sábado, 27 de abril de 2013

VIDA EM VITUÁLIA


ARRET

A NOVA MORADA
31 anos em 31 dias
Um zumbido se fez ouvir, como uma turbina desacelerando, e o brilho da esfera foi diminuindo e esta ficou pairando – flutuando mesmo -, a trinta e  um centímetros do chão.
- Já podemos descer pessoal – ordenou o Kobauski.
A curiosidade me fez apressar e desci antes do Nhô. Eu ainda estava boquiaberto com o tamanho da espaçonave e tentei tocar na sua fuselagem:
- Não chegue muito perto da esfera, seu Lê! Ela está terminando o processo de resfriamento – alertou-me a doutora Kolina.
- Eh! Eh! Eh! Foi muntchu rápidu né seu Lê – falou-me o Nhô. Olhei para meu relógio e ele marcava nove horas e um minuto.
O pessoal de Arret, que trabalhava nesta expedição, começou a movimentar-se em veículos que flutuavam no ar. Eram do tamanho de automóveis médios da Terra e outros que variavam de tamanho, entre a minha GMC e os absurdos bi-trens terráqueos.
- Caramba, Nhô, como é grande essa nave-mãe! Como cabem “as coisas” dentro dela!
- É memu, misifiu, mais vamu ficá dibaixu daquéia carambolera i isperá qui u Kobausqui acabi di dá as ordi prô pessoá dêie. Despois ieli ô u  Etevardu vem percurá a genti – disse-me o Nhô.
- Tá certo “Véi”!
Debaixo da caramboleira:
- Óia só, seu Lê, as carambolas daqui são mais menor qui as lá du meu sítiu i são, quandu madura, vremeia – linhais-, são cor di sangui!
- É mesmo, meu velho, deve ser de outra espécie. Vou dar uma mordida em uma para sentir o gosto - disse-lhe isso e estiquei o braço para pegar uma madura, da cor da GMC e:
- Nossa Nhô! Hummm.. é muito saborosa, uma delícia – exclamei após a mordida. Nhô também colheu uma e:
- É memu, seu Lê, qui maravia! Nóis vamu si dá bem por aqui!
Nisto uma aéro-viatura para perto da gente e abre-se uma porta e:
- Bem vindos ao planeta Terra-II, meus amigos – era o Etevaldo e com ele o Juju e o Hibisco, que é apelidado de Beijo.
- Etevardu, Beju qui prazerão – gritou o Nhô e continuou:
- São ôceis memu, tão diferenti?
- Somos nós mesmos Nhô Antônio Benzedô: Juliano e Beijo – respondeu o Ju.
- Como vocês estão ótimos! Bem que o Kobauski  falou que iríamos ter uma surpresa – exclamei e prossegui:
- Juliano, como  é difícil acreditar que você esteja tão esbelto. Você, da última vez que o vi, pesava quase cem quilos. O que houve?
- Nada, seu Lê, apenas tenho vivido normalmente em Arret e agora, nos últimos tempos, aqui em Terra II. Já viu o Beijo? Sumiram todas as espinhas, manchas, o desvio da coluna – que o deixava corcunda e rengo -, e até dentes verdadeiros a tecnologia de Arret fez nascer nele!
- É mesmo, cara! Quase não dá para falar que é o Hibisco! Você está bem, Beijo!
- Eu estou ótimo, seu Lê! Aqui é igualzinho à nossa Terra quando ela era livre da poluição, das águas contaminadas e o ar tem a combinação divina, certinha para os nossos organismos!
- Há quanto tempo vocês estão aqui – perguntei ao Ju.
- Quase um ano terrestre, ou seja, um ano neste espaço-tempo, dura um dia terrestre. Então trezentos e vinte e um anos aqui equivale a trezentos e vinte e um dias da Terra! Podemos falar que, nesta dimensão, o tempo é idêntico ao da Terra se nela permanecêssemos, porém, visto de fora daquela dimensão não podemos ter certeza de nada.
- Ieu num tô intendenu nadica di nada, misifiu, mai tô mi sentinu uns cinquenta anu mai jóvi, eh! Eh! Eh!- disse o Nhô.
- Eu também vou demorar a entender tudo, “Véi”, mas estou me sentindo muito bem – respondi-lhe.
- É a atmosfera perfeita, seu Lê. Eu e o Beijo, também, sentimos isso e ficaremos por aqui indefinitivamente – disse Ju.
- Indefinitivamente? Você tem certeza Juliano – perguntei.
- Sim,  porque não vamos morrer jamais – disse o Ju.
- “Ih! O Juliano pirou de vez!” – pensei comigo.
- Não pense que fiquei louco, seu Lê! Eu vou explicar o porquê de eu falar assim.
- Por favor, Juliano, eu fiquei confuso – supliquei-lhe.
- Pois bem, vamos lá para minha casa que contarei tudo enquanto comemos alguma coisa, ok?
- Ok!- Respondi-lhe.
- Seu Lê, a Terra II é exatamente igual à nossa saudosa Terra. Vou subir com nosso veículo até cinco mil pés e verás que tudo é igual, suponhamos,  quando nosso planeta-mãe tinha cinquenta mil anos, ou seja, inteiramente selvagem. A raça do Kobauski está aqui a, somente, noventa anos terrestre. A nova raça, criada por eles, já está na terceira geração. Eles aproveitaram os seres bípedes que aqui, ainda,  existiam e os manipularam geneticamente utilizando dados genéticos dos terráqueos. Modificaram cientificamente o genoma deles, que por sinal era noventa e cinco por cento iguais ao nosso, e a partir daí eles irão evoluir e povoar este paraíso. Todas as macelas e defeitos que tínhamos quando fomos criados, esta raça, não terá, desde a sua criação.
- Caramba, Juliano, o que estão querendo criar? Uma raça humana perfeita?
- Talvez! Quem sabe?
- I a qui crença ieles reza Julianu – perguntou o Nhô.
- Nenhuma Nhô! As únicas religiões aqui são: A razão e a lógica!
- Mas, Juliano um povo tem que ter religião – insisti.
- Por que? Se existe a compreensão da razão e usa-se a lógica? – respondeu-me o antigo carnavalesco de Virtuália.
- Mai, misifiu, e adondi entra u nossu Deus nessa históra?
- O que todos sabemos é que existe uma Energia Vibrante que rege todo esse caos  organizado  que existe. Deuses criados pelos humanos terráqueos ou qualquer ser vivo, não existem e nem cabem na razão e lógica dessa raça e nem na do Kobauski – explicou Juliano.
- Juliano, você falou que querem ficar definitivamente por aqui, certo? Vocês não pretendem nem ir visitar nossos amigos em Virtuália? Eles perguntam por vocês!
- Não seu Lê, lá éramos alvos de deboche e preferimos ficar por aqui mesmo.
Houve uns minutos de silêncio e depois Juliano retornou ao diálogo:
- Depois iremos à nossa casa aqui na grande cidade e também em nossa fazenda; ambas ficam na ilha onde pousamos há pouco. Agora olhem para baixo e vejam como tudo é exatamente como na nossa Terra original. Vou sobrevoar o continente onde se situa nossa ilha. É nesta ilha que ficamos confinados para as nossas pesquisas.
- Juliano, essa parte de Terra II é idêntica ao oeste da  Europa, olhando daqui de cima! – disse-lhe.
- Justamente seu Lê, é como se fosse aquela região há cinquenta mil anos – respondeu-me.
Ficamos alguns segundos em silêncio e o Etevaldo falou:
-Temos descer para nossa ilha! Papai deve estar preocupado conosco. Teremos muitíssimo tempo para mostrar todo o planeta a vocês – falou isso e começou a descer suavemente a pequena nave  e o Nhô apontou, pela ampla visão das janelas da aeronave de serviço:
- Óia, seu Lê, a ilha parece Hy – Brasil, num pareci? Ieu já vi num mapa da delegacia de Virtuáia!
- Caracóis! É mesmo Nhô! Tua memória é fantástica!
- É tudo igual como na terra, meus amigos! Já lhes falei isto! Foram anos de pesquisa, dos cientistas da antiga morada, para chegarmos até aqui. A grande cidade dos arretianos, fora de Arret, fica aqui nesta ilha que chamamos de Big-Brasil – disse-nos o Juliano.
- Olhem! Lá está Virtópolis, nossa cidade em Terra II! Ao norte dela, fica nossa base. É ali que montamos nosso QG administrativo e de pesquisas – disse Etevaldo.
Tudo era novidade fantástica para mim e o Nhô. Por mais que me esforçasse não conseguia acreditar no rejuvenescimento do Ju e do Beijo e pensei:
“- Quando estiver com Kobauski vou saber o porquê de isso acontecer e outra dúvida que há muito me intriga!”

Continua em :
A Esperteza de
Antônio Jerônimo da Conceição

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