O Sumiço
do ETevaldo
- Como foi indeferido? – falava alto Enzo Tangará.
- Isto mesmo, meu senhor, seu pedido
teve despacho denegatório; o Município não permite a entrada, em seus domínios,
de circos que mantêm animais enjaulados ou participem dos shows! Sabemos que,
por mais que neguem, esses animais são maltratados! – explicava Celino, o Secretário de Eventos de Virtuália.
- O valor da taxa que eu paguei, vai
ser devolvido? -perguntou o mais
velho dos irmãos Tangará.
- Não! A taxa foi para emissão de
pedido de alvará; o alvará se tivesse sido deferido, teria um preço cem vezes
maior! – falou secamente o
Celino encerrando o assunto.
- Tudo bem, conseguirei na cidade de
Realopoles; lá a realidade é outra e, além disso, fica a menos de uma hora
daqui. As pessoas daqui irão ao meu circo de qualquer maneira. Passar bem
senhor secretário!
Enzo
acelerou o antigo Fiat 147, com seu trailer de reboque, para sair da cidade e,
quando estava enfrente ao Cemitério Sideral de Virtuália, quase saindo do perímetro
urbano, o carro parou de funcionar. Enzo, aproveitando o embalo, encostou o
carro e já desceu com uma chave de fenda na mão praguejando:
- Só pode ter entrado um grão de poeira
no giclê do carburador dessa lata velha!
E
era isso mesmo. Tão logo baixou o capô e preparava para entrar no carro ouviu:
-
Ih!Ih!Ih! O carro “véio” tava com o giclê
entupido! Ih!Ih!Ih! – Enzo olhou para o alto do muro do cemitério e quase
morreu de susto. Era um ser que ele nunca tinha visto antes, quem tinha falado.
- Não é assombração, pois isso não
existe! Deve ser alguém muitíssimo feio!
– Enzo pegou duas mangas maduras que ele tinha comprado na quitanda do Marconi,
e estendeu à criatura. O ser pulou do muro para a rua e veio em direção dele
dizendo:
- Dá manga prá ETevaldo, dá!
- Ah! Então você tem nome, não é?
- Entre aqui no carro “véio”, vamos
passear! – Enzo rapidamente
pegou uma corda e amarrou aquela aberração e, também, o amordaçou.
- Eh! Eh! Já tenho mais uma atração
para o parque dos horrores de meu circo e já posso até ver o anúncio:
“O ÚNICO CIRCO QUE TEM, NO SEU PARQUE
DOS HORRORES, UM EXTRATERRESTE GENUÍNO”.
-
Vou faturar horrores! Amanhã já posso mandar todo o circo vir da capital para
Realopoles. Enquanto isso essa joia rara vai ficar no meu trailer escondido.
Dois dias depois na Delegacia de
Virtuália:
-
Já procuramos por todo o Vale do Rio do Peixe e não encontramos o ETevaldo, filho de vocês, e não conseguimos nenhuma
pista. Juliano, você não tem nenhuma fotografia dele?
- Claro que
não Dr. Carabina, não tivemos coragem de tirar retrato dele!
- O Senhor
pode fazer um retrato falado dele, a gente pode descrevê-lo! Falou o Hibisco cujo apelido é Beijo.
-
‘Tá ok! Zé Nanquim – gritou o Carabina – faça o retrato falado de quem estes dois vão descrever e traga aqui!
Meia hora depois o retrato falado ficou
pronto:
-
Caramba, o que é isto? Vocês estão de brincadeira, o que é isto?- falava bracejando
o delegado.
-
É nossa criança de criação, Dr! Olhe aqui a certidão de nascimento e de adoção
do mesmo! – Juliano falou e mostrou os documentos ao Dr.
-
Certidão de adoção? Ah! Tá certo, aqui em Virtuália tem isso! Pois bem, vamos
distribuir este retrato por todo o Vale e daremos quaisquer notícias, ok?
- Ok,
Carabina, confiamos na Lei! – falou Juliano.
E, quando ambos
deixaram a delegacia, o delegado falou ao desenhista:
-
Só se eu fosse maluco distribuir um retrato falado desses por aí!
Um mês se passou e todos em Virtuália e
região só falava nas aberrações do parque dos horrores do Circo dos Hermanos
Tangará e Juliano, juntamente com Beijo, resolveram ir até Realopoles para
assistir ao espetáculo e visitar tal parque com as aberrações.
Em Realopoles:
-
Olhe Beijo, meu amor, o cartaz do parque dos horrores! Não parece o nosso ETevaldo?
-
Parece mesmo, Juju! Vamos entrar logo e verificar!
A surpresa foi grande e decepcionante.
Não era o filho deles e sim um anão fantasiado de ET e Juju perguntou ao Enzo,
dono do circo:
-
Esse cartaz com a imagem gigante desse ET não tem nada a ver com esse de
mentira que vocês apresentam! Isso é propaganda enganosa! Como conseguiram aquela
ilustração do cartaz?
- Não te devo
satisfações, meu caro! Se não gostou, paciência e peço que se retirem daqui
senão chamo os seguranças! Não quero tumulto no meu circo!
Quando Juju saiu,
juntamente com o Beijo, o Enzo pensou:
-
Só se eu fosse maluco em falar que o pessoal do exército esteve aqui e levou o
ETevaldo. O que aquele ser tem de feio tem de inteligente! E pensar que com
cinco anos de idade ele pintou aquele autorretrato utilizando um espelho! A esta hora ele já deve de estar na área 51, em
Nevada, lá nos States. Esquisito é que ele estava perdendo todos os pelos e os cabelos...
pô, agora é que ele estava ficando realmente feio fui obrigado a entregá-lo às
autoridades secretas. Será que ele é realmente um ET?
Juliano e Beijo, ao saírem do parque
dos horrores, levaram com eles o cartaz com a imagem que parecia muito com o ETevaldo.
Seria a única coisa que restou que lembrava seu pimpolho. Juliano propôs ao
Beijo:
-
Vamos adotar um cachorrinho poodle - toy que, além de ser bonitinho, não nos
vai dar tanto trabalho para mantê-lo, ok mon amour?
- Tudo bem
Juju e não precisaremos manter o cachorrinho escondido e sem falar que um
poodle-toy come muito menos do que aquele... aquele... nosso filho!
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