ARRET
A NOVA MORADA
De Virtuália
ao Universo
Numa calma manhã de sábado, primeiro dia do primeiro
verão em que Rô e eu estamos em definitivo em Virtuália; eu e o Nhô pescávamos
às margens do Rio do Peixe:
- Misifiu, nóis já peguemu dois doradu i dois piau dus bitelão i si
nóis pegá mais um nóis pára, tá bão?
- Tá bom sim, “Véi”! Já pescamos e devolvemos ao rio mais de
vinte peixes de pequeno porte, cada um de nós. O próximo será para a Ritinha,
OK?
- Certu! U primêru mandi ô pintadu, qui é dus
pêxi qui iela gostcha, qui a genti pescá, nóis si pirulita daqui lá prá
cunzinha du sítiu. Nossas patroa já dédi tê feitchu u arrois, refogadu u fejão, qui dexei cunzinhadu nu fogão di lenha, i perparadu a salada. Só farta nóis
levá us pêxi!
- É mesmo, amigo! Mas chegando lá é só temperar e fritar,
pois vamos levá-los limpinhos.
- A patroinha num gostcha di pescá, seu Lê?
- Não Nhô! Ela prefere ficar dormindo até mais tarde nos
sábados e domingos e, aqui no Vale do Rio do Peixe, o clima é ótimo para se descansar
o resto da eternidade, não é mesmo?
- Eh! Eh! Eh! É issu memu, seu Lê, i é u qui todu mundu fais pur aqui.
Trabaiá pur estes ladus é só pur diversão; passá u tempu.
De repente nossas
linhas dão puxões fortes, e por coincidência, ao mesmo tempo:
- Caramba, Nhô, estes devem ser dos bitelões! Vamos puxar – gritei
ao amigo e puxei a minha linha.
- É um surubim, seu Lê, i dédi pesá uns seis quilu! É muntchu bunitu,
Misifiu!
Tirei-o da água e o Nhô me disse:
- Ieu vô puxá u qui pesquei, seu Lê, mai ajuda essi negu véi qui tá
muntchu pesadu i...
- Puxa para a margem que vou usar a fisga, Nhô – assim o fizemos:
- Caramba, seu Lê, essi doradu tem uns... uns... – falava e
levantava o peixe com a fisga como se quisesse pesar mentalmente a pesca – uns novi quilu!
- Agora chega, não é
Nhô? Com esses dois peixões, e mais os outros que já pescamos, dão para
alimentar até ao Etevaldo e o Kobauski, ah! Ah! Ah!
- I puruque ocê num
chama eis? Já fais um tempão qui eies num vem aqui!
- Tem razão Nhô e
tem outras razões para isso.
- Quai são, seu Lê?
- As coisas que aconteceram! Lembra-se dos meteoritos, do
astronauta da caverna e, além disso, nesse almoço de hoje, estarão reunidas todos
os chips!
- Mai num é qui é
deveras, seu Lê, i ieu – de repente ouvimos um barulho familiar e um brilho
surgiu lá pelos lados das duas pitangueiras:
- Tem arguma coisa
querenu acontecê lá pelus ladu du portá, seu Lê.
- Tem mesmo, “Véi”!
Vamos terminar de limpar os dois peixões, deixá-los lá com as meninas e iremos
lá ver o que está acontecendo, OK?
- Tá bão, seu Lê, u
sinhô é qui sabi!
Meia hora depois,
quando chegávamos perto da cozinha do sítio:
- Lê, adivinha quem
está de visita aqui no sítio?
- O Etavaldo e
Kobauski – respondi à Rô.
- Eu devia saber que
você sabia, não é mesmo?
- Ah!Ah!Ah! Desculpa
te decepcionar, mas hoje eu mentalizei a vinda deles. Temos algumas dúvidas a
sanar com eles, Pitéu!
-
Peraí...peraí...peraê! Como você sabe quem são eles se... - Rô me interrompe:
- Quando eu os vi
chegando, Lê, vieram-me na memória todas as cenas de um encontro que tivemos
antes. Se eu tiver alguma dúvida posso relatar a ele – perguntou-me a Rô e eu
pensei:
“- Ihhh! O Kobauski
vai ter que se virar para tirar as dúvidas dessa menininha, ah! Ah! Ah!”
- Claro que poderá
Pitéu – respondi-lhe.
- Então tá, então –
disse-me ela com os olhos brilhando.
Ao chegarmos à
varanda fomos recebidos pelo Etevaldo, Kobauski e pela companheira dele:
- Seu Lê que prazer
em revê-lo e ao senhor também Nhô Antônio – disse o Kobauski.
- Que bom vê-los,
senhores – disse Etevaldo.
- Como tem passado
senhores – perguntou a tenente enquanto degustava carambolas madurinhas e
prosseguiu:
- Desculpem, mas eu
não resisti a estas carambolas e...
- Pode ficá a vontadi,
Misifia. Iguá as carambola daqui ocê num incontra im nenhum lugá nu mundu,
linhais, nus mundu, eh! Eh! Eh!
- Tem razão, Nhô
Antônio – falou o Kobauski.
- Lê, enquanto vocês
“matam” a saudade, eu e a Xerê vamos terminar o almoço, OK? Só falta fritarmos os
peixes e será rápido.
- OK, Pitéu –
respondi enquanto bebericava a purinha servida com muito orgulho pelo Nhô.
- Como está Arret,
Kobauski? Vocês têm ido a Terra-II?
- Arret está na mais
sublime paz. Quanto a Terra-II, tenho uma longa história a relatar.
- Seu Lê, agora que
estarás para sempre em Virtuália, com sua patroa, poderão acompanhar-nos em
nossas viagens! O que achas – perguntou-me o Etevaldo no momento em que a Rô
veio falar-nos:
- O almoço está
servido, senhores! E eu respondo pelo Lê e por mim, Comandante: - Nós aceitamos OK?
- E então seu Lê,
concordas?
- Se a patroinha concorda
quem sou eu para discordar – falei e o Nhô caiu na gargalhada:
- Eh! Eh! Eh! Agora
é qui oceis vão vivê uma vida eterna juntu, eh! Eh! Eh!
O almoço estava divino,
digno de visitantes de Arret. E foi a tenente quem falou:
- Essa salada de
frutas vermelhas eu não tinha provado em nenhum lugar do universo, dona Rô.
Está sensacional!
- Elogie a Xerê,
Tenente, foi ela quem a fez e são todas frutas frescas daqui do sítio do Nhô.
- Eh! Eh! Eh! A
minha nêga virô uma das mió cunzinhêra qui si tem pur estas paragi – elogiou, com razão, o Nhô.
- Lê, vocês podem
conversar à sombra do flamboyant? Eu vou ajudar a Xerê com as louças do almoço
e, quando terminar, virei juntar-me a vocês, OK?
- OK, Pitéu!
À sombra do
flamboyant eu iniciei a prosa:
- Kobauski, aquele
pedaço da mão do reptiliano que você levou para ver se era do HZZY, a que
conclusão chegou?
- Não era do HZZY! O
HZZY usou um semelhante dele para tentar passar pelo portal sem o código, ou
melhor, burlando o sistema codificado. Naquela última vez em que estivemos aqui
e fomos embora, nós o encontramos no espaço tempo do outro lado do portal. Ele
estava em uma nave de fuga reptiliana – esse tipo de nave só leva uma pessoa. Prendemos e o levamos para Arret e será monitorado na
colônia-fazenda destinada aos reptilianos perturbadores.
- E existe muitos reptilianos
lá, Comandante – perguntei.
- Nesse momento
nenhum! Tinham trinta elementos mais o HZZY e... - interrompi o Kobauski:
- Tinha? Para onde
foram?
- Estão, agora, na
nave-mãe-mestre do outro lado do portal. Quando você nos mentalizou, nós
estávamos partindo para aquela região do espaço onde deixamos os reptilianos
que viviam nos subterrâneo de Terra-II.
- Vocês vieram com
uma nave-mãe-mestre, Comandante – perguntei.
- Sim, seu Lê,
estamos partindo em missão importante. Além de levar o HZZY e os outros reptilianos
encontrados em Arret e aqui na Hy-Brasil, temos que retirar o que restou da
população de Terra-II.
- O que houve em
Terra-II - perguntei.
- Uma guerra total!
Uma terrível guerra nuclear, seu Lê – disse o Etevaldo antecipando ao pai.
- Caramba! O que
ocasionou o tal conflito, meus amigos?
- Motivo religioso,
seu Lê – completou a tenente.
- Isso mesmo, seu
Lê, os desacordos entre os propagadores da fé levou à destruição total do que
tinha na superfície do planeta.
- Mas, você me falou
que irá buscar o que restou da população e...
- Sim, seu Lê, o que
restou. Toda a população que vive no polo sul do planeta. Temos que ir rápido,
pois as geleiras estão se derretendo rapidamente e, além das quase duas mil pessoas
que lá vivem, tem as estações de pesquisas e nelas vivem famílias de
cientistas.
- Oceis vão levá
ieles para Arret, Kobausqui – perguntou o Nhô demonstrando estar entendendo
tudo o que falávamos.
- Não, Nhô Antônio,
vamos levá-los para um outro planeta onde os seres humanos tem a mesma cadeia
de DNA e ...
- Ocê qué dizê iguá
que nem a genti, Kobauski – interrompeu o Nhô.
- Esse é o meu
grande e sábio amigo Nhô – não aguentei e soltei esse tipo de elogio.
- Eh! Eh! Eh! Para
cum issu seu Lê, sinão ieu ficu avechadu!
- Ah! Ah! Ah! Tá bom"Véi"!
- Como eu estava
falando, os seres de lá já estiveram por aqui há
muitos e muitos séculos terrestres. Estavam à procura de outros seres da mesma
raça ou compatível, para poderem perpetuar a sua espécie, mas não conseguiram.
- Não? Porque –
perguntei.
- Por que quando
estiveram aqui, naquela época, existiam apenas silvícolas na ilha em que desceram...
- interrompi o Comandante:
- Peraí, mas com
tantos continentes eles escolheram uma ilha?
- Eles encontraram a
Terra por acidente, seu Lê, ou seja, eles entraram em rota de colisão com um meteorito perto de Marte e ao mudarem de rumo
aconteceu uma pane geral na aeronave e, perderam o controle e foram atraídos pela gravidade da
Terra. Com muito esforço conseguiram descer numa ilha que fica ao sul de
Hy-Brasil. Ali ficaram por vários meses tentando consertá-la, mas um
terremoto acabou com todas as esperanças deles.
- Uma enorme cratera
se abriu e engoliu a nave e a maioria dos seres. Os que restaram adquiriram uma
doença que os foram aniquilando um por um e, em menos de um ano, estavam todos
mortos. Dizem que é por causa da radiação.
- Um fato
interessante aconteceu com esses seres - que restaram, quando perderam a nave -, antes de se extinguiram –
falou Etevaldo.
- U qui aconteceu,
Etevardu?
- Como eles não
tinham como se comunicar com ninguém, nem na Terra e nem no espaço, esculpiram
enormes estátuas de suas cabeças e colocaram em local bem visível na ilha.
- Já sei – gritei –
as estátuas da Ilha Pascoalim ao sul de Hy- Brasil. Essa ilha surge a cada
trinta e um anos terrestres. Fica emergida por trinta e um anos e depois
submerge novamente.
- As istautas qui
ocê falô qui pareci cum aqueli ser qui si isfarelô na caverna, Misifiu?
- Isso mesmo, Nhô!
Aqueles que eu imprimi as fotos que tirei e o senhor guardou naquela pasta
vermelha.
- Vô pidi prá Ritinha
i lá buscá c'a Xerê – Nhô falou isso e gritou à Ritinha que brincava ali
perto:
- ‘Tinha, vai lá na
cunzinha i pedi a pasta vremeia, qui tá incima du criadu-mudu du meu quartu,
prá Xerê, vai!
- Tô indo, vovô –
gritou a princesinha da casa.
- Kobauski de onde
eles tiraram os materiais, digo, as rochas para esculpirem as cabeças? Que
ferramentas utilizaram – perguntei.
- As rochas eram da
própria ilha e utilizaram uma espécie de raio laser para fazer o serviço.
Fizeram muitas estátuas, aliás, tantas quanto eram as rochas que encontraram,
porém a maioria delas foi-se com o terremoto.
- Misifiu
Comandanti, comu ocê sabi di tudu issu – perguntou genialmente o Nhô.
- Nós já estivemos
no planeta deles e ficamos por dentro do assunto. Disseram que foi só aqui, por
coincidência, que conseguiram seres com cadeias de DNA idênticas.
- Peraí... peraí...
peraê, Kobauski, como o pessoal “cabeça de estátua” ficaram sabendo depois –
indaguei ao arretiano.
- Algum tempo depois, seu Lê, a outra nave da expedição deles - que saíram juntas do planeta -, viram do espaço, as estátuas na ilha e desceram para averiguar e entenderam a mensagem das estátuas que, na realidade, queriam dizer: “- Aqui tem o DNA!”
- Intrigante! Muito intrigante Comandante – falei-lhe.
-Toda a tripulação
– trinta e uma pessoas -, se espalhou pela ilha a procurar por vestígios da
outra espaçonave e por seres humanos e não encontraram nada. Ficaram ali três
dias e certo dia, antes de anoitecer, deram por falta de um dos cientistas e
saíram a procurá-lo, pois não estavam conseguindo contato com o Champ Lif –
este era o nome dele traduzido para vosso idioma. Naquela mesma noite a ilha
começou a tremer toda e um vulcão, a alguns quilômetros dali, clareou a noite
escura com uma incrível erupção. Todos entraram na nave e subiram, com ela,
para a estratosfera e de lá ajustaram a rota e desapareceram para a constelação
de origem.
- E o cientista
desaparecido, Kobauski, o que houve com ele – perguntei.
- Talvez tenha
ficado confinado na ilha, se por acaso, ainda tivesse escapado vivo.
Ritinha chega e
interrompe a conversa:
- Tá aqui, vovô, a
pasta vermelha - disse a garotinha estendendo-a para o bisavô. Nhô abriu a
pasta, pegou as fotografias do “astronauta da caverna” e as entregou ao Kobauski.
Este as olhou mostrou para o Etevaldo que falou:
- É um Moiá, com
certeza! Apesar do uniforme dá para ver pelo formato da cabeça.
- Olhe pai – falou
Etevaldo colocando o dedo nas inscrições do uniforme do ser da caverna – esta
escrita pode tirar todas as dúvidas.
- Com certeza,
filho, use o decodificador portátil, por favor- disse-lhe o pai.
Etevaldo tirou de
uma mochila, que sempre carrega consigo um aparelho. Ligou-o, colocou uma espécie de microcâmara
sobre a fotografia e disse:
- São sinais da
escrita dos Moiaenses e quer dizer, já traduzindo para a língua principal da
Terra : Champ Lip!
- Caramba! Então
está resolvido o mistério de Serra Madre! Ele não foi encontrado porque ficou
preso na caverna quando aconteceu o terremoto em todo o arquipélago – tentei
dar uma de detetive arqueológico.
- Mai seu Lê, i as
argemas nus braçu i nas pernas – perguntou o Nhô e emendou:
- Ieli foi achadu em
Serra Madri, na nossa ilha!
- Não eram algemas,
Nhô Antônio! Eram dispositivos de teletransporte, de pequeno alcance, usado por
eles para saírem e retornarem à suas naves. Ele deve ter ajustado o
teletransporte errado e aparecido dentro da caverna de Serra Madre e não deve
ter acertado o retorno à nave.
- Cruisincredu,
coitadu du chujeitchu!
- Kobauski, nós
coletamos um pouco do pó do cientista para, quem sabe, fazer uma análise.
Está guardado comigo no meu refúgio.
- Vou levar sim, seu
Lê, para Moiant para ser analisado! É para lá que iremos levar os habitantes de
Terra-II que restaram. Obrigado por
terem tido a ideia, seu Lê e Nhô – respondeu o Comandante.
- Guardamos, também,
o meteorito que caiu na caverna. Você poderia analisá-lo para ver a origem,
Etevaldo?
- Claro, seu Lê,
vamos levá-lo conosco. Analisá-lo-emos na nave-mãe-mestre que está do outro
lado do portal, OK?
- OK, Comandante!
Naquele momento, a Rô, que
já havia terminado de ajudar a Xerê com as vasilhas do almoço, chega e já entra
na conversa dando um palpite, aliás, um genial palpite:
- Com licença
pessoal, eu já havia trocado ideia sobre as dúvidas que o Lê tinha sobre certos
assuntos e eu pergunto ao senhor, Comandante:
- Por que não usam a
máquina de se locomoverem no tempo, nos lugares onde aconteceram os fatos, e
tirar “in loco” todas as dúvidas?
- “Caramba, essa
minha patroinha é prá lá de esperta!” – pensei.
- Eh! Eh! Eh! Tá aí
uma indeia cabicêra, pessoá – disse o Nhô.
- Não podemos usar
essa máquina aqui neste sistema solar, dona Rô, pelo menos por enquanto. As
perturbações do Sol afetam as sensíveis células de que é formada a memória
principal de toda a aparelhagem. O metal que é usado nas ligações das células é
muitíssimo raro em todo o universo. Para termos uma ideia, ele só era encontrado, ainda, na nossa antiga
morada e esta morada, como todos nós sabemos virou poeira cósmica. Portanto,
não vamos arriscar todo um empreendimento científico para, apenas, tirarmos
dúvidas, OK?
- Teus argumentos me
convenceram – disse a Rô resignada, por enquanto.
Continua em 19/10/2013 em:
Os Dois
Peço a quem estiver acompanhando a VIDA EM VIRTUÁLIA e,encontrarem erros nos textos, entrar em contato pelo e-mail: lecinof@gmail.com que serei muito grato. Às vezes o dia atarefado faz-me cometer equívocos. A Vida em Virtuália é um projeto de um livro e ser-me-ia de grande ajuda apontarem ERROS sejam lá quias forem.
ResponderExcluirUm abraço
Lecino
Para entender este texto tu tens que ir lá no início dos textos. Com o passar da leitura dos primeiros textos é que irás entender -
ResponderExcluircronologicamente -,este e os outros, até o final, ok?
Se quiseres contatos eis meu e-mail:
lecinof@gmail.com