sexta-feira, 24 de agosto de 2012

VIDA EM VIRTUÁLIA


Menos um

            - Jurandir venha cá! Pega “efe” dinheiro que está no guarda-comida e vai até a  farmácia comprar pó para fixar a minha dentadura! Anda logo, “rapaf”! -pediu Dona Ruth, sua mãe, enquanto escovava as próteses dentárias.
         Jura pegou os trocados e foi cortando caminho entre os becos da favela até chegar na farmácia mais perto, - na avenida asfaltada.
         Pediu, pagou e saiu com o frágil vidro do produto com os 20 gramas. Ao dobrar uma esquina, trombou de cair estatelado ao chão, com uma gorda e enorme senhora. E, o pior foi que o vidro com o produto, pedido pela sua mãe, caiu no chão e quebrou-se. Jura pegou os cacos do vidro azulado de dentro do saquinho de papel, onde o farmacêutico embalou o pó branco de fixar dentaduras, jogou-os fora e levou só o produto no saquinho:
         - Mamãe vai ficar fula-da-vida, mas vai ter que entender!
         Quando faltava uma viela para chegar ao seu barraco, foi parado pelo Ronaldinho, um negrão de quase dois metros de altura e poderoso no morro, pois era autônomo em negócios ilícitos e, além disto, era um sujeito altamente perverso:
         - O quê que ‘ocê “escondeu” aí, moleque?
         - Não é nada não... é só... (quando Jura foi explicar tomou um safanão que rodopiou e caiu meio tonto).
         Ronaldinho pegou o saquinho da mão do Jura e falou:
          - Ah! Malandro! Então não era nada, né? Olha só que pó branquinho! Deve ser da puríssima! E eu tô fissurado nessa coisa! -meteu o saquinho no bolso e correu para dentro do seu barraco, que ficava perto da casa da Dona Ruth.
         Jura chegou em casa e explicou à sua mãe.  Quando esta foi ralhar com ele ouviram um alarido tremendo. Era a mulher, mãe, filhas e alguns vizinhos do Ronaldinho que gritavam por socorro desesperadamente, pois ele estava morrendo sufocado. E realmente em questão de minutos de agonia, querendo respirar, sem conseguir, - morreu.
         - O que houve com ele Dona Gilda? -perguntou a mãe do Jurandir, que chegara ao local.
         - Eu não entendi... ele chegou com um saquinho de papel de farmácia, despejou um pó branco, em duas carreirinhas, na mesa, e com dois tubinhos de canetas esferográficas, um em cada narina, aspirou tudo de uma só vez! Eu pensei que seria remédio para bronquite, pois ele estava passando mal com a eterna enfermidade!
         Dona Ruth então pensou em silêncio, é claro:
         - Bem feito seu larápio! Aspiraste meu pó fixador de dentaduras. Não sabias que esse pó, quando em contato com a umidade, incha e vira um adesivo pegajoso?Ah!Ah!Ah!
         - Menos um marginal no morro da Caveira de Virtuália! Ah!Ah!Ah!Ah!Ah!

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