ARRET
A NOVA MORADA
A Esperteza de
Antônio Jerônimo da Conceição
Em
Virtópolis existem avenidas, ruas, praças e as habitações eram casas grandes e
arejadas. Não possuíam muros e as ruas não eram calçadas ou asfaltadas; eram
gramadas.
- São gramadas as nossas ruas, seu Lê,
porque nossos veículos flutuam. Mesmo parados e desligados eles ficam cerca de
trinta e um centímetros do solo. São feitos de uma liga e com um tipo de
imantação, que permite controlar a força gravitacional. A força da gravidade
daqui é pouquíssimo menor que a da Terra e Arret, mas é. Vejam os seres que
vieram de Arret como andam mais rápidos sobre o tapete gramado!
- Inacreditável! É tudo o que sempre
sonhei. As casas são simplesmente fantásticas, Juliano – falei-lhe.
- Ué Julianu, num tem posti nas ruas, mai
tem luis acesa nas casa! Cumu issu aconteci?
- Existi a eletricidade aqui também, Nhô.
Ela é universal! Porém aqui ela é distribuída sem rede física de transmissão.
Ela é captada através de vibrações de uma frequência que na Terra ainda não
conhecem. A eletricidade aqui é transformada nesse tipo de frequência. Cada prédio
tem um dispositivo que recebe essa frequência e a distribue pelas instalações.
- Si é qui intendi diretchu, é
ingual que nem as onda dus rádiu?
- O senhor entendeu, Nhô é por aí – disse Ju e
prosseguiu:
- A eletricidade é captada da estrela Greise
através de uma central montada na serra, aqui perto, que apelidamos de Serra da
Mãe; ela é igualzinha a Serra Madre do Vale Virtualiano do Rio do Peixe lá de Virtuália.
- Chegamos pessoal! É aqui nosso
complexo de pesquisas, trabalho e residência – disse o
Etevaldo.
Descemos
da pequena nave e Juliano falou:
- Vou levá-los para nossa casa!
- Seu Lê, meu pai e minhas irmãs também
estão aqui – disse o Beijo.
Na
casa dos Flores:
- Pai, manas, venham ver quem chegou –
gritava o Beijo.
Aparece na varanda da frente da casa o restante da
família. Todos estavam ótimos. O Zé das Flores parecia que remoçara trinta e um
anos. As senhoras continuavam com o padrão de “não beleza” dos Flores, mas
todas agora têm seu par; todas de casaram com homens de Terra II.
Depois
de demorados cumprimentos com cada membro da família, e a chegada do comandante Kobauski, a nova senhora do senhor
Zé gritou;
- A mesa está posta, venham logo, pessoal!
Na
mesa, fabricada de um tipo de acrílico em Arret, a fartura de alimentos era
vistosa, porém o que chamou a atenção dos terráqueos foram os rabanetes,
pepinos, palmitos, salada verde e os filés fritos de peixe.
- Nhô, prove essa pinga feita de cana nativa
de Terra II – ofereceu o Etevaldo. Nhô pegou o copo de cristal e deu um
golão. Segurou a cachaça por alguns segundos na boca, engoliu e exclamou:
- Eiiiiiita que essa põi as minha purinha nu
chinelu! É ôce qui faiz Etevardu?
- Não Nhô! Quem a produziu e produz é o Zé
das Flores. Ele montou um alambique lá na nossa fazenda - disse o Etevaldo.
- Seu Lê, dá uma porvadinha – disse o Nhô
me estendendo o copo. Peguei, provei e disse:
- É uma bebida dos deuses! No que a garapa é
fermentada, seu Zé?
- É fermentada no fubá de
micro-milho-vermelho – falou isso e me mostrou uma travessa cheia de
espigas, em preparo de picles, que não passavam de cinco centímetros quando
maduras e na época de serem colhidas. Etevaldo pegou um palito dourado e
espetou numa espiga e me disse:
- Prove!
Coloquei
na boca e senti o gosto de picles e o sabor inigualável de outro tipo de milho
verde:
- Barbaridade! Que delícia! Acho que estamos
no paraíso, Nhô!
- Eh! Eh! Eh! Ieu já tinha pensadu
ansim, misifíu. Aqui é a Terra perfeita!
O almoço
foi um dos mais saborosos de minha vida e a senhora do Zé das Flores, cujo
apelido dado por ele era Margarida, trouxe-nos de sobremesa um manjar que
lembrava a mistura dos sabores de ananás e cupuaçu.
- Após o almoço vamos dar um passeio de aeromóvel
pelo planeta. Você quer ir seu Lê – perguntou o Kobauski.
- Eu lhe agradeceria muito Kobauski. Será um
passeio inesquecível - respondi-lhe e perguntei ao meu velho amigo:
- O que o senhor acha Nhô?
- Ieu gostaria de dá um passeiu
puresta ilha qui pareci Hy-Brasil – respondeu o Nhô.
- Então vamos lá! Vamos no aeromóvel que está
lá no nosso estacionamento. Seu Lê, o senhor vai pilotando. Verá que é mais
simples que dirigir a sua GMC – disse Kobauski.
Em
meia hora eu já estava apto para tirar um brevê em Terra II, pois na nossa Terra original eu já o tenho para aviões de pequeno porte.. Realmente era
facílimo pilotar aquele pequeno aeromóvel. Tal nave parecia dois pratos de sopa
sobrepostos. Por fora parecia aço inoxidável, mas de dentro, na cabine de comando
da parte de cima, dava para ver trezentos e sessenta graus do lado de fora. Uma
espécie de manche, ao manuseá-lo, tocava a nave para frente, para trás, para os
lados, para cima e para baixo. No painel tinha apenas uma tela onde, quem
pilotasse, colocava a mão direita e falava as palavras:
- Fraruski ieupodu – com esse conjunto
de sílabas o CPD de bordo analisava toda a minha reação e a partir dali era
como quem dava às coordenadas à nave. O CPD traduzia o que eu falava para
linguagem do Kobauski e, após, à linguagem da máquina. Enfim, eu era o
comandante.
Subi
com o aparelho à altura que pudéssemos comparar Big-Brasil com Hy-Brasil.
- Incrível Nhô, é exatamente igual à da
nossa Terra, só com mais vegetação – falei ao meu amigo.
Descemos
perto onde tinha a confluência de dois rios. Saímos da nave: eu, Kobauski,
Juliano, Beijo e o Nhô que disse assustado:
- Seu Lê, aqui, adondi nóis tá é ingual que
nem onde ieu moru lá em Virtuáia. Tem inté a mina de água, óia só! É inguazin u
locá inhantis di ieu i a Ritinha montá nossu sítiu. Incrívi!
- O senhor tem razão “Véi”! Parece
que estamos na nossa Terra. Parece que voltamos ao passado de nosso planeta há
uns 50.000 anos!
- Mai seu Lê, issu num podi sê. Óia
a Lua nu céu, iela parece que é mais menor que a nossa Lua – observou o
Nhô.
- Talvez, Nhô, a Lua há 50.000 anos
estivesse mais longe da Terra e pareceria menor se a víssemos ou, a poluição da
Terra, de hoje, dá-nos uma ilusão de ótica e faz com que a vejamos maior –
respondi-lhe e perguntei ao Kobauski:
-É possível isso meu amigo Kobauski?
- Seu Lê, depois que a gente entra
em um “wormhole” e sai na outra extremidade dele, tudo pode acontecer!
- Outra coisa que eu gostaria de
saber, Kobauski: Porque toda vez que eu quero contatar com você eu te imagino e
você aparece? Já tentei fazer isso com o Etevaldo e com a doutora Kolina, mas
não funcionou. Isso só dá certo contigo?
- Seu Lê, lembra-se quando você tinha
oito anos, você foi passar férias na casa de seus avós lá no norte do Paraná?
Você foi com sua mãe e irmã mais velha no aniversário de seu primo?
- Nunca vou me esquecer, meu amigo! Lembro
que resolvi voltar para a casa da vovó, pois a festinha estava muito chata e eu
resolvi cortar caminho, de uns quinhentos metros, entre arbustos e árvores.
Estava anoitecendo e, em minha frente, apareceu a figura de um padre todo
vestido de roupa prateada e com um capuz, também da mesma cor, cobrindo a
cabeça e me ofereceu uma bola de futebol dourada e quando a peguei não vi mais
nada. Acordei dois dias depois no hospital da cidade e minha mãe falou que eu
devia ter caído e batido a cabeça. Nunca esqueci aquele episódio, pois o padre
era enorme. Tinha os braços compridos e não me falou nada. Não vira seu rosto,
pois estava escuro e...
- Pois é seu Lê, esse “padre” era
eu! Naquela época nós o abduzimos e te levamos para a antiga morada. Lá o
analisamos e implantamos em sua cabeça um microchip. É por ele que lhe
monitoramos nesses cinquenta anos. Basta você pensar na minha pessoa que eu me
conecto à sua mente!
- Caracóis! Estão está explicada
esta nossa amizade. O rumo que tomei na vida e...
- Calma seu Lê! Não interferi em sua
vida em hipótese alguma! Somente acompanhamos o seu desenvolvimento físico e
intelectual.
- Seu Kobauski, si a lua tá, agora, si bandianu
pru horizonti, didia, linháis, às treis hora da tardi, intão qué dizê qui...
- Que a noite será sem lua, Nhô! O senhor
está certo no seu raciocínio – disse o Juliano, interrompendo o Nhô e
prosseguiu:
- O céu daqui é lindíssimo, Nhô! Não dá para
explicar; só vendo mesmo! Veremos hoje à noite já que não estamos na estação de
chuvas.
- Intão tá , intão, misifiu – respondeu
Nhô e foi caminhando até à margem do rio maior e sentou-se em uma pedra de
granito e pensou:
-“ Cruis Credu, inté a pedra que ieu gostchu
di mi sentá lá na barranca du Riu du Pêxe é iguá essa qui ieu sentei aqui na
margi dessi riu!”.
No
leito do rio, os peixes eram tantos que pulavam acima das águas do rio e Nhô
exclamou:
- Caramba, comu essi riu é cheiu de pêxe!
Ieu ainda achu qui nóis estamos na Terra. Achu qui nóis vortamu nu tempu!
- Tivi uma ideia! Vou colocar minha
medainha, di oro, du São Ciprianu, nessa parti oca du granitu e despois tampá
cum um monti di pedra. Quandu ieu vortá lá prô meu cafofô na Terra, ieu vô
percurá pur iela. Aí vô tê certeza qui nóis num fomu pra outru praneta. Nóis
vortamu nu tempu na Terra memu!
Nhô
fez o que pretendia e voltou para junto dos outros na nave e falei:
- Nhô, agora vou levar todos para passarmos
por sobre o lugar que parece com a Amazônia. Vamos ver se lá tem, também, um
rio parecido com nosso Rio Amazonas - falei isso e comandei a nave até lá.
- Olhe só seu Lê, é um rio parecido
com o Amazonas, mas só que mais estreito. Vejam como a mata é densa – falou o
Juliano apontando para a foz do rio.
- É incrível pessoal como esse planeta
lembra a nossa Terra. Vamos acompanhar essa cordilheira que desce para o sul
desse continente e de lá voltaremos para onde está instalada a nossa cidade, ok
– falei a todos.
- Você é quem manda comandante – disse o
Kobauski. E assim foi feito e, após o jantar, por volta das vinte e uma horas e
trinta e um minutos, deitados no gramado de um local afastado das luzes da
cidade, eu e o Nhô olhávamos o céu:
- Seu Lê, ti digu uma coisa sem tirá i nem
pô: Essi céu é u memu lá da nossa Terra!
- Eu estou quase acreditando nisso,
meu amigo!
- Óia aqueia bola di fogu qui evém lá de
adondi o sol si iscondeu. Iela vem digavarzim mai tá vinu pressis ladu.
- É mesmo Nhô! Neste céu dá para ver
muita coisa indo e vindo, prá lá e prá cá!
- Ieu vô drumi seu Lê pruque amanhã vô pescá
com u Julianu i u Bejo nu riu qui passa nus fundu da fazenda dêies. A dona
Margarida vai fazê pêxe fritu nu armoçu amanhã, linhais, vai fritá us qui nóis
pescá, eh! Eh! Eh!
Fiquei
por ali, vendo o céu límpido e estrelado, até adormecer e, por volta das cinco
da manhã;
- Seu Lê, acorda e óia prá riba do céu –
dizia o Nhô, que acordara cedo para ir pescar. Olhei e vi que a bola de fogo,
que vimos ao anoitecer estava sobre nossas cabeças a uma distância como que de
nossa Terra à Lua.
- Isso é um meteoro que ficou preso à
gravidade deste planeta e... – fui interrompido pelo Etavaldo que, também,
acordara cedo para levar a turma para a pescaria:
- É isso mesmo, meu amigo! Esse meteoro dá uma
volta em torno da Terra II a cada cinco dias e está de afastando daqui a cada
volta. Segundo estudos, matemáticos e físicos, de nossos cientistas, em
quinhentos anos terrestres ele irá se chocar com a densa atmosfera do quinto
planeta deste sistema solar. Irá se desintegrar e se transformará em
incontáveis fragmentos que se transformarão e se juntarão aos outros anéis que
já envolvem aquele planeta!
- Entendi! Será como o nosso Saturno
– perguntei.
- Isto mesmo, o senhor entendeu, seu Lê! O
senhor não vai pescar?
- Não, Etevaldo! Vou passar a manhã
com seu pai no laboratório. Depois do almoço vou percorrer o planeta num aeromóvel!
- I ieu vô mais ôce seu Lê – prontificou
o velho Nhô.
- Eu e o Beijo também vamos – falou o Juliano
No Laboratório:
- Olhe só, seu Lê, temos catalogadas todas
as espécies de seres vivos deste planeta; tanto da flora como na fauna. Os
minerais são os mesmos tanto aqui como na Terra, como em Arret e até mesmo como na antiga morada – falou-me o Kobauski projetando, em holografia 3D
nítidas, como se fossem reais, de animais e florestas, hoje, extintas em nossa
Terra.
- Tens razão Kobauski: “Só os minerais são
eternos!” – como bem disse o Lefus.
- Mas, por que não levamos fauna e
flora daqui para a Terra – perguntei.
- Temos projeto para isso, seu Lê, mas só
quando os seres humanos que aqui estão nascendo forem capazes de seguir adiante
suas vidas neste planeta sem nossa ajuda e intromissão.
- Entendi! Tal qual como um deus fez
com o nosso planeta Terra?
- Pensando assim pode até ser, seu
Lê!
Os dias, em Terra II, passavam quem
nem sentimos e, no prazo de vinte e seis dias, falei ao Nhô:
- Nhô, temos que voltar às nossas
realidades da Terra e de Virtuália. Vamos falar com Kobauski que daqui a cinco
dias vamos voltar. Se aqui ficamos trinta e um dias da Terra equivale que
ficamos aqui trezentos e dez anos, lembra? Não sabemos como vamos encontrar as
coisas em Virtuália e, tão pouco, na Terra. Vamos e, num futuro próximo,
retornaremos aqui. Que achas?
- Ieu já ti falei um tantão di veis
que é ocê qui manda, misifiu. I ieu tamém to cum muita sodade da minha morada,
da horta, du pomar, du Bittencour... - interrompi o Nhô:
- Dá Xerequéia, não é Nhô?
- Eh! Eh! Eh! Tamém, misifiu e
muntcha, eh! Eh! Eh!
À noite, daquele mesmo dia, na hora do jantar,
na casa dos Flores:
- Então está acertado, seu Lê. Daqui a cinco
dias, num sábado, voltaremos para Virtuália – comunicou-nos o Kobauski e
continuou:
- Amanhã vamos para o Oriente Médio,
deste planeta. Lá vou mostrar-lhes como vivem os seres deste planeta após a
nossa intervenção genética. Naquela parte do planeta, já não estamos mais interferindo
em suas vidas. Aliás, evitamos ao máximo nosso contato com eles. Mesmo nas
minas de ouro monoatômico, só designamos para elas pessoal de Arret e os
ciborgues. São todas fechadas sem a presença deles. São várias aldeias
distribuídas ao longo da região. Em cada aldeia tem um homem, de QI elevado, em
cujo cérebro implantamos chips com conhecimentos suficientes para gerir,
inventar e tomar decisões. Cada aldeia, no futuro, viverá uma nação. Antes de
retornarmos para Arret, daqui a alguns anos terrestres, distribuiremos novos
humanos, sem laços consanguíneos, em várias regiões deste planeta. Eles terão
que se desenvolverem sozinhos e os que conseguirem sobreviver, com certeza,
transformar-se-ão em uma nação diferente das demais.
- Caramba, Kobauski, esta ideia de
vocês é divina – falei entusiasmado.
No dia seguinte rumamos para o destino: -
Oriente Médio da Terra II e lá chegando:
- Vamos descer o aeromóvel no espaço entre
aqueles morros, piloto Klauskis, ali não tem ninguém que possa nos ver!
Ok, senhor! Vou descer - respondeu o
arretiano.
Da
janela panorâmica da nave vi, ou me deu a impressão, ter visto alguns
habitantes da aldeia que ficava há alguns quilômetros dali, na entrada de uma
das cavernas de um dos morros e, atrás deles seres que pareciam reptilianos.
A
nave ficou a trinta e um centímetros do chão e descemos.
Do
compartimento de carga da nave saiu uma nave menor de reconhecimento. Era nela que percorreríamos a região. A nave
maior deixou-nos e foi para a estratosfera esperar por um chamado do Kobauski.
Antes
de embarcarmos, na nave de reconhecimento, as pessoas saíram da caverna, chegou
perto da gente e se prostraram no chão, falando palavras incompreensíveis:
-
Alah-oá... alah-oá...alah-oá...
- Kobauski, elas estão nos reverenciado como
se fossemos divindades – falei.
- Era justamente isto que queríamos evitar.
Olhem para o outro lado e fechem bem os olhos e tampem os ouvidos, pessoal –
ordenou o comandante.
Fizemos
o que ele ordenou. Eu já sabia que ele usaria o aparelho que apagava a memória recente
daquelas pessoas.
A
intensidade da energia expedida pelo aparelho fez com que todos os seres
caíssem por terra e Kobauski falou:
- Tive que usar este artifício se não, em
pouco tempo, estarão fazendo estátuas da gente e nos adorando como à deuses que
desceram dos céus. Em poucos minutos voltarão a si sem saber o que lhes
aconteceu.
- Mas Kobauski, você não falou que a
religião deles é a lógica e a razão – indaguei.
- Eles são livres para pensarem e
discernirem, seu Lê. O humano, nativo em Terra II, ao qual passamos o
conhecimento através do chip implantado, dessa aldeia, não está usando a razão.
Ele inventou que um ser superior com grandes poderes os castigará caso não
sigam a disciplina implantada.
- Como você sabe disso, Kobauski –
perguntei-lhe.
- Pela leitura do chip instalado
nele, seu Lê. Por isso vim aqui nesta região. Está havendo grandes explosões na
estrela que dá luz a este planeta e, por isso, estamos acreditando que as ondas
magnéticas provocadas por essas explosões estejam afetando a comunicação entre
nossa nave mãe e os chips implantados nos novos humanos escolhidos.
- Se continuarem assim, vai cair na mesmice
das crenças terrestres, Kobauski!
- Talvez, seu Lê, porém antes de deixá-los
tocarem a vida desse planeta sem nossa presença, vamos atualizar os dados dos
chips de todos os líderes, assim que as tempestades magnéticas cessarem. Temos
condições tecnológicas de fazermos isto, mesmo estando milhares de milhas de
distância.
- Mas Kobauski, não seria
conveniente deixar um dos cientistas arretiano aqui por mais uns tempos, para
acompanhar a evolução?
- Já pensei nisto, seu Lê, e talvez eu deixe
um casal de jovens cientistas e alguns ciborgues por mais algum tempo. Este
casal irá acompanhar essa evolução. Este planeta tem poucas
jazidas de ouro monoatômico, pelos menos é o que sabemos até agora e, em breve
teremos que abandonar as minas ao redor desse mundo. Não compensará nos
mantermos por aqui. A civilização está se formando e o metal, que nos
interessa, se escasseando muito rapidamente. Pode haver mais abaixo das camadas
de minerais de chumbo, mas isso só vai aflorar daqui há alguns milhares de anos
com as movimentações da crosta de Terra-II. Daqui a dois dias vou reunir todos
os cientistas dessa missão e falar da decisão que tomarei. Vocês estão
convidados, ok?
- Ok! Com certeza estaremos nessa reunião
– respondi ao comandante supremo e continuei:
- Kobauski, eu tive a impressão de ter visto
seres reptilianos escondidos na caverna de onde saíram os novos humanos. Você
percebeu também?
- Sim seu Lê, são seres parecidos
com os reptilianos, mas só vivem nas profundezas das cavernas. Fora delas eles
morrem, pois os raios da estrela Gleise os fulminariam. Eles não têm um gen que dá proteção no maior
órgão de seus corpos: - a pele! Além disso, a claridade os cegam
instantaneamente. Esses que estavam perto da saída da caverna devem ter morrido
quando apertei o botão desmemorizador. Vamos lá nos certificarmos!
E
assim foi feito.
- Olhe, seu Lê, são só dois seres que foram
fulminados pela claridade – disse-me Kobauski.
- Realmente, comandante, eles são idênticos
aos reptilianos, mas eu jurava que havia mais e tive a nítida impressão que uns
usavam alguma coisa escuras sobre os olhos – falei observando os seres de
perto e conclui:
- Outra coisa, comandante, se a claridade os
afeta, então eles podem sair à noite!
- Mas eles saem, porém nunca ficam longe das
cavernas, seu Lê! Talvez num futuro de uns 5.000 anos, esses seres estarão
aptos para sair à superfície durante a luz do dia. Hoje pude me certificar que
eles e os novos humanos já estão mantendo contatos. Só o tempo e a evolução nos
comprovarão isto.
- Eu acho que você já tem essa
certeza, não é Kobauski – perguntei.
- Acho melhor nos irmos embora antes que os
novos humanos recobrem os sentidos, seu Lê – disse-me Kobauski.
Kobauski, da nave menor, mandou sinal para
que o piloto Klauskis descesse com a nave maior para levar-nos de volta à
Virtópolis. Atendendo ao sinal a nave maior chegou e, a menor com todos nós dentro,
flutuou até ao compartimento apropriado e logo depois, questão de uns treze minutos, se fecharam as aberturas,
tão logo entramos. Saímos da nave menor e fomos, com Kobauski, à sala de
comando – onde fica o piloto e nossos lugares naquela cabine:
-
Comandante Kobauski, estamos com um problema técnico – disse o piloto.
-
É por isso que não subiu com a nave e demoraste a fechar a plataforma de embarque
– deduziu Kobauski.
-
Sim senhor! O campo magnético interno, que detecta presença de corpos
estranhos, desligou sozinho assim que a nave de reconhecimento entrou a bordo.
- Só um instante, piloto! Vou verificar, se o
que houve, aconteceu somente com a nossa nave maior – falou isso e entrou na rede
de computadores interligada entre todas as naves e Arret e disse espantado:
-
O que é esse universo com seu caos organizado!
-
O que houve Kobauski – perguntei preocupado.
-
Sabe aquele meteoro que circula e que está se afastando da gravidade de Terra
II?
-
Sei comandante, o que aconteceu?
- Recebeu um impacto de um corpo
estranho em sua rota e desviou-se rumo a esta estrela. O bom é que com esse
choque evitou que o corpo estranho chocasse com Terra II. Porém, ele ganhou espantosa velocidade e a gravidade da estrela Greise o absorveu. Ele chocou-se com a superfície da estrela que lançou grande quantidade de partículas
magnetizadas em direção à Terra II. Isto aconteceu há oito minutos e trinta e
um segundos. Foi exatamente nesse tempo que aconteceu o problema em nossa e em
todas as outras naves da expedição.
-
Comandante, o problema foi parcialmente sanado sozinho! Podemos partir? Mas o
detector de corpos estranhos ainda não funciona!
-
Quanto tempo o compartimento de cargas ficou com o alçapão aberto, Klauskis?
-
Treze minutos e trinta e um segundos, senhor!
-
Creio que nada estranho entrou na nave maior. Pode subir e nos levar para
Virtópolis, major Klauskis!
Quando
a nave mãe ganhou altura:
- O que é aquilo lá no horizonte?
- É uma tempestade de areia, seu Lê!
Vamos rápido, quero que vocês a vejam lá de cima. Rápido para o aeromóvel – ordenou o
comandante.
A dez
mil pés acima da superfície e acima da tempestade, que chegou em questão de
minutos, porém já bem branda:
- Olhe pessoal, vejam que grande quantidade
de areia vermelha está bem acima das nuvens altas! Vejam como ela se dirige
para, o que parece, a América do Central e do Sul! Com certeza irá se espalhar
ao cair sobre aquela floresta tropical onde tem aquele imenso rio. Já estudamos
o local e o solo lá só se mantém em condições de manter a floresta, exuberante,
por causa dessa terra do deserto distante que acaba caindo e...
- Mas isto é o que acontece na nossa
Amazônia lá na Terra, Kobauski – falou o Juliano.
- Estranha coincidência, senhor Juliano –
disse o comandante.
“- É... pode ser... pode ser que não seja
coincidência...” – refleti em pensamento.
Com a
expectativa da volta para Virtuália, os dias “voaram’ e na noite da combinada
reunião nas instalações do complexo científico ao norte de Virtópolis, cidade
construída para a colonização de Terra II, na ilha Big- Brasil:
- Senhores esta reunião é para participar a
todos que depois de amanhã voltaremos para Arret! Tudo deverá estar preparado
nas próximas vinte e quatro horas. Nada de nossa civilização deverá ficar fora
de Big-Brasil. Ficará aqui por um tempo determinado o jovem casal de cientista
pleno – que se ofereceram como voluntários -, doutor Yah e a doutora Veh, a
família do senhor Zé das Flôres e os senhores Juliano e Hibisco. Não ficará
nenhum novo humano nesta ilha. Todos após desmemorização serão espalhados pelos
continentes. Creio que são em torno de onze mil e trinta e uma almas. Após esta reunião comecem a operação de transladá-los, aos citados
continentes, de acordo com o plano da doutora Kolina. Junto com Yah e Veh ficará
uma legião de ciborgues com vida útil de dez anos terrestres. Esses ciborgues
estão todos programados para receber as ordens do casal de cientistas. Este
casal será como um rei e uma rainha nesta Terra - II, porém não entrarão em
contato corpóreo com os novos humanos. Nem a família do Zé das Flores, Juliano e
Beijo poderão sair de Big-Brasil. Manterei contato com Yah e Veh constantemente
e se vocês, da família Flores, quiserem retornar para Arret ou Vituália,
poderão fazê-lo, porém terão de contatar-me com antecedência, OK Juliano?
- Certo comandante, entendi!
- Então, senhores, a reunião está
encerrada! Vamos começar a agir agora!
Continua em:
Uma
breve volta à realidade.
Para entender este texto tu tens que ir lá no início dos textos. Com o passar da leitura dos primeiros textos é que irás entender -
ResponderExcluircronologicamente -,este e os outros, até o final, ok?
Se quiseres contatos eis meu e-mail:
lecinof@gmail.com