sábado, 8 de dezembro de 2012

VIDA EM VIRTUÁLIA - PÃO COM MANTEIGA


PÃO COM MANTEIGA

Landislau saiu apressado, naquela segunda feira - às 7h 30min -, para ir à repartição pública na qual era auxiliar administrativo há, pelo menos, doze anos. Chegaria ao local de trabalho meia hora após colocar os pés para fora do portão de casa e, na copa da repartição, faria   o desjejum.
No caminho, parou na padaria:
- Um pãozinho francês com manteiga, Elaine! Manteiga ouviu? Não quero margarina!
Nisto um rapazote, de uns 16 anos, entra nesta padaria na esquina da Rua Pastor Bispo-Cardeal no subdistrito de Cardeal da cidade de Virtuália, com um velho e estranho revolver na mão e  gritou:
- É um assalto, ninguém se mexe!
- Ai, Jesus - gritou seu Manoel.
Ladislau, se julgando esperto, sem que ninguém visse, pegou sua carteira e colocou dentro de uma cesta de “café- da- manhã” que estava sobre o balcão para ser entregue, por bicicleta, pelo Zé Zarôio.
Na carteira tinha todos os seus documentos. Um único  real que tinha e em moeda, estava fechado na sua mão direita.
- Não tenho dinheiro, gajo, abri a padaria ainda agorinha - falou o português quase implorando.
Nervoso o rapazote pegou a cesta de “café da manhã” de cima do balcão e fugiu por um beco que dava para um labirinto de vielas.
Ladislau chorou de raiva.
Elaine pegou o pão com manteiga, colocou num saquinho de papel e começou a escrever neste o preço que o Landi teria que pagar no caixa. Nervosa ela borrou o papel do saquinho. O pincel atômico, surrado, vermelho vazou a tinta e, junto com o preço, ficou uma mancha - como se fosse a marca de batom -, de um beijo.
Landi pagou com o real e saiu fulo da vida, pois todos os seus documentos estavam na carteira, que o molecote levou na cesta.
Ao passar enfrente a uma agencia de correios – dessas terceirizadas -, um mendigo interrompeu os seus pensamentos e os passos apressados:
- Por favor, meu bom rapaz, "me" dê um real para eu comprar um pão?
Landi olhou sério para o mendigo e viu, pelo olhar e rosto da criatura, que ele não se alimentava há dias. Por ver que tinha gente em situação pior que a dele, e por repentina compaixão, deu a ele o saquinho com o pão besuntado de manteiga.  O mendigo pegou e nem agradeceu e Landi continuou sua correria para a repartição:
- Ferrado, ferrado e meio; pelo menos fiz uma caridade!
Ao meio dia Landi saiu apressado para almoçar em casa, pois estava com um apetite devorador.
Ao passar pela praça que ficava no trajeto viu, perto da agência dos Correios, aquele mendigo caído de bêbado. Preso em suas mãos uma garrafa, com menos da metade, de aguardente e, do lado, no chão, o saquinho intacto, com o pão dentro e o borrão vermelho em forma de beijo.
De dentro dos Correios a atendente Dorvalina viu o Landi e gritou:
- Ei, Landislau! Você perdeu os seus documentos?
- Sim, digamos que sim!
- Acharam e entregaram aqui, vem buscar! 

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