Menos um
- Jurandir
venha cá! Pega “efe” dinheiro que está no guarda-comida e vai até a farmácia
comprar pó para fixar a minha dentadura! Anda logo, “rapaf”! -pediu Dona
Ruth, sua mãe, enquanto escovava as próteses dentárias.
Jura pegou os trocados e foi cortando
caminho entre os becos da favela até chegar na farmácia mais perto, - na avenida
asfaltada.
Pediu, pagou e saiu com o frágil vidro
do produto com os 20 gramas. Ao dobrar uma esquina, trombou de cair estatelado
ao chão, com uma gorda e enorme senhora. E, o pior foi que o vidro com o
produto, pedido pela sua mãe, caiu no chão e quebrou-se. Jura pegou os cacos do
vidro azulado de dentro do saquinho de papel, onde o farmacêutico embalou o pó
branco de fixar dentaduras, jogou-os fora e levou só o produto no saquinho:
-
Mamãe vai ficar fula-da-vida, mas vai ter que entender!
Quando faltava uma viela para chegar ao
seu barraco, foi parado pelo Ronaldinho, um negrão de quase dois metros de
altura e poderoso no morro, pois era autônomo em negócios ilícitos e, além
disto, era um sujeito altamente perverso:
-
O quê que ‘ocê “escondeu” aí, moleque?
-
Não é nada não... é só... (quando Jura foi explicar tomou um safanão que
rodopiou e caiu meio tonto).
Ronaldinho pegou o saquinho da mão do
Jura e falou:
- Ah! Malandro! Então não era nada, né? Olha
só que pó branquinho! Deve ser da puríssima! E eu tô fissurado nessa coisa!
-meteu o saquinho no bolso e correu para dentro do seu barraco, que ficava
perto da casa da Dona Ruth.
Jura chegou em casa e explicou à sua mãe.
Quando esta foi ralhar com ele ouviram
um alarido tremendo. Era a mulher, mãe, filhas e alguns vizinhos do Ronaldinho
que gritavam por socorro desesperadamente, pois ele estava morrendo sufocado. E
realmente em questão de minutos de agonia, querendo respirar, sem conseguir, -
morreu.
-
O que houve com ele Dona Gilda? -perguntou a mãe do Jurandir, que chegara
ao local.
-
Eu não entendi... ele chegou com um saquinho de papel de farmácia, despejou um
pó branco, em duas carreirinhas, na mesa, e com dois tubinhos de canetas
esferográficas, um em cada narina, aspirou tudo de uma só vez! Eu pensei que
seria remédio para bronquite, pois ele estava passando mal com a eterna enfermidade!
Dona Ruth então pensou em silêncio, é
claro:
-
Bem feito seu larápio! Aspiraste meu pó fixador de dentaduras. Não sabias que
esse pó, quando em contato com a umidade, incha e vira um adesivo
pegajoso?Ah!Ah!Ah!
-
Menos um marginal no morro da Caveira de Virtuália! Ah!Ah!Ah!Ah!Ah!
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