PÃO COM MANTEIGA
Landislau
saiu apressado, naquela segunda feira - às 7h 30min -, para ir à repartição pública
na qual era auxiliar administrativo há, pelo menos, doze anos. Chegaria ao
local de trabalho meia hora após colocar os pés para fora do portão de casa e, na copa da repartição, faria o desjejum.
No
caminho, parou na padaria:
- Um pãozinho francês com manteiga,
Elaine! Manteiga ouviu? Não quero margarina!
Nisto
um rapazote, de uns 16 anos, entra nesta padaria na esquina da Rua Pastor
Bispo-Cardeal no subdistrito de Cardeal da cidade de Virtuália, com um velho e
estranho revolver na mão e gritou:
- É um assalto, ninguém se mexe!
- Ai, Jesus - gritou seu Manoel.
Ladislau,
se julgando esperto, sem que ninguém visse, pegou sua carteira e colocou dentro
de uma cesta de “café- da- manhã” que estava sobre o balcão para ser entregue,
por bicicleta, pelo Zé Zarôio.
Na
carteira tinha todos os seus documentos. Um único real que tinha e em moeda, estava
fechado na sua mão direita.
- Não tenho dinheiro, gajo, abri a
padaria ainda agorinha - falou o
português quase implorando.
Nervoso
o rapazote pegou a cesta de “café da manhã” de cima do balcão e fugiu por um
beco que dava para um labirinto de vielas.
Ladislau
chorou de raiva.
Elaine
pegou o pão com manteiga, colocou num saquinho de papel e começou a escrever
neste o preço que o Landi teria que pagar no caixa. Nervosa ela borrou o papel
do saquinho. O pincel atômico, surrado, vermelho vazou a tinta e, junto com o
preço, ficou uma mancha - como se fosse a marca de batom -, de um beijo.
Landi
pagou com o real e saiu fulo da vida, pois todos os seus documentos estavam na
carteira, que o molecote levou na cesta.
Ao
passar enfrente a uma agencia de correios – dessas terceirizadas -, um mendigo
interrompeu os seus pensamentos e os passos apressados:
- Por favor, meu bom rapaz,
"me" dê um real para eu comprar um pão?
Landi olhou
sério para o mendigo e viu, pelo olhar e rosto da criatura, que ele não se
alimentava há dias. Por ver que tinha gente em situação pior que a dele, e por
repentina compaixão, deu a ele o saquinho com o pão besuntado de manteiga. O mendigo pegou e nem agradeceu e Landi
continuou sua correria para a repartição:
- Ferrado, ferrado e meio; pelo menos
fiz uma caridade!
Ao
meio dia Landi saiu apressado para almoçar em casa, pois estava com um apetite
devorador.
Ao
passar pela praça que ficava no trajeto viu, perto da agência dos Correios,
aquele mendigo caído de bêbado. Preso em suas mãos uma garrafa, com menos da metade,
de aguardente e, do lado, no chão, o saquinho intacto, com o pão dentro e o
borrão vermelho em forma de beijo.
De
dentro dos Correios a atendente Dorvalina viu o Landi e gritou:
- Ei, Landislau! Você perdeu os seus
documentos?
- Sim, digamos que sim!
- Acharam e entregaram aqui, vem buscar!
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