sexta-feira, 24 de maio de 2013

COISAS DA VIDA: "ÍNDIGO"

Í n D i G o
        Meu filho e sua esposa foram à capital mineira participar de um evento condizente com a área em que eles atuam profissionalmente. Viajaram para lá na quarta-feira à tarde e retornariam domingo, da mesma semana, à noite. Lê meu marido, levou o casal.
            Deixaram, sob minha responsabilidade, a “guarda” do meu netinho de quase quatro anos. O outro, de quase dois, ficou com a avó materna.
            Na quarta-feira, por volta das doze horas e trinta e um minutos, fui tirar o carro da garagem para levar o Lorenzo à escolinha e nada de dar, sequer, sinal no painel quando ligava a chave de contato. Desisti do carro e fui terminar de arrumar o meu netinho para a escola.
            - Vamos passear de ônibus até sua escolinha; tá bom Lorenzo?
            - Êêêbaaaa! Faz um tempão que não ando de coletivo – respondeu o pirralhinho e pensei:
            “- Caramba, como esse menino sabe que esses ônibus urbanos são conhecidos, também, como coletivos?”
            Embarcamos em um ônibus lotado com quase cem por cento de adolescentes indo ou voltando da escola e nenhum lugar vago para eu, que levava o netinho no colo, sentar, até que:
            - Sente-se aqui, minha senhora – disse um senhorzinho mais ou menos de minha idade que estava sentado ao lado de um rapazote com cabelos esquisitos e brincos em ambas as orelhas.
            Agradeci e me sentei! Para o Lorenzo, era tudo festa! Seus olhinhos brilhavam e ele prestava atenção a tudo.
            No ponto de embarque e desembarque seguinte o trocador, do alto do seu trono, gritou:
            - Por favor, pessoal, vamos dar um passinho para trás. Tem mais gente para embarcar!
            E o Lorenzo falou:
            - Nossa vovó, o ônibus já está lotado e ele disse que vai entrar mais gente!!
            O trocador tornou a gritar e ninguém deu ouvido. O Lorenzo observou:
            - Ah! Ah! Ninguém nem se mexeu, Vó! Tá todo mundo usando fones de ouvido e ouvindo música bem alta!
            Lorenzo que estava sentado no meu colo, perto do trocador, ficou em pé sobre minhas pernas e danou a balançar os bracinhos como “boneco de posto” – aqueles de propaganda, cheio de ar e molas. Aí sim, todos olharam na direção dele e, em consequência, da do trocador – que ainda berrava “passinho atrás, por favor” -, e deram vários passos abrindo espaço para mais gente se acomodar apertadamente.
            - Vó, por que não vimos de carro – perguntou já agoniado, o meu neto.
            - Ele deu defeito! Não quis “pegar” na partida, querido - respondi.
            - É sujeira nos cabos que sai da bateria, Vovó!
            Pensei:
            “-Peraí... como esse meninozinho sabe disso com menos de quatro anos e eu, com quase sessenta, não o sei?”
            - Sabe, Vovó Rô é só limpar onde o cabo é ligado na bateria! É só tirar aquela “coisa” branca que nasci ali!
            - Tá bom Lorenzo, depois eu vejo isso! Mas como você sabe disso?
            - É que aconteceu com o carro do papai e eu prestei atenção no que ele fez!
            - Ah, tá bom! Então, assim que eu voltar para casa, vou fazer isso também, OK? Mas agora vamos descer que chegamos ao nosso ponto!
            - Tá bom Vovó!
            No portão da escolinha ganhei um abraço e um beijo e:
            - Até mais tarde, Vovó Rô!
            Já em casa peguei o telefone, o cartão de uma oficina mecânica, que guardo colado com ímã, na lateral da geladeira, e li:
            - Lourenço Netto - eletricista de automóveis!
            - Ah! Ah! Ah! Se não fosse o nome desse eletricista eu não lembraria o que meu netinho me falou!
            Fui até a garagem, abri o capô do meu carro popular e lá estavam as borras brancas nos bornes da bateria.
            “- Como fazer para desconectar os cabos” – perguntei a mim mesmo em pensamento.
            Lembrei-me: “– Sabe vovó, é só limpar onde o cabo é ligado! É só tirar aquela “coisa” branca...”
            - Então é só limpar, não é?
            Peguei uma garrafa PET de dois litros, enchi de água com um pouco de bicarbonato de sódio – como faço para limpar o forno do fogão a gás -, e esguichei nos bornes e as borras brancas se dissolveram. Peguei uma escova e escovei os bornes e os cabos, encaixados neles, ao mesmo tempo, porém sem tirá-los do lugar. Joguei outra garrafada de água limpa, sem nada.
            Entrei no carro, coloquei a chave e... bingo! O carro funcionou na primeira virada de chave!  Desliguei e repeti a operação por mais duas vezes e disse, com aquele prazer de ter sanado o defeito:
            - Consertei!
            Meus olhos lacrimejaram e lembrei-me o que a pediatra disse a mim e minha nora na última consulta pediátrica, dos meus dois netinhos:
            - O Lorenzo é uma criança índigo, minhas amigas!
            Minha nora me explicou o significado do termo usado pela pediatra e entendi ou, acho ter entendido. Mas, tenho uma certeza:
            - Esse garotinho, de quase quatro anos, é muito inteligente e esperto além, é claro, de muito bonito!

Próxima sexta-feira 31/05/13:
ARRET
A NOVA MORADA
Caboclo D’água
       


Nenhum comentário:

Postar um comentário