sábado, 11 de maio de 2013

VIDA EM VISTUÁLIA


ARRET
A NOVA MORADA

Uma breve volta à realidade

            A movimentação da equipe da expedição funcionava as vinte e quatro horas com revezamentos.   Eu, Etevaldo, Juliano e Beijo formamos uma equipe. Seria a nossa que levaria uma grande quantidade de novos humanos para a região, equivalente, à Amazônia Terrestre. Deixaríamos, mas precisamente, nas terras altas da região equiparada ao Peru e outra “leva” perto de um imenso lago que lembrava o Titicaca na mesma região.
            Trabalhávamos muito com a remoção da população da ilha para os outros continentes e, aos poucos, os arretianos foram retornando e aguardando por Kobauski, com suas naves-mãe, em Big-Brasil, para transportar os equipamentos – pelo “wormhole” pré-determinado -, para Arret.
            Eu, Etevaldo e Nhô fomos uns dos últimos a descer e flutuar em Virtópolis; só chegamos antes de Kobauski.
            Pouco minutos depois já estávamos todos para ganharmos o espaço e entrarmos no “buraco de vermes” predeterminado. Despedimos do Ju, Beijo e família Flores e falei a Juliano:
            - Pense na possibilidade de, quando for passear em Arret, dar um “pulo” em Virtuália, ok, Ju?
            - Talvez façamos isso! Quando menos nos esperar, sairemos pelo portal no sítio do Nhô!
            - Comandante Kobauski e doutora Kolina foi um prazer convivermos todos esses dias, aliás, esses anos em Terra II. Se acontecer alguma coisa, seja, em Arret ou Terra II, gostaria que me conectasse. Eu terei imenso prazer, além é claro, de grande curiosidade em acompanhá-lo – falei despedindo-me do casal de superiores da expedição.
            - Está bem senhor Lê, agora vocês têm que ir. Etevaldo, eu quero que deixe o seu Lê e o Nhô em Virtuália após, feito isso, rume para Arret. Aquela suposição que discutimos, tornou-se um fato real. Aguardarei-te no QG central de Arret, na minha sala, daqui a trinta e um minutos, ok!
            - Está certo, pai!  Lá estarei – respondeu Etevaldo e prosseguiu:
            - Vamos seu Lê e Nhô, Virtuália nos espera!
            Entramos no aeromóvel e subimos até a estratosfera de Terra II. Lá estava outra nave maior que o aeromóvel e ela nos levaria para Virtuália.
            - Estão prontos, seu Lê e Nhô?
            - Ieu tô, Etevardu!
            - Eu também Etevaldo, podemos partir!
            Entramos no wormhole às onze horas. Primeiro veio o brilho da nave dourada, depois a escuridão total e logo em seguida o festival de cores, luzes e sombras e, por fim, de novo a claridade e o barulho – que parecia uma super turbina desacelerando:
            - Chegamos ao portal do teu sítio Nhô! Podemos descer e atravessar o portal – instruiu o Etevaldo e continuou a falar:
            - Nhô, vou passar o portal com vocês, pois quero saborear algumas mangas maduras, daquelas que comia, quando criança e andava por essas bandas, ok! Vamos deixar o portal aberto, será rápido!
            - Tá bão Etevardu! Bora lá intão! Us pé di manga fica pertu di uma pequena mina di água a uns cinquenta metru das pitanguera du portá!
            Logo após saborearmos algumas mangas, despedimos do Etevaldo e equipe e estes partiram rumo a Arret. Tão logo nos afastamos do portal ele brilhou intensamente e apagou.
            - Voltamos a Hy-Brasil, a Virtuália, aliás, ao seu sítio Nhô!
            - Eh! Eh! Eh! I num é qui é memu, seu Lê! Mi diga agora: Num paréci qui nem saimu du lugá?
            - Parece que só piscamos os olhos, não é Nhô – respondi e, observando o meu amigo, perguntei-lhe:
            - Ué Nhô, cadê a correntinha com a medalhinha de São Cipriano, que a Ritinha te deu e que estava em seu pescoço? Lembrei que foi a única joia que o Kobauski deixou-nos levar, além do meu relógio ômega, herança de meu pai!
            - É uma coisa qui ieu percisu ti contá, misifiu. Ieu quandu... - Nhô foi enterrompido por vários relinchos seguidos:
            - Bittencourt, meu véi amigu, qui sodadi ieu tava di ôce! Ôce tá passianu longi du seus pastu. Nossa comu ôce tá parrudão, pangaré! A Xerê tá cuidanu di ôce mió du qui ieu, eh! Eh! Eh!
            Vimos Xerê se aproximando e falando alto:
            - Êêiiita, até que enfim, voltaram não é?
            - Ôce tá boa, véia? Ieu tô morrenu de sodadi di tudu daqui!
            - É mesmo, “véi”? E de mim, não sentiu?
            - Muntchu! Mai muntchu memu!
            - É impressão minha ou você está mais moço, meu preto “véi”?
            - Ieu to mi sentinu mai Jovi, eh! Eh! Eh!
            - E o senhor seu Lê, pela sua aparência deve de estar ótimo, não é?
            - Sim estou muito bem! Depois que extraí as pedras da vesícula eu sou outro sujeito – respondi.
            - Ô minha véia, qui medainha é essa nu seu pescoçu? Ieu achu qui conheçu iela – falou o Nhô ao ver a jóia  no pescoço da amada.
            - Uns dias atrás eu fui pescar naquele lugar do Rio do Peixe, chamado de  Bico da Pedra, onde você costuma ir, também, e um peixe que eu pesquei caiu do punçá e foi direto para dentro de um buraco naquela  enorme pedra de granito. Eu enfiei a mão prá pegar ele e essa correntinha veio presa nas barbatanas do mandi. Ela estava toda suja e eu dei um brilho nela.
            - É inacreditávi, Xerê! Seu Lê, as minha dúvida si acabô – falou o velho negro esperto.
            - Como assim, Nhô?
            - Inhantis di mais nada, vamu inté adondi a Xeré achô essa medainha qui ieu ixplicu despois.
            No local do achado:
            - Foi aqui que eu achei essa joia antiga, Nhô. Eu cavouquei mais com uma picareta e pá pensando que era um tesouro, mas só tinha essa medalha – disse a Xerê.
            - Vamos todos lá para o sítio que já são quase meio dia e, justo hoje, eu fiz uma “big” de uma feijoada de java-porco, salada de rabanetes, rúcula, taioba e couve cozido. Só não tem laranja, mas tem mexerica caipira e abacaxi para ajudar na digestão. Vamos lá pessoal?
            - Vamu sim, minha Véia, linhais, possu ti chamá ansim Xerê?
            - Pode seu “véi” esperto. Só espero que ôce não se ausente por um bom tempo. Senti tua falta!
            - Bem Nhô e Xerê eu tenho que ir para casa e...  - fui interrompido pelo meu velho amigo que me intimou:
            - Negativu, misifiu! Ieu tenhu qui ti contá uma coisa muntchu importanti sobri a Terradois i, tem qui sê na hora du armoçu!
            - Está bem, Nhô! Irei após o almoço; depois de um coxilo, tá bom assim?
            - Vamu lá qui ieu vô fazê uma caipirinha di lima prá nóis mata a vontadi, tá bão?
            - Ótimo Nhô, vamos lá – falei convencido e salivando.

            Na varanda da cozinha do cafofô:
            - Nossa Nhô, como sua casa está arrumada, limpa e perfumada! E o cheiro da feijoada que está no fogão de lenha... que aroma delicioso – falei.
            - Eh! Eh! !Eh! Nada comu um jeitim femininu, né Xerê? E ôce tem todu um jeitu qui ieu gostchu muntchu!
             - Que bom que você gostou meu preto – disse emocionada a Xerê.
            Durante o almoço:
            - Seu Lê, lembra naquéie dia im qui ieu fui inté aquéia pedrona di granitu na margi du rio qui é ingualzim u Riu du Pêxe?
            - Lembro sim, Nhô! O que houve – perguntei.
             - Ieu peguei minha correntinha com a medáia di São Ciprianu, e iscondi nu buracu da pedra de granitu iguarzinha quenem essa nossa aqui nu Riu du Pêxe.       
            - Nhô, “pelamordosdeuses”, o que o senhor está me falando? Será que a... – Nhô me interrompeu:
            - É issu memu, seu Lê essa medainha qui a Xerê encontrou é a mema minha medainha qui ieu iscondi lá nu granitu na margi du riu em Terradois.
             - Então, Nhô, nós não saímos do lugar. Voltamos há cinquenta mil anos nessa mesma Terra – espantado falei.
            - Ieu num falei nada inhantis pruquê ieu quiria tê certeza, seu Lê! Agora nóis já podemu dizê qui temu quaji certeza, num é?
            - É isso mesmo, velho esperto! O senhor é de uma inteligência fora do comum senhor Antônio Jerônimo da Conceição. Por isso não vi a correntinha no teu pescoço nos últimos dias!
            - Eh! Eh! Eh! Brigadu, seu Lê! Si ôce tá falanu... intão tá, intão!
            - Então esse é o seu nome de verdade Nhô? Essa medalhinha é sua mesmo, pois tem as letras AJC gravadas do lado de trás da imagem.
            - Agora é sua Xerê! É um presenti du passadu qui ieu levei du presenti para ti dá nu futuru! Pódi ficá cum iela di todu u meu coração!
            - Obrigada meu “véi” sapeca! Quando eu a encontrei, na hora, lembrei-me de você!
            - Nhô, vou fazer a sesta e depois teremos que contactar o Kobauski para ele explicar o que houve realmente, ok?
            - Tá bão, misifiu, dromi na redi dibaxu dus dois pé di siriguela. Ieu vô tirá, tamem, uma soneca mais a Xerê, eh! Eh! Eh!
            - Tá bom, meus amigos!

            Na rede:
            - Caramba, será que viajamos para os primórdios da nossa civilização? Será que...

            - Ele está abrindo os olhos, doutor Fabrício! O meu Lê está se recuperando - gritava a Rô dentro da UTI do HPS.
            - Calma dona Rosângela! Eu tinha certeza que com os medicamentos e a fisioterapia, embora inconsciente, ele se recuperaria!
            - Oi, Rô! O que eu estou fazendo numa UTI de hospital?
            - Ah! Meu amor, você quase morreu! Lembra que há um mês e um dia, tiveste uma crise de vesícula? Você foi operado e teve complicação e só acordou agora!
            - Caramba! Eu fiquei trinta e um  dias “apagado”? Pô! Parece que se passaram trezentos e dez anos!
            - Ah! Ah! Ah! O meu Lê está realmente de volta doutor Fabrício – sorridente gritava a Rô.
            Três dias depois em casa:
            - Toda nossa vida ficou parada  por trinta e um dias, Lê! Eu não fiz nada a não ser ficar ao seu lado na UTI do HPS. Quem cuidou e tudo foi nosso caçulinha que, por nossa sorte estava de férias do serviço dele.
            - Caramba, mesmo em outro mundo eu te dou trabalho, não é meu pitéu - brinquei.
            - O importante é que tudo está, de novo, na nossa rotina, não é?
            - É isso mesmo! Mas estou pensando em ir passar o feriado de Corpus Christi na fazenda do nosso amigo Nilton Bezerra lá em Marajó! Que achas? Ele me telefonou hoje cedo falando que mandou um convite de casamento e disse que o Juninho tem uma proposta boa para mim.
            - Já faz um tempinho que não vamos lá por aquelas bandas, não é Lê?
            - E por coincidência... olhe aqui , no meio das correspondências de hoje,  um convite de casamento do filho dele, o Juninho. É justamente no fim de semana do feriado – falei à Rô entregando-lhe o convite.
             - E então, vamos?
            - Pode começar os preparos. Temos trinta e um dias até a semana do feriado. Vou mandar um e-mail para ele confirmando e aceitando sermos um dos pares de padrinho e madrinha do Juninho.
            - O difícil Lê, é o presente que daremos para ele. Ele já tem de tudo! O Nilton deu-lhe uma fazenda de presente de casamento lá no centro de Marajó. Além disso, ele com trinta e um anos de idade, já têm cinco postos de combustível além de uma frota de balsas!
            - É mesmo Rô, mas já tenho a ideia do presente!
            - E qual á a ideia?
            - Vou comprar sêmen de touros Nelore premiados. Ele vai começar um rebanho de gado de corte para ajudar a abastecer toda a região do Norte do Pará, Amapá, Guiana Francesa, Suriname e Guiana. Vou levar em recipientes apropriados e em nitrogênio líquido. Em pouco tempo ele terá um rebanho de Nelore de ótima qualidade e procedência.
            - Ótima ideia, Lê! Espere um pouco que tocaram a campainha. Vou ver quem é, ok – disse-me a Rô.
            Quatro minutos e trinta e um segundos depois:
            - Era entrega especial dos Correios, Lê! É para você e vem de São Paulo – disse-me minha esposa.
            - É do Kendy! Eu comprei um lote de gibis antigos dele. Ele é o maior colecionador do país, quiçá da América do Sul – peguei o pacote, abri e falei:
            - São uns gibis dos Sobrinhos do Capitão que eu ainda não tinha na coleção e, também, um lote de almanaques da década de cinquenta e sessenta. Vou levá-los para nossa viagem ao Marajó, ok?
            - Ok Lê tudo bem! O que vamos ter lá é muito tempo para tudo; até para ler gibis, ah! Ah! Ah!         

Continua em:

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