segunda-feira, 19 de agosto de 2013

VIDA EM VIRTUÁLIA

ARRET
A NOVA MORADA 
            O Retorno
dos
 Flores


            Acomodados na cabine de comando o Kobauski me perguntou:
            - Seu Lê, o senhor quer saber o que aconteceu com a nossa antiga morada?     
          - Sim, Comandante! É possível – perguntei-lhe e respondeu-me afirmativamente, e ordenou:
            - Major, tão logo retornemos ao tempo de onde saímos para deixar o discoide, e, antes de ajustar o rumo para Terra – II vamos passar nas imediações onde ficava nosso antigo planeta!
            - OK, Comandante! Em poucos segundos estaremos lá.
            Em trinta e um segundos a nave desacelerou e abriram-se as capas de proteção de todas as janelas da esfera:
            - Foi nesta região em que habitávamos, seu Lê. Não restou nada, aliás, nem poeira cósmica sobrou dele.
            - Mas, e a estrela em que orbitava a antiga morada, também não está mais aqui nesta região; onde foi parar?
            - Foi sugado pelo buraco negro, meu amigo e, foi tão rápido que está deixando nossos melhores cientistas em polvorosa – respondeu-me com um semblante preocupado.
            - O que pode estar havendo com esta região do universo, Comandante – indaguei.
            - Um fenômeno incompreensível. Existe um buraco negro nesta região que tem sua força aumentada a cada determinado período de tempo; as estrelas estão perdendo seus brilhos com maior intensidade, nesse mesmo período de tempo e, as partículas maciças de fraca interação – o que vocês estão chamando de WIMP -, não estão de aniquilando mutuamente quando se encontram.
            - Será que está para acontecer alguma hecatombe nesta região do universo, Kobauski?
            - Parece que sim, seu Lê, mas vamos retornar à rota rumo a Terra-II e buscar nossos amigos. Vamos cuidar primeiro, dos assuntos até onde podemos entender OK?
            - OK, Kobauski, eu te entendi!
           - Depois que deixar vocês em Virtuália vamos embarcar em uma expedição para o futuro desta região do espaço. Porém, vai depender de estudos que estão sendo feitos.
            - Que espécie de estudos, Kobauski – perguntei curioso.
        - Estamos finalizando um aparelho que permite captar ondas ou outro tipo de energia que tenha ocorrido em determinada região e capitada por este aparelho. Ele vai converter em imagens tais ondas ou energias. Daí, dependendo destas imagens iremos até lá.
          - Comandante, aproximamos de Terra – II! Onde desceremos – perguntou o major.
            - Em Big-Brazil, major! Não se esqueça de colocar a nave em sistema de camuflagem, OK?
            - OK! Comandante.
            - Olha seu Lê, como está povoada a ilha – falou Etevaldo quando entramos no espaço aéreo da ilha.
            - Tem razão, meu amigo e está parecendo ainda mais com a minha Terra nos primeiros séculos da era atual – respondi-lhe e pensei:
            - Como estará a família Flores? Não se passou muito tempo – em contagem terrestre -, desde a última vez em que aqui estive. Mas -” o tempo, quando se percorre uma determinada distância, num wormhole não dá para saber o que ocorrerá ¨-, como disse o Kobauski.
            - Estamos a trinta e um centímetros do solo na fazenda do Flores, Senhor – disse o major.
            - OK, major, descerão eu, Etevaldo e o seu Lê.
            - Comandante, posso ir à frente para fazer uma surpresa para o Juliano e o Beijo – pedi ao Kobauski.
            - Claro amigo! Olhe pelo visor da nave – disse-me apontando para uma das janelas da esfera, que estava com a proteção de navegação recolhida – lá está o Juliano!
            - Nossa! Será ele mesmo? Está mais parecendo uma personagem saída do tempo bíblico terrestre.
            Juliano estava cuidando de uma lavoura de mini-pepinos para conservas. Desci da nave camuflada, como se tivesse saído do nada , e caminhei alguns metros e disse-lhe, tirando-o da concentração do labor:
            - Grande Juliano, que prazer em revê-lo!
           - Eu só acredito porque estou vendo! Seu Lê, que prazerão! De onde o senhor surgiu?
     Quando ele disse isso a enorme nave-mãe saiu da camuflagem e Juliano se lembrou:
            - Já sei, chegou a hora de eu e a família Flores voltarmos para Virtuália?
        - Isso mesmo meu amigo; vamos retornar à vida de Virtuália!
            Quando me dei conta todos os humanos, de Terra-II, que estavam trabalhando na lavoura com Juliano, prostraram com o rosto no solo gritando:
           - Ele voltou como prometido! José Cristal voltou! Os anjos, arcanjos e os querubins voltaram!
            - Calma seu Lê – disse-me Kobauski que se aproximava como que já esperando por isso e notando meu jeito assustado.
            - Como vai Juliano – perguntou o Kobauski.
            - Estou ótimo – respondeu o Juju e quando viu seu filho de criação descer da nave-mãe, começou a chorar de alegria:
           - Etevaldo meu filho! Quanta saudade – falou isso e jogou-se nos enormes braços do arretiano-terráqueo.
        - Vocês todos nativos... voltem às suas casas – ordenou Kobauski com voz autoritária e todos obedeceram.
          - Vamos lá para casa – disse Juliano – todos estávamos aflitos com a demora de vocês em vir nos buscar.
            - Ok, vamos lá - disse o Comandante.
         Na sede da fazenda dos Flores, em Terra-II, após os cumprimentos e durante um saboroso almoço:
            - Então está acertado! Antes de anoitecer iremos para Hy-Brazil. Mas, tem um grande detalhe e muito importante.
        - Qual é esse detalhe Kobauski – perguntou o Zé das Flores.
   - Vocês só poderão levar para Virtuália somente o que trouxeram de lá, OK? Não tentem levar sequer uma única semente. Terão que passar pelos detectores ao entrarem na nave.
         - Tudo bem, Comandante, nós lhe obedeceremos.
    - Juliano, tens uma explicação para a reverência que os nativos prestaram a nós quando surgimos – perguntou o Kobauski.
       - Tenho sim! Vou relatar tudo. Vamos para o varandão, onde corre uma brisa fresca e conversaremos.
          No varandão, Juliano relata:
     - Para a população nativa de Terra-II os senhores são arcanjos, anjos e querubins. Sendo que você Kobauski é o todo poderoso, o senhor dos exércitos, o deus vivo. A esfera dourada é a “glória do Senhor” que surge do invisível e em silêncio. Desde a última vez em que aqui estiveram – há muitos anos, pela contagem terradoisiana -, surgiram muitos mitos, lendas e histórias. A mais interessante e perigosa foi a criação da lenda em que um messias que veio enviado pelos senhores dos céus.
            - Como assim Juliano – interrompi.
            - Inventaram que lá pelos lados do oriente médio, aqui de Terra – II, nasceu um menino, filho do senhor dos céus com uma humana deste planeta. Esse menino cresceu, sem ninguém saber como e onde vivia, e depois de adulto começou a falar de coisas dos céus e – dizem -, a fazer milagres. E foi por causa desses milagres que foi morto.
      - Quem, supostamente, matou esse messias, Juliano – perguntou o Etevaldo.
            - Segundo reza a lenda foram pessoas que afirmavam que ele era um reptiliano disfarçado de humano e que foi enviado das profundezas do espaço onde só há escuridão e ranger de dentes. Dizem que veio para Terra – II roubar os espíritos dos terradoisianos.
            - Como o chamavam – perguntei ao Juju:
            - José Cristal, pois diziam que ele era branco como a neve e tinha os olhos sem cor definida e os cabelos cacheados e compridos amendoados.
            - Como ele morreu – continuei o interrogatório.
            - Dizem que num ritual no qual pregam o indivíduo num enorme xis de madeira, de cabeça para baixo e é apedrejado até a morte.
        - Caramba, só falta me dizer “que ele subiu aos céus no terceiro dia depois de morto” – pensei comigo e perguntei:
      - Existem provas concretas de que isso seja verdade, Juliano?
        - Só relatos antigos falam dele, seu Lê, e, a lenda vem sendo passada de boca a boca há muito tempo.
            - E os restos mortais, acharam-nos?
          - Não, seu Lê, reza a lenda que depois de três dias de morto, e enterrado dentro de uma caverna, viram-no flutuando até sumir por entre as nuvens. Dizem que subiu aos céus numa esfera luminosa que estava escondida entre as grossas camadas de nuvens. Hoje existe em Terra – II várias religiões que o cultuam e, tais religiões, tem muito poder sobre o psicológico da população.
            - Ah! Ah! Ah! Essa historinha até parece plágio – falei às gargalhadas.
      - Então está explicada a reverência que nos prestaram quando chegamos aqui na sua fazenda, Juliano. Não precisa alongar mais a história – disse o Comandante e prosseguiu:
            - Seu Lê e Etevaldo vamos dar uma volta pelo planeta em uma nave menor e inteirar-nos da situação dessa humanidade in loco, porque de Arret ficou difícil monitorar os acontecimentos devido às perturbações da região da antiga morada. E vocês, Flores, ficarão se preparando para a volta à Virtuália, ok?
            - Kobauski, prefiro ficar aqui com os Flores preparando-os para a viagem. Você se importa – perguntei –lhe.
            - Claro que não, meu amigo! Iremos só nós dois filho!
            - OK, papai, então vamos.
        Após pai e filho arretiano saírem fiquei com Juliano perambulando pela fazenda:
            - Seu Lê, vou te mostrar uma planta que utilizamos para fazer uma bebida que o seu Zé das Flores criou. Olhe – disse Juju apontando -, são daquelas árvores ali. Se o senhor plantar uma semente dela hoje em, mais ou menos, trinta dias terrestres ela já estará crescido e dando frutos, porém logo após a terceira frutificação ela perece. Os frutos tem um gosto muito amargo e adocicado ao mesmo tempo. As sementes são parecidas com as de maracujá lá da Terra. Quer experimentar?
            - Claro, Juju, quero sim – falei isso e já fui colhendo umas três frutas do tamanho de um maracujá. O gosto realmente era muito amargo, mas na medida em que eu mastigava a polpa com a massa gelatinosa, que encobria as sementes, o gosto era de uma fruta nunca antes provada por mim e o Juliano me alertou:
          - Seu Lê, coma só uma, pois pode desarranjar os intestinos. Nós usamos as gelatinas que envolvem as sementes para fazer suco, xarope e, para curar problemas de fígado, fazemos chá com as folhas.
            - Mas que bebida vocês criaram com esta maravilha?
      - Na verdade não é nenhuma criação e sim um tipo de cerveja!
            - Cerveja, eu adoro cerveja e faz um tempão que não sei o que é uma boa e gelada cerveja, Juju!
          - Vamos lá para a sede da fazenda que tem algumas na geladeira. O Zé das Flores fez cerveja usando arroz no lugar da cevada e, em substituição ao lúpulo, usou estas frutas que chamamos de bosda. Ele usa só a polpa que é amarga e as sementes ele semeia nos campos, pois essa planta tem vida curta como já te falei, lembra?
           - Sim Juju, eu me lembro – respondi degustando mais uma bosda enquanto o Juliano colhia algumas frutas extremamente maduras e disse:
         - Vou levar essas três frutas maduras para o Beijo; ele disse que está com o intestino preso e se ele comer, pelo menos uma , em pouco tempo ele se sentirá bem!
          Chegando à sede da fazenda encontramos o Zé das Flores e um casal jovem de nativos e o Zé das Flores disse:
            - Seu Lê, este é o casal Lion, ou seja, Flora e Anton; eles ficarão com está fazenda. Dei-lhes de presente porque são os que têm jeito para continuar com esse negócio de fazenda e produção de conservas de mini-pepinos.
            Cumprimentei o casal e o Anton falou:
            - Nós aceitamos, mas temos que nos reunir com os outros trabalhadores e informar-lhes o fato. Eu vou chamar cada família para vir aqui à sede e tomar ciência da decisão, OK?
            - Pelo jeito o senhor escolheu o casal certo, seu Zé! OK, Anton, mas apresse-se que no início da noite iremos embora – terminei a frase e o casal saiu rapidamente para fazer o que disseram.
            Enquanto conversava com os Lions, Juliano trouxe-me duas garrafas da cerveja e na temperatura ideal para ser consumida:
          - Aqui está a cerveja produzida pelo seu Zé; prove-a seu Lê!
            Coloquei o primeiro gole na boca e segurei por alguns segundo e engoli e soltei a expressão:
      - Putzgrila... que delícia! Não pensava que seria tão saboroso, seu Zé!
    - Mas é, meu amigo! E tem um  porém, a bosda, que substitui o lúpulo, durante o processo de elaboração produz gás além do necessário. Ceio que é daí que vem a diferença além, é claro, do sabor amargo e adocicado ao mesmo tempo.
        - Essa bebida lá na Terra causaria uma revolução no mundo das grandes cervejas – disse-lhes.
            - Mas não tem como produzi-la lá, seu Lê! Lá não existe a bosda e não podemos levar daqui – disse o Beijo que prestava atenção em tudo enquanto devorava as frutas maduras trazidas pelo Juju.
            - “Creio que é por isso que o Kobauski não permite que levemos nada daqui ou de qualquer outro planeta em que visitamos. É para evitar possíveis conflitos lá na Terra” – pensei comigo.
            Conversávamos alegremente sobre tudo até por volta das dezessete horas local quando ouvimos um murmurinho vindo do lado da porteira principal da fazenda:
            - Papai, vem vindo uma multidão sem fim para cá e estão cantando hinos de louvor a José Cristal. Quatro pastores vêm à frente dessa multidão puxando a cantoria – falou Margarida uma das gêmeas mais velha das filhas do seu Zé.
            Nesse mesmo instante chegaram o Kobauski e Etevaldo, após guardar a pequena aeronave de reconhecimento na nave- mãe e, foi Kobauski quem falou:
      - Temos que partir agora e...- o Comandante foi interrompido por Anton Lion que chegara com os moradores da fazenda e pedi autorização ao Comandante para falar e este consentiu:
            - Habitantes desta fazenda, prestem atenção no que vou falar! A partir de agora o casal Lion é o novo dono desta fazenda e tudo continuará como antes. Queremos que vivam em harmonia até nossa volta num futuro breve! Entenderam?
            - Sim, querido Cristal! Nós o entendemos disse um dos amigos do casal - e pensei comigo:
            - “Caramba o sujeito me chamou de Cristal! Temos que partir antes que a população da ilha toda chegue aqui!”
            Nem precisei falar nada e o Kobauski ordenou:
            - Seu Lê e família Flores, todos para a nave mãe agora – falou isso e fez um gesto e a esfera dourada apareceu:
            - Ohhhhhhh! A glória do Senhor apareceu – gritava os trabalhadores da fazenda.
            Entramos na nave-mãe e nos acomodamos e dava para ver e ouvir o que os pastores falavam, quando chegaram à sede da fazenda:
            - Vejam irmãos, a família Flores foi escolhida para subir aos céus. José Cristal voltou e a levou. Em breve eles retornarão e levarão aqueles que nos seguir e ouvir nossas palavras – e todos repetiram em um só som:
            - Oh! Glória...  Oh!Senhor, aleluia!
            “Pensei comigo: -” Os espertalhões existem em todos os cantos do universo, barbaridade!”
      - Senhores, já que estão todos acomodados creio que podemos partir!  Certo Comandante – disse o major-piloto-chefe.

            - Pode partir major – disse-lhe Kobauski.


Continua dia 24/08/2013 em:
O
Retorno 
Ao 
Vale Virtualiano
Do
 Rio do Peixe

Um comentário:

  1. Para entender este texto tu tens que ir lá no início dos textos. Com o passar da leitura dos primeiros textos é que irás entender -
    cronologicamente -,este e os outros, até o final, ok?
    Se quiseres contatos eis meu e-mail:

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