sexta-feira, 17 de maio de 2013

VIDA EM VIRTUÁLIA


ARRET
A NOVA MORADA
VICAEBUCO
            Dia vinte e sete de abril, segunda-feira de temperatura amena de outono. Eu já havia despachado seis recipientes com semens selecionados - em nitrogênio líquido-, de gado Nelore na última sexta-feira.  A transportadora garantiu, em contrato assinado, que os recipientes acomodados em caixa de madeira, artesanalmente confeccionadas, seriam redespachadas na primeira balsa para Soure, na  Ilha do Marajó, na segunda-feira as primeiras horas.
            No aeroporto do Galeão fizemos o cheking para o voo das seis horas e cinco minutos e, que estava atrasado em vinte e cinco minutos. Pouco depois, já acomodados dentro da aeronave, Rô brincou comigo:
            - Já sei que você vai dormir essas quase quatro horas de voo até Belém, não é?
            - Eu adoro dormir durante esses voos longos, Rô! Vou colocar o fone de ouvido com música sertaneja raiz e você só me acorde quando chegarmos ao aeroporto Val-de-Cans  na capital paraense, OK?
            - Então foi por isso que você se empanturrou no café da manhã, não é? Não vai querer o lanche de bordo?
            - Não – respondi-lhe, coloquei o fone de ouvido, ganhei um beijo e ela falou duas palavras que não ouvi, mas pelo movimento de seus lindos lábios já sabia o que ela falara e respondi:
            - Eu também!
            Literalmente viajei ao som de “O Sertão do Laranjinha” no dueto perfeito e incomparável da dupla “Coração do Brasil” e...

            - Nhô, Xerê! Vocês estão em casa – gritei do portão, enquanto manobrava a GMC, embaixo de um flamboyant.
            Nhô veio todo serelepe, faceiro e ralhando comigo:
            - Ô misifiu, ôce ainda mata us véi! Há trinta i um dia nóis dexamu ôce druminu dibaxu dus pé di siriguela i, quandu fumu vê, di noitinha, ôce tinha di pirulitadu!
            - Ah! Desculpa-me meu amigo! Você e a Xerê estavam dormindo tão bonito de conchinha que não tive coragem de acordá-los, ah! Ah! Ah!
            - Eh! Eh! Eh! Intão tá, intão seu Lê. Qui bão qui ôce vêi. Já tô terminanu di fazê uma carni di panela prô armoçu.
            - Mas que ótima e deliciosa notícia, Nhô! Cadê a Xerê?
            - Iela tá danu banhu na Ritinha. Já dédi tê acabadu! Vem vê qui coisica mai fofa!
            Na sala do cafofo:
            - E aí, Xerê, como está passando?
            - Oi seu Lê! Nós estamos ótimos. Esta nenezinha aqui é a Ritinha. Tem só trinta e um dias de nascida. Olha só que moreninha linda!
            Fiquei sem palavras com os olhos arregalados olhando aquela linda moreninha:
            - Eu.. eu ... não pode ser... vocês... – fui interrompido pelo Nhô:
            - Num é nadica dissu qui ôce tá pensanu, misifiu. Nóis vai ti ixplicá inquantu nóis armoça. Inquantu a Xerê fais a Ritinha drumi vamu bebericá uma caipirinha di limão capeta!
            - OK, Nhô! Boa ideia!
            Já à mesa, enquanto a nenenzinha dormia:
            - Seu Lê, há um mês, no dia seguinte, quando o senhor tinha voltado para sua casa, minha neta Rosália chegou aqui na nossa casa com essa criaturazinha nos braços implorando para que eu a criasse. Eu e o Antônio resolvemos criá-la até onde as nossas idades nos permitir.
            - Mas que idade Xerê? Você só tem sessenta e três anos? Muitos falam que você tem mais de setenta e cinco, porém eu sei que tens bem menos. E o Nhô tem oitenta e... – fui interrompido pelo velho amigo;
            - Oitenta i dois, seu Lê! Ieu quandu tinha quinzi anu modifiquei, na minha certidão di nascimentu, a data im qui ieu nasci. Era prá podê ir prá guerra na Itáia. Coisa de rapais sem juizu. Ielis aquerditaram pruque ieu era um mulecão forti, grandão i já tinha inté barba compreta nas fuças. Mai, deveras, ieu nasci im mir novicentu i trinta i um, eh! Eh! Eh!
            - Ah Nhô, então é por isso que o senhor parece ter, no máximo, uns setenta anos! Tá explicado!
            - Mas meus amigos, vocês estão com ótima saúde e tem muitos anos pela frente. E o senhor, seu “véi”, vai ter a experiência que faltava, ou seja,  a de criar um filho!
            - Pois é seu Lê a Ritinha vortô prá nóis, eh! Eh! Eh!
            - Se vocês não se importam vou ser uma espécie de tutor dessa menina. Tudo o que ela precisar vocês podem contar comigo, OK?
            A Xerê emocionada balbuciou:
            - O... obrigada seu Lê! Nós vamos fazer dessa menina uma grande mulher! Uma ótima pessoa!
            - Mas como foi que ela surgiu no mundo Xerê? Pode me contar?
            - Posso sim! Tudo começou assim:

            “Rosália minha única neta e parenta viva, era atendente em uma lanchonete, na praça na beira do cais daquela cidade que mantinha em suas águas marítima, há cento e cinquenta quilômetros da costa, uma plataforma de extração de petróleo. A lanchonete era movimentada, pois nas proximidades havia várias pensões onde os empregados solteiros da grande exploradora ficavam hospedados quando estavam em terra firme.
            Um desses funcionários era o Leocádio, pernambucano – que trazia traços da origem holandesa -, ou seja, tinha cabelos, bigode e barba ruivos e olhos esverdeados:
            - Sou um garoto bonito – se gabava.
            Há três dias estava em terra e, neste mesmo tempo, hospedou-se na pensão e à noitinha lanchava na Dilanches, onde Rosália trabalhava.  Rosália – garota de vinte e três anos, complexada, pois tinha os dentes em estado ruim e, que aos onze anos foi violentada pelo marido da amiga de sua mãe, quando cuidava do filhinho de dois anos dela... foi assim: A amiga de minha filha ficou um dia e uma noite internada para dar a luz ao segundo filho e minha neta ficou sozinha com aquele afrodescendente – mecânico de máquinas pesadas -, e que não tinha relação sexual há pelo menos dois meses e daí... 
            Rosália foi intimidada por ele a não falar com ninguém o que acontecera, pois ninguém iria acreditar, retraiu-se sexualmente, fugiu daquela casa e da casa da mãe, viúva de meu irmão Maneco,  alcoólatra inveterada e ganhou o mundo.
            Foi naquele nortista bem apessoado que viu uma oportunidade para realizar seus sonhos, ou seja, casar com alguém que não se importasse que ela não fosse mais donzela – coisa da cabeça dela.
            Em doze dias os dois já trocavam carinhos e juras, porem só ficavam nisso. Rosália não deixava Leo avançar além do que ela permitia, aliás, ele estranhamente nem tentava. Rosália era pequena, tinha ancas largas, seios médios, coxas grossas e um par de pesinhos dignos de propaganda de sandálias praianas.
            No último dia daquela quinzena Leo falou para minha neta:
            - Embarco hoje à noite – daqui a duas horas -, para a plataforma e lá vou ficar por quinze dias, porém depois vou ser devolvido, junto com meu amigo Carlão, para a matriz dessa empresa em que trabalhamos, e que presta serviços à exploradora de petróleo. Vou trabalhar lá em águas potiguar, talvez por uns dois anos... – Rosália o interrompeu:
            - Então hoje, aliás, agora está acontecendo nossa despedida? Logo hoje que eu ia te convidar para dormir lá em meu quartinho na pensão? A proprietária, dona Tica deixou!
            - Ora, ora, então você decidiu fazer o que estou querendo a mais de dez dias – perguntou o Leo.
            - Ia fazer mais do que você imagina, Leo – respondeu Rosália.
            - Vou arranjar um jeito de ir para alto mar só depois de amanhã com outra “leva” de funcionários.  Vou ficar esses dois dias contigo. Vamos ficar quarenta horas confinadas na sua alcova! O que achas?
            - Está acertado então, meu amor! Eu adoro seus olhos verdes. Vou poder admirá-los por todo esse tempo!
            Tudo aconteceu como o planejado até que no último dia e no momento da despedida:
            - Olha Rosália, vou morar em Natal e te telefonarei quando estiver em terra firme; se você quiser vai até lá que ficaremos juntos, OK?
            - Posso mesmo? Olha que eu vou mesmo! Tenho guardado dinheiro nesses últimos anos e poderei ir lá de dois em dois meses. Então, posso mesmo?
            - Claro que pode! Vou te telefonar um dia antes de chegar à terra firme, OK?
            Na hora da partida, Rosália estava no trapiche com Leo esperando a embarcação  que estava trazendo os que ficariam em terá e levaria a turma substituta. E o Leo, já cheio de pressa de se livrar da – para ela -, namorada disse:
            - Lá vem a embarcação. Olha aquele lourão alto que vem logo na frente dos que vão desembarcar! Você está vendo?
            - Sim! Ele chama a atenção! Quem é?
            - É o meu amigão Carlão! Ele é catarinense e excelente mecânico industrial e automotivo. Vou te apresentar a ele, OK?
            - OK - respondeu Rosália.
            Após um demorado abraço em Carlão, Leo disse-lhe:
            - Cacá, esta é Rosália. Ela trabalha na melhor lanchonete aqui no cais. Já que você vai ficar na mesma pensão que fiquei, aliás, já deixei os quinze dias pagos pra ti, poderás lanchar todas as noitinhas lá, OK?
            Carlão olhou para Rosália com dois brilhantes olhos azuis e disse com um branco e lindo sorriso:
            - Será um prazer Rosa, aliás, posso te chamar assim.
            Rosália ficou com vergonha de sorrir-lhe diante de tão cristalino sorriso e sem graça respondeu-lhe:
            - Claro! Se for amigo do Leo te ajudarei com prazer – disse isso e pensou:
            - ‘Nossa que olhos lindos! Que amigo bonito o Leo tem!’
            Carlão falou à Rosália:
            - Você me desculpa a sujeira em que estou. Sai direto da montagem de um motor diesel e estou impregnado de cheiro de óleo e graxa. Não tive tempo de tomar banho e trocar de roupas!
            - Não tem problema, Carlão! Já sinto cheiro de óleo e graxa desde meus onze anos. Vamos! Vou te levar à pensão onde o Leo já deixou pago!
            - Desculpa-me te perguntar, mas você e o Leo estão namorando?
            - Digamos que estamos nos conhecendo, mas fomos interrompidos – respondeu a mocinha.
            - Se você quiser eu te dou toda a ficha corrida dele! Eu o conheço desde os quinze anos, ah! Ah! Ah!
            - Não é preciso! Pelos doze dias que nos conversamos e os últimos dois em que ficamos juntos, já deu para saber o básico dele – respondeu a Rosália meio desanimada com Leo.
            - Sei Rosa, mas ele é gente boa! Um ótimo amigo!
            - Deu para perceber pelo abraço que ele te deu!
            Após deixar Cacá na pensão recebeu um abraço e um beijo molhado e quente na face. Em seu quartinho na pensão ela entra em devaneios:
            - Nossa que homem é esse catarinense! Só com esse abraço e beijo facial deu para sentir a verdadeira virilidade de um macho! Ah, se eu pudesse... e por que não? Vou deixar a emoção me levar e ver até onde vai dar!
            E assim ocorreu! Em sete dias os beijos faciais passaram para beijos apaixonados e Rosália passou a dormir na pensão com Carlão. Foi nessas noites que ela sentia o tamanho da diferença entre Carlão e Leo. Apaixonou-se!
            No décimo quarto dia:
            - Rosa, eu já recebi a passagem pra Natal e embarco depois de amanhã cedo direto do Galeão. Lembra que você falou que iria até lá visitar o Leo?
            - Lembro, mas eu iria se fosse por você! Eu não... – ela foi interrompida:
            - Vamos comigo! O Leo não vai estar lá. Não coincidiu a folga dele com a minha. Eu só vou a alto-mar quando ele voltar à terra firme, isto, daqui a quinze dias. Ele emendou uma escala de serviço em outra, pois não havia conseguido pensão quando chegou lá.
            - Ah é? Então vou contigo! Largo tudo aqui e irei contigo. Eu mesmo banco a minha ida e estadia, OK?
            - Tá OK! Gostei da decisão – disse-lhe Carlão.
            - Talvez eu fique por lá mesmo já que lanchonete tem em qualquer lugar, não é Cacá?
            - Eu e o Carlão vamos alugar uma quitinete lá em Natal e ele, por telefone, pediu-me para lhe fazer uma proposta.
            - Diga, qual é essa proposta?
            - Você morar conosco! O que achas?
            - Mas, vocês vão alugar uma quitinete e isto só tem um quarto – ponderou a minha neta.
            - O quarto será teu! Você dormirá comigo quinze dias, quando eu estiver em terra firme na minha folga e quinze dias com Leo na folga dele. Você cuidará de nós dois e de nosso cafofo. Não precisará trabalhar. Nós te pagaremos o salário que ganharia numa lanchonete e mais uma gratificação. Que achas?
            - Eu não sei se lhe mando matar ou lhe cubro de beijos com uma proposta desta, mas eu aceito!
            Leo e Carlão, muito satisfeitos, compraram um carro velho e deixaram com Rosália – que tinha CNH -, para ela usar quando precisasse. Este carro, porém, vivia dando problemas e ela o levava na oficina mecânica do bairro próximo a sua residência. Um dos mecânicos, afrodescendente de quase dois metros de altura – cujo apelido era VICAEBUCO -, e que sabia da situação bígama em que ela vivia, disse à minha neta por telefone, numa sexta-feira:
            - O seu carro, deixado na oficina para reparos, só ficará pronto depois das dezenove horas e trinta e um minutos. A senhora poderá vir buscar ele depois desse horário. A oficina vai estar fechada, mas eu estarei lá dentro te esperando!
            Rosália estava se sentindo muito solitária, pois os dois rapazes já estavam prestando serviços há dez dias para a extratora de petróleo na Venezuela e só retornariam dali a oito meses. Ela precisaria do carro na manhã seguinte bem cedo, por volta das cinco horas. Nesse horário ela partiria a passeio para Recife. Por isso, às dezenove horas e trinta e um minutos, ela bateu na porta da oficina:
            - Ô de casa, seu VICAEBUCO, o senhor está aí?
            - Tô! Pode entrar que a porta está aberta!
            Ao entrar ela deparou com o negrão só de calção de banho e exalando cheiro de óleo e graxa. O corpaço perfeito daquele afrodescendente negro como carvão despertou em Rosália um desejo sem freios e ela aceitou a intenção de Theotônio – este era o nome daquele que chamavam de VICAEBUCO.
            Ele já tinha deixado um lugar arrumado na oficina e foi nessa noite que minha neta soube o porquê daquele apelido, ou seja, Theotônio tinha tatuado em seu órgão genital, em sílabas garrafais, seu apelido.”
           
            -Ah! Ah! Ah! Isso é gozação de sua parte Xerê – falei e perguntei ao Nhô:
            - É verdade essa história que ela conta Nhô?
            - Si a minha véia tá falanu é de veras, seu Lê!
            - Deixa terminar de contar seu Lê...

            “Rosália se apaixonou pelo Theotônio e ele, que era amasiado e tinha onze filhos – isso minha neta só soube depois -, ia todos os dias, depois do expediente da oficina, visitar a minha neta na quitinete. Passados trinta e um dias, numa sexta-feira, antes do VICAEBUCO ir embora para sua casa, ela lhe disse:
            - Mau anjo do Ébano, eu estou grávida de você – o negrão ficou pasmo e disse-lhe:
            - Mas é meu? E esses dois caras com quem você vive revezando?
            - Ora, eles só faziam e, quando faziam, sexo comigo, usando preservativo. E você exigia e exige que nós fizéssemos sem. Só pode ser teu!
            O negrão não falou mais nada, saiu e Rosália nunca mais o viu. Não adiantou procurá-lo na oficina onde ele era funcionário diarista e, lá, ninguém sabia seu endereço; só sabiam que ele nascera em Poção; uma cidadezinha perto de Pesqueira no interior de Pernambuco.
            Rosália não se desesperou e danou a fazer continhas e falou às paredes da sala da quitinete:
            - Ah! Agora me lembro! Eu transei com meus dois amores, a muito custo e sem preservativos, antes de eles irem para a Venezuela. No dia em que eles viajaram eu parei de tomar o anticonceptivo, pois estava me fazendo muito mal.  Quando eles voltarem, daqui a uns quinze dias, eles terão uma surpresa. Não contarei nada a eles nem por carta e nem por telefone. Vai ser até engraçado ver os dois disputando quem será o pai, ah! Ah! Ah!

            Naquele  dia amanhecera lindo e lá estava Rosália com seu vestido solto - alaranjado de bolinhas azuis, verdes e amarelas -, no aeroporto esperando seus amores que estariam contigo em poucas horas.
            No avião, do voo 171, Caracas/Natal/Recife/Rio:
            - Leo, foi ótimo termos vindos para a Venezuela. Graças à nossas experiências em equipamentos de extração de petróleo arrumamos empregos para ganharmos o quíntuplo que nos pagava essa terceirizada da extratora brasileira, não é?
            - É isso aí, Cacá! Temos uma semana para acertar tudo no Brasil e retornarmos, em definitivo para a Venezuela. Vamos contar para a Rosália nossa decisão – perguntou Carlão.
            - Vamos, mas primeiro temos que saber como estão as coisas no nosso cafofo, OK?
            - OK! OK, Leo, você é quem sabe, “amoré”!

            No saguão do aeroporto na área de desembarque:
            - Olha só Leo – disse Carlão apontando -, aquela mulher de vestido de grávida não é a Rosa?
            Antes que Leo falasse algo, Rosália os viu e veio apressada dizendo:
            - Olá papais! Gostaram da surpresa?
            - Que... que... brincadeira sem graça é essa guria – falou sisudo o Carlão.
            - Antes de vocês embarcarem para a Venezuela, um de vocês dois deixou-me um presente que está quase pulando para fora de minha barriga!
            Foram de carro velho até a quitinete sem  falar absolutamente nada. E, lá chegando:
            - O que vocês dois têm? Não gostaram da ideia de serem papais?
            - Para ser sincero: eu não – disse Carlão.
            - Nem eu – emendou o amigo e continuou:
            - Nós arrumamos empregos na Venezuela, em outra petroleira e vamos para lá na semana que vem. Só retornamos para nosso país a fim de acertarmos às contas com a atual empresa. Vamos devolver essa quitinete que, aliás, o contrato de locação vence daqui a dois meses. Deixaremos tudo que esta dentro dela para você. Você terá esses dois meses para arrumar outro lugar. Quanto ao carro, ele é seu, já que - quando o compramos -, colocamos no seu nome.
            Rosália sem argumento alguma tentou dar uma última cartada:
            - Devo dizer-lhes que, assim que vocês viajaram eu parei de tomar a pílula e, segundo estudos científicos provados, os espermatozoides ficam vivos, nas entranhas da mulher, até dez dias após a cópula!  Mas... mas e a criança que deve nascer até depois de amanhã?
            - Olha, querida, eu sou estéril e o Carlão fez vesectomia, portanto é impossível que esta criança seja de um de nós dois e... – Leo foi interrompido pelo Carlão:
            - Preste atenção, esperta! A criança vai nascer e nós faremos o exame de DNA; se for de um de nós dois, nós assumiremos, OK?
            - OK... mas... mas, eu acho que vai nascer é daqui a pouco... olhem esse líquido descendo pelas minhas pernas. A bolsa estourou! Nosso filho está nascendo – disse minha neta.
            Rosária, que estava em pé, sentou-se mais pálida do que vela de cera e Leo gritou:
            - Écaaaa, que nojo!
            - Pare com isso, Leo! Temos que levá-la ao hospital - e assim o fizeram.
            Trinta e um minutos depois de a Rosália entrar na sala de parto, o médico chega à recepção e dirigiu-se aos dois rapazes, que apesar de tudo já estavam aflitos, e perguntou-lhes:
            - Onde está o pai da garotinha?
            Leo quis fazer uma brincadeira com o médico dizendo:
            - Ele foi até lá no boteco da esquina tomar um ‘calmante etílico’, doutor, ih! Ih! Ih!
            - Quando ele voltar queiram, por favor, avisar que a filhinha dele nasceu e com perfeita saúde, OK?
            OK! OK! Doctor – frescamente falou o Leo.
            Quando o médico virou-lhes as costas e voltou à sua rotina:
            - Vamos lá ver essa guria, Leo! Engraçado foi que o médico não ter perguntado qual de nós dois é o pai!
            Na enfermaria das parturientes, Rosália estava sem graça e Leo falou ao Carlão, ao ver a recém-nascida:
            - Tá explicado o porquê de o médico ter certeza que nenhum de nós dois é o pai dessa criança, Carlão! Ela tem a cútis imensamente negra igual aquele mecânico de carros velhos lá daquele bairro perto de casa! Lembra-se do VICAEBUCO? 
           -Aquele que tem letras garrafais tatuados, com tinta branca, na genitália, ou seja, as sílabas VI, CA, E, BU, CO! Aquele pedaço do Ébano que, quando está excitado, a tatuagem se transforma em: VIva o CArnaval do Estado de PernamBUCO - respondeu Carlão perguntando.
            - É ele mesmo, amoré! Está tudo explicado, não é sua espertalhona – berrou o Leo para parida.
             Carlão e Leo saíram do hospital às pressas e foram para a quitinete. Lá pegaram todos os seus documentos, roupas, foram à imobiliária e acertaram tudo como tinham conversado com minha neta, nunca mais Rosália os viu.
            Em uma semana minha neta vendeu o carro e as mobílias da quitinete e trouxe , para mim, a minha bisnetinha - a qual ela chamava de Nordette -, de presente para eu criar. Ela disse que iria fazer a vida bem longe de tudo. Irá trabalhar como cozinheira em um garimpo em Apiacás no Mato Grosso e desapareceu”.
            - O que o senhor acha de tudo isso, seu Lê – perguntou a Xerê após narrar a história de como a Ritinha caiu-lhes nos braços.
            - Acho ótimo que a sua neta tenha se lembrado de trazer esta inocente para a senhora cuidar. Como disse, vou ajudá-los na formação dela! Podem contar comigo, OK?
            - Misifiu, ieu tamém já sabia qui ôce ia ajudar nóis, ah! Eh! Eh! Ieu ti conheçu, seu Lê. 
            - Seu Lê, pruque u sinhô veiu percurá essi seu amigu pretu véi?

Continua em:
Caboclo D’ água
        

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