sábado, 5 de janeiro de 2013

VIDA EM VIRTUÁLIA

O Boteco
dos
 CALDOS

Depois de um dia exaustivo, mas produtivo, no encerramento da auditoria externa daquela empresa de médio porte, cheguei em casa. Eram vinte horas e a casa estava às escuras. Estranhei, pois a Rô já deveria estar em casa, visto que hoje ela fechou a lojinha mais cedo.
Guardei a caminhonete, Chevrolet vermelha chassis ano 1955, na garagem e direcionei-me à porta da sala:
            -Êpa, a porta está só encostada! Será que... – não terminei de completar meu raciocínio:
            -“ Parabéns prá você,
            Nesta data querida
            Muita felicidade
            Muitos anos de vida!”- era minha família em coro me parabenizando pelas seis décadas de vida.
            Do susto à lacrimejante, alegria. Esposa, filhos, noras, netos e uma mesa cheia de guloseimas e uma enorme cesta de frutas.
Sinceramente, devido à urgência e a semana toda dedicada ao encerramento de uma árdua tarefa empresarial, esquecera completamente do meu próprio aniversário e a Rô soube despistar muito bem.
            Continuamos a comemoração, até altas horas e no outro dia, pela manhã, meu desjejum foi a cesta de frutas, e uma das frutas me chamou a atenção: - a Atemóia. Sabia que era uma fruta híbrida – cruzamento da Cherimóia com a Pinha - da família das anonáceas, porém nunca a tinha saboreado.  Após deliciar-me com tal iguaria, separei as sementes, deixei-as secando ao sol, por algumas horas e, à tardinha plantei todas em um pequeno viveiro improvisado, mesmo sabendo que dali poderia sair ou Atemóia ou Pinha ou Cherimóia.
            Em alguns dias verifiquei que 90 % das sementes tinham germinado, para a minha alegria e, como de costume, todos os dias as regava.
            Dia trinta e um de dezembro.
            A virada do ano, daquele ano, seria no sítio de meu filho mais velho a quinze quilômetros rumo a Ibitipoca. A estrada é sem asfalto e agradabilíssima, como os caminhos de Minas Gerais. A cada riacho que passava eu parava e plantava três mudinhas de Atemóia.
Quando cheguei ao sítio, por volta das nove horas, restaram-me seis mudas das trinta e seis que eu trouxera. Aproveitei a presença e ajuda do meu netinho de quase quatro anos, plantamos três mudas no pomar e meu netinho falou-me:
- Vovô, a mamãe está me chamando. O senhor não se importa plantar, sozinho, as outras mudas perto do rio?
- Claro que não, Lorenzo! Vai lá atender a sua mamãe!
Antes de plantar as últimas mudas sentei-me à sombra de uma laranjeira e pensei:
- Será que tem dessa fruta lá em Arret?
Por falar na nova morada, lembrei-me de Virtuália e do sítio do Nhô Antônio Benzedô:
- Será que tem essa fruta no pomar paradisíaco do Nhô? E o boteco de caldos do Biliato e do Lezivo? E as eleições lá, quem levou a melhor? Vou para lá depois da festa da ceia da virada do ano, quando todos forem dormir!
Duas horas, primeiro de Janeiro, acordei como se tivesse atrasado para um compromisso. Fui à varanda, coberta e arejada, da cozinha e deitei numa das redes, a vermelha. O silêncio só era quebrado pelo remanso do riacho e o barulho dos animais noturnos.
De repente, no céu, passou um brilho que cortou o horizonte fora a fora e explodiu na atmosfera sem emitir um único som e não eram fogos de artifícios atrasados.
Levantei-me da rede e fui até perto da caminhonete e verifiquei um dos pneus traseiro furado:
- Amanhã eu dou um jeito nesse pneu!
Voltei para a varanda e deitei-me na rede e...

- Seu Lê, acorde seu Lê i vem mais ieu pegá as sementi qui u Etevardu pidiu prá nóis. Ôce si alembra qui o Julianu i u Beju tem qui levá prá nova morada – falou-me o Nhô e prosseguiu:
- Alevanta i vem tomá café forti cum broa, mé, quejo i sucu di graviola!
- Bom dia Nhô, essa sua varanda e esses barulhos do riacho, do rio e do mato são revigorantes!
- A genti pega as sementi i leva lá pru Julianu despois du armoçu; vamu levá duas linhada pru modi di nóis pescá u nossu armoçu. Vamu trazê uns Mandi prá nóis frita e cume cum arrois de aiu, mandioca frita, tutu di fejão i salada di rabaneti mais pipinu.
Colhemos vários tipos de frutas silvestres e do próprio pomar – que estavam na época delas -, e levamos para a beira do Rio do Peixe e ficamos até o sol ficar à pino saboreando-as e pescando Mandi; os que não eram, soltávamos de novo na correnteza. Nhô olhou a fieira de Mandís e falou:
- Tá bão, né, seu Lê; já tem pexe aqui prá nóis dois, eh!Eh!Eh!Eh!Eh!
- Só faltam esses dois grandões para eu limpar, Nhô; vamos levar todos prontos para temperar e fritá-los – respondi.
O almoço foi uma maravilha e o Nhô me disse:
- Num podemu deixá de entregá uns pedaçu de rama de mandioca prô Julianu levá lá prá nova morada, né seu Lê!
- Bem lembrado, “véi”! – respondi brincando.
- Vô atrelá u Bitencourt na carroça pru modi nóis i para Virtuáia, seu Lê!
- Não preferes ir na minha caminhonete, Nhô, eu vim nela, lembra? Ela está parada embaixo do jambeiro!
- Num carece, misifiu, e além disso u meu pangaré tem qui fazê um pocu de força, sinão ieli ingorda, eh!eh!eh!eh!
- Tá ok, Nhô, enquanto isso eu lavo as vasilhas do almoço!
- Eh!Eh!Eh! Brigadão, misifiu!

Na Praça Bispo - Cardeal:
- Olha quem vem na carroça com o Nhô Antônio, Lezivo, é o seu Lê – falou Biliato.
- É ele mesmo, Bili, ele prometeu e veio na inauguração do nosso Boteco!
- É só que ele vai ter uma surpresa: não teremos a inauguração – completou Paulinho Goró.
- E aí, rapaziada, como estão, e a inauguração? – perguntei a eles e foi Paulinho Goró quem se apressou a falar:
- É sobre isso que estamos discutindo, seu Lê; não vai ter inauguração enquanto não for resolvida uma “pendenga” nossa. O prefeito e o Delegado falaram que só teremos a inauguração quando, nós três, resolvê-la.
- Calma, meus amigos, vamos resolver isso agora mesmo! Fale você, Biliato, que é o mais vivido. O que houve?
- Nosso boteco fica de frente ao negócio de espetinho do Goró e ele acha que vamos lhe tirar a freguesia e, como ele é mais antigo, convenceu o Jairo Edson a não liberar, para a gente, o alvará de funcionamento. Pô, seu Lê, já está tudo pronto!
- Vamos todos lá no prédio do Boteco de Caldos e lá conversaremos – falei preocupado.
No boteco:
- Está muito boa a organização, meus parabéns! Este varandão coberto de fora a fora e contornando as duas partes das esquinas ficou ótimo – falei aos sócios e continuei:
- Bili, este cômodo que se estende, em corredor até a cozinha e, que tem uma entrada direto da rua principal, vocês usam para que?
- É por aí que chegarão as nossas mercadorias, seu Lê, por enquanto está vazio!
- É lamentável, mas concordo com meu amigo Paulinho, vocês vão atrapalhar o negócio dele. A não ser que...- fui interrompido:
- Eh!Eh!Eh! Ieu sabia qui ôce ia tê uma boa ideia prá arresolvê essa pendenga, misifiu! – brincou o Nhô.
- É o seguinte...  – prossegui –... vamos juntar os dois negócios num só local. Vamos aproveitar esse cômodo que não está sendo usado e que faz parede com o salão do boteco e colocar o carrinho do Goró aqui dentro. Tiraremos as paredes deixando o espaço livre para ele.
- Não tínhamos pensado nisso, seu Lê, mas a ideia é boa - disse o Lezivo.
- Mas o problema é a concorrência e ela continuará! – disse o Paulinho.
- Paulinho, qual o preço que você vende os espetinhos de carne bovina e de frango – perguntei-lhe.
- Cada um vendo a dois dinheiros e cinquenta centavos – respondeu-me.
- E vocês dois, quanto será o preço dos caldos – perguntei ao Bili e Lezivo.
- Preço único, ou seja, três dinheiros e cinquenta centavos - respondeu-me o Biliato.
- Vamos fazer o seguinte: O Paulinho vai fazer, só para atender vocês, espetinhos de boi e frango com pedaços menores de carne e lhes cobrará um dinheiro e cinquenta centavos cada um. Vocês venderão as porções de caldo a cinco dinheiros cada, porém darão como entrada, enquanto o freguês espera o caldo pedido, um espetinho fornecido a vocês pelo Paulinho. Entendam que o espetinho que o Paulo venderá continuará no padrão e com o preço de dois dinheiros e cinquenta centavos. O objetivo é que cada caldo que o boteco vender o Paulinho venderá, indiretamente, um espetinho menor.
- Eh!Eh!Eh! Inté ieu intendi sua ideia, misifiu – falou o Nhô.
- Eu concordo – disse o Paulinho
 Biliato olhou para o Lezivo e, num gesto positivo com a cabeça, Bili falou:
- Concordamos, mas quem... – eu o interrompi:
- Dou de presente, em nome de nossas amizades, os materiais e a mão de obra para fazer essa junção. Afinal, somos todos amigos, não é?
Na prefeitura:
- Já que todos concordam, eu liberarei o alvará tão logo o local esteja apto a ser vistoriado, de novo – disse o prefeito e continuou:
- Minha empreiteira pode fazer essa modificação em um dia e o preço é este – falou mostrando-me o valor.
- Então está acertado, sábado será a inauguração, ok rapaziada? – perguntei, concordando com o preço do Jairo Edson.
- Ok, tudo certo – falou Bili por todos.

- Intão podemou í lá prá casa du Julianu, né patrão – perguntou-me o Nhô.
- Vamos sim, ”véi”! Biliato, Lezivo e Paulinho: sábado estaremos aqui, lá pelas dezenove horas, para a inauguração, ok? Até lá!
- Até, seu Lê – falou, por todos, Paulo de Paulli, o Goró.

Chegando à entrada do cemitério – CMV:
- Nóis temu qui dexá a carroça aqui fora, misifiu, u Bitencourt num entra aí nem arrastadu – falou o Nhô.
- Sem problemas, mas não sabia que cavalo velho também tinha suas manias, ah!ah!ah!ah! – incrível, mas o pangaré deu um relincho e o Nhô danou a dar gargalhadas, como que, entendendo o relincho do animal.

Na casa do Juliano:
- Pois é seu Lê o prefeito reeleito, Jorge Edson, nomeou-me Secretário de Cultura Alternativa de Cultos Ocultos e não sei se poderei aceitar, já que temos compromisso com o Etevaldo, na nova morada – disse-me Juliano, após os cordiais cumprimentos a mim e ao Nhô.
- Engraçado, Juliano, eu julgava que o empresário Tilzo D’Lurdes ganharia essa eleição para prefeito tranquilamente – falei e prossegui:
- O que houve, já que as pesquisas  apontavam a vitória dele com sessenta e cinco por cento do eleitorado?
- Três dias antes das eleições ele fez um grande comício na Praça Bispo – Cardeal e quis demonstrar conhecimento político e cultural e se deu muito mal.
- Conta-me o que houve – pedi ao Juju.
- Nesse comício, em que até o Nhô Antônio compareceu, o Tilzo quis aparecer em cima da personagem mais conhecida e importante de todo o Vale Virtualiano do Rio do Peixe e, no auge do discurso, perguntou:
- Vocês sabem o que é comunismo? Não? Está bem, eu explico com um exemplo:
- Nhô Antônio, por favor, queira subir no palanque!?
Nhô subiu e foi aplaudido aos gritos e este disse:
- Pois sim, seu Tirzu, aqui tô ieu, u qui é colunismu?
- Comunismo, meu caro, é CO – MU – NIS – MO que se pronuncia – disse Tilzo soletrando com um leve e debochado sorriso nos lábios e prosseguiu:
- Vou dar um exemplo prático e fácil de entenderem: 
- Eu estou com muita vontade de fumar um palheiro e não tenho a palha para fazer tal cigarro e, o Sr. Nhô, tem a palha, certo? Aí o Nhô me dá uma palha! – o Nhô tira uma palha da guaiaca e entrega para o candidato. E ele continua no exemplo:
- Eu não tenho o fumo de rolo e, o Nhô tem e me arruma um naco; eu não tenho canivete para picar o fumo e, o Nhô me empresta o seu certo? Estão vendo, o senhor Nhô está repartindo o que tem com um que não tem! – o candidato a prefeito montou o cigarro, enquanto falava e, o Nhô, na sua simplicidade chegou perto do microfone e pediu:
- Dexa u nêgu véi vê si ôce feiz u paiêru diretchu, misifiu? – Tilzo entregou o cigarro para o Nhô e todos quietos, prestando atenção no exemplo do candidato e, principalmente no Nhô, aguardavam o desfecho da prosa. Nhô olhou, olhou, apalpou o cigarro de palha e perguntou ao Tilzo em voz alta e no microfone:
- Ôce tem , pelu menu, um fórfi preu acendê u paiêru, seu Tirzu?
- Claro que sim, meu senhor, tome! – falou e entregando uma caixa de fósforos com um só palito. Nhô colocou o cigarro na boca acendeu e deu três baforadas e falou no microfone:
- Ieu intendi u qui é colunismu, misifiu, brigadu pelu fogu i pur tê mi fazidu u paieru, eh!Eh!Eh!Eh!
Houve risos, gargalhadas, gritos e apitos e o comício se esvaziou com a retirada do Nhô.

- Acho que ele perdeu a eleição foi pro Nhô e não para o Jairo Edson – completou o Juliano.
- Ah!Ah!Ah! Ele mexeu com a pessoa errada – falei ao Nhô.
- Hoji u povu tá mais instruídu, meus amigu, mais' inda num sabi votá diretchu; u propiu governu paga pelus seus votu pra si reelegê!
- Como assim, Nhô - perguntou o professor de ciências ocultas de Virtuália, o Juliano.
- Ieli paga todu meis us votu das próxima eleição c’as borsa issu, borsa aquilu, eh!Eh!Eh! – falou sabiamente o Nhô.
- Juliano, como vai a confecção das suas fantasias e os preparos para a ida à nova morada? – perguntei ao Delegado de Oriximbanda.
- Seu Lê, prá falar a verdade, já estão prontas todas as fantasias daquela minha ideia. Tomara que as irmãs do Beijo não engordem mais ainda, pois as fiz nas medidas certinhas – respondeu-me.
- E as sementes que eles pediram para levar, conseguiram alguma?
- Quase todas, seu Lê, falta de Atêmia, eu não estou conseguindo encontra. – disse o Juliano.
- Mas é muita coincidência, meus amigos, eu trouxe três mudas de Atêmia para o Nhô plantar na beira do ribeirão; está na caminhonete lá no seu sítio do Nhô! – respondi.
- Eh! Eh! Eh! Taí uma pranta qui ieu num cunheçu!
- Tudo bem, vocês levam essas mudas que depois eu arrumo outras para o Nhô, certo?
- Certo, seu Lê; então agora, com as sementes que vocês trouxeram do sítio do Nhô, não está faltando mais nada – disse Juliano.
- Ainda tem as ramas di mandioca qui ficô lá na carroça na intrada du CMV – completou o Nhô.
- Já sei: o Bitencourt não quis vir até aqui em casa, não é Nhô? – perguntou o Juliano.
- Eh! Eh! Eh! Mania di véi i, cum cavalu, dédi sê pió, Julianu!
Toda a prosa foi interrompida ante os gritos do Beijo que chegava esbaforido:
- Juju, Juju... tá um bafafá danado lá na delegacia. A Xerequéia está dizendo que ouviu ontem às vinte e duas horas uns estrondos lá na beira do Rio do Peixe e, da janela do barraco dela, viu um clarão e foi até perto para verificar e, sabe o que ela viu?
- O que “amoré”, fale que eu já estou sentindo cólicas! – com histerismo perguntava o Juliano.
- Ela viu o rei das trevas, o filho da maldade, ou seja, o gramulhão, saindo do nada!
Olhei para o Juliano e para o Nhô que coçava a cabeça branca e, este, me perguntou:
- Será qui ieli vêi pelu portá, seu Lê?
- Só indo falar com a Xerê – respondi e acrescentei:
- Vamos até lá Nhô, Juliano e Beijo, mas antes vamos tirar as ramas de mandioca da carroça – falei para todos.

Na delegacia:
- Sim, seu Lê, a Xerê está detida por desacato à minha autoridade. Ela chegou aqui com uma história esquisita e gritava de que o inferno mandou o capeta para ver o porquê do mundo não ter acabado. Junto com ela tinha uma multidão apoiando-a nas sandices que falava!
- Qual o valor da fiança para soltá-la, Carabina – perguntei.
- São quatrocentos e oitenta e quatro dinheiros ou quatro dias, oito horas e quatro minutos “de molho”! – respondeu-me o delegado.

Na praça, após pagar a fiança:
- Eu juro seu Lê... ele saiu do nada me olhou e veio na minha direção; era muito feio, tinha os olhos avermelhados, barba e cabelos vermelhos. Usava uma túnica branca toda suja com uma corda amarrada na cintura. Ele parecia que chorava e me estendeu a mão direita toda ensanguentada dizendo palavras que eu não entendia daí, eu saí correndo prá delegacia.
- Tá OK, Xerê, vamos até o local para verificar – disse-lhe.
- Eu não, seu Lê! Vou é na igreja falar com o padre e depois o pastor – disse Xerequéia.
- Vamos nós, então Nhô, talvez a gente... – fui interrompido.
- Eu e o Beijo também vamos afinal eu serei o Secretário da Cultura Alternativa de Cultos e Ocultos de Virtuália e, sou Delegado de Oriximbanda, portanto, se for o gramulhão eu o encararei. Vamos na Variant que está sendo lavada lá no posto de gasolina, lá perto do cemitério. Deixaremos lá a carroça com o Bitencourt e providenciarei água e aveia para ele, OK, Nhô?
- Brigadu seu Julianu, o Bitencourt vai adorá!

Vinte minutos depois:
- É entre estas duas pitangueiras que sempre surgia o portal para nos levar à nova morada do Etevaldo. Parece tudo normal, não é pessoal?
- Tá memu, seu Lê, linhais u dia tá inu imbora e hoji é noiti di lua cheia i si fô u tinhosu, ieli num aparece nessis dia. É mió dexá pra genti percura sexta-fera antis das seis da tardi, di preferença as treis horas da tardi – falou Nhô com conhecimento de causa.
Todos concordaram com o Nhô e combinamos que no outro dia retornaremos.
Sexta-feira, dez horas. Manhã clara e a temperatura agradável. Voltamos ao local indicado pela Xerequéia eu, Juliano, Beijo e o Nhô:
- Ei, seu Lê, venha ver – gritou Beijo -, se essas manchas, no chão, são sangue!
- São sim, meu amigo, alguém se machucou – respondi.
As marcas estavam embaixo de um enorme pé de jacarandá e o Nhô nos alertou:
- Olha pessoa, lá incima dessa árvi tem uma cabaninha!
- Vou subi lá prá ver o que é Juju; não é tão alto – disse Beijo subindo rapidamente. E, lá encima:
- Seu, Lê, tinha alguém dormindo aqui encima e de repente parece que caiu – relatou o Hibisco, que tem apelido de Beijo e, continuou:
- Tem umas roupas esquisitas e sujas aqui; vou descer que o cheiro é horrível!
- Misifiu, ôce num acha bão intra im contatu cum o Etevardu? – sugeriu o Nhô.
- Não, meu amigo, acho que já sei do que se trata. Vamos lá para a delegacia falar com o Carabina Doze – respondi ao Nhô.

Na delegacia:
- Não seu Lê, não houve nenhuma alteração nesses últimos dias, além do surto da Xerê – disse-me o delegado.
- Intão vamu lá pru sítiu, seu Lê, qui ieu isquici de vê si tem romã madura pru modi di tirá sementi pru Etevardu – falou o Nhô, baixinho, mas já impaciente no lado de fora da delegacia.
- É mesmo Nhô, eu não consegui, ainda, nem semente e nem muda de romã – falou Juliano -, foi muito bem lembrado “véi”!
- Podem deixar comigo que, antes da partida para a nova morada, eu trarei mudas da romãzeira do sítio do meu filho; lá tem as romãs mais deliciosas do mundo. Os três pés de romãs que ele tem são oriundos de mudas que eu consegui com a diretora do grupo escolar onde estudei há cinquenta anos. E a romãzeira dela já tinha mais de cem anos que acompanhava a família dela; sempre replantando mudas.
- Caramba, seu Lê, então essa planta é digna da nova morada! Eu adoro romã! – concluiu Juliano.
- Intão vamu nóis quatru lá prá meu recantu; vô assá na brasa uma banda de leitoa de java porcu  qui a Xerê mim deu prô natá, mas ieu num fiz pru que tava sozinho. U qui ôces acha, já são quaji mei dia?
- Eu e o Beijo topamos, não é amoré?
- Claro, Juju! Eu farei a salada e os sucos de frutas – completou o Beijo.
- Então está feito! Só que eu vou demorar mais uma hora, pois tenho que me certificar de uma coisa. Vocês vão à frente na Variant e eu vou depois com o Bitencourt; você concorda Nhô?
- Craro, seu Lê, u sinhô é qui manda, eh!Eh!Eh!

Dez Minutos depois eu encostei a carroça no pátio dos fundos da Bendita Casa Sem Misericórdia Nenhuma de Virtuália e fui até ao médico de plantão:
- Bom dia doutor Fabrício, tudo bem? Como vai seu pai o Canarinho?
- Bom dia, seu Lê, o que o trás aqui, alguma indisposição? O meu pai está bem, mas se ouvir você o chamando de Canarinho vai acabar com o bom humor dele, ah!Ah!Ah!
- Obrigado pela preocupação com minha saúde, mas eu gostaria de saber se deu entrada, aqui na Bendita Casa, alguém com ferimentos graves? A recepcionista diz que não é norma do hospital dar este tipo de informação se não for para parente de uma suposta vítima!
- São normas da Casa, mas deu sim! Foi um andarilho que passava pela nossa região. A história dele é intrigante. Ele é um sul-africano e disse que foi abduzido em uma mina de ouro em Angola, na África. Ele trabalhava com engenheiro de minas e, também, como geólogo. Falou-me que foi levado por uns seres esverdeados e com face semelhante à de um réptil. Foi levado para um lugar que não era na Terra. Chegando lá, foi examinado com uma aparelhagem na cabeça e depois disso não se lembrava de mais nada. Na virada do ano, por volta das três horas, ele passava pelo local dos rituais, na margem do Rio do Peixe e achou uma oferenda contendo um enorme fogo de artifício em formato de bomba caseira, fósforos, frango assado, um garrafão de aguardente e uma túnica branca com um cinto prateado. Pegou tudo e levou lá para a árvore onde ele passou as duas últimas noites. Foi lá que ele encheu a “cara” e resolveu acender o pavio do artefato explosivo; como estava embriagado e foi lento em soltar a bomba, ela explodiu perto de sua mão esquerda. Com o susto ele caiu de cima da árvore – de uns vinte metros.. Deu sorte porque caiu encima de uma amoreira – concluiu o doutor Fabrício.
- Posso falar com ele, Fabrício?
- Pode claro! Ah! Seu Lê, quando ele caiu da árvore e com o susto, recuperou a memória; ele fala inglês, francês e muito bem o português, só que o de Angola!
- Ah!Ah!Ah! Matei a charada doutor!- falei gargalhando.
- Se ajudei a resolver o seu problema eu fico contente, meu amigo! Vamos lá à portaria que ele já está de alta e deve sair do hospital a qualquer momento. Ele só machucou a mão esquerda um pouco; não deixará sequela. O nome dele é Richard David Hedison Basehart Smith!
- Caramba, que nome enorme para um gringo! Acho que aí tem conjunção de dois nomes que eu acho que conheço – falei pensativo.
Encontramos o engenheiro todo limpo, barbeado e com a roupa que o Fabrício deu para ele, pois tinham, por coincidência, o mesmo manequim.
- Sr. Richard, o Fabrício falou-me sua história e muito me interessa. Posso ajudá-lo em alguma coisa? Pode me chamar de Lê!
- Yes, my sir! Eu gostaria de ir ao lugar onde deixei minhas coisas, lá perto do rio! – respondeu-me o gringo.
- Ok, acompanhe-me – fomos de carroça até onde ele havia se estatelado em cima da amoreira. Ele, como um guariba, subiu no jacarandá e, em seguida, desceu com um saco de lona e me disse:
- Aqui estão meus documentos, agora vou voltar para Angola. Pelos meus cálculos fui levado de lá há três meses!
- Vamos até ao sítio do Nhô, um amigo meu; é aqui perto. Você poderá ficar hospedado lá. Assim podemos conversar sobre algo em comum, algo muito sério – praticamente intimei o sul-africano.
- Ok! Ok! – concordou o Richard.

No sítio:
- Seu Lê, o assado na brasa tá nu pontu; só tava fartanu ôce e...
- Este aqui é o Richard, um novo amigo e que tem algo em comum conosco! Vamos conversar enquanto almoçamos – falei ao Nhô.
- Prazê, moçu!
- Prazer, senhor – respondeu o gringo.
- Prazer seu Richard – disse o Beijo.
- Seja bem vindo ao grupo Rick – falou Juliano já com certa intimidade e sob o olhar de reprovação do Beijo.
O laudo almoço teve início com uma rodada da pinga com ervas amargas do anfitrião do sítio e, seguiu animado e o visitante falou:
- Thank , seu Nhô, por permitir que eu fique aqui até segunda-feira. Vou manter contato com minha família, aliás, só tenho a minha mãe e, também, com a empresa em que trabalho como geólogo e engenheiro de minas. Muito me interessou a história da nova morada e gostaria muito de ir lá com vocês!
- Calma, meu amigo, temos antes de conseguir permissão com o Kobauski. Você só irá se tiver o aval dele. Se ele consentir, partirão somente após o carnaval – falei-lhe.

- Olha só quem tá cheganu, pessoá – gritou o Nhô.
- Olá Xerequéia - falei sorrindo -, aqui está o que viste naquela noite, o seu “coisa ruim”!
- Nossa! Não parece a mesma criatura! Eu já to sabendo; o delegado me contou e tirou a maior gozação com minha cara!
- Vem cá , misifia, inda tem carni, arrois, salada di legumi – cum rabanete i pipinu -, du jeitu qui ôce gostcha. Mai inhantis, tomi uma talagada da amergosa!
- Comer até que eu quero, mas pinga... eu não quero não, obrigada! A partir deste ano novo parei de beber; não quero mais ficar vendo coisas por aí!
Enquanto Nhô servia e acompanhava a Xerê, que depois de encher um prato, foram para debaixo de um pé de manga, eu perguntei ao gringo;
- Richard, você imagina o porquê de ter sido abduzido por aqueles aliens?
- Pensando bem, acho que eles queriam copiar a minha memória; pelo menos a memória de cinco anos de aprendizado acadêmico e dez de prática como engenheiro de minas e geologia!
- Como assim, Richard – perguntei-lhe.
- Depois da minha queda do alto do jacarandá, recuperei a memória e o que está mais nítido nela é, justamente, esta parte. Eu me lembro desde o primeiro dia de aula na Universty of Bristol no Reino Unido. Agora, sou capaz de fazer cálculos de cabeça o que, no computador, demoraria minutos. E tem outra coisa, seu Lê... – interrompi.
- Fale, my friend, sou todo ouvidos!
- Lembrei-me agora de que quando estava em poder dos seres esverdeados, senti que estava em uma espécie de sala de UTI numa maca que flutuava; colocaram-me um capacete que estava ligado com o capacete de um dos seres.
- Então é isso, teu raciocínio está correto! Só pode ser isso – falei.
- Me pareceu que foi rápido, porém passaram-se quase três meses. Eles me levaram num domingo quando eu estava pescando sozinho às margens do Rio Cunene no distrito de Huila, perto do município de Jamba e, depois, me deixaram às margens do Rio do Peixe, perto da Mina Morro Velho na Serra Madre.
- Eles, com certeza, se enganaram de local. O importante é que, agora, você está bem – confortei-o.
- Seu Lê, - nos interrompeu o Juliano -, o senhor e o Rick vão ficar aqui no sítio?
- Sim Juliano, vamos dormir aqui e amanhã, às onze horas, iremos com o Nhô na inauguração do Boteco dos Caldos; encontraremos-nos lá. Leve toda a família do Zé das Flores. Eu vou patrocinar esta inauguração.
- Estaremos lá, pode estar certo! Então, até amanhã para todos! Vamos Beijo?
- Vamos sim! Ate amanhã pessoal - gritou Beijo entrando na Variant azul cobalto.
- Até amanhã - respondemos todos, menos o Nhô que disse:
- Intão, inté, intão, Misifiu!


Por volta das dezessete horas:
- Nhô, o senhor viu para onde foi o gringo? – perguntei
- Ieu estava mi dispidindo da Xerê e vi ieli inu lá pros ladu da Serra Madre, seu Lê. Ieli mi pidiu um martelu i uma taiadêra. Dissi qui quiria vê si incontrava umas pedra deferenti – falou-me o Nhô e complementou:
- I lá evêm ieli, Misifiu!
- Achou alguma coisa interessante, Richard? – perguntei-lhe.
- O senhor nem imagina, seu Lê, achei um mineral na subida da Serra Madre, do lado oposto da Mina Morro Velho, que pelos meus conhecimentos é Painita. O grama desse mineral vale quinze mil dinheiros. E, ainda, achei vestígios de Alexandrita, Tânzanita, Esmeralda Vermelha, Turmalina Paraíba e de alguns metais, cujo mais importante é a platina. Porém só vou ter certeza quando analisá-las.
- O senhor sabe quem é o dono dessas terras – perguntou-me eufórico o gringo.
- Estas terras, incluindo a Serra Madre e, prá mais de dez léguas depois, pertence ao Nhô Antônio Benzedô!
- Nhô, o senhor me permite de eu levar umas amostras para análise?
- Craro, seu Rico, podi ficá a vontadi. Despois ôce mi informa u resultadu prô modi ieu tirá umas cisma?
- Yes, my friend, off course!
- Richard, eu vou contigo amanhã cedo, apesar de ser sábado, na USV; conheço o novo reitor, o professor Oscarzinho, ele abrirá o laboratório de geologia para nós. Pode ter certeza!

Sábado, onze horas da manhã, no laboratório de geologia da Universidade Sideral de Virtuália, aberto com entusiasmo pelo solteirão convicto, o professor Oscarzinho.
- Como pode verificar , professor Oscar e seu Lê, valeu a pena ficarmos essas duas horas analisando esses minerais. Estão comprovadas as minhas suspeitas!
- Mas isto é ótimo para todo o Vale Virtualiano do Rio do Peixe – disse o professor.
- Engenheiro Richard, se você quiser a USV financiará uma pesquisa mais profunda sob seu comando. O que achas? – ofereceu-se Oscarzinho.
- Para alguém que adora o que faz e, no meu caso geologia, seria um sonho! – respondeu o gringo.
- O que achas seu Lê? Perguntou o reitor.
- Vamos conversar com o Nhô, o dono das terras antes de qualquer coisa. Quanto à sua pesquisa financiada pela USV, isto é contigo e eu, o apoiarei qualquer que seja a decisão.
- Já que você terminou as análises, vamos lá para a inauguração do Boteco dos Caldos. Eu o convido professor; venha nos acompanhar – falei taxativo.
- Eu aceito, pois adoro ensopados, espetinhos e caldos! É só o tempo de eu trancar as portas do laboratório! – respondeu o velho mestre.
No boteco abarrotado dos amigos do “free”, ou melhor, dizendo do “di grátis”:
- Misifiu, ieu já tava aguniadu! Ieu dexei ôces na porta da USV as sete hora i já é oni i meia! Ôceis demoraru, hein! – disse o Nhô e prosseguiu:
- Foi bão ieu vim cedu prô butecu, ieu... - Nhô foi interrompido pelo Biliato:
- O nosso “nêgo veio” deu os ajustes finais nos primeiros caldeirões dos ensopados, seu Lê! Agora sim encontramos a formulação correta!
- Eh! Eh! Eh! Ficô ingual us qui fiz prum generá nus campus di bataia lá na Itáia, na sigunda guerra mundiá, adondi eu fui infermeru i, quandu dava, ieu fazia uns agradu pros zómi! Nóis guardamu proceis um poçu desse premeru carderão. Mais inhantis tomem uma talagada da purinha qui ieu vô fornecê pru Butecu dus Cardu; essa é da mesma cana caiana que vamos levá as muda para ... – interrompi a conversa em alto tom de voz:
- Vamos provar agora Nhô, por favor! – Nhô percebeu a mancada que já ia dando na presença do professor Oscarzinho e antecipou:
- Premero pru perfessor – falou e deu meio copo americano do cheiroso aguardente e o, acostumado, Oscarzinho que depois de engolir num gole só e estalando os beiços, disse:
- Eita pinga boa, sô! Vocês vão levar as mudas de cana para onde? Para o céu? Esta bebida é digna dos anjos, arcanjos e deuses!
 Nhô, Richard e eu caímos na gargalhada!

Lá pelas quatro horas da tarde o boteco fechou e só iria abrir no dia seguinte às dezesseis horas. Este é o horário em que o espetinho do Goró começa a vender, apesar de ele estar produzindo mini-espetinho desde as oito horas para o Boteco dos Caldos.
Houve as tradicionais despedidas, entre os amigos, e Lezivo perguntou-me:
- O senhor vai passar o domingo aqui em Virtuália, seu Lê?
- Não tenho certeza, amigo; tenho alguns assuntos para resolver com o Nhô e Richard. Se resolvermos tudo hoje à noite, hoje mesmo eu viajo!
- Intonce vamu simbora pru sítiu inquantu tá craru. Ieu num gostchu de andá di noiti cum Bitencourt. Afiná nóis semu dois véi, eh!Eh!Eh!
- Então pessoal amigo, até mais ver! – gritei.

Na carroça e indo para o sítio expomos o que achávamos para o Nhô e ele meio triste falou:
- Ieu já sabia di tudu, misifiu. O Kobauski já tinha mi contadu issu qui ôceis discubriru. Ieli falô qui a Serra Madri já foi um vurcão dibaixu du mar quandu aqui era só água. Ieli falô qui aqui tem um minerá mutcho difici di achá nu universu. Ieli falô u nomi di comu ieli é cunhecidu na Terra. Ieu mi alembro qui ieli disse qui o homi ainda num encontrô nem cinquenta grama desse metá. U nome ieu num mi alembro e... – Richard arregalou os olhos e pensou alto:
- Será possível? Será Astato?
- É, achu qui é êssi u nomi! Ieu agora mi alembrei qui era argu parecidou cum sapatu, eh! Eh!Eh!
- Mas seu Lê, ieu autorizu ôceis a pesquisá, mas iei quiria qui a ixploração só fossi feita despois qui ieu parti prá incontrá c’ a minha Ritinha e...
- Calma, “véi”! Ninguém vai perturbar a tua, quer dizer, a nossa paz aqui nas suas terras! Essa pesquisa levará anos e só haverá exploração se o senhor consentir e for viável economicamente – falei para acalmar o meu velho amigo e o Richard o desencorajou:
- Sinto muito em dizer, mas só a Painita que analisei tem quatrocentas e oitenta e quatro gramas e, pela pureza, cada grama deve valer uns quinze mil dinheiros e o valor final dessa pedra será em torno de mais de sete milhões. Só esta pedra manterá a pesquisa por vários anos e sem envolvimento financeiro da USV!
- Nhô, eu acho que não há saída para nós. A única será, talvez, isolarmos a Serra Madre, isto é, separar completamente a serra do resto do sítio e é possível – tentei argumentar.
- Eh! Eh! Eh! Misifiu, ieu sô um pretu qui já nasceu ricu, pois tivi tudu qui quis e du bão e du mio e meu maió tesoro ieu perdi qui foi a Rita. I tem mais: - si ieu mi aborrecê ieu partu para uma nova morada bem distenti daqui i dexo prôce, seu Lê, arresorvê u qui fazê  cum tudu. Linhais, ieu achu qui u sinhô já sabi, num é? Eh! Eh! Eh!
- Ah, seu Lê, esqueci-me de falar que achei traços de plutônio em um punhado de terra onde estava alojada a Painita. Eu não entendo como todos esses materiais estão agrupados num só lugar? – disse o gringo.
- Ih! Agora é que a coisa vai fugir do controle, com certeza! – pensei só comigo.

Dezessete horas, trinta minutos e já no sítio:
- Então está tudo acertado, não é Richard; você, segunda-feira contatará a sua empresa, mas o que vistes é segredo, ok?
- Isto nem precisava falar, meu amigo. Vou para a capital na segunda e de lá para Angola. Antes do carnaval estarei de volta para ficar. Quero estar aqui para quando o Kobauski vier buscar o Juliano e o Beijo!
- Tudo bem então! E se ele autorizar você de ir conhecer a nova morada? – perguntei ao Rick.
- Seu Lê, eu largo tudo aqui na Terra e me mando para lá. Conhecer outro planeta fora de nossa galáxia é o sonho de um geólogo sonhador!
- Seu Lê, ieu vô jogá água nas muda qui vai prá Arret, pois tá numa hora boa prá issu! U sinhô si importa?
- Claro que não Nhô!
- E eu vou tomar um banho e fazer um relatório do que vi e fiz hoje. Isso é muito importante e... – interrompi o gringo.
- Olha Richard, eu tenho um notebook lá na minha caminhonete. Vou salvar os dois únicos arquivos importantes que estão na memória dele em três pen-drive, que sempre trago comigo, e vou te dar de presente esse computador portátil. Ele é de última geração e tem bateria super potente. Trouxe, é lógico, dois carregadores para a bateria e um deles é solar, você aceita?
- Pô, my friend, ainda pergunta? Tank you!
- Vamos pegá-lo, então!

Na caminhonete:
- Aqui está, é todo seu!
- Ih, seu Lê, um dos pneus traseiro está furado; vou trocá-lo para o senhor!
- Negativo! Na minha GMC só eu ponho as mãos e...

- Pai, pai! Acorda que a mãe tá te chamando! Ela quer te mostrar a pedra esquisita e bonita que o Lorenzo achou lá perto do morrinho onde tem a plantação de eucalipto. Ah! Eu troquei o pneu da GMC e já fui e voltei de Lima Duarte e trouxe o pneu consertado. Ele vai ficar no estepe, ok, “véi”?












            

Um comentário:

  1. Para entender este texto tu tens que ir lá no início dos textos. Com o passar da leitura dos primeiros textos é que irás entender -
    cronologicamente -,este e os outros, até o final, ok?
    Se quiseres contatos eis meu e-mail:
    lecinof@gmail.com

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