ARRET
A NOVA MORADA
VICAEBUCO
Dia vinte e sete de abril, segunda-feira de temperatura
amena de outono. Eu já havia despachado seis recipientes com semens
selecionados - em nitrogênio líquido-, de gado Nelore na última sexta-feira. A transportadora garantiu, em contrato
assinado, que os recipientes acomodados em caixa de madeira, artesanalmente
confeccionadas, seriam redespachadas na primeira balsa para Soure, na Ilha do
Marajó, na segunda-feira as primeiras horas.
No aeroporto do Galeão fizemos o
cheking para o voo das seis horas e cinco minutos e, que estava atrasado em
vinte e cinco minutos. Pouco depois, já acomodados dentro da aeronave, Rô
brincou comigo:
- Já sei que você vai dormir essas quase
quatro horas de voo até Belém, não é?
- Eu adoro dormir durante esses voos
longos, Rô! Vou colocar o fone de ouvido com música sertaneja raiz e você só me
acorde quando chegarmos ao aeroporto Val-de-Cans na capital paraense, OK?
- Então foi por isso que você se
empanturrou no café da manhã, não é? Não vai querer o lanche de bordo?
- Não – respondi-lhe,
coloquei o fone de ouvido, ganhei um beijo e ela falou duas palavras que não
ouvi, mas pelo movimento de seus lindos lábios já sabia o que ela falara e
respondi:
- Eu também!
Literalmente
viajei ao som de “O Sertão do Laranjinha” no dueto perfeito e incomparável da
dupla “Coração do Brasil” e...
- Nhô, Xerê! Vocês estão em casa –
gritei do portão, enquanto manobrava a GMC, embaixo de um flamboyant.
Nhô
veio todo serelepe, faceiro e ralhando comigo:
- Ô misifiu, ôce ainda mata us véi! Há
trinta i um dia nóis dexamu ôce druminu dibaxu dus pé di siriguela i, quandu
fumu vê, di noitinha, ôce tinha di pirulitadu!
- Ah! Desculpa-me meu amigo! Você e
a Xerê estavam dormindo tão bonito de conchinha que não tive coragem de
acordá-los, ah! Ah! Ah!
- Eh! Eh! Eh! Intão tá, intão seu
Lê. Qui bão qui ôce vêi. Já tô terminanu di fazê uma carni di panela prô
armoçu.
- Mas que ótima e deliciosa notícia,
Nhô! Cadê a Xerê?
- Iela tá danu banhu na Ritinha. Já
dédi tê acabadu! Vem vê qui coisica mai fofa!
Na
sala do cafofo:
- E aí, Xerê, como está passando?
- Oi seu Lê! Nós estamos ótimos.
Esta nenezinha aqui é a Ritinha. Tem só trinta e um dias de nascida. Olha só
que moreninha linda!
Fiquei
sem palavras com os olhos arregalados olhando aquela linda moreninha:
- Eu.. eu ... não pode ser... vocês... –
fui interrompido pelo Nhô:
- Num é nadica dissu qui ôce tá pensanu,
misifiu. Nóis vai ti ixplicá inquantu nóis armoça. Inquantu a Xerê fais a Ritinha
drumi vamu bebericá uma caipirinha di limão capeta!
- OK, Nhô! Boa ideia!
Já à
mesa, enquanto a nenenzinha dormia:
- Seu Lê, há um mês, no dia seguinte, quando
o senhor tinha voltado para sua casa, minha neta Rosália chegou aqui na nossa
casa com essa criaturazinha nos braços implorando para que eu a criasse. Eu e o
Antônio resolvemos criá-la até onde as nossas idades nos permitir.
- Mas que idade Xerê? Você só tem
sessenta e três anos? Muitos falam que você tem mais de setenta e cinco, porém
eu sei que tens bem menos. E o Nhô tem oitenta e... – fui
interrompido pelo velho amigo;
- Oitenta i dois, seu Lê! Ieu quandu tinha
quinzi anu modifiquei, na minha certidão di nascimentu, a data im qui ieu nasci.
Era prá podê ir prá guerra na Itáia. Coisa de rapais sem juizu. Ielis
aquerditaram pruque ieu era um mulecão forti, grandão i já tinha inté barba
compreta nas fuças. Mai, deveras, ieu nasci im mir novicentu i trinta i um, eh!
Eh! Eh!
- Ah Nhô, então é por isso que o
senhor parece ter, no máximo, uns setenta anos! Tá explicado!
- Mas meus amigos, vocês estão com
ótima saúde e tem muitos anos pela frente. E o senhor, seu “véi”, vai ter a
experiência que faltava, ou seja, a de
criar um filho!
- Pois é seu Lê a Ritinha vortô prá
nóis, eh! Eh! Eh!
- Se vocês não se importam vou ser
uma espécie de tutor dessa menina. Tudo o que ela precisar vocês podem contar
comigo, OK?
A
Xerê emocionada balbuciou:
- O... obrigada seu Lê! Nós vamos fazer
dessa menina uma grande mulher! Uma ótima pessoa!
- Mas como foi que ela surgiu no
mundo Xerê? Pode me contar?
- Posso sim! Tudo começou assim:
“Rosália
minha única neta e parenta viva, era atendente em uma lanchonete, na praça na
beira do cais daquela cidade que mantinha em suas águas marítima, há cento e
cinquenta quilômetros da costa, uma plataforma de extração de petróleo. A
lanchonete era movimentada, pois nas proximidades havia várias pensões onde os
empregados solteiros da grande exploradora ficavam hospedados quando estavam em terra
firme.
Um desses
funcionários era o Leocádio, pernambucano – que trazia traços da origem
holandesa -, ou seja, tinha cabelos, bigode e barba ruivos e olhos esverdeados:
- Sou um garoto bonito – se gabava.
Há
três dias estava em terra e, neste mesmo tempo, hospedou-se na pensão e à
noitinha lanchava na Dilanches, onde Rosália trabalhava. Rosália – garota de vinte e três anos,
complexada, pois tinha os dentes em estado ruim e, que aos onze anos foi
violentada pelo marido da amiga de sua mãe, quando cuidava do filhinho de dois
anos dela... foi assim: A amiga de minha filha ficou um dia e uma noite
internada para dar a luz ao segundo filho e minha neta ficou sozinha com aquele
afrodescendente – mecânico de máquinas pesadas -, e que não tinha relação
sexual há pelo menos dois meses e daí...
Rosália
foi intimidada por ele a não falar com ninguém o que acontecera, pois ninguém
iria acreditar, retraiu-se sexualmente, fugiu daquela casa e da casa da mãe, viúva de meu irmão Maneco, alcoólatra inveterada e ganhou o mundo.
Foi
naquele nortista bem apessoado que viu uma oportunidade para realizar seus
sonhos, ou seja, casar com alguém que não se importasse que ela não fosse mais
donzela – coisa da cabeça dela.
Em
doze dias os dois já trocavam carinhos e juras, porem só ficavam nisso. Rosália
não deixava Leo avançar além do que ela permitia, aliás, ele estranhamente nem
tentava. Rosália era pequena, tinha ancas largas, seios médios, coxas grossas e
um par de pesinhos dignos de propaganda de sandálias praianas.
No
último dia daquela quinzena Leo falou para minha neta:
- Embarco hoje à noite – daqui a duas horas
-, para a plataforma e lá vou ficar por quinze dias, porém depois vou ser
devolvido, junto com meu amigo Carlão, para a matriz dessa empresa em que trabalhamos, e que presta
serviços à exploradora de petróleo. Vou trabalhar lá em águas potiguar, talvez
por uns dois anos... – Rosália o interrompeu:
- Então hoje, aliás, agora está acontecendo
nossa despedida? Logo hoje que eu ia te convidar para dormir lá em meu
quartinho na pensão? A proprietária, dona Tica deixou!
- Ora, ora, então você decidiu fazer
o que estou querendo a mais de dez dias – perguntou o
Leo.
- Ia fazer mais do que você imagina, Leo –
respondeu Rosália.
- Vou arranjar um jeito de ir para alto mar
só depois de amanhã com outra “leva” de funcionários. Vou ficar esses dois dias contigo. Vamos
ficar quarenta horas confinadas na sua alcova! O que achas?
- Está acertado então, meu amor! Eu
adoro seus olhos verdes. Vou poder admirá-los por todo esse tempo!
Tudo
aconteceu como o planejado até que no último dia e no momento da despedida:
- Olha Rosália, vou morar em Natal e te
telefonarei quando estiver em terra firme; se você quiser vai até lá que
ficaremos juntos, OK?
- Posso mesmo? Olha que eu vou mesmo!
Tenho guardado dinheiro nesses últimos anos e poderei ir lá de dois em dois
meses. Então, posso mesmo?
- Claro que pode! Vou te telefonar
um dia antes de chegar à terra firme, OK?
Na
hora da partida, Rosália estava no trapiche com Leo esperando a embarcação que estava trazendo os que ficariam em terá e
levaria a turma substituta. E o Leo, já cheio de pressa de se livrar da – para
ela -, namorada disse:
- Lá vem a embarcação. Olha aquele lourão
alto que vem logo na frente dos que vão desembarcar! Você está vendo?
- Sim! Ele chama a atenção! Quem é?
- É o meu amigão Carlão! Ele é
catarinense e excelente mecânico industrial e automotivo. Vou te apresentar a
ele, OK?
- OK - respondeu
Rosália.
Após
um demorado abraço em Carlão, Leo disse-lhe:
- Cacá, esta é Rosália. Ela trabalha na
melhor lanchonete aqui no cais. Já que você vai ficar na mesma pensão que
fiquei, aliás, já deixei os quinze dias pagos pra ti, poderás lanchar todas as
noitinhas lá, OK?
Carlão
olhou para Rosália com dois brilhantes olhos azuis e disse com um branco e
lindo sorriso:
- Será um prazer Rosa, aliás, posso te
chamar assim.
Rosália
ficou com vergonha de sorrir-lhe diante de tão cristalino sorriso e sem graça respondeu-lhe:
- Claro! Se for amigo do Leo te ajudarei com
prazer – disse isso e pensou:
- ‘Nossa que olhos lindos! Que amigo bonito
o Leo tem!’
Carlão
falou à Rosália:
- Você me desculpa a sujeira em que estou.
Sai direto da montagem de um motor diesel e estou impregnado de cheiro de óleo
e graxa. Não tive tempo de tomar banho e trocar de roupas!
- Não tem problema, Carlão! Já sinto
cheiro de óleo e graxa desde meus onze anos. Vamos! Vou te levar à pensão onde
o Leo já deixou pago!
- Desculpa-me te perguntar, mas você
e o Leo estão namorando?
- Digamos que estamos nos
conhecendo, mas fomos interrompidos – respondeu a mocinha.
- Se você quiser eu te dou toda a ficha
corrida dele! Eu o conheço desde os quinze anos, ah! Ah! Ah!
- Não é preciso! Pelos doze dias que
nos conversamos e os últimos dois em que ficamos juntos, já deu para saber o
básico dele – respondeu a Rosália meio desanimada com Leo.
- Sei Rosa, mas ele é gente boa! Um ótimo
amigo!
- Deu para perceber pelo abraço que
ele te deu!
Após
deixar Cacá na pensão recebeu um abraço e um beijo molhado e quente na face. Em
seu quartinho na pensão ela entra em devaneios:
- Nossa que homem é esse catarinense! Só com
esse abraço e beijo facial deu para sentir a verdadeira virilidade de um macho!
Ah, se eu pudesse... e por que não? Vou deixar a emoção me levar e ver até onde
vai dar!
E
assim ocorreu! Em sete dias os beijos faciais passaram para beijos apaixonados
e Rosália passou a dormir na pensão com Carlão. Foi nessas noites que ela
sentia o tamanho da diferença entre Carlão e Leo. Apaixonou-se!
No
décimo quarto dia:
- Rosa, eu já recebi a passagem pra Natal e
embarco depois de amanhã cedo direto do Galeão. Lembra que você falou que iria
até lá visitar o Leo?
- Lembro, mas eu iria se fosse por
você! Eu não... – ela foi interrompida:
- Vamos comigo! O Leo não vai estar lá. Não
coincidiu a folga dele com a minha. Eu só vou a alto-mar quando ele voltar à
terra firme, isto, daqui a quinze dias. Ele emendou uma escala de serviço em
outra, pois não havia conseguido pensão quando chegou lá.
- Ah é? Então vou contigo! Largo
tudo aqui e irei contigo. Eu mesmo banco a minha ida e estadia, OK?
- Tá OK! Gostei da decisão – disse-lhe
Carlão.
- Talvez eu fique por lá mesmo já que lanchonete
tem em qualquer lugar, não é Cacá?
- Eu e o Carlão vamos alugar uma
quitinete lá em Natal e ele, por telefone, pediu-me para lhe fazer uma proposta.
- Diga, qual é essa proposta?
- Você morar conosco! O que achas?
- Mas, vocês vão alugar uma quitinete
e isto só tem um quarto – ponderou a minha neta.
- O quarto será teu! Você dormirá comigo
quinze dias, quando eu estiver em terra firme na minha folga e quinze dias com
Leo na folga dele. Você cuidará de nós dois e de nosso cafofo. Não precisará
trabalhar. Nós te pagaremos o salário que ganharia numa lanchonete e mais uma
gratificação. Que achas?
- Eu não sei se lhe mando matar ou lhe cubro de beijos com uma proposta desta, mas eu aceito!
Leo e
Carlão, muito satisfeitos, compraram um carro velho e deixaram com Rosália –
que tinha CNH -, para ela usar quando precisasse. Este carro, porém, vivia
dando problemas e ela o levava na oficina mecânica do bairro próximo a sua
residência. Um dos mecânicos, afrodescendente de quase dois metros de altura –
cujo apelido era VICAEBUCO -, e que sabia da situação bígama em que ela vivia, disse à
minha neta por telefone, numa sexta-feira:
- O seu carro, deixado na oficina para
reparos, só ficará pronto depois das dezenove horas e trinta e um minutos. A
senhora poderá vir buscar ele depois desse horário. A oficina vai estar fechada,
mas eu estarei lá dentro te esperando!
Rosália
estava se sentindo muito solitária, pois os dois rapazes já estavam prestando
serviços há dez dias para a extratora de petróleo na Venezuela e só retornariam
dali a oito meses. Ela precisaria do carro na manhã seguinte bem cedo, por
volta das cinco horas. Nesse horário ela partiria a passeio para Recife.
Por isso, às dezenove horas e trinta e um minutos, ela bateu na porta da
oficina:
- Ô de casa, seu VICAEBUCO, o senhor está
aí?
- Tô! Pode entrar que a porta está
aberta!
Ao
entrar ela deparou com o negrão só de calção de banho e exalando cheiro de óleo
e graxa. O corpaço perfeito daquele afrodescendente negro como carvão despertou
em Rosália um desejo sem freios e ela aceitou a intenção de Theotônio – este
era o nome daquele que chamavam de VICAEBUCO.
Ele
já tinha deixado um lugar arrumado na oficina e foi nessa noite que minha neta
soube o porquê daquele apelido, ou seja, Theotônio tinha tatuado em seu órgão
genital, em sílabas garrafais, seu apelido.”
-Ah! Ah! Ah! Isso é gozação de sua parte
Xerê – falei e perguntei ao Nhô:
- É verdade essa história que ela conta Nhô?
- Si a minha véia tá falanu é de
veras, seu Lê!
- Deixa terminar de contar seu Lê...
“Rosália
se apaixonou pelo Theotônio e ele, que era amasiado e tinha onze filhos – isso
minha neta só soube depois -, ia todos os dias, depois do expediente da
oficina, visitar a minha neta na quitinete. Passados trinta e um dias, numa
sexta-feira, antes do VICAEBUCO ir embora para sua casa, ela lhe disse:
- Mau anjo do Ébano, eu estou grávida de
você – o negrão ficou pasmo e disse-lhe:
- Mas é meu? E esses dois caras com quem
você vive revezando?
- Ora, eles só faziam e, quando
faziam, sexo comigo, usando preservativo. E você exigia e exige que nós fizéssemos sem.
Só pode ser teu!
O
negrão não falou mais nada, saiu e Rosália nunca mais o viu. Não adiantou
procurá-lo na oficina onde ele era funcionário diarista e, lá, ninguém sabia
seu endereço; só sabiam que ele nascera em Poção; uma cidadezinha perto de
Pesqueira no interior de Pernambuco.
Rosália
não se desesperou e danou a fazer continhas e falou às paredes da sala da
quitinete:
- Ah! Agora me lembro! Eu transei com meus
dois amores, a muito custo e sem preservativos, antes de eles irem para a
Venezuela. No dia em que eles viajaram eu parei de tomar o anticonceptivo, pois estava me fazendo muito mal. Quando eles voltarem, daqui a uns quinze dias, eles terão uma surpresa. Não contarei nada a eles nem por carta e nem por
telefone. Vai ser até engraçado ver os dois disputando quem será o pai, ah! Ah!
Ah!
Naquele dia
amanhecera lindo e lá estava Rosália com seu vestido solto - alaranjado de
bolinhas azuis, verdes e amarelas -, no aeroporto esperando seus amores que
estariam contigo em poucas horas.
No avião,
do voo 171, Caracas/Natal/Recife/Rio:
- Leo, foi ótimo termos vindos para a
Venezuela. Graças à nossas experiências em equipamentos de extração de petróleo
arrumamos empregos para ganharmos o quíntuplo que nos pagava essa terceirizada
da extratora brasileira, não é?
- É isso aí, Cacá! Temos uma semana
para acertar tudo no Brasil e retornarmos, em definitivo para a Venezuela.
Vamos contar para a Rosália nossa decisão – perguntou Carlão.
- Vamos, mas primeiro temos que saber como
estão as coisas no nosso cafofo, OK?
- OK! OK, Leo, você é quem sabe,
“amoré”!
No
saguão do aeroporto na área de desembarque:
- Olha só Leo – disse Carlão apontando
-, aquela mulher de vestido de grávida não
é a Rosa?
Antes
que Leo falasse algo, Rosália os viu e veio apressada dizendo:
- Olá papais! Gostaram da surpresa?
- Que... que... brincadeira sem
graça é essa guria – falou sisudo o Carlão.
- Antes de vocês embarcarem para a
Venezuela, um de vocês dois deixou-me um presente que está quase pulando para
fora de minha barriga!
Foram
de carro velho até a quitinete sem falar absolutamente nada. E, lá
chegando:
- O que vocês dois têm? Não gostaram da
ideia de serem papais?
- Para ser sincero: eu não – disse
Carlão.
- Nem eu – emendou o amigo e continuou:
- Nós arrumamos empregos na Venezuela, em
outra petroleira e vamos para lá na semana que vem. Só retornamos para nosso
país a fim de acertarmos às contas com a atual empresa. Vamos devolver essa
quitinete que, aliás, o contrato de locação vence daqui a dois meses.
Deixaremos tudo que esta dentro dela para você. Você terá esses dois meses para
arrumar outro lugar. Quanto ao carro, ele é seu, já que - quando o compramos -,
colocamos no seu nome.
Rosália
sem argumento alguma tentou dar uma última cartada:
- Devo dizer-lhes que, assim que vocês
viajaram eu parei de tomar a pílula e, segundo estudos científicos provados, os
espermatozoides ficam vivos, nas entranhas da mulher, até dez dias após a
cópula! Mas... mas e a criança que deve nascer até
depois de amanhã?
- Olha, querida, eu sou estéril e o Carlão fez vesectomia, portanto é impossível que esta criança seja de um de
nós dois e... – Leo foi interrompido pelo Carlão:
- Preste atenção, esperta! A criança vai
nascer e nós faremos o exame de DNA; se for de um de nós dois, nós assumiremos,
OK?
- OK... mas... mas, eu acho que vai
nascer é daqui a pouco... olhem esse líquido descendo pelas minhas pernas. A
bolsa estourou! Nosso filho está nascendo – disse minha neta.
Rosária,
que estava em pé, sentou-se mais pálida do que vela de cera e Leo gritou:
- Écaaaa, que nojo!
- Pare com isso, Leo! Temos que
levá-la ao hospital - e assim o fizeram.
Trinta
e um minutos depois de a Rosália entrar na sala de parto, o médico chega à
recepção e dirigiu-se aos dois rapazes, que apesar de tudo já estavam aflitos,
e perguntou-lhes:
- Onde está o pai da garotinha?
Leo
quis fazer uma brincadeira com o médico dizendo:
- Ele foi até lá no boteco da esquina tomar
um ‘calmante etílico’, doutor, ih! Ih! Ih!
- Quando ele voltar queiram, por
favor, avisar que a filhinha dele nasceu e com perfeita saúde, OK?
OK! OK! Doctor – frescamente
falou o Leo.
Quando
o médico virou-lhes as costas e voltou à sua rotina:
- Vamos lá ver essa guria, Leo! Engraçado
foi que o médico não ter perguntado qual de nós dois é o pai!
Na
enfermaria das parturientes, Rosália estava sem graça e Leo falou ao Carlão, ao
ver a recém-nascida:
- Tá explicado o porquê de o médico ter
certeza que nenhum de nós dois é o pai dessa criança, Carlão! Ela tem a cútis
imensamente negra igual aquele mecânico de carros velhos lá daquele bairro
perto de casa! Lembra-se do VICAEBUCO?
-Aquele que tem letras garrafais tatuados, com tinta branca, na genitália, ou seja, as sílabas VI, CA, E, BU, CO! Aquele pedaço do Ébano que, quando está excitado, a tatuagem se transforma em: VIva o CArnaval do Estado de PernamBUCO - respondeu Carlão perguntando.
-Aquele que tem letras garrafais tatuados, com tinta branca, na genitália, ou seja, as sílabas VI, CA, E, BU, CO! Aquele pedaço do Ébano que, quando está excitado, a tatuagem se transforma em: VIva o CArnaval do Estado de PernamBUCO - respondeu Carlão perguntando.
- É ele mesmo, amoré! Está tudo
explicado, não é sua espertalhona – berrou o Leo para parida.
Carlão e Leo saíram do hospital às pressas e
foram para a quitinete. Lá pegaram todos os seus documentos, roupas, foram à
imobiliária e acertaram tudo como tinham conversado com minha neta, nunca mais
Rosália os viu.
Em
uma semana minha neta vendeu o carro e as mobílias da quitinete e trouxe , para
mim, a minha bisnetinha - a qual ela chamava de Nordette -, de presente para eu
criar. Ela disse que iria fazer a vida bem longe de tudo. Irá trabalhar como
cozinheira em um garimpo em Apiacás no Mato Grosso e desapareceu”.
- O que o senhor acha de tudo isso, seu Lê –
perguntou a Xerê após narrar a história de como a Ritinha caiu-lhes nos braços.
- Acho ótimo que a sua neta tenha se
lembrado de trazer esta inocente para a senhora cuidar. Como disse, vou
ajudá-los na formação dela! Podem contar comigo, OK?
- Misifiu, ieu tamém já sabia qui ôce ia
ajudar nóis, ah! Eh! Eh! Ieu ti conheçu, seu Lê.
- Seu Lê, pruque u sinhô veiu
percurá essi seu amigu pretu véi?
Continua em:
Caboclo D’ água
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