quinta-feira, 30 de agosto de 2012

VIDA EM VIRTUÁLIA


HÁ ALGO NOS CÉUS   DE VIRTUÁLIA


          Num cômodo, nos fundos da casa de Celso, um fanático por eletrônica:
          - Eu consegui todos os materiais para montarmos  a tua invenção, Celso; faltam só os fios de cobre fininho, os LEDS coloridos e as baterias de lítio modelo CR-2032 de três volts! – disse Sérgio ao amigo.
          - O que faltava, não falta mais; eu tenho tudo! Não sou o “cobra-criada” em consertar eletroeletrônicos em Virtuália “City”? Ah!Ah!Ah!Ah!
- Será que vai dar certo, Sérgio? Já são quase dezoito horas e... ah!... eu trouxe também a carretilha que meu primo me mandou de presente lá de Minas Gerais, de Muriaé, precisamente falando! Coloquei nela trezentos metros de linha de nylon de 10 libras, ou seja, de 0,25 mm, acho que é a espessura que aguentará toda a pressão!
- Vai dar certo sim e vamos causar alvoroço geral! – respondeu o amigo.
Vinte e uma horas e trinta minutos, do mesmo dia, depois do filme de sucesso: Os Invasores, que passava na TV Virtualiana:
- Olhem o que é aquilo no céu! Parece um... um..., mas é mesmo uma nave extraterrestre? – gritou o Paulinho Goró no comando de seu negócio de vender churrasquinho no espeto, em seu ponto, na Praça Bispo-Cardeal.
O tumulto foi geral.
- Chamem o delegado; estamos sendo invadidos! – gritou Juliano Scheiβe, (o carnavalesco, delegado de babacorixá, professor de ciências ocultas e também conhecido como Lisbela – na versão feminina) com a boca cheia de carne, pois degustava o quinto espetinho à moda Goró.
O objeto luminoso não identificado estava a uns oitenta metros de altura e se aproximava rapidamente com suas luzes coloridas.
- Não precisa me chamar, eu já vi e trouxe minha carabina! – falou o delegado Carabina Doze.      
O OVNI se afastou para mais ou menos cem metros e ficou pairando no ar por mais ou menos duas horas. Às vezes ele oscilava para lá e para cá como que obedecendo à brisa noturna. Num dado momento ele começou a se mover rapidamente até sumir lá para os lados do campo de futebol varzeano do Brasinha de Virtuária FC, perto da sanga, lá pelo lado do cafofô da Xerequéia. Carabina Doze foi para lá com uma guarnição e vasculhou tudo e não achou nada.
No outro dia, de novo, logo após a exibição de “Os Invasores”, que passava diariamente no canal de televisão local:
- Olhem, olhem, os aliens voltaram, eles tornaram a voltarem; eles vão estar querendo nos abduzir! – gritava histérica a Cindy Corbélia, na sua gramática ímpar, que àquela hora deixava a prefeitura.
- Dr. Carabina, os ETS voltaram e estão desta vez, do outro lado do centro da cidade! – disse o plantonista ao delegado, que se preparava para ir da delegacia para casa.
- Desta vez eu detono eles, vamos lá cabo Tição! – falou o chefe da lei e da ordem de posse de sua preciosidade inseparável de calibre doze.
Ao chegarem perto da viatura para rumar para onde o objeto voador não identificado pairava, eles notaram que o mesmo descia velozmente para o lado do Rio do Peixe, mais precisamente, onde fica o campo de futebol varzeano do Gauchito FC e, correram para lá.
Lá chegando:
- Nada, delegado, não encontramos nenhum vestígio! – disse o cabo do Ébano.
No início da tarde do dia seguinte às doze horas e trinta minutos; sábado a televisão pôs no ar uma notícia urgente acompanhada de uma entrevista bombástica.
No Restô, hora de muito movimento, pois era dia da famosa feijoada do Delfino, nos aparelhos de televisões ligados:
- Telespectadores, aqui está a senhorita Édila Dron, secretária do afrodescendente, padre Orestino da Igreja Caótica Apostrófica Romana e candidata a prefeita de Virtuália que diz ter sido abduzida pelos ETS visitantes!- falava em tom sensacionalista a Patrícia, repórter e apresentadora.
- Isso mesmo, Patrícia, fui abduzida e levada para outro planeta e lá fui apresentada ao chefe dos alienígenas, eles são muito lindos e de pele morena jambo; foram gentilíssimos comigo e me ensinaram a arte de governar como prefeita! Fiquei lá dois meses na contagem deles, mas na nossa só passaram dois dias!
A repercussão foi instantânea. Só se falava na, já praticamente eleita, Édila. E o povo aumentou o conto dizendo que ela estava grávida do alienígena-chefe. Édila não disse que sim nem que não, ficou “na dela”, já que o amor clandestino seu com o pároco deixou um fruto que crescia no seu ventre.
-Vou matar dois java porcos com um tiro só! – pensava a esperta.
Por duas semanas, ininterruptas, chovia na região da grande Virtuália e o OVNI nunca mais foi visto e o boato corria pelas três cidades fronteiriças de Realópolis, Analogicóplis e Virtuália era um só: Como será a aparência do filho da candidata à prefeita, praticamente eleita, Édila?  Ela era neta de chineses puros e, apesar do corpinho de gueixa era muito, mas muito feia, mesmo. Ela já tinha até escolhido o nome do bebê ao vivo no programa de domingo pela televisão: se menino fosse, seria ETevaldo e se fosse menina seria ETelvira.
Depois de dois domingos de chuva, aquele seria o primeiro da primavera que o céu estava límpido, estrelado e soprava uma brisa agradabilíssima na Praça Bispo-Cardeal.
A venda de espetinho do Goró estava a mil quando alguém gritou:
- Olhem lá no céu? Os ETS voltaram!
De fato, no alto da igreja matriz o OVNI estava parado e com as tradicionais luzes coloridas piscando. O delegado, que estava de plantidão gritou:
- Agora eu pego esses defloradores de donzelas terráqueas! – falou e subiu até o alto da torre da igreja. Fez mira e disse baixinho:
- Eis o meu contato imediato de último grau, eh!eh!eh!eh! - e, puxou o gatilho.
- Acertou! O Carabina Doze acertou o OVNI! – gritou um anônimo.
A maioria das luzes se apagou e ele veio plainando como uma folha que cai e se  esparramou no meio da praça. O delegado, do alto da torre, viu dois rapazotes correndo pelo descampado perto do Grupo Escolar Bispo-Cardeal e na mão de um deles uma carretilha de soltar pandorgas. Desceu as escadarias num pulo só e ao chegar à praça ouviu Goró aos gritos escandalosos:
- Que OVNI coisa nenhuma, delegado, isto era um pipa das grandes com luzes coloridas nas extremidades e ligadas diretas em baterias de calculadoras; deve de ser artimanha do Sérgio dos eletrônicos! Huá! Huá! Huá! Huá! Que ET que nada! Que abdução que nada! A Dona Édila foi abduzida não por um alienígena, mas por um representante fajuto do céu na Terra, huá!huá! huá!

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