sábado, 20 de outubro de 2012

VIDA EM FAMÍLIA


Racionais e Irracionais
            Certa época morávamos no interior do Rio Grande do Sul e, lá em casa, existiram três gatos de estimação diferentes: um preto-liso, um branco e preto – tipo vaca malhada – e uma gatinha semi-persa, - bege e peluda.
            Todos chegavam pela manhã, comiam a porção de ração de cada qual e sumiam pelo quintal arborizado em busca de seus cantinhos de dormir. Chibinha, a mestiça, era a exceção; ficava embaixo do tradicional fogão à lenha que foi fabricado e, muito bem feito, em chapas de aço, - era um Venax. A gatinha estava tão preguiçosa que resolveu fazer suas necessidades fisiológicas dentro de casa, no quartinho de costura e do lado da herança deixado pela minha bisavó materna: - uma antiquíssima máquina de costura Singer.
            Minha mãe, sempre paciente com os bichanos, perdeu a estribeira, paciência e outros controles emocionais, pegou uma vassoura, uma vasilha com água e partiu para cima do animalzinho:
            - Gata porca... eu te trato como a uma filha e é assim que me pagas? – falou e começou a correr atrás da gata dentro de casa; antes ela havia fechado toda a residência para a gata não fugir. Eu estava na sala lendo a revista Placar do bicampeonato do Inter, pela enésima vez, e prestava, também, atenção em tudo.
            A gatinha corria para lá e para cá e minha mãe atrás com a vassoura e a água. Chibinha esturrava, rosnava e levantava, às vezes, as patas dianteiras para, quem sabe, se defender.
            Num certo momento a gatinha ficou encantoada; não tinha para onde fugir. Tinha-lhe dois recursos: um era pular na cabeça da Dona Rosa arranhá-la e fugir e, a outra, era ficar quieta e receber o castigo.
            Chibinha olhou para a minha mãe, deu um miado triste, ficou encolhidinha e minha mãe jogou-lhe metade da água da vasilha na carinha bege do animalzinho. A gatinha não reagiu. Piscou, para expelir a água que entrara nos olhos e voltou a, simplesmente, olhar para minha mãe como que querendo dizer:
            - Pode continuar a judiar!
            Minha mãe parou tudo, abraçou a gatinha, carinhosamente e com os olhos mais molhados do que a gatinha disse:
           - Ah! Meu Deus, o que estou fazendo? Quem é o irracional aqui?

Nenhum comentário:

Postar um comentário