sábado, 13 de outubro de 2012

VIDA EM VIRTUÁLIA



O Sumiço do ETevaldo

-  Como foi indeferido? – falava alto Enzo Tangará.
- Isto mesmo, meu senhor, seu pedido teve despacho denegatório; o Município não permite a entrada, em seus domínios, de circos que mantêm animais enjaulados ou participem dos shows! Sabemos que, por mais que neguem, esses animais são maltratados! – explicava Celino, o Secretário de Eventos de Virtuália.
- O valor da taxa que eu paguei, vai ser devolvido? -perguntou o mais velho dos irmãos Tangará.
- Não! A taxa foi para emissão de pedido de alvará; o alvará se tivesse sido deferido, teria um preço cem vezes maior! – falou secamente o Celino encerrando o assunto.
- Tudo bem, conseguirei na cidade de Realopoles; lá a realidade é outra e, além disso, fica a menos de uma hora daqui. As pessoas daqui irão ao meu circo de qualquer maneira. Passar bem senhor secretário!
Enzo acelerou o antigo Fiat 147, com seu trailer de reboque, para sair da cidade e, quando estava enfrente ao Cemitério Sideral de Virtuália, quase saindo do perímetro urbano, o carro parou de funcionar. Enzo, aproveitando o embalo, encostou o carro e já desceu com uma chave de fenda na mão praguejando:
- Só pode ter entrado um grão de poeira no giclê do carburador dessa lata velha!
E era isso mesmo. Tão logo baixou o capô e preparava para entrar no carro ouviu:
- Ih!Ih!Ih! O carro “véio” tava com o giclê entupido! Ih!Ih!Ih! – Enzo olhou para o alto do muro do cemitério e quase morreu de susto. Era um ser que ele nunca tinha visto antes, quem tinha falado.
- Não é assombração, pois isso não existe! Deve ser alguém muitíssimo feio! – Enzo pegou duas mangas maduras que ele tinha comprado na quitanda do Marconi, e estendeu à criatura. O ser pulou do muro para a rua e veio em direção dele dizendo:
- Dá manga prá ETevaldo, dá!
- Ah! Então você tem nome, não é?
- Entre aqui no carro “véio”, vamos passear! – Enzo rapidamente pegou uma corda e amarrou aquela aberração e, também, o amordaçou.
- Eh! Eh! Já tenho mais uma atração para o parque dos horrores de meu circo e já posso até ver o anúncio:
  “O ÚNICO CIRCO QUE TEM, NO SEU PARQUE DOS HORRORES, UM EXTRATERRESTE GENUÍNO”.
 - Vou faturar horrores! Amanhã já posso mandar todo o circo vir da capital para Realopoles. Enquanto isso essa joia rara vai ficar no meu trailer escondido.
   Dois dias depois na Delegacia de Virtuália:
  - Já procuramos por todo o Vale do Rio do Peixe e não encontramos o ETevaldo,  filho de vocês, e não conseguimos nenhuma pista. Juliano, você não tem nenhuma fotografia dele?
   - Claro que não Dr. Carabina, não tivemos coragem de tirar retrato dele!
  - O Senhor pode fazer um retrato falado dele, a gente pode descrevê-lo! Falou o Hibisco cujo apelido é Beijo.
   - ‘Tá ok! Zé Nanquim – gritou o Carabina – faça o retrato falado de quem estes dois vão descrever e traga aqui!
       Meia hora depois o retrato falado ficou pronto:
     - Caramba, o que é isto? Vocês estão de brincadeira, o que é isto?- falava bracejando o delegado.
      - É nossa criança de criação, Dr! Olhe aqui a certidão de nascimento e de adoção do mesmo! – Juliano falou e mostrou os documentos ao Dr.
    - Certidão de adoção? Ah! Tá certo, aqui em Virtuália tem isso! Pois bem, vamos distribuir este retrato por todo o Vale e daremos quaisquer notícias, ok?
       - Ok, Carabina, confiamos na Lei! – falou Juliano.
    E, quando ambos deixaram a delegacia, o delegado falou ao desenhista:
      - Só se eu fosse maluco distribuir um retrato falado desses por aí!
   Um mês se passou e todos em Virtuália e região só falava nas aberrações do parque dos horrores do Circo dos Hermanos Tangará e Juliano, juntamente com Beijo, resolveram ir até Realopoles para assistir ao espetáculo e visitar tal parque com as aberrações.
      Em Realopoles:
    - Olhe Beijo, meu amor, o cartaz do parque dos horrores! Não parece o nosso ETevaldo?
         - Parece mesmo, Juju! Vamos entrar logo e verificar!
         A surpresa foi grande e decepcionante. Não era o filho deles e sim um anão fantasiado de ET e Juju perguntou ao Enzo, dono do circo:
         - Esse cartaz com a imagem gigante desse ET não tem nada a ver com esse de mentira que vocês apresentam! Isso é propaganda enganosa! Como conseguiram aquela ilustração do cartaz?
         - Não te devo satisfações, meu caro! Se não gostou, paciência e peço que se retirem daqui senão chamo os seguranças! Não quero tumulto no meu circo!
      Quando Juju saiu, juntamente com o Beijo, o Enzo pensou:
      - Só se eu fosse maluco em falar que o pessoal do exército esteve aqui e levou o ETevaldo. O que aquele ser tem de feio tem de inteligente! E pensar que com cinco anos de idade ele pintou aquele autorretrato utilizando um espelho!  A esta hora ele já deve de estar na área 51, em Nevada, lá nos States. Esquisito é que ele estava perdendo todos os pelos e os cabelos... pô, agora é que ele estava ficando realmente feio fui obrigado a entregá-lo às autoridades secretas. Será que ele é realmente um ET?
     Juliano e Beijo, ao saírem do parque dos horrores, levaram com eles o cartaz com a imagem que parecia muito com o ETevaldo. Seria a única coisa que restou que lembrava seu pimpolho. Juliano propôs ao Beijo:
      - Vamos adotar um cachorrinho poodle - toy que, além de ser bonitinho, não nos vai dar tanto trabalho para mantê-lo, ok mon amour?
        - Tudo bem Juju e não precisaremos manter o cachorrinho escondido e sem falar que um poodle-toy come muito menos do que aquele... aquele... nosso filho!





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