domingo, 4 de agosto de 2013

ARRET
A NOVA MORADA


UMA NOVA RAÇA
           - Ah! Como é bom respirar este ar puro do Vale do Rio do Peixe; como eu me sinto revigorado e descansado quando chego aqui!
            Saí da rodovia principal e entrei na estrada rumo ao sítio do Nhô e pensei em voz alta:
            - Neste momento o meu velho amigo deve de estar preparando o café da manhã, pois, são cinco e meia. Ele vai ter uma surpresa ao me ver dois dias antes da partida para Terra – II. Vou fazer uma brincadeira com o “Véi”; vou parar a GMC bem antes do sítio e seguir a pé. Vou entrar pelos fundos e surpreendê-lo no varandão da cozinha, ah!Ah!Ah! Vou pregar uma peça nele! – e foi o que fiz, porém, ao chegar de mansinho pelo varandão, ele não estava lá e nem na cozinha. A mesa do café estava posta e tinha: café fresco coado a pouco, broa de milho, mandioca cozida e passada na manteiga, pão doce feito pela Xerê, ovos mexido com bacon de java-porco, suco de graviola, mas... nada do Nhô!
            Ao dar meia-volta, para ver se ele estava na horta, dei de cara com ele e:
            - Eh! Eh! Eh! Querenu pregá uma peça nu véi, Misifiu?
            - Caramba! Que susto Nhô!
            - Eh! Eh! Eh! Ocê si isqueci qui ieu sô um cabocru ispertu, seu Lê?
            - Tá certo, Nhô, ah!Ah!Ah! Como vão as coisas aqui pela região?
            - As cousa vão boa puraqui , seu Lê!  Vamu tomá café mais ieu. Deixei a mesa perparada, eh! Eh! Eh!
            - Então o senhor sabia que eu viria, “ Véi”?
            - Ôce mi cunhci cumu a ôce memu, num é seu Lê, eh! Eh! Eh!
            - Tem razão, ah! Ah! Ah!
            - I a patroinha, iela vai bem?
            - Ótima, ela está ótima, meu amigo!
        - Ôce vêi prá í im Terradois cum Kobausqui, Misifiu?
       - Sim Nhô! Vou aproveitar para tirar um descanso antes.
            Tomávamos aquele café da manhã, digno de um hotel cinco estrelas, quando perguntei ao Nhô:
      - O senhor tem alguma novidade, meu amigo?
    - Tê inté qui ieu tenhu, Misifiu, mas ôce vai oví cus seus própriu zuvidu!
            - Como assim, Nhô?
            - Daqui um poco, quandu u dia cumeçá a crareá ôce vai oví. Já qui terminamu u café, vamu lá prô teu cafofu qui tarveis ôce vai oví mió – fomos até minha morada, no morrete, que dava para ver grande parte do vale e, também o portal das pitangueiras. Assim que estacionei a GMC, e desci, começou um som estranho:
            - Prontu, começô! Tá ovinu, Misifiu?
            - Sim, Nhô! Parece que uma porta enorme se abrindo e com as dobradiças enferrujadas.
      - Tem veis qui pareci um ventu forti assubianu mais, sem u ventu. U qui pódi sê issu, Misifiu? Ostru dia apareceu aquéias luiz dançanu nu céu. Já era mais di quatru i meia da tardi i parecia qui iela dançava conformi a muisica. eh! Eh! Eh!
            - O clima aqui no Vale Virtuliano do Rio do Peixe tá estranho, Nhô. Talvez o Kobauski nos diga o que está acontecendo.
            - É memu seu Lê e despois di amanhã ieli vem ti buscá num é issu?
            - Sim, “Véi”, depois de amanhã ele chega por aqui e irei com ele buscar a família Flores de volta de Terra-II para Virtuália.
            - Nhô, vamos até perto das pitangueiras que eu tenho a impressão que o som vem de lá. Vou levar uma filmadora portátil digital e tentar filmar alguma coisa, além de gravar os sons.
            - Vamu sim patrãozin – disse animado o meu amigo.
            Chegando próximo à área do portal:
            - Cruizincredu, Misifiu, u baruiu pareci rangê di denti – observou o Nhô.
            - É mesmo, “Véi”! Esses barulhos saem realmente de entre as duas pitangueiras.  E por falar em pitangueiras, repare como a que podamos está com os frutos maduros! E como são grandes, Nhô!
            - É memu, seu Lê, são mais maió qui a qui não foi podada. Vamu isprimentá u gostchu deias?
            - Vamos Nhô! Caramba, como esse som é ensurdecedor e irritante! Alguém mais já reparou nesse barulho?
            - Qui ieu e a Xerê saiba não, seu Lê. Essis baruiu começô treis antonti.
            Saboreamos algumas pitangas e estavam com gosto espetaculares e o Nhô disse:
         - As qui coiemu da árvi qui num foi podada tão mais gostosa; num é seu Lê?
            - Tem razão, Nhô! Mas, as da outra não estão tão ruim, apenas maiores.
            - É divera, pareci qui u gostchu si ispaiô, eh! Eh! Eh!
            De repente o som parou e um foco de luz começou a aparecer entre as duas pitangueiras. Era como o brilho da solda elétrica e foi aumentando, aumentando...
            - Vamu “cascá fora”,  Misifiu! Tá vinu arguma coisa isquisita pelu portá! Ieli nunca briô dessi jeitu!
            - Tem razão! Vamos para detrás daquelas rochas – falei isso e puxei o meu amigo e ficamos quietos, observando e eu gravando tudo.
      De repente o portal se abriu completamente, mas, a claridade que saia dele tinha a cor amarela fosforescente e...
            - Óia, seu Lê, qui qui é aquilu? Parece dois pratu giganti di alumin sainu du portá – coxichou o Nhô.
            - Caramba, parece um disco voador! Não parece nem com nave arretiana e nem com as dos reptilianos. Vamos ficar quietos só olhando, OK?
            - Tá bão, sô!
      A nave, em formato de dois pratos sobrepostos, saiu do portal - que se fechou em seguida - ficou pairando a dois metros do chão, em total silêncio. Não se ouvia mais os barulhos estranhos. O brilho da nave foi se apagando e ela ficou opaca. Na parte de baixo saiu um tubo de mais ou menos um metro de diâmetro e nele uma porta se abriu por ela saíram duas criaturas.
      - Olha Nhô, são seres  diferentes dos que conhecemos. Mas já vi desenhos deles em revistas que falam em vidas extraterrestres. Eles são “conhecidos” como Greys.
            - Ielis são amarelu i zoiúdu, seu Lê. Tem u corpu piquenu e...
            - Fale baixo, “Véi”! Não sabemos se são hostis! Acho que não notaram a nossa presença. Vamos só observar o que vão fazer.
            Vimos quando um dos seres apontou o dedo para a nave e ela subiu verticalmente e desapareceu entre as nuvens num brilho fantástico.
            Ficamos olhando para o sumiço da nave quando voltamos nossa atenção para os greys amarelos e estes haviam sumido.
            - I agora. Seu Lê, prá dondi foi us zóuidu amarelu?
            - Talvez tenham entrado na nave sem que tivéssemos percebido; talvez tenham notado nossas presenças e se esconderam ou, quem sabe, se tornado invisível aos nossos olhos.
            - Qui treim di doidu sô! Vamu lá pru sítiu seu Lê. Vô arriá u Bittencourt na carroça i levá uns sacu di fejão lá prá cooperativa. Ôce vai mais ieu?
            - Vou sim, Nhô! Tenho que conversar com o delegado Carabina. Talvez ele tenha ouvido falar alguma coisa sobre isso ou se alguém tenha falado a ele sobre alguma coisa estranha nesses dias. Mas, quem deve nos falar sobre esses seres será o Kobauski.
            - É memu, Misifiu!
            Passamos na minha morada e deixamos a câmara lá. Nem me interessei em ver o que tinha gravado devido a nossa pressa. Fomos andando e proseando até ao sítio naquela agradável manhã ensolarada, porém, com muitas nuvens brancas no céu.
            - Sabe seu Lê, dessis mundu qui a genti conheceu, nada é mió qui esti du vali du Riu du ... – o Nhô parou de abrupto:
       - O que foi Nhô? Viu alguma coisa estranha?
            Nhô apontou para a varanda da cozinha da sede do sítio e falou com os olhos arregalados:
            - Ieu achu qui vi um dus zóiudu amarelu intranu na varanda, seu Lê!
            - Para com isso “Véi”! Não é hora para brincadeira!
            - Num é brincadêra seu Lê, tava venu memu, óia lá – falou-me apontando com o dedo.
            - Caramba, Nhô, eles vieram para o sítio! Vamos apressar o passo para ver se conseguimos pegá-los!
            Ao chegarmos perto, um dos seres, jogou um artefato aos nossos pés que, ao espocar, soltou uma fumaça amarela e ao aspirarmos não conseguimos nos mexer, porém víamos e ouvíamos tudo. O outro ser estava com o cesto da Ritinha e com ela dentro, dormindo. A Xerê estava paralisada de medo e não conseguia nem gritar; sequer falar.
            - Nhô, essas criaturas estão levando a Ritinha – falei ao meu amigo.
            - Ah! Meu São Nunca du Vale du Riu du Pêxe é memu, Misifiu, i nóis num podemu fazê nadica di nada! Pára aí seu bichu fêi, dêxa minha netinha em paiz!
            De nada adiantou o Nhô gritar e praguejar. O pior é que levaram a Xerê também. Em questão de minuto a névoa amarela dissipou e o efeito paralisante cessou, mas, era tarde demais; os seres fugiram levando as meninas.
            - Vamos pegar a GMC e acelerar até ao portal Nhô. Eles devem ter ido para lá! – gritei.
            Quando estávamos chegando próximo ao portal deu, ainda, para ver a nave entrando por ele e, em seguida, o portal se fechou.
            - I agora, Misifiu, u qui será di mim sem as minha mininas? U qui será déias? – falou-me o velho amigo com os olhos marejados e voz embargada.
            - Calma Nhô, vou contatar o Kobauski agora e ele virá imediatamente – acalmando-o, falei e do volante da Vermelhona firmei meu pensamento nos arretianos e no Kobauski:
            - Óia , seu Lê, u portal está clareanu comu di primeiru – gritou o Nhô.
            - São os arretianos, “Véi”! Eles estão atendendo meu chamado!
            Descemos da caminhonete! O Kobauski, junto com o Etevaldo, atravessaram o portal:
            - Bom dia meus amigos! Seu Lê, pela concentração de seu pensamento em Arret, pude perceber que a situação é grave – falou-nos o Comandante.
            Em questão de dez minutos, após os cumprimentos, colocamos nossos amigos a par da situação:
            - Seu Lê, o senhor não imagina como tem civilizações extraterrestres interessadas na vida de Virtuália. Esses seres, pelo que me descrevestes, não são hostis. Vocês falaram do tal som que saía de entre as pitangueiras, certo? Poderiam me descrever como era, se possível?
            - Vou fazer melhor, Kobauski, vamos até minha pousada que te mostrarei imagens, pois, gravei tudo desde antes de eles chegarem pelo portal – falei esperançoso.
            No meu cafofo:
            - Bonita residência – elogiou o Etevaldo – o seu Lê pensou em tudo, não é papai?
            - Tem razão, meu filho! As portas, janelas e o “pé-direito” do imóvel foram feitos para abrigar criaturas do nosso tamanho. O senhor construiu pensando na gente, seu Lê?
            - Com certeza meus amigos! Era o mínimo que poderia fazer por vocês.  Vou conectar a câmara à TV HD de tela grande e veremos se os reconhecem – falei aos arretianos. A gravação, da imagem inerte, iniciou antes de o portal se abrir para o disco voador atravessá-lo, pois, quando o portal clareou a imagem sumira.
            - Está bom, seu Lê! Só com esse som dá para descobrir tudo. Vamos passar essa gravação ao nosso sistema de localização na nossa nave-mãe, que está além do portal e, pelo som, saberemos quem são e de onde vieram. Esses sons nada mais são de um método de burlar os códigos e entrada pelo portal.
          - Então temos uma esperança de buscarmos as meninas, Nhô!
            - Minhas preces foi atendida, seu Lê!
            - Vocês esqueceram-se das medalhinhas – perguntou-nos o Etevaldo.
            - É mesmo, Nhô, as medalhinhas – gritei de alegria.
            - Pois é, meus amigos, está aí uma das utilidades delas. Será fácil encontrarmos  as garotas – falou-nos o Kobauski.

Continua em 11/08/2013 em:
O RESGATE
 DAS
MENINAS

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