HÁ ALGO NOS CÉUS DE VIRTUÁLIA
Num
cômodo, nos fundos da casa de Celso, um fanático por eletrônica:
- Eu consegui todos os materiais para montarmos
a tua invenção, Celso; faltam só os fios
de cobre fininho, os LEDS coloridos e as baterias de lítio modelo CR-2032 de três
volts! – disse Sérgio ao amigo.
- O que faltava, não falta mais; eu tenho
tudo! Não sou o “cobra-criada” em consertar eletroeletrônicos em Virtuália “City”?
Ah!Ah!Ah!Ah!
-
Será que vai dar certo, Sérgio? Já são quase dezoito horas e... ah!... eu
trouxe também a carretilha que meu primo me mandou de presente lá de Minas
Gerais, de Muriaé, precisamente falando! Coloquei nela trezentos metros de
linha de nylon de 10 libras, ou seja, de 0,25 mm, acho que é a espessura que
aguentará toda a pressão!
- Vai
dar certo sim e vamos causar alvoroço geral! – respondeu o amigo.
Vinte e uma
horas e trinta minutos, do mesmo dia, depois do filme de sucesso: Os Invasores,
que passava na TV Virtualiana:
- Olhem
o que é aquilo no céu! Parece um... um..., mas é mesmo uma nave extraterrestre? – gritou o Paulinho Goró no comando de seu negócio
de vender churrasquinho no espeto, em seu ponto, na Praça Bispo-Cardeal.
O tumulto foi
geral.
-
Chamem o delegado; estamos sendo invadidos! –
gritou Juliano Scheiβe, (o carnavalesco, delegado de
babacorixá, professor de ciências ocultas e também conhecido como Lisbela – na
versão feminina) com a boca cheia de carne, pois degustava o quinto espetinho à
moda Goró.
O objeto
luminoso não identificado estava a uns oitenta metros de altura e se aproximava
rapidamente com suas luzes coloridas.
-
Não precisa me chamar, eu já vi e trouxe minha carabina! – falou o delegado Carabina Doze.
O OVNI se
afastou para mais ou menos cem metros e ficou pairando no ar por mais ou menos
duas horas. Às vezes ele oscilava para lá e para cá como que obedecendo à brisa
noturna. Num dado momento ele começou a se mover rapidamente até sumir lá para
os lados do campo de futebol varzeano do Brasinha de Virtuária FC, perto da
sanga, lá pelo lado do cafofô da Xerequéia. Carabina Doze foi para lá com uma
guarnição e vasculhou tudo e não achou nada.
No outro dia, de
novo, logo após a exibição de “Os Invasores”, que passava diariamente no canal
de televisão local:
-
Olhem, olhem, os aliens voltaram, eles tornaram a voltarem; eles vão estar
querendo nos abduzir! – gritava
histérica a Cindy Corbélia, na sua gramática ímpar, que àquela hora deixava a
prefeitura.
-
Dr. Carabina, os ETS voltaram e estão desta vez, do outro lado do centro da
cidade! – disse o
plantonista ao delegado, que se preparava para ir da delegacia para casa.
-
Desta vez eu detono eles, vamos lá cabo Tição! – falou o chefe da lei e da ordem de posse de sua
preciosidade inseparável de calibre doze.
Ao chegarem
perto da viatura para rumar para onde o objeto voador não identificado pairava,
eles notaram que o mesmo descia velozmente para o lado do Rio do Peixe, mais
precisamente, onde fica o campo de futebol varzeano do Gauchito FC e, correram
para lá.
Lá chegando:
-
Nada, delegado, não encontramos nenhum vestígio! – disse o cabo do Ébano.
No início da
tarde do dia seguinte às doze horas e trinta minutos; sábado a televisão pôs no
ar uma notícia urgente acompanhada de uma entrevista bombástica.
No Restô, hora
de muito movimento, pois era dia da famosa feijoada do Delfino, nos aparelhos
de televisões ligados:
-
Telespectadores, aqui está a senhorita Édila Dron, secretária do afrodescendente,
padre Orestino da Igreja Caótica Apostrófica Romana e candidata a prefeita de
Virtuália que diz ter sido abduzida pelos ETS visitantes!- falava em tom sensacionalista a Patrícia, repórter
e apresentadora.
-
Isso mesmo, Patrícia, fui abduzida e levada para outro planeta e lá fui
apresentada ao chefe dos alienígenas, eles são muito lindos e de pele morena
jambo; foram gentilíssimos comigo e me ensinaram a arte de governar como
prefeita! Fiquei lá dois meses na contagem deles, mas na nossa só passaram dois
dias!
A repercussão
foi instantânea. Só se falava na, já praticamente eleita, Édila. E o povo
aumentou o conto dizendo que ela estava grávida do alienígena-chefe. Édila não
disse que sim nem que não, ficou “na dela”, já que o amor clandestino seu com o
pároco deixou um fruto que crescia no seu ventre.
-Vou
matar dois java porcos com um tiro só! –
pensava a esperta.
Por duas
semanas, ininterruptas, chovia na região da grande Virtuália e o OVNI nunca
mais foi visto e o boato corria pelas três cidades fronteiriças de Realópolis,
Analogicóplis e Virtuália era um só: Como será a aparência do filho da
candidata à prefeita, praticamente eleita, Édila? Ela era neta de chineses puros e, apesar do
corpinho de gueixa era muito, mas muito feia, mesmo. Ela já tinha até escolhido
o nome do bebê ao vivo no programa de domingo pela televisão: se menino fosse, seria ETevaldo e se fosse menina seria ETelvira.
Depois de dois
domingos de chuva, aquele seria o primeiro da primavera que o céu estava
límpido, estrelado e soprava uma brisa agradabilíssima na Praça Bispo-Cardeal.
A venda de
espetinho do Goró estava a mil quando alguém gritou:
-
Olhem lá no céu? Os ETS voltaram!
De fato, no alto
da igreja matriz o OVNI estava parado e com as tradicionais luzes coloridas
piscando. O delegado, que estava de plantidão gritou:
-
Agora eu pego esses defloradores de donzelas terráqueas! – falou e subiu até o alto da torre da igreja. Fez
mira e disse baixinho:
-
Eis o meu contato imediato de último grau, eh!eh!eh!eh! - e, puxou o gatilho.
-
Acertou! O Carabina Doze acertou o OVNI! –
gritou um anônimo.
A maioria das
luzes se apagou e ele veio plainando como uma folha que cai e se esparramou no
meio da praça. O delegado, do alto da torre, viu dois rapazotes correndo pelo
descampado perto do Grupo Escolar Bispo-Cardeal e na mão de um deles uma
carretilha de soltar pandorgas. Desceu as escadarias num pulo só e ao chegar à
praça ouviu Goró aos gritos escandalosos:
-
Que OVNI coisa nenhuma, delegado, isto era um pipa das grandes com luzes
coloridas nas extremidades e ligadas diretas em baterias de calculadoras; deve
de ser artimanha do Sérgio dos eletrônicos! Huá! Huá! Huá! Huá! Que ET que nada!
Que abdução que nada! A Dona Édila foi abduzida não por um alienígena, mas por
um representante fajuto do céu na Terra, huá!huá! huá!
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