sexta-feira, 3 de agosto de 2012

VIDA E FÁBULAS


A Harpia e os Colibris

            Uma águia americana, cabeça branca, gênero haliacetus, levantou voou de um penhasco de subiu... subiu...subiu até a altura máxima que a natureza lhe permite:
            - Agora é só plainar, a maior parte da viagem, rumo ao sul e lá irei encontrar uma prima poderosa, a harpia; quero ver se a  brasileira  é mesmo a maior rapineira do mundo! - disse com soberba o pássaro carnívoro.
            Por dez dias ela rumou para o sul. Parava para se alimentar, beber água e dormir. À medida que se aproximava da América do Sul começou a se deslumbrar com a fartura de alimentos; com a quantidade de matas; com o calor agradável; com os rios imensos e, pensou:
            - Vou dominar esse espaço; com minha força e astúcia terei tudo que eu quiser nessas paragens!
Das alturas, viu uma área mito verde com a vegetação mais espaçada, bem depois de um gigantesco rio, com grandes chapadões, muitas flores, muitos frutos e diversos tipos de pássaros, desceu, aliás, se soltou lá das alturas vindo pousar em um, frondoso, ipê amarelo florido cujas flores doía-lhes os olhos, tamanho o poder do brilho perante a luz solar. Observou vários pássaros pequenos que pairavam no ar e enfiavam os compridos e finos bicos nas flores. Nunca tinha visto pássaros tão coloridos, tão rápidos, de aparência fragilíssima e perguntou, na linguagem universal dos alados:
            - Ei, pequeno, como faço para achar um dos meus primos, uma harpia?
            - Não sei! Não voamos tão alto como elas e, elas, não se dignam a descer à nossa margem de altura! – disse um membro da família dos heliomaster, - um beija flor estrela de bico preto longo.
            - Ora, ora... ora! És muito petulante a julgar pelo seu ínfimo porte, hein, pequerrucho? Não te amedrontas o fato de que, apenas com uma bicada te engulo inteiro?
            Os outros pássaros saíram de perto e o colibri não de intimidou:
            - Não me julgue pelo tamanho e nem pela minha fragilidade; tente me pegar já que te achas uma potência das alturas? – falou isso e afastou-se pairando no ar.
            A enorme águia soltou um piado alto e horripilante e lançou-se no vazio e começou a galgar altura e ganhar velocidade.
            O pequeno pássaro a acompanhou voando, alternando, pelos lados, por cima e por baixo da gigantesca ave. A uma determinada altura o colibri parou no ar e viu a águia quase desaparecer nos céus e resolveu voltar à sua rotina de sugar néctar das flores e espalhar a polinização entre as plantas.
            - Cuidado irmão! – gritou um colibri estrela-verde-azulado.
            Num relance, o avisado, viu que descia do céu a águia, como um bólido, a uma velocidade incrível. O pequeno colorido, quando a águia chegou perto, arredou para o lado e a americana, teve que reduzir, drasticamente, a velocidade e os demais colibris aproveitou e aproximaram-se da cabeça branca da imensa rapineira e um deles vazou-lhe um dos olhos. A águia, num ato de desespero, tentou abocanhar os pequenos e,  um outro colibri, um rubi brasileiro,  vazou-lhe o outro olho.
            Sem nada enxergar, a visitante americana espatifou-se no chão.
            Uma harpia da mesma família acipitrídea, do falconiformis espatifado, da americana, que via tudo do alto de uma castanheira, falou para o seu filhote que a acompanhava:
            - Aquela nossa prima não conhecia o poder desses nossos conterrâneos pequeninos, subestimando quando estão unidos! Lembre-se disto, filhote, vivas sempre em harmonia com os pequeninos mesmo fazendo, eles, parte de nossa cadeia alimentar, pois unidos, se agigantam!

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