Racionais
e Irracionais
Certa época
morávamos no interior do Rio Grande do Sul e, lá em casa, existiram três gatos
de estimação diferentes: um preto-liso, um branco e preto – tipo vaca malhada –
e uma gatinha semi-persa, - bege e peluda.
Todos chegavam pela
manhã, comiam a porção de ração de cada qual e sumiam pelo quintal arborizado
em busca de seus cantinhos de dormir. Chibinha, a mestiça, era a exceção;
ficava embaixo do tradicional fogão à lenha que foi fabricado e, muito bem
feito, em chapas de aço, - era um Venax. A gatinha estava tão preguiçosa que
resolveu fazer suas necessidades fisiológicas dentro de casa, no quartinho de
costura e do lado da herança deixado pela minha bisavó materna: - uma
antiquíssima máquina de costura Singer.
Minha mãe, sempre
paciente com os bichanos, perdeu a estribeira, paciência e outros controles
emocionais, pegou uma vassoura, uma vasilha com água e partiu para cima do
animalzinho:
- Gata porca... eu te trato como a uma filha e é assim que me
pagas? – falou e começou a correr atrás da gata dentro de casa; antes
ela havia fechado toda a residência para a gata não fugir. Eu estava na sala
lendo a revista Placar do bicampeonato do Inter, pela enésima vez, e prestava,
também, atenção em tudo.
A gatinha corria
para lá e para cá e minha mãe atrás com a vassoura e a água. Chibinha
esturrava, rosnava e levantava, às vezes, as patas dianteiras para, quem sabe,
se defender.
Num certo momento
a gatinha ficou encantoada; não tinha para onde fugir. Tinha-lhe dois recursos:
um era pular na cabeça da Dona Rosa arranhá-la e fugir e, a outra, era ficar
quieta e receber o castigo.
Chibinha olhou
para a minha mãe, deu um miado triste, ficou encolhidinha e minha mãe jogou-lhe
metade da água da vasilha na carinha bege do animalzinho. A gatinha não reagiu.
Piscou, para expelir a água que entrara nos olhos e voltou a, simplesmente,
olhar para minha mãe como que querendo dizer:
- Pode continuar a judiar!
Minha mãe parou
tudo, abraçou a gatinha, carinhosamente e com os olhos mais molhados do que a
gatinha disse:
- Ah! Meu Deus, o que estou fazendo? Quem é o irracional aqui?
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