sábado, 4 de maio de 2013

VIDA EM VIRTUÁLIA


ARRET
A NOVA MORADA

A Esperteza de
Antônio Jerônimo da Conceição


            Em Virtópolis existem avenidas, ruas, praças e as habitações eram casas grandes e arejadas. Não possuíam muros e as ruas não eram calçadas ou asfaltadas; eram gramadas.
            - São gramadas as nossas ruas, seu Lê, porque nossos veículos flutuam. Mesmo parados e desligados eles ficam cerca de trinta e um centímetros do solo. São feitos de uma liga e com um tipo de imantação, que permite controlar a força  gravitacional. A força da gravidade daqui é pouquíssimo menor que a da Terra e Arret, mas é. Vejam os seres que vieram de Arret como andam mais rápidos sobre o tapete gramado!
            - Inacreditável! É tudo o que sempre sonhei. As casas são simplesmente fantásticas, Juliano – falei-lhe.
            - Ué Julianu, num tem posti nas ruas, mai tem luis acesa nas casa! Cumu  issu aconteci?
            - Existi a eletricidade aqui também, Nhô. Ela é universal! Porém aqui ela é distribuída sem rede física de transmissão. Ela é captada através de vibrações de uma frequência que na Terra ainda não conhecem. A eletricidade aqui é transformada nesse tipo de frequência. Cada prédio tem um dispositivo que recebe essa frequência e a distribue pelas instalações.
            - Si é qui intendi diretchu, é ingual que nem as onda dus rádiu?
            - O senhor entendeu, Nhô é por aí – disse Ju e prosseguiu:
            - A eletricidade é captada da estrela Greise através de uma central montada na serra, aqui perto, que apelidamos de Serra da Mãe; ela é igualzinha a Serra Madre do Vale Virtualiano do Rio do Peixe lá de Virtuália.
            - Chegamos pessoal! É aqui nosso complexo de pesquisas, trabalho e residência – disse o Etevaldo.

            Descemos da pequena nave e Juliano falou:
            - Vou levá-los para nossa casa!
            - Seu Lê, meu pai e minhas irmãs também estão aqui – disse o Beijo.

            Na casa dos Flores:
            - Pai, manas, venham ver quem chegou – gritava o Beijo.
Aparece na varanda da frente da casa o restante da família. Todos estavam ótimos. O Zé das Flores parecia que remoçara trinta e um anos. As senhoras continuavam com o padrão de “não beleza” dos Flores, mas todas agora têm seu par; todas de casaram com homens de Terra II.
            Depois de demorados cumprimentos com cada membro da família, e a chegada do comandante Kobauski,  a nova senhora do senhor Zé gritou;
            - A mesa está posta, venham logo, pessoal!
            Na mesa, fabricada de um tipo de acrílico em Arret, a fartura de alimentos era vistosa, porém o que chamou a atenção dos terráqueos foram os rabanetes, pepinos, palmitos, salada verde e os filés fritos de peixe.
            - Nhô, prove essa pinga feita de cana nativa de Terra II – ofereceu o Etevaldo. Nhô pegou o copo de cristal e deu um golão. Segurou a cachaça por alguns segundos na boca, engoliu e exclamou:
            - Eiiiiiita que essa põi as minha purinha nu chinelu! É ôce qui faiz Etevardu?
            - Não Nhô! Quem a produziu e produz é o Zé das Flores. Ele montou um alambique lá na nossa fazenda - disse o Etevaldo.
            - Seu Lê, dá uma porvadinha – disse o Nhô me estendendo o copo. Peguei, provei e disse:
            - É uma bebida dos deuses! No que a garapa é fermentada, seu Zé?
            - É fermentada no fubá de micro-milho-vermelho – falou isso e me mostrou uma travessa cheia de espigas, em preparo de picles, que não passavam de cinco centímetros quando maduras e na época de serem colhidas. Etevaldo pegou um palito dourado e espetou numa espiga e me disse:
            - Prove!
            Coloquei na boca e senti o gosto de picles e o sabor inigualável de outro tipo de milho verde:
            - Barbaridade! Que delícia! Acho que estamos no paraíso, Nhô!
            - Eh! Eh! Eh! Ieu já tinha pensadu ansim, misifíu. Aqui é a Terra perfeita!
            O almoço foi um dos mais saborosos de minha vida e a senhora do Zé das Flores, cujo apelido dado por ele era Margarida, trouxe-nos de sobremesa um manjar que lembrava a mistura dos sabores de ananás e cupuaçu.
            - Após o almoço vamos dar um passeio de aeromóvel pelo planeta. Você quer ir seu Lê – perguntou o Kobauski.
            - Eu lhe agradeceria muito Kobauski. Será um passeio inesquecível - respondi-lhe e perguntei ao meu velho amigo:
            - O que o senhor acha Nhô?
            - Ieu gostaria de dá um passeiu puresta ilha qui pareci Hy-Brasil – respondeu o Nhô.
            - Então vamos lá! Vamos no aeromóvel que está lá no nosso estacionamento. Seu Lê, o senhor vai pilotando. Verá que é mais simples que dirigir a sua GMC – disse Kobauski.
            Em meia hora eu já estava apto para tirar um brevê em Terra II, pois na nossa Terra original eu já o tenho para aviões de pequeno porte.. Realmente era facílimo pilotar aquele pequeno aeromóvel. Tal nave parecia dois pratos de sopa sobrepostos. Por fora parecia aço inoxidável, mas de dentro, na cabine de comando da parte de cima, dava para ver trezentos e sessenta graus do lado de fora. Uma espécie de manche, ao manuseá-lo, tocava a nave para frente, para trás, para os lados, para cima e para baixo. No painel tinha apenas uma tela onde, quem pilotasse, colocava a mão direita e falava as palavras:
            - Fraruski ieupodu – com esse conjunto de sílabas o CPD de bordo analisava toda a minha reação e a partir dali era como quem dava às coordenadas à nave. O CPD traduzia o que eu falava para linguagem do Kobauski e, após, à linguagem da máquina. Enfim, eu era o comandante.
            Subi com o aparelho à altura que pudéssemos comparar Big-Brasil com Hy-Brasil.
            - Incrível Nhô, é exatamente igual à da nossa Terra, só com mais vegetação – falei ao meu amigo.
            Descemos perto onde tinha a confluência de dois rios. Saímos da nave: eu, Kobauski, Juliano, Beijo e o Nhô que disse assustado:
            - Seu Lê, aqui, adondi nóis tá é ingual que nem onde ieu moru lá em Virtuáia. Tem inté a mina de água, óia só! É inguazin u locá inhantis di ieu i a Ritinha montá nossu sítiu. Incrívi!
            - O senhor tem razão “Véi”! Parece que estamos na nossa Terra. Parece que voltamos ao passado de nosso planeta há uns 50.000 anos!
            - Mai seu Lê, issu num podi sê. Óia a Lua nu céu, iela parece que é mais menor que a nossa Lua – observou o Nhô.
            - Talvez, Nhô, a Lua há 50.000 anos estivesse mais longe da Terra e pareceria menor se a víssemos ou, a poluição da Terra, de hoje, dá-nos uma ilusão de ótica e faz com que a vejamos maior – respondi-lhe e perguntei ao Kobauski:
            -É possível isso meu amigo Kobauski?
            - Seu Lê, depois que a gente entra em um “wormhole” e sai na outra extremidade dele, tudo pode acontecer!
            - Outra coisa que eu gostaria de saber, Kobauski: Porque toda vez que eu quero contatar com você eu te imagino e você aparece? Já tentei fazer isso com o Etevaldo e com a doutora Kolina, mas não funcionou. Isso só dá certo contigo?
            - Seu Lê, lembra-se quando você tinha oito anos, você foi passar férias na casa de seus avós lá no norte do Paraná? Você foi com sua mãe e irmã mais velha no aniversário de seu primo?
            - Nunca vou me esquecer, meu amigo! Lembro que resolvi voltar para a casa da vovó, pois a festinha estava muito chata e eu resolvi cortar caminho, de uns quinhentos metros, entre arbustos e árvores. Estava anoitecendo e, em minha frente, apareceu a figura de um padre todo vestido de roupa prateada e com um capuz, também da mesma cor, cobrindo a cabeça e me ofereceu uma bola de futebol dourada e quando a peguei não vi mais nada. Acordei dois dias depois no hospital da cidade e minha mãe falou que eu devia ter caído e batido a cabeça. Nunca esqueci aquele episódio, pois o padre era enorme. Tinha os braços compridos e não me falou nada. Não vira seu rosto, pois estava escuro e...
            - Pois é seu Lê, esse “padre” era eu! Naquela época nós o abduzimos e te levamos para a antiga morada. Lá o analisamos e implantamos em sua cabeça um microchip. É por ele que lhe monitoramos nesses cinquenta anos. Basta você pensar na minha pessoa que eu me conecto à sua mente!
            - Caracóis! Estão está explicada esta nossa amizade. O rumo que tomei na vida e...
            - Calma seu Lê! Não interferi em sua vida em hipótese alguma! Somente acompanhamos o seu desenvolvimento físico e intelectual.
            - Seu Kobauski, si a lua tá, agora, si bandianu pru horizonti, didia, linháis, às treis hora da tardi, intão qué dizê qui...
            - Que a noite será sem lua, Nhô! O senhor está certo no seu raciocínio – disse o Juliano, interrompendo o Nhô e prosseguiu:
            - O céu daqui é lindíssimo, Nhô! Não dá para explicar; só vendo mesmo! Veremos hoje à noite já que não estamos na estação de chuvas.
            - Intão tá , intão, misifiu – respondeu Nhô e foi caminhando até à margem do rio maior e sentou-se em uma pedra de granito e pensou:
            -“ Cruis Credu, inté a pedra que ieu gostchu di mi sentá lá na barranca du Riu du Pêxe é iguá essa qui ieu sentei aqui na margi dessi riu!”.
            No leito do rio, os peixes eram tantos que pulavam acima das águas do rio e Nhô exclamou:
            - Caramba, comu essi riu é cheiu de pêxe! Ieu ainda achu qui nóis estamos na Terra. Achu qui nóis vortamu nu tempu!
            - Tivi uma ideia! Vou colocar minha medainha, di oro, du São Ciprianu, nessa parti oca du granitu e despois tampá cum um monti di pedra. Quandu ieu vortá lá prô meu cafofô na Terra, ieu vô percurá pur iela. Aí vô tê certeza qui nóis num fomu pra outru praneta. Nóis vortamu nu tempu na Terra memu!
            Nhô fez o que pretendia e voltou para junto dos outros na nave e falei:
            - Nhô, agora vou levar todos para passarmos por sobre o lugar que parece com a Amazônia. Vamos ver se lá tem, também, um rio parecido com nosso Rio Amazonas - falei isso e comandei a nave até lá.
            - Olhe só seu Lê, é um rio parecido com o Amazonas, mas só que mais estreito. Vejam como a mata é densa – falou o Juliano apontando para a foz do rio.
            - É incrível pessoal como esse planeta lembra a nossa Terra. Vamos acompanhar essa cordilheira que desce para o sul desse continente e de lá voltaremos para onde está instalada a nossa cidade, ok – falei a todos.
            - Você é quem manda comandante – disse o Kobauski. E assim foi feito e, após o jantar, por volta das vinte e uma horas e trinta e um minutos, deitados no gramado de um local afastado das luzes da cidade, eu e o Nhô olhávamos o céu:
            - Seu Lê, ti digu uma coisa sem tirá i nem pô: Essi céu é u memu lá da nossa Terra!
            - Eu estou quase acreditando nisso, meu amigo!
            - Óia aqueia bola di fogu qui evém lá de adondi o sol si iscondeu. Iela vem digavarzim mai tá vinu pressis ladu.
            - É mesmo Nhô! Neste céu dá para ver muita coisa indo e vindo, prá lá e prá cá!
            - Ieu vô drumi seu Lê pruque amanhã vô pescá com u Julianu i u Bejo nu riu qui passa nus fundu da fazenda dêies. A dona Margarida vai fazê pêxe fritu nu armoçu amanhã, linhais, vai fritá us qui nóis pescá, eh! Eh! Eh!
            Fiquei por ali, vendo o céu límpido e estrelado, até adormecer e, por volta das cinco da manhã;
            - Seu Lê, acorda e óia prá riba do céu – dizia o Nhô, que acordara cedo para ir pescar. Olhei e vi que a bola de fogo, que vimos ao anoitecer estava sobre nossas cabeças a uma distância como que de nossa Terra à Lua.
            - Isso é um meteoro que ficou preso à gravidade deste planeta e... – fui interrompido pelo Etavaldo que, também, acordara cedo para levar a turma para a pescaria:
            - É isso mesmo, meu amigo! Esse meteoro dá uma volta em torno da Terra II a cada cinco dias e está de afastando daqui a cada volta. Segundo estudos, matemáticos e físicos, de nossos cientistas, em quinhentos anos terrestres ele irá se chocar com a densa atmosfera do quinto planeta deste sistema solar. Irá se desintegrar e se transformará em incontáveis fragmentos que se transformarão e se juntarão aos outros anéis que já envolvem aquele planeta!
            - Entendi! Será como o nosso Saturno – perguntei.
            - Isto mesmo, o senhor entendeu, seu Lê! O senhor não vai pescar?
            - Não, Etevaldo! Vou passar a manhã com seu pai no laboratório. Depois do almoço vou percorrer o planeta num aeromóvel!
            - I ieu vô mais ôce seu Lê – prontificou o velho Nhô.
            - Eu e o Beijo também vamos – falou o Juliano

No Laboratório:
            - Olhe só, seu Lê, temos catalogadas todas as espécies de seres vivos deste planeta; tanto da flora como na fauna. Os minerais são os mesmos tanto aqui como na Terra, como em Arret e até mesmo como na antiga morada – falou-me o Kobauski projetando, em holografia 3D nítidas, como se fossem reais, de animais e florestas, hoje, extintas em nossa Terra.
            - Tens razão Kobauski: “Só os minerais são eternos!” – como bem disse o Lefus.
            - Mas, por que não levamos fauna e flora daqui para a Terra – perguntei.
            - Temos projeto para isso, seu Lê, mas só quando os seres humanos que aqui estão nascendo forem capazes de seguir adiante suas vidas neste planeta sem nossa ajuda e intromissão.
            - Entendi! Tal qual como um deus fez com o nosso planeta Terra?
            - Pensando assim pode até ser, seu Lê!

            Os dias, em Terra II, passavam quem nem sentimos e, no prazo de vinte e seis dias, falei ao Nhô:
            - Nhô, temos que voltar às nossas realidades da Terra e de Virtuália. Vamos falar com Kobauski que daqui a cinco dias vamos voltar. Se aqui ficamos trinta e um dias da Terra equivale que ficamos aqui trezentos e dez anos, lembra? Não sabemos como vamos encontrar as coisas em Virtuália e, tão pouco, na Terra. Vamos e, num futuro próximo, retornaremos aqui. Que achas?
            - Ieu já ti falei um tantão di veis que é ocê qui manda, misifiu. I ieu tamém to cum muita sodade da minha morada, da horta, du pomar, du Bittencour... - interrompi o Nhô:
            - Dá Xerequéia, não é Nhô?
            - Eh! Eh! Eh! Tamém, misifiu e muntcha, eh! Eh! Eh!
             À noite, daquele mesmo dia, na hora do jantar, na casa dos Flores:
            - Então está acertado, seu Lê. Daqui a cinco dias, num sábado, voltaremos para Virtuália – comunicou-nos o Kobauski e continuou:
            - Amanhã vamos para o Oriente Médio, deste planeta. Lá vou mostrar-lhes como vivem os seres deste planeta após a nossa intervenção genética. Naquela parte do planeta, já não estamos mais interferindo em suas vidas. Aliás, evitamos ao máximo nosso contato com eles. Mesmo nas minas de ouro monoatômico, só designamos para elas pessoal de Arret e os ciborgues. São todas fechadas sem a presença deles. São várias aldeias distribuídas ao longo da região. Em cada aldeia tem um homem, de QI elevado, em cujo cérebro implantamos chips com conhecimentos suficientes para gerir, inventar e tomar decisões. Cada aldeia, no futuro, viverá uma nação. Antes de retornarmos para Arret, daqui a alguns anos terrestres, distribuiremos novos humanos, sem laços consanguíneos, em várias regiões deste planeta. Eles terão que se desenvolverem sozinhos e os que conseguirem sobreviver, com certeza, transformar-se-ão em uma nação diferente das demais.
            - Caramba, Kobauski, esta ideia de vocês é divina – falei entusiasmado.

             No dia seguinte rumamos para o destino: - Oriente Médio da Terra II e lá chegando:
            - Vamos descer o aeromóvel no espaço entre aqueles morros, piloto Klauskis, ali não tem ninguém que possa nos ver!
            Ok, senhor! Vou descer - respondeu o arretiano.
            Da janela panorâmica da nave vi, ou me deu a impressão, ter visto alguns habitantes da aldeia que ficava há alguns quilômetros dali, na entrada de uma das cavernas de um dos morros e, atrás deles seres que pareciam reptilianos.
            A nave ficou a trinta e um centímetros do chão e descemos.
            Do compartimento de carga da nave saiu uma nave menor de reconhecimento.  Era nela que percorreríamos a região. A nave maior deixou-nos e foi para a estratosfera esperar por um chamado do Kobauski.
            Antes de embarcarmos, na nave de reconhecimento, as pessoas saíram da caverna, chegou perto da gente e se prostraram no chão, falando palavras incompreensíveis:
            - Alah-oá... alah-oá...alah-oá...
            - Kobauski, elas estão nos reverenciado como se fossemos divindades – falei.
            - Era justamente isto que queríamos evitar. Olhem para o outro lado e fechem bem os olhos e tampem os ouvidos, pessoal – ordenou o comandante.
            Fizemos o que ele ordenou. Eu já sabia que ele usaria o aparelho que apagava a memória recente daquelas pessoas.
            A intensidade da energia expedida pelo aparelho fez com que todos os seres caíssem por terra e Kobauski falou:
            - Tive que usar este artifício se não, em pouco tempo, estarão fazendo estátuas da gente e nos adorando como à deuses que desceram dos céus. Em poucos minutos voltarão a si sem saber o que lhes aconteceu.
            - Mas Kobauski, você não falou que a religião deles é a lógica e a razão – indaguei.
            - Eles são livres para pensarem e discernirem, seu Lê. O humano, nativo em Terra II, ao qual passamos o conhecimento através do chip implantado, dessa aldeia, não está usando a razão. Ele inventou que um ser superior com grandes poderes os castigará caso não sigam a disciplina implantada.
            - Como você sabe disso, Kobauski – perguntei-lhe.
            - Pela leitura do chip instalado nele, seu Lê. Por isso vim aqui nesta região. Está havendo grandes explosões na estrela que dá luz a este planeta e, por isso, estamos acreditando que as ondas magnéticas provocadas por essas explosões estejam afetando a comunicação entre nossa nave mãe e os chips implantados nos novos humanos escolhidos.
            - Se continuarem assim, vai cair na mesmice das crenças terrestres, Kobauski!
            - Talvez, seu Lê, porém antes de deixá-los tocarem a vida desse planeta sem nossa presença, vamos atualizar os dados dos chips de todos os líderes, assim que as tempestades magnéticas cessarem. Temos condições tecnológicas de fazermos isto, mesmo estando milhares de milhas de distância.
            - Mas Kobauski, não seria conveniente deixar um dos cientistas arretiano aqui por mais uns tempos, para acompanhar a evolução?
            - Já pensei nisto, seu Lê, e talvez eu deixe um casal de jovens cientistas e alguns ciborgues por mais algum tempo. Este casal irá acompanhar essa evolução. Este planeta tem poucas jazidas de ouro monoatômico, pelos menos é o que sabemos até agora e, em breve teremos que abandonar as minas ao redor desse mundo. Não compensará nos mantermos por aqui. A civilização está se formando e o metal, que nos interessa, se escasseando muito rapidamente. Pode haver mais abaixo das camadas de minerais de chumbo, mas isso só vai aflorar daqui há alguns milhares de anos com as movimentações da crosta de Terra-II. Daqui a dois dias vou reunir todos os cientistas dessa missão e falar da decisão que tomarei. Vocês estão convidados, ok?
            - Ok! Com certeza estaremos nessa reunião – respondi ao comandante supremo e continuei:
            - Kobauski, eu tive a impressão de ter visto seres reptilianos escondidos na caverna de onde saíram os novos humanos. Você percebeu também?
            - Sim seu Lê, são seres parecidos com os reptilianos, mas só vivem nas profundezas das cavernas. Fora delas eles morrem, pois os raios da estrela Gleise os fulminariam.  Eles não têm um gen que dá proteção no maior órgão de seus corpos: - a pele! Além disso, a claridade os cegam instantaneamente. Esses que estavam perto da saída da caverna devem ter morrido quando apertei o botão desmemorizador. Vamos lá nos certificarmos!
            E assim foi feito.
            - Olhe, seu Lê, são só dois seres que foram fulminados pela claridade – disse-me Kobauski.
            - Realmente, comandante, eles são idênticos aos reptilianos, mas eu jurava que havia mais e tive a nítida impressão que uns usavam alguma coisa escuras sobre os olhos – falei observando os seres de perto e conclui:
            - Outra coisa, comandante, se a claridade os afeta, então eles podem sair à noite!
            - Mas eles saem, porém nunca ficam longe das cavernas, seu Lê! Talvez num futuro de uns 5.000 anos, esses seres estarão aptos para sair à superfície durante a luz do dia. Hoje pude me certificar que eles e os novos humanos já estão mantendo contatos. Só o tempo e a evolução nos comprovarão isto.
            - Eu acho que você já tem essa certeza, não é Kobauski – perguntei.
            - Acho melhor nos irmos embora antes que os novos humanos recobrem os sentidos, seu Lê – disse-me Kobauski.


            Kobauski, da nave menor, mandou sinal para que o piloto Klauskis descesse com a nave maior para levar-nos de volta à Virtópolis. Atendendo ao sinal a nave maior chegou e, a menor com todos nós dentro, flutuou até ao compartimento apropriado e logo depois, questão de uns treze minutos,  se fecharam as aberturas, tão logo entramos. Saímos da nave menor e fomos, com Kobauski, à sala de comando – onde fica o piloto e nossos lugares naquela cabine:
            - Comandante Kobauski, estamos com um problema técnico – disse o piloto.
            - É por isso que não subiu com a nave e demoraste a fechar a plataforma de embarque – deduziu Kobauski.
            - Sim senhor! O campo magnético interno, que detecta presença de corpos estranhos, desligou sozinho assim que a nave de reconhecimento entrou a bordo.
             - Só um instante, piloto! Vou verificar, se o que houve, aconteceu somente com a nossa nave maior – falou isso e entrou na rede de computadores interligada entre todas as naves e Arret e disse espantado:
            - O que é esse universo com seu caos organizado!
            - O que houve Kobauski – perguntei preocupado.
            - Sabe aquele meteoro que circula e que está se afastando da gravidade de Terra II?
            - Sei comandante, o que aconteceu?
            -  Recebeu um impacto de um corpo estranho em sua rota e desviou-se rumo a esta estrela. O bom é que com esse choque evitou que o corpo estranho chocasse com Terra II. Porém, ele ganhou espantosa velocidade e a gravidade da  estrela Greise o absorveu. Ele chocou-se com a  superfície da estrela que lançou grande quantidade de partículas magnetizadas em direção à Terra II. Isto aconteceu há oito minutos e trinta e um segundos. Foi exatamente nesse tempo que aconteceu o problema em nossa e em todas as outras naves da expedição.
            - Comandante, o problema foi parcialmente sanado sozinho! Podemos partir? Mas o detector de corpos estranhos ainda não funciona!
            - Quanto tempo o compartimento de cargas ficou com o alçapão aberto, Klauskis?
            - Treze minutos e trinta e um segundos, senhor!
            - Creio que nada estranho entrou na nave maior. Pode subir e nos levar para Virtópolis, major Klauskis!
            Quando a nave mãe ganhou altura:           
            -  O que é aquilo lá no horizonte?
            - É uma tempestade de areia, seu Lê! Vamos rápido, quero que vocês a vejam lá de cima. Rápido para o aeromóvel – ordenou o comandante.
            A dez mil pés acima da superfície e acima da tempestade, que chegou em questão de minutos, porém já bem branda:
            - Olhe pessoal, vejam que grande quantidade de areia vermelha está bem acima das nuvens altas! Vejam como ela se dirige para, o que parece, a América do Central e do Sul! Com certeza irá se espalhar ao cair sobre aquela floresta tropical onde tem aquele imenso rio. Já estudamos o local e o solo lá só se mantém em condições de manter a floresta, exuberante, por causa dessa terra do deserto distante que acaba caindo e...
            - Mas isto é o que acontece na nossa Amazônia lá na Terra, Kobauski – falou o Juliano.
            - Estranha coincidência, senhor Juliano – disse o comandante.
            “- É... pode ser... pode ser que não seja coincidência...” – refleti em pensamento.

            Com a expectativa da volta para Virtuália, os dias “voaram’ e na noite da combinada reunião nas instalações do complexo científico ao norte de Virtópolis, cidade construída para a colonização de Terra II, na ilha Big- Brasil:
            - Senhores esta reunião é para participar a todos que depois de amanhã voltaremos para Arret! Tudo deverá estar preparado nas próximas vinte e quatro horas. Nada de nossa civilização deverá ficar fora de Big-Brasil. Ficará aqui por um tempo determinado o jovem casal de cientista pleno – que se ofereceram como voluntários -, doutor Yah e a doutora Veh, a família do senhor Zé das Flôres e os senhores Juliano e Hibisco. Não ficará nenhum novo humano nesta ilha. Todos após desmemorização serão espalhados pelos continentes. Creio que são em torno de onze mil e trinta e uma  almas. Após esta reunião comecem a operação de transladá-los, aos citados continentes, de acordo com o plano da doutora Kolina. Junto com Yah e Veh ficará uma legião de ciborgues com vida útil de dez anos terrestres. Esses ciborgues estão todos programados para receber as ordens do casal de cientistas. Este casal será como um rei e uma rainha nesta Terra - II, porém não entrarão em contato corpóreo com os novos humanos. Nem a família do Zé das Flores, Juliano e Beijo poderão sair de Big-Brasil. Manterei contato com Yah e Veh constantemente e se vocês, da família Flores, quiserem retornar para Arret ou Vituália, poderão fazê-lo, porém terão de contatar-me com antecedência, OK Juliano?
            - Certo comandante, entendi!
            - Então, senhores, a reunião está encerrada! Vamos começar a agir agora!


Continua em:
Uma breve volta à realidade.



           



Um comentário:

  1. Para entender este texto tu tens que ir lá no início dos textos. Com o passar da leitura dos primeiros textos é que irás entender -
    cronologicamente -,este e os outros, até o final, ok?
    Se quiseres contatos eis meu e-mail:
    lecinof@gmail.com

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