sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

PROJETO DE UM LIVRO EPÍLOGO

Peripécias de 
MOLEQUES
EPÍLOGO:
 Galo na CABEÇA

        " Aquele foi o dia mais logo da minha vida. Qualquer garoto com quem conversava me perguntava
         - E aí, Lê, vai ver o filme?
         - Depende do galo – rebatia.
Eles riam e deviam pensar que eu estava ficando maluco.
Enfim, dezoito horas! Fui até a casa da Dona Geralda e não deu outra coisa: a dezena do GALO NA CABEÇA e cinquenta cruzeiros no bolso. A Dona Geralda, como era camarada, me antecipou o dinheiro do prêmio. Voltei para casa, troquei de camisa, calcei os sapatos e falei para minha mãe que iria ver o filme da sessão das dezoito horas e que já estava atrasado. Em Muriaé, essa sessão era comum nos períodos de férias de verão.
Ao retornar para casa, por volta das vinte horas, esperavam-me minha mãe, meus irmãos, meu pai e a Dona Maria Perereca; e, foi o seu Nelson quem, com tom autoritário de voz, quem abriu o diálogo:
- Lê, esta senhora disse que um menino mexeu com ela e ela o acertou com uma velha panela na cabeça. E está afirmando que o menino parecia contigo,  que levava gibis nas mãos,  e depois de acertado, saiu correndo, gritando  se esvaindo em sangue!
-Que é isso, pai, vê se eu tenho, pelo menos, um GALO NA CABEÇA?
Claro que não tinha e a história ficou por isso mesmo, mas antes tive que explicar ao meu pai onde arrumara dinheiro para ir ao cinema:
-Fale, Lê, onde você arrumou o dinheiro do cinema?
- Eu vendi alguns gibis pai e uns alumínios velhos que encontrei inclusive aquela bacia velha que deixaram no quintal. O senhor não se lembra?
Meu pai resmungou alguma coisa que eu não entendi e foi tomar seu atrasado e merecido banho.”

- E o pai às vezes chama a gente de arteiros, não é Thiago?
- É mesmo Felipe – respondi.
O diálogo foi interrompido pela única voz feminina da nossa família, a de minha mãe:
- Meninos,  é tarde e o lanche já está pronto; venham comer, escovar bem os dentes e direto para a cama. Está muito bonita a conversa de vocês, mas já estão a três horas conversando!
- Mas mãe, nós estamos de férias e as histórias do pai são muito divertidas – tentei ponderar.
- Vocês estão de férias, não é mesmo? Eu e seu pai amanhã, às seis horas, teremos que estar em pé, ok? Vamos logo e não demorem – completou a Dona Rosângela, minha mãe, sem dar-nos outra chance.

Meu pai levantou-se de sua poltrona predileta e foi colocar um filme no DVD. Começamos a assistir, pelo menos enquanto terminávamos o lanche. E era, justamente, o filme mencionado na história que ele acabara de contar. No seu desenrolar, os olhos do meu pai brilhavam como os de um menino e percebi que ele estava ali, na nossa infância, mas seus pensamentos se encontravam no dia de sua infância em que ele vira, pela primeira vez, aquele filme. Às vezes fico pensando que a amizade e liberdade que meu pai tem com a gente, eu e meus irmãos menores, é a mesma que ele gostaria de ter vivido com meu avô Nelsão.
           
Fim


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