Bric-à-brac
Naquele
escritório de advocacia trabalhavam: Dr. H. Hommel, Dr. E. Schups, as duas
filhas advogadas de Hommel, quatro estagiárias e outra advogada, a Bia. A idade
das funcionárias regulava vinte e quatro anos. Somente Bia era a menos bonita,
mas tinha uma boca e dentes perfeitos e era tão meiga e simpática que sobressaía
às demais.
Eram todas, quase que, com o mesmo
manequim e isto deu uma ideia, naquela quarta- feira, à Paula, que tinha o
porte da Bia e até os cabelos compridos, encaracolados, até no meio das costas.
-
Vamos fazer um bricabraque de vestuários entre a gente aqui do escritório?
Podemos fazer isso nas sextas-feiras, que é o dia da semana em que saímos mais
cedo, - às dezessete horas; faremos com as roupas e bijuterias que não gostamos
e nem usamos mais, - que tal?
Todas concordaram com a ideia,
principalmente, a Nete que entraria de férias naquele fim de semana. Ficou
combinado que seria na próxima sexta-feira e que todas trariam as “mercadorias”
para intercâmbio ou venda, se fosse o caso.
Sexta-feira, dezesseis horas e cinco
minutos, instaurou-se a feira livre na copa/cozinha do escritório. Era muito
ti-ti-ti. Dr. Hommel achou interessante o que ocorria e falou para uma das
filhas:
-
Doutora Nete, tome as chaves para você fechar o escritório e depois você me
devolve lá em casa, ok!
-
Está bem pap... oops... Dr. Hommel!
-
Olha Bia, este camisão estampado com cores “berrantes”, tipo tomara que caia,
ficaria bem em você; e ele trás sorte, pois foi com ele que há dois meses
conheci o arquiteto Lucas Bordignon, meu quase namorado! – falou Paula, a outra filha de Hommel, à colega advogada.
-
Nossa, que arraso de bonita, dou este cinto que pode combinar com aquelas botas
que você veio ontem: - Quer?
-
Feito, quero sim!
E assim o brechó chique foi até às
dezessete horas quando Paula falou à Nete:
-
Mana, vamos fechar e ir para casa, esqueceu que tenho que te levar ao aeroporto,
lá na capital às dezenove horas, para você embarcar para seus quinze dias de
congresso em Lisboa?
-
Ihhh, mana é mesmo; tinha até esquecido disso depois que o Lucas falou que não
conseguiu, ou nem quis tentar arranjar, tempo para me acompanhar. Vou ter que
ir solteira, ah!ah!ah!
Sábado, noite agradável de verão.
Bia estava radiante com o camisão estampado dando destaque ao lindo e jovial
busto, iluminado pelo seu alvíssimo sorriso, esperando em frente a um famoso
barzinho na praça principal de Virtuália, pelo taxi chamado. De repente ela deu
um grito e arrepiou-se quando recebeu, pelas costas, um beijo molhado no
pescoço:
-
Ah, Paula, você não foi para a Europa?!
Ao virar-se viu o galanteador enrubescer
e pedir-lhe milhões de desculpas, acontecera um engano.
Bia sorrindo muito, entendendo o
equivoco, falou:
-
Você é o Lucas não é? Sei disso porque falaste o nome da Paula que é minha
colega em advocacia!
-
Desculpa-me outra vez; é que esse camisão, seu porte, os cabelos encaracolados
e de costa eu pensei que fosse ela. Você está indo a algum lugar, espera
alguém?
-
Estava indo àquele barzinho, mas minha amiga me ligou no celular cancelando
nosso “bate-papo”; estava voltando para casa!
-
Estamos, então, sozinhos na noite?! Vamos tomar um chopinho e conversar um
pouco! Tem alguma objeção? – falou Lucas.
-
Não, não tenho não! – respondeu Bia.
A química, a física, a natureza, o
acaso, enfim, o universo preparou aquele equivoco.
Passaram-se quarenta e cinco dias e
aquela sexta-feira seria o último dia de aviso prévio de Bia no escritório de
advocacia: H. Hommel & Schups, também o último bazar e na segunda-feira,
próxima, assumirá o cargo de diretora jurídica da “Construtora Bordignon”.
Bia
trouxe todas as roupas que não gostava mais e entre elas, não estava o camisão
tomara que caia da sorte, estampado com cores “berrantes” tão esperado pelas
colegas. Menos pela Nete, é claro!
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