Í n D i G o
Meu filho e sua esposa foram
à capital mineira participar de um evento condizente com a área em que eles
atuam profissionalmente. Viajaram para lá na quarta-feira à tarde e retornariam
domingo, da mesma semana, à noite. Lê meu marido, levou o casal.
Deixaram, sob
minha responsabilidade, a “guarda” do meu netinho de quase quatro anos. O outro,
de quase dois, ficou com a avó materna.
Na quarta-feira,
por volta das doze horas e trinta e um minutos, fui tirar o carro da garagem
para levar o Lorenzo à escolinha e nada de dar, sequer, sinal no painel quando
ligava a chave de contato. Desisti do carro e fui terminar de arrumar o meu
netinho para a escola.
- Vamos passear de ônibus até sua escolinha;
tá bom Lorenzo?
- Êêêbaaaa! Faz um tempão que não ando de coletivo – respondeu o pirralhinho e
pensei:
“- Caramba, como esse menino sabe que esses
ônibus urbanos são conhecidos, também, como coletivos?”
Embarcamos em um
ônibus lotado com quase cem por cento de adolescentes indo ou voltando da
escola e nenhum lugar vago para eu, que levava o netinho no colo, sentar, até
que:
- Sente-se aqui, minha senhora – disse
um senhorzinho mais ou menos de minha idade que estava sentado ao lado de um
rapazote com cabelos esquisitos e brincos em ambas as orelhas.
Agradeci e me
sentei! Para o Lorenzo, era tudo festa! Seus olhinhos brilhavam e ele prestava
atenção a tudo.
No ponto de
embarque e desembarque seguinte o trocador, do alto do seu trono, gritou:
- Por favor, pessoal, vamos dar um passinho para
trás. Tem mais gente para embarcar!
E o Lorenzo
falou:
- Nossa vovó, o ônibus já está lotado e ele disse que vai entrar mais gente!!
O trocador tornou
a gritar e ninguém deu ouvido. O Lorenzo observou:
- Ah! Ah! Ninguém nem se mexeu, Vó! Tá todo
mundo usando fones de ouvido e ouvindo música bem alta!
Lorenzo que
estava sentado no meu colo, perto do trocador, ficou em pé sobre minhas pernas
e danou a balançar os bracinhos como “boneco de posto” – aqueles de propaganda,
cheio de ar e molas. Aí sim, todos olharam na direção dele e, em consequência,
da do trocador – que ainda berrava “passinho atrás, por favor” -, e deram
vários passos abrindo espaço para mais gente se acomodar apertadamente.
- Vó, por que não vimos de carro – perguntou
já agoniado, o meu neto.
- Ele deu defeito! Não quis “pegar” na
partida, querido - respondi.
- É sujeira nos cabos que sai da bateria,
Vovó!
Pensei:
“-Peraí... como esse meninozinho sabe disso
com menos de quatro anos e eu, com quase sessenta, não o sei?”
- Sabe, Vovó Rô é só limpar onde o cabo é ligado na
bateria! É só tirar aquela “coisa” branca que nasci ali!
- Tá bom Lorenzo, depois eu vejo isso! Mas como você sabe
disso?
- É que aconteceu com o carro do papai e eu
prestei atenção no que ele fez!
- Ah, tá bom! Então, assim que eu voltar para casa, vou
fazer isso também, OK? Mas agora vamos descer que chegamos ao nosso ponto!
- Tá bom Vovó!
No portão da
escolinha ganhei um abraço e um beijo e:
- Até mais tarde, Vovó Rô!
Já em casa peguei
o telefone, o cartão de uma oficina mecânica, que guardo colado com ímã, na
lateral da geladeira, e li:
- Lourenço Netto - eletricista de
automóveis!
- Ah! Ah! Ah! Se não fosse o nome desse eletricista eu
não lembraria o que meu netinho me falou!
Fui até a garagem,
abri o capô do meu carro popular e lá estavam as borras brancas nos bornes da
bateria.
“- Como fazer para desconectar os cabos” – perguntei a mim mesmo em
pensamento.
Lembrei-me: “– Sabe vovó, é só limpar onde o cabo é
ligado! É só tirar aquela “coisa” branca...”
- Então é só limpar, não é?
Peguei uma
garrafa PET de dois litros, enchi de água com um pouco de bicarbonato de sódio
– como faço para limpar o forno do fogão a gás -, e esguichei nos bornes e as
borras brancas se dissolveram. Peguei uma escova e escovei os bornes e os cabos,
encaixados neles, ao mesmo tempo, porém sem tirá-los do lugar. Joguei outra
garrafada de água limpa, sem nada.
Entrei no carro,
coloquei a chave e... bingo! O carro funcionou na primeira virada de
chave! Desliguei e repeti a operação por
mais duas vezes e disse, com aquele prazer de ter sanado o defeito:
- Consertei!
Meus olhos
lacrimejaram e lembrei-me o que a pediatra disse a mim e minha nora na última
consulta pediátrica, dos meus dois netinhos:
- O Lorenzo é uma criança índigo, minhas
amigas!
Minha nora me
explicou o significado do termo usado pela pediatra e entendi ou, acho ter
entendido. Mas, tenho uma certeza:
- Esse garotinho, de quase quatro anos, é muito
inteligente e esperto além, é claro, de muito bonito!
Próxima sexta-feira 31/05/13:
ARRET
A NOVA MORADA
Caboclo D’água
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