domingo, 26 de agosto de 2012

VIDA EM VIRTUÁLIA


Bric-à-brac

Naquele escritório de advocacia trabalhavam: Dr. H. Hommel, Dr. E. Schups, as duas filhas advogadas de Hommel, quatro estagiárias e outra advogada, a Bia. A idade das funcionárias regulava vinte e quatro anos. Somente Bia era a menos bonita, mas tinha uma boca e dentes perfeitos e era tão meiga e simpática que sobressaía às demais.
            Eram todas, quase que, com o mesmo manequim e isto deu uma ideia, naquela quarta- feira, à Paula, que tinha o porte da Bia e até os cabelos compridos, encaracolados, até no meio das costas.
            - Vamos fazer um bricabraque de vestuários entre a gente aqui do escritório? Podemos fazer isso nas sextas-feiras, que é o dia da semana em que saímos mais cedo, - às dezessete horas; faremos com as roupas e bijuterias que não gostamos e nem usamos mais, - que tal?
            Todas concordaram com a ideia, principalmente, a Nete que entraria de férias naquele fim de semana. Ficou combinado que seria na próxima sexta-feira e que todas trariam as “mercadorias” para intercâmbio ou venda, se fosse o caso.
            Sexta-feira, dezesseis horas e cinco minutos, instaurou-se a feira livre na copa/cozinha do escritório. Era muito ti-ti-ti. Dr. Hommel achou interessante o que ocorria e falou para uma das filhas:
            - Doutora Nete, tome as chaves para você fechar o escritório e depois você me devolve lá em casa, ok!
            - Está bem pap... oops... Dr. Hommel!
            - Olha Bia, este camisão estampado com cores “berrantes”, tipo tomara que caia, ficaria bem em você; e ele trás sorte, pois foi com ele que há dois meses conheci o arquiteto Lucas Bordignon, meu quase namorado! – falou Paula, a outra filha de Hommel, à colega advogada.
            - Nossa, que arraso de bonita, dou este cinto que pode combinar com aquelas botas que você veio ontem: - Quer?
            - Feito, quero sim!
            E assim o brechó chique foi até às dezessete horas quando Paula falou à Nete:
            - Mana, vamos fechar e ir para casa, esqueceu que tenho que te levar ao aeroporto, lá na capital às dezenove horas, para você embarcar para seus quinze dias de congresso em Lisboa?
            - Ihhh, mana é mesmo; tinha até esquecido disso depois que o Lucas falou que não conseguiu, ou nem quis tentar arranjar, tempo para me acompanhar. Vou ter que ir solteira, ah!ah!ah!
            Sábado, noite agradável de verão. Bia estava radiante com o camisão estampado dando destaque ao lindo e jovial busto, iluminado pelo seu alvíssimo sorriso, esperando em frente a um famoso barzinho na praça principal de Virtuália, pelo taxi chamado. De repente ela deu um grito e arrepiou-se quando recebeu, pelas costas, um beijo molhado no pescoço:
            - Ah, Paula, você não foi para a Europa?!
            Ao virar-se viu o galanteador enrubescer e pedir-lhe milhões de desculpas, acontecera um engano.
            Bia sorrindo muito, entendendo o equivoco, falou:
            - Você é o Lucas não é? Sei disso porque falaste o nome da Paula que é minha colega em advocacia!
            - Desculpa-me outra vez; é que esse camisão, seu porte, os cabelos encaracolados e de costa eu pensei que fosse ela. Você está indo a algum lugar, espera alguém?
            - Estava indo àquele barzinho, mas minha amiga me ligou no celular cancelando nosso “bate-papo”; estava voltando para casa!
            - Estamos, então, sozinhos na noite?! Vamos tomar um chopinho e conversar um pouco! Tem alguma objeção? – falou Lucas.
            - Não, não tenho não! – respondeu Bia.
            A química, a física, a natureza, o acaso, enfim, o universo preparou aquele equivoco.
            Passaram-se quarenta e cinco dias e aquela sexta-feira seria o último dia de aviso prévio de Bia no escritório de advocacia: H. Hommel & Schups, também o último bazar e na segunda-feira, próxima, assumirá o cargo de diretora jurídica da “Construtora Bordignon”.
Bia trouxe todas as roupas que não gostava mais e entre elas, não estava o camisão tomara que caia da sorte, estampado com cores “berrantes” tão esperado pelas colegas.  Menos pela Nete, é claro!

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