ARRET
A NOVA MORADA
UMA NOVA RAÇA
- Ah! Como é bom respirar este ar puro do Vale do Rio do
Peixe; como eu me sinto revigorado e descansado quando chego aqui!
Saí
da rodovia principal e entrei na estrada rumo ao sítio do Nhô e pensei em voz
alta:
- Neste momento o meu velho amigo deve de
estar preparando o café da manhã, pois, são cinco e meia. Ele vai ter uma
surpresa ao me ver dois dias antes da partida para Terra – II. Vou fazer uma
brincadeira com o “Véi”; vou parar a GMC bem antes do sítio e seguir a pé. Vou
entrar pelos fundos e surpreendê-lo no varandão da cozinha, ah!Ah!Ah! Vou
pregar uma peça nele! – e foi o que fiz, porém, ao chegar de mansinho pelo
varandão, ele não estava lá e nem na cozinha. A mesa do café estava posta e
tinha: café fresco coado a pouco, broa de milho, mandioca cozida e passada na
manteiga, pão doce feito pela Xerê, ovos mexido com bacon de java-porco, suco
de graviola, mas... nada do Nhô!
Ao
dar meia-volta, para ver se ele estava na horta, dei de cara com ele e:
- Eh! Eh! Eh! Querenu pregá uma peça nu véi,
Misifiu?
- Caramba! Que susto Nhô!
- Eh! Eh! Eh! Ocê si isqueci qui ieu
sô um cabocru ispertu, seu Lê?
- Tá certo, Nhô, ah!Ah!Ah! Como vão as
coisas aqui pela região?
- As cousa vão boa puraqui , seu Lê!
Vamu tomá café mais ieu. Deixei a mesa
perparada, eh! Eh! Eh!
- Então o senhor sabia que eu viria, “ Véi”?
- Ôce mi cunhci cumu a ôce memu, num
é seu Lê, eh! Eh! Eh!
- Tem razão, ah! Ah! Ah!
- I a patroinha, iela vai bem?
- Ótima, ela está ótima, meu amigo!
- Ôce vêi prá í im Terradois cum
Kobausqui, Misifiu?
- Sim Nhô! Vou aproveitar para tirar
um descanso antes.
Tomávamos aquele café da manhã,
digno de um hotel cinco estrelas, quando perguntei ao Nhô:
- O senhor tem alguma novidade, meu
amigo?
- Tê inté qui ieu tenhu, Misifiu,
mas ôce vai oví cus seus própriu zuvidu!
- Como assim, Nhô?
-
Daqui um poco, quandu u dia cumeçá a crareá ôce vai oví. Já qui terminamu u
café, vamu lá prô teu cafofu qui tarveis ôce vai oví mió – fomos até minha
morada, no morrete, que dava para ver grande parte do vale e, também o portal
das pitangueiras. Assim que estacionei a GMC, e desci, começou um som estranho:
- Prontu, começô! Tá ovinu, Misifiu?
- Sim, Nhô! Parece que uma porta enorme se
abrindo e com as dobradiças enferrujadas.
- Tem veis qui pareci um ventu forti
assubianu mais, sem u ventu. U qui pódi sê issu, Misifiu? Ostru dia apareceu
aquéias luiz dançanu nu céu. Já era mais di quatru i meia da tardi i parecia
qui iela dançava conformi a muisica. eh! Eh! Eh!
- O clima aqui no Vale Virtuliano do Rio do
Peixe tá estranho, Nhô. Talvez o Kobauski nos diga o que está acontecendo.
- É memu seu Lê e despois di amanhã ieli vem
ti buscá num é issu?
- Sim, “Véi”, depois de amanhã ele chega por
aqui e irei com ele buscar a família Flores de volta de Terra-II para
Virtuália.
- Nhô, vamos até perto das pitangueiras que
eu tenho a impressão que o som vem de lá. Vou levar uma filmadora portátil
digital e tentar filmar alguma coisa, além de gravar os sons.
- Vamu sim patrãozin – disse animado
o meu amigo.
Chegando
próximo à área do portal:
- Cruizincredu, Misifiu, u baruiu pareci rangê
di denti – observou o Nhô.
- É mesmo, “Véi”! Esses barulhos saem
realmente de entre as duas pitangueiras.
E por falar em pitangueiras, repare como a que podamos está com os
frutos maduros! E como são grandes, Nhô!
- É memu, seu Lê, são mais maió qui a qui não foi podada. Vamu isprimentá u gostchu deias?
- Vamos Nhô! Caramba, como esse som é
ensurdecedor e irritante! Alguém mais já reparou nesse barulho?
- Qui ieu e a Xerê saiba não, seu Lê. Essis
baruiu começô treis antonti.
Saboreamos
algumas pitangas e estavam com gosto espetaculares e o Nhô disse:
- As qui coiemu da árvi qui num foi podada
tão mais gostosa; num é seu Lê?
- Tem razão, Nhô! Mas, as da outra não estão
tão ruim, apenas maiores.
- É divera, pareci qui u gostchu si
ispaiô, eh! Eh! Eh!
De
repente o som parou e um foco de luz começou a aparecer entre as duas
pitangueiras. Era como o brilho da solda elétrica e foi aumentando,
aumentando...
- Vamu “cascá fora”, Misifiu! Tá vinu arguma coisa isquisita pelu
portá! Ieli nunca briô dessi jeitu!
- Tem razão! Vamos para detrás daquelas
rochas – falei isso e puxei o meu amigo e ficamos quietos, observando e eu
gravando tudo.
De
repente o portal se abriu completamente, mas, a claridade que saia dele tinha a
cor amarela fosforescente e...
- Óia, seu Lê, qui qui é aquilu? Parece dois
pratu giganti di alumin sainu du portá – coxichou o Nhô.
- Caramba, parece um disco voador! Não
parece nem com nave arretiana e nem com as dos reptilianos. Vamos ficar quietos
só olhando, OK?
- Tá bão, sô!
A
nave, em formato de dois pratos sobrepostos, saiu do portal - que se fechou em
seguida - ficou pairando a dois metros do chão, em total silêncio. Não se ouvia
mais os barulhos estranhos. O brilho da nave foi se apagando e ela ficou opaca.
Na parte de baixo saiu um tubo de mais ou menos um metro de diâmetro e nele uma
porta se abriu por ela saíram duas criaturas.
- Olha Nhô, são seres diferentes dos que
conhecemos. Mas já vi desenhos deles em revistas que falam em vidas
extraterrestres. Eles são “conhecidos” como Greys.
- Ielis são amarelu i zoiúdu, seu Lê. Tem u
corpu piquenu e...
- Fale baixo, “Véi”! Não sabemos se são
hostis! Acho que não notaram a nossa presença. Vamos só observar o que vão
fazer.
Vimos
quando um dos seres apontou o dedo para a nave e ela subiu verticalmente e
desapareceu entre as nuvens num brilho fantástico.
Ficamos
olhando para o sumiço da nave quando voltamos nossa atenção para os greys
amarelos e estes haviam sumido.
- I agora. Seu Lê, prá dondi foi us zóuidu
amarelu?
- Talvez tenham entrado na nave sem que tivéssemos percebido;
talvez tenham notado nossas presenças e se esconderam ou, quem sabe, se tornado invisível
aos nossos olhos.
- Qui treim di doidu sô! Vamu lá pru sítiu
seu Lê. Vô arriá u Bittencourt na carroça i levá uns sacu di fejão lá prá
cooperativa. Ôce vai mais ieu?
- Vou sim, Nhô! Tenho que conversar com o
delegado Carabina. Talvez ele tenha ouvido falar alguma coisa sobre isso ou se alguém tenha falado a ele sobre alguma coisa estranha nesses dias. Mas, quem deve nos falar sobre esses seres será o
Kobauski.
- É memu, Misifiu!
Passamos
na minha morada e deixamos a câmara lá. Nem me interessei em ver o que tinha
gravado devido a nossa pressa. Fomos andando e proseando até ao sítio naquela
agradável manhã ensolarada, porém, com muitas nuvens brancas no céu.
- Sabe seu Lê, dessis mundu qui a genti
conheceu, nada é mió qui esti du vali du Riu du ... – o Nhô parou de abrupto:
- O que foi Nhô? Viu alguma coisa estranha?
Nhô
apontou para a varanda da cozinha da sede do sítio e falou com os olhos
arregalados:
- Ieu
achu qui vi um dus zóiudu amarelu intranu na varanda, seu Lê!
-
Para com isso “Véi”! Não é hora para brincadeira!
- Num é brincadêra seu Lê, tava venu memu, óia
lá – falou-me apontando com o dedo.
- Caramba, Nhô, eles vieram para o sítio!
Vamos apressar o passo para ver se conseguimos pegá-los!
Ao
chegarmos perto, um dos seres, jogou um artefato aos nossos pés que, ao espocar,
soltou uma fumaça amarela e ao aspirarmos não conseguimos nos mexer, porém
víamos e ouvíamos tudo. O outro ser estava com o cesto da Ritinha e com ela
dentro, dormindo. A Xerê estava paralisada de medo e não conseguia nem gritar;
sequer falar.
- Nhô, essas criaturas estão levando a Ritinha
– falei ao meu amigo.
- Ah! Meu São Nunca du Vale du Riu du Pêxe é
memu, Misifiu, i nóis num podemu fazê nadica di nada! Pára aí seu bichu fêi,
dêxa minha netinha em paiz!
De
nada adiantou o Nhô gritar e praguejar. O pior é que levaram a Xerê também. Em
questão de minuto a névoa amarela dissipou e o efeito paralisante cessou, mas,
era tarde demais; os seres fugiram levando as meninas.
- Vamos pegar a GMC e acelerar até ao portal
Nhô. Eles devem ter ido para lá! – gritei.
Quando
estávamos chegando próximo ao portal deu, ainda, para ver a nave entrando por
ele e, em seguida, o portal se fechou.
- I agora, Misifiu, u qui será di mim sem as
minha mininas? U qui será déias? – falou-me o velho amigo com os olhos
marejados e voz embargada.
- Calma Nhô, vou contatar o Kobauski agora e
ele virá imediatamente – acalmando-o, falei e do volante da Vermelhona
firmei meu pensamento nos arretianos e no Kobauski:
- Óia , seu Lê, u portal está clareanu comu
di primeiru – gritou o Nhô.
- São os arretianos, “Véi”! Eles estão
atendendo meu chamado!
Descemos
da caminhonete! O Kobauski, junto com o Etevaldo, atravessaram o portal:
- Bom dia meus amigos! Seu Lê, pela concentração
de seu pensamento em Arret, pude perceber que a situação é grave – falou-nos
o Comandante.
Em
questão de dez minutos, após os cumprimentos, colocamos nossos amigos a par da
situação:
- Seu
Lê, o senhor não imagina como tem civilizações extraterrestres interessadas na
vida de Virtuália. Esses seres, pelo que me descrevestes, não são hostis. Vocês
falaram do tal som que saía de entre as pitangueiras, certo? Poderiam me
descrever como era, se possível?
- Vou fazer melhor, Kobauski, vamos até
minha pousada que te mostrarei imagens, pois, gravei tudo desde antes de eles
chegarem pelo portal – falei esperançoso.
No
meu cafofo:
- Bonita residência – elogiou o Etevaldo
– o seu Lê pensou em tudo, não é papai?
- Tem razão, meu filho! As portas, janelas e
o “pé-direito” do imóvel foram feitos para abrigar criaturas do nosso tamanho.
O senhor construiu pensando na gente, seu Lê?
- Com certeza meus amigos! Era o mínimo que
poderia fazer por vocês. Vou conectar a
câmara à TV HD de tela grande e veremos se os reconhecem – falei aos
arretianos. A gravação, da imagem inerte, iniciou antes de o portal se abrir
para o disco voador atravessá-lo, pois, quando o portal clareou a imagem
sumira.
- Está bom, seu Lê! Só com esse som dá para
descobrir tudo. Vamos passar essa gravação ao nosso sistema de localização na
nossa nave-mãe, que está além do portal e, pelo som, saberemos quem são e de
onde vieram. Esses sons nada mais são de um método de burlar os códigos e
entrada pelo portal.
- Então temos uma esperança de
buscarmos as meninas, Nhô!
- Minhas preces foi atendida, seu
Lê!
- Vocês esqueceram-se das medalhinhas
– perguntou-nos o Etevaldo.
- É mesmo, Nhô, as medalhinhas – gritei
de alegria.
-
Pois é, meus amigos, está aí uma das utilidades delas. Será fácil encontrarmos as
garotas – falou-nos o Kobauski.
Continua em 11/08/2013 em:
O RESGATE
DAS
MENINAS
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