domingo, 26 de agosto de 2012

VIDA EM VIRTUÁLIA


*<*<*<*GIBIZINHO *>*>*>*

Gibizinho adentrou em Virtuália perto do Rio do Peixe.  Como andarilho, faz suas andanças margeando os rios, ribeirões, córregos, igarapés, sangas e outros cursos de água que dão vida a essa Terra abençoada.
Dez horas.
 Ele para defronte a um horti-fruti e começa a procurar restos de frutas em um tonel de plástico usado para descartes. Uma voz altiva o interrompe:
- Ei, meu “chapa”! Não vai “me” revirar esse lixo e sujar a frente do meu estabelecimento; venha até aqui que lhe darei algumas frutas!  - gritou Marconi, o dono da sortida quitanda.
- Não, muito obrigado, não quero. Eu só vou pegar algumas frutas muito maduras, que jogastes no lixo, para separar as sementes! Retrucou Gibizinho sorrindo e com duas goiabas, um mamão  papaia e três mangas-ubá apodrecendo nas mãos.
- É cada um que me aparece! Resmungou baixinho o comerciante voltando ao labor de polir as laranjas-pêra da banca.
Gibizinho foi até a pracinha defronte, sentou num dos bancos, separou as partes boas das frutas, selecionou as sementes e as guardou em jornais e murmurou:
- São as frutas, apodrecendo de maduras, que dão boas sementes!
Saboreou com gosto as partes aproveitáveis das mesmas. Terminando o laudo banquete foi até a uma bica de água pública da praça; lavou as mãos, rosto e sorveu grande quantidade do precioso líquido. Encheu uma garrafa de plástico, que ele carrega consigo há pelo menos cinco anos; alojou-a na velha e surrada mochila e seguiu para perto da margem esquerda do Rio do Peixe.
Com seu velho e inseparável canivete, que ele guarda e usa desde os tempos do exército, há pelo menos sessenta anos, começou a abrir covas e sepultar as sementes. Primeiro as de goiaba vermelha; caminhava uns vinte  metros e, repetia a operação com os caroços de manga, as sementes de mamão e assim sucessivamente até que:
- O que está você fazendo, velho? Ah!Ah!Ah! Plantando um pomar? Ah!Ah!Ah!Ah! - zombou dele um dos senhores, bem trajado e à caráter, de um grupo de oito pescadores de fim de semana, já com alto índice etílico, que aproveitavam o domingo.
Sorridente, como sempre, Gibizinho falou:
- Adivinhastes meu senhor! Coopero com a natureza já que a usufruo com minha estadia no planeta! Pensem bem, meus caros: - o universo observável tem um diâmetro perto de cem bilhões de anos-luz com mais de trezentos sextilhões de estrelas; nossa galáxia tem cem mil anos-luz de circunferência,  estimada e com trezentos bilhões de “astros reis” e só neste grãozinho de areia, em que habitamos, a Terra, é que temos certeza existir vida. Então, enquanto eu puder, vou continuar cuidando de manter este pomar.
Todos calaram com os risos e gargalhadas e entreolharam-se pensativos diante da cultura do maltrapilho.
O mendigo seguiu seu caminho de margear os rios, ribeirões, córregos, igarapés, sangas e outros cursos de água plantando pomares. Têm-se provas concretas disto em quase todo o território nacional. É só ir às margens de quaisquer correntezas de água e verificar.
Enquanto existirem os Gibizinhos nosso paraíso persistirá.


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