê – perguntou o Bili.
         - Tudo bom; o Nhô me contou sobre o empreendimento que vocês querem fazer e vou ajudá-los, mas vamos andando que lá no sítio do Nhô a gente termina de conversar. Vocês vão no carro com o Juliano e o Beijo e nos espera lá que logo o Bitancourt deixa a gente lá, ok – antes que o Bili respondesse o Juliano gritou:
         - Ei Bili e Lezivo, se vocês querem uma carona ajude a empurrar a minha possante que a bateria dela esta arriada, ok?
         Vinte e duas horas no alpendre da casa do Nhô:
        
         - Qui bão qui vamu ajudá essis nossu dois amigu, né patrão – falou-me o Nhô entre uma tragada e outra no palheiro.
         - Se não for para ajudar os amigos e a quem precisar, para que servimos?
         - Santa i abençuada palavras, seu Lê! Bão, ieu vô drumi i dêxá ôce aqui na varanda bisoianu u céu istreladu i si ieu iscuitá ôce cunversanu cum arguem ieu já sei qui ôce tá é falanu  druminu, eh!eh!eh!
         - Ah!Ah!Ah!  - tá certo, meu amigo, boa noite, então!
         - Intonci, basnoiti!
        
         -Lê, Lêêê... acorda, sai dessa rede vermelha e vem dormir na nossa cama, já são duas da manhã de sábado e não vai aparecer nenhuma novidade no céu e, além disso, vai chover e você não para de falar dormindo não sei com quem – passava-me um “sabão” a minha cara metade, a Rô.
                            


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