A
Harpia e os Colibris
Uma
águia americana, cabeça branca, gênero haliacetus, levantou voou de um penhasco
de subiu... subiu...subiu até a altura máxima que a natureza lhe permite:
-
Agora é só plainar, a maior parte da viagem, rumo ao sul e lá irei encontrar
uma prima poderosa, a harpia; quero ver se a brasileira é mesmo a maior rapineira do mundo! - disse
com soberba o pássaro carnívoro.
Por
dez dias ela rumou para o sul. Parava para se alimentar, beber água e dormir. À
medida que se aproximava da América do Sul começou a se deslumbrar com a
fartura de alimentos; com a quantidade de matas; com o calor agradável; com os
rios imensos e, pensou:
-
Vou dominar esse espaço; com minha força e astúcia terei tudo que eu quiser
nessas paragens!
Das alturas, viu
uma área mito verde com a vegetação mais espaçada, bem depois de um gigantesco
rio, com grandes chapadões, muitas flores, muitos frutos e diversos tipos de
pássaros, desceu, aliás, se soltou lá das alturas vindo pousar em um, frondoso,
ipê amarelo florido cujas flores doía-lhes os olhos, tamanho o poder do brilho
perante a luz solar. Observou vários pássaros pequenos que pairavam no ar e
enfiavam os compridos e finos bicos nas flores. Nunca tinha visto pássaros tão
coloridos, tão rápidos, de aparência fragilíssima e perguntou, na linguagem
universal dos alados:
-
Ei, pequeno, como faço para achar um dos meus primos, uma harpia?
-
Não sei! Não voamos tão alto como elas e, elas, não se dignam a descer à nossa
margem de altura! – disse um membro da família dos heliomaster, - um beija flor
estrela de bico preto longo.
-
Ora, ora... ora! És muito petulante a julgar pelo seu ínfimo porte, hein,
pequerrucho? Não te amedrontas o fato de que, apenas com uma bicada te engulo
inteiro?
Os
outros pássaros saíram de perto e o colibri não de intimidou:
-
Não me julgue pelo tamanho e nem pela minha fragilidade; tente me pegar já que
te achas uma potência das alturas? – falou isso e afastou-se pairando no ar.
A
enorme águia soltou um piado alto e horripilante e lançou-se no vazio e começou
a galgar altura e ganhar velocidade.
O
pequeno pássaro a acompanhou voando, alternando, pelos lados, por cima e por
baixo da gigantesca ave. A uma determinada altura o colibri parou no ar e viu a
águia quase desaparecer nos céus e resolveu voltar à sua rotina de sugar néctar
das flores e espalhar a polinização entre as plantas.
-
Cuidado irmão! – gritou um colibri estrela-verde-azulado.
Num
relance, o avisado, viu que descia do céu a águia, como um bólido, a uma
velocidade incrível. O pequeno colorido, quando a águia chegou perto, arredou
para o lado e a americana, teve que reduzir, drasticamente, a velocidade e os
demais colibris aproveitou e aproximaram-se da cabeça branca da imensa
rapineira e um deles vazou-lhe um dos olhos. A águia, num ato de desespero,
tentou abocanhar os pequenos e, um outro
colibri, um rubi brasileiro, vazou-lhe o
outro olho.
Sem
nada enxergar, a visitante americana espatifou-se no chão.
Uma
harpia da mesma família acipitrídea, do falconiformis espatifado, da americana,
que via tudo do alto de uma castanheira, falou para o seu filhote que a
acompanhava:
-
Aquela nossa prima não conhecia o poder desses nossos conterrâneos pequeninos, subestimando
quando estão unidos! Lembre-se disto, filhote, vivas sempre em harmonia com os
pequeninos mesmo fazendo, eles, parte de nossa cadeia alimentar, pois unidos,
se agigantam!
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