MACACOS E TAMANDUÁS
Ano
1992, dia sete, mês Setembro, segunda-feira, 09h30min, - feriadão! (Eita
memória, sô!).
Destino:
- Chapada dos Guimarães.
Na
rodovia MT-251, - Cuiabá/Chapada dos Guimarães, no querido estado do Mato
Grosso, o céu estava num azul indescritível. As flores, daquele jardim natural,
espocavam coloridas e perfumadas nos pequenos arbustos que margeavam o caminho.
Se existe um paraíso, a estrada para lá, só pode ser assim. Eu dirigia o Opala
preto que destoava do colorido dos barrancos avermelhados como quem dirigia uma
espaçonave macia pelo espaço sem resistência.
- Olha pai! Que bicho é aquele que vai
atravessar a estrada?- gritou Mateusinho, meu filho caçula de cinco anos.
- E um tamanduá-bandeira! – prontificaram-se
a gritar, em duo, os outros dois filhos maiores.
- Sim é um tamanduá, vamos parar o
carro para vê-lo de perto! – imperou Rô, a patroa.
Ao parar o veículo o tamanduá meio que se
sentou nas patas traseiras, olhou-nos, simulou um abrir de braços para dar um abraço,
espichou uma língua fina e retornou à sua travessia.
- Nossa pai, ele é muito esquisito, mas
é muito bonito, vendo assim de perto!
- Tens razão Thiago, por mais diferente
que sejamos das 1.120.000 espécies de animais já catalogados no mundo, somos
todos filhos deste planeta, - a Terra. Seria tão bom se não existissem pátrias,
símbolos, bandeiras, donos de pedaços de terras, donos da verdade, guerras por
poder, imposição de crenças, códigos de éticas e sem éticas, discriminações em
geral, se, por fim não existisse a hipocrisia. Seria aqui o paraíso, se os rios
não limitassem fronteiras, corressem livres dos esgotos que produzimos e
pudéssemos beber de todas as águas sem medo. Olhem esse céu da Chapada dos
Guimarães! Já pensaram se todo o planeta fosse assim limpo e com essas nuvens
branquíssimas?
- Que é isso amorzão, o ar puro está te
deixando poético? – interrompeu-me a minha rainha.
- É mesmo pai, só porque o tamanduá-bandeira
cruzou nosso caminho? – disse-me Felipe meu filho do meio.
- Pois é meus filhos, em apenas alguns
quilômetros ao nosso redor temos todo este universo no qual somos os seres
racionais. Imaginem se compararmos esse pequeno universo com o tamanho do Mato
Grosso, este com o país, este com o planeta, este com o sol e, ainda, comparar
este astro-rei com Canis Majoris, a maior estrela já descoberta pelos humanos,
até agora, que é 2.100 vezes maior que ele? O que somos perante o infinito do
universo?
- Nós somos parte dele, pelo menos eu
acho! – disse-me o mais velho.
- Não importa onde nascemos e que
espécie somos aqui na Terra, somos parte dela. Somos feitos dos mesmos
elementos químicos que existem desde sempre e para sempre vão existir.
- Amorzão, você está “viajando”
literalmente falando, ah!ah!ah!ah! Vamos tocar enfrente que já estamos parados
aqui há quase uma hora! – falou carinhosamente a minha Rô.
-Olha só, gente, o tamanduá-bandeira
arrebentou aquele cupinzeiro para comer os cupins e dois macacos se juntaram a
ele para, também, banquetearem! – gritou o Thiago.
- Só mais uma coisinha: - O ser que
chega mais perto do nosso genoma é o chipanzé. Ele tem 1% menos gene que o
homo-sapiens e não conseguem raciocinar logicamente, se expressar e falar. Já pensaram
o que seria da humanidade se outros seres com 10% a mais de gene, do que o ser
humano, aterrissassem em nosso planeta?
- Com certeza seríamos dominados e eles
transformariam esta Terra no sonhado paraíso dos Querubins!
- Pai, vamos parar lá no Mirante para
vermos toda a extensão da chapada?
- Ok, vamos lá e depois à Cachoeira Véu
de noiva!
Ficamos lá pelas bandas da Chapada dos
Guimarães o resto do feriado nos refrescando; só após assistirmos o magnífico
por do sol retornamos para nossa residência em Cuiabá. Mas a verdade é que nunca mais esquecemos
aquele tamanduá-bandeira nosso irmão terráqueo.
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