sexta-feira, 4 de outubro de 2013

ARRET
A NOVA MORADA

 &  :

Virtuália FOREVER



No caminho de volta ao sítio:
- Ocê reparô qui num tem lua hoji, seu Lê?
- Sim, “Véi” e o céu está lindíssimo!
De repente uma chuva de meteoritos cortou o céu no sentido nascente para o poente. Durou quase um minuto.
        - Isto não é normal! Pensei que já tivéssemos nos livrado dos  fragmentos do cometa Swift-Tutle.
- Eh! Eh! Eh! Mai qui é bunitu é, num é Misifiu?
- Muito Nhô! Mas preocupante! Penso em contatar o Kobauski para tirar uma dúvida, mas por ora deixe como está.
- Nhô, já que está tudo “engatilhado”, tenho que retornar ao meu irreal mundo em Minas Gerais!
- Ocê é qui sabe, seu Lê!
De repente, como se tivesse surgido do nada, um carro pequeno surge em nossa frente, uns trezentos e trinta e um metros; perde o controle; sai da estrada de terra e cai numa ribanceira:
- Você viu Nhô! Aquele motorista se acidentou!
- Vi sim, Misifiu, vamu lá vê si ieli percisa de ajuda!
Paramos a GMC, descemos e eu com uma lanterna que sempre trago na boleia da Vermelhona, foquei o veículo acidentado a dez metros barranco abaixo e dei um grito:
- Nhô, é o Fiat 147 da Rô!
- É memu, Misifiu? Tem certeza? Muntcha carma nessa hora, seu Lê, mai muntcha memu, oviu?
Desci correndo a ribanceira e a Rô estava desacordada ao volante. O pequeno carro marrom tinha um dos pneus dianteiro estourado e, possivelmente, foi isso que fê-la perder o controle da direção:
- Meu pitéu, você está muito ferida?
Ela chacoalhou a cabeça – ato que eu adoro ver, pois balança os lindos cabelos amarrado como “rabo de cavalo”-, disse-me:
- Não... e não estou entendendo nada! Eu estava indo ao grande hospital da Zona da Mata, atendendo ao chamado do Dr. José Walter, pois você dava sinal que estava saindo do estado de coma, quando um pneu dianteiro  da SUV sul-coreana estourou, perdi o controle e só me lembro de que descia uma ribanceira e desmaiei. E, de repente, te encontro aqui me socorrendo em um acidente com o 147 marrom?
- Calma Rô! Tente sair do carro, por favor – falei segurando-a pelo braço e ouvi o grito do Nhô:
- A patroinha tá bem, seu Lê?
A Rô deu um gemido doído e me disse:
- Acho que fraturei a perna! Tá doendo muito eu... – ela perde os sentidos. Peguei-a no colo, subi a ribanceira por um lugar menos íngreme e disse ao Nhô:
- Nhô, assuma o volante da GMC e vamos “voando” para o Hospital Sideral de Virtuália. Acho que a Rô quebrou uma perna, aliás, espero que seja só isso!
Nhô virou um exímio piloto e acelerou. Em poucos minutos estávamos no HSV: 
- E então Dr. Fabrício? Houve fratura– perguntei.
- Só trincou o osso da canela, seu Lê! Vou engessar para evitar danos piores. Pode ir  vê-la.
Na cabeceira do leito da Rô:
- Você vai ficar bem Pitéu! Agora procure descansar. Amanhã o Nhô vai trazer a Margarida Flores para ficar contigo. Tenho que ir para Minas Gerais, pois algo me empurra para isto e volto logo, OK?
- OK, meu amor! Aconteça o que acontecer por lá se lembre de que eu estou aqui te esperando e muito bem, OK? Eu agora estou com muito sono e... – Rô entra em sono profundo.
Saindo do quarto e na recepção do HSV o Nhô, aflito, me esperava:
- I aí, Misifiu, i a patroinha?
- Ela vai ficar boa Nhô! Só trincou a canela esquerda. Está engessada por precaução. Daqui a três dias ela estará bem. Vamos para o sítio. A Xerê deve estar preocupada. Amanhã o senhor trás a Margarida Flores para ficar com ela, OK? Estou sabendo que ela não terá expediente amanhã na prefeitura e...
- Dêxa cum ieu, Misifiu! Mai puruquê ocê num fica mais a patroinha, seu Lê?
- Tenho que ir para Minas ainda hoje, “Véi”!
- Num vai mi dizê qui ocê discubriu um buracu di minhoca casêro, Misifiu?
- Vou lá pro meu cafofo, “Véi”! Vou dormir um pouco e de madrugadinha me “pirulito” pras Minas Gerais! “Buracu di minhoca casêro”, ah! Ah! Ah! Essa é boa Nhô! Só o senhor mesmo!

Madrugada. Três horas e trinta e um minutos eu acordei falando comigo mesmo:
- Vou agora lá para Minas – entrei na GMC e acelerei...

No Grande Hospital da Zona da Mata Mineira:
- Dr. José Walter, o seu Lê está saindo do coma – gritou a linda enfermeira.
Em poucos minutos depois  o doutor me colocou a par de minha situação:
- Senhor Lê, é esta a tua situação clínica: Tiveste duas paradas cardíacas durante a sua segunda operação e seu estado é bastante crítico. Sua saída do estado de coma foi um milagre.
- Eu... eu... sinto um cansaço muito grande doutor, doe-me o peito, meu braço esquerdo e pernas estão dormentes. O pior é essa  dor de cabeça terrível eu... – fui interrompido pelo meu filho mais velho:
- Calma “Véi”, ocê vai sair dessa!
- É isso aí, mano! Ocê tem muito que aproveitar desta vida ainda, paiê – disse o Felipe meu outro filho.
- Vamos sair manos! Vamos deixar o pai só com os médicos – disse o Mateus, o caçula.
- O Mateus tem razão pessoal! Por favor, vamos até à sala ao lado que eu quero falar com os três -  interrompeu-nos o Dr. José Walter.
Na sala:
- A situação do seu Lê é muitíssimo grave. Já fizemos o que é humanamente possível. Talvez ele só tenha essas poucas horas de vida. Seria bom colocá-lo à par do que aconteceu com a mãe de vocês há três dias.
- Eu falo com ele doutor! “O que tem que ser, será!” Como ele sempre nos dizia quando enfrentávamos períodos difíceis – falou o Thiago.  
- Vai lá mano que eu não tenho essa coragem – disse o Felipe.
- Nem eu – emendou o Mateus.
- Vamos lá Thiago, eu te dou suporte – disse o doutor José Walter.
A porta do meu quarto, onde eu estava se abriu. O relógio digital que ficava acima dela marcava oito horas e trinta e um minutos daquela quarta-feira e vi os semblantes tristes de meu filho e do doutor e, o Thiago, como querendo medir as palavras, abriu o diálogo:
- Pai ... o que temos que te falar é muito triste e esperamos que o senhor... -  interrompi meu garoto:
- O houve com a Rô? Por que ela não está aqui? Ela sofreu um acidente de carro quando vinha para cá?
- Cruzes pai, como o senhor sabe disso?
- Ela não está mais neste mundo – perguntei.
- Não pai! Há três dias, exatamente às vinte horas e trinta e um minutos, ela se foi. Capotou com a SUV importada e não resistiu aos ferimentos. Ela... interrompi novamente meu filho mais velho:
- Eu acho que já sabia disto! Podem ficar tranquilos que ela está bem para onde ela foi. Ela está lá me esperando. Eu... – uma dor horrível no peito fez-me perde os sentidos e...

- Engraçado, estou me sentindo muito bem depois daquela dor! Sinto-me como se estivesse livre de algum fardo pesado e flutuando! Peraí, peraí... peraê! Eu estou fora do meu corpo! Meu corpo está inerte naquele leito hospitalar! Que será que...os meus três filhos choram em redor do meu corpo. A imagem está se dissipando! Mas que luz forte é esta eu...
De repente, uma mãozinha bate no vidro da janela da GMC e eu abaixo o vidro e uma vozinha, que eu adoro, me disse:
- Venha Lê! Venha ver o que floriu no pomar do nosso cafofo neste Vale Virtualiano do Rio do Peixe!
- Rô? Você já está andando novamente? E a sua perna?
- Perna? Ah, sim! A perna trincada  no acidente com o 147? Isto já faz quase três meses que sarou, Lê! Por que demorou tanto em voltar?
- Não sei! Não me lembro! É como a minha mente nunca tivesse saído daqui! Eu...
- Eu não! Nós! Nós vamos ficar para sempre nesta fresta do tempo, Lê! Este vale é um verdadeiro paraíso!
-Olhe só como os três pés de atamoa estão carregados de flores – disse-me apontando para as três árvores que ela queria me mostrar.
- É mesmo, Pitéu! A natureza parece saber que adoramos atamoa, não é mesmo?
- Com certeza! Olhe, também, os pés de abiu que margeiam o caminho que desce para a casa do Nhô! Está carregadinho de frutos!
- Ahhhhhh! Como é lindo este vale, não Lê?
- Sim, uma dádiva da natureza!
- Rô, é impressão minha ou você rejuvenesceu?
- São os seus olhos, meu amor! Você está me vendo com os olhos do espírito ou talvez seja a água mineral que brota da Serra Madre!
- Aquela água que ia ser engarrafada pela família Flores?
- "Ia ser", não! Já está sendo engarrafada há dois meses. Vamos lá para o complexo das indústrias para você ver que coisa mais perfeita – falou-me isso e abriu a porta do 147:
- Siga-me! Vamos deixar o 147 lá no cafofo e iremos na GMC, OK?
- OK! Sempre mandona, hein! Ah! Ah! Ah!
- É a força do hábito e acho que isso será eterno entre nós dois!
- O 147 está parecendo que saiu da fábrica agora; você vai eternizar, também, esse carrinho mantendo-o sempre original?
- Sim, assim como você faz com a tua GMC ano 1955!
- Vamos então – disse-me a Rô.
- Sim! Eu a sigo.
No cafofo, a Rô guardou o carro na nova garagem e me disse:
- Você reparou? Mandei fazer uma nova garagem. Agora os dois carros, de nossos sonhos, vão ficar lado a lado tal como nós dois.
- Que coisa linda essa frente do cafofo, Rô! Você plantou todos os tipos de roseira que existe na Terra?
- Talvez sim! Qualquer muda de rosa vinga aqui neste paraíso.
- Que ótimo Pitéu! E, por falar em “sempre juntos”, que tal se a gente... - a Rô me interrompeu:
- Só se for agora! Nesse tempo que te esperei eu fiz um jogo de roupa de cama para esse nosso primeiro encontro para a vida definitiva neste paraíso!
Um hora e trinta e um minutos depois daquele início de tarde, batem na porta. Era a Ritinha:
- Tia Rô! Ô tia Rô! A vovó pediu para chamar a senhora e o tio Lê para virem almoçar!
Acordamos de sobressalto:
- Caramba Rô, perdemos a hora!
- Esqueça esse negócio de contagem de tempo, Lê! Agora o tempo é eterno para nós!
- Noooosa! Como você continua romântica, Pitéu!
- Tia Rô! Tia Rô – continuava a chamar a Ritinha.
- Já vamos Ritinha – falou a Rô.
No varandão da cozinha do sítio:
- Ieu vi quandu us dois carru subiru lá prô cafofu di oceis. Agora oceis num vão mai fugi pelu buracu di minhoca casêru, eh! Eh! Eh!
- “Véi”, acho que o senhor tá com minhocas na cabeça, ah! Ah! Ah!
Continua em 12/10/2013 em:
De Virtuália ao Universo

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