ARRET
A NOVA
MORADA
Rô em
VIRTUÁLIA
Naquelas
primeiras horas da manhã, em meados de primavera, os canteiros de flores da
Xerê, tornava a parte da frente da casa do sítio uma das entradas do paraíso. O
tapete verde de grama esmeralda se sobressaía entre os diversos tipos e cores
de flores que os ladeavam.
Nhô,
Xerê e eu conversávamos, na varanda da cozinha, sobre as perturbações do sol, de nossa Terra, de
Hy-Brasil e da região Virtualiana do Rio do Peixe. De repente eu senti, aliás, só eu senti, um perfume que era
familiar às minhas narinas. Aspirei profundamente e segurei o ar e pensei:
- “Ahhhhhh! Esse aroma tem a magia do
sorriso da Rô! O que será que...” – um intermitente biiiip... biiiip, de
uma buzina de carro, tirou-nos a tranquilidade. Nhô, que estava em pé, foi até
onde dava para ver a frente da casa e nos disse, ao ver quem era:
- Tem um carru piquenu i marrão, cum uma
muié piquena drentu!
- Faça sinal para que ela venha até aqui
Nhô – falei-lhe e ele a chamou fazendo sinal com a mão
direita.
- É uma minina, seu Lê, iela tá cum vistidim
azú, sandainha i u cabelu di rabu di cavalu!
- Bãodia moça, percura pur arguém?
- Eu estou meio confusa! O senhor
poderia me dizer onde eu estou?
Reconheci
a voz e corri ao portão. Olhei fixo para a pessoinha que abriu um lindo e conhecido
sorriso estendendo os dois braços, para abraços, e disse:
- Consegui! Consegui chegar até você!
- Rô, você conseguiu! Você levou a
sério o meu último pedido!
Foram
muitos beijos e abraços até que:
- Ocê num vai apresentá essa bunequinha prá
genti, Misifiu?
-Claro, meus amigos! Nhô e Xerê esta
é minha patroinha, a Rô!
- Inté quinfim nóis ti conhecemu. O
seu Lê falava muntchu di ocê i falô qui um dia ocê vinha visitá nóis! Ieu sô Antonho Jeromo da Conceição mais cunhecidu comu Nhô Antonho Benzedô i essa véia é a Sara Léia; Xerê prus mai chegadu!
- O prazer é meu!
- O prazer é nosso em conhecer o grande e único amor do seu Lê.
- Minha véia, vamu dá um passeiu cum
a Ritinha préla pegá um pôco di sor; us nossu amigu tem muntchu qui conversá.
Ao
ver a Ritinha Rô falou:
- Que encanto de garotinha! Vocês estão de
parabéns!
- Obrigada dona Rô! Mais tarde a
gente proseia melhor, tá bom?
- Sim, dona Xerê, vai ser um prazer!
Peguei
a mão da patroinha e fomos caminhando rumo às margens do Rio do Peixe e ela me
disse:
- Engraçado, mas parece que você está mais
jovem! O mais intrigante é que nós podemos nos tocar como fazíamos quando
estávamos juntos lá em Minas Gerais.
- É difícil de explicar Rô, mas com o tempo
entenderás. O importante foi que você fez tudo que te pedi. – olhei para seu
rostinho e disse:
- Você está linda como sempre!
- Obrigada Lê, você sempre foi muito
amável, galanteador e exageradamente gentil mas, não fiz tudo exatamente como
pedistes... – interrompi a sua fala:
- Como então conseguiste vir até mim? Eu... - fui interrompido:
- Lê durante a extração do coágulo de seu
cérebro o Dr. José Walter retirou também o chip, ou melhor, o corpo estranho
como ele chamou. Ele retirou o chip e me deu. Ele queria fazer uma análise e
eu não deixei, pois queria guardá-lo de recordação. A partir daí mandei
fazer o anel de um brinco, antigo e quebrado, de ouro que eu não usava mais.
Resumindo: Você não morreu, mas está em coma induzido há treze dias.
- Há então é por isso que não
consegui ir até você: o coma está sendo induzido – raciocinei
alto.
- E o que é melhor, meu amor, você mexeu as
pernas e apertou a minha mão mesmo estando desacordado.
- Então não tive lesão na coluna?
- Teve sim, mas por milagre, a lesão
desapareceu!
- Isso deve ter uma explicação
lógica com certeza, Rô!
- Claro que tem! Foi milagre divino, meu amor!
Conversamos
tanto e trocamos tantos afagos que até nos esquecemos do almoço. Os meus dois
amigos não nos perturbaram com nada e, por volta das dezesseis horas, eu
perguntei-lhe:
- Que carro é aquele no qual você veio?
- É o 147 ano 1976, marrom no qual
você aprendeu a dirigir. Lembra-se dele?
- Sim, claro! Vamos até ele. Vou matar a saudade, vendo de perto e, o tocando – chegando próximo ao veículo de origem italiana, mas fabricado no Brasil:
- Caramba! É ele mesmo, a placa com os
números 0031 nunca esqueci! Mas está novinho eu... – Rô me interrompeu dizendo:
- Quando o comprei ele estava meio surrado, mas
mandei reformar e colocar tudo original.
- Ah! Então está explicado a placa na cor
preta!
- Isso mesmo, igual a sua GMC; não
é?
- Justamente! Vamos até nossa suíte.
Posso ir dirigindo?
- Claro Lê, vamos lá!
Chegando
ao cafofo:
- Nossa Lê, que cafofo “chique”! Tem certeza
que não estamos no paraíso?
- Pode até não ser o paraíso, mas ele deve de ser assim!
- “Amore”, vamos lá conversar com
seus amigos, afinal não aparecemos nem para almoçar.
- Tem razão Rô, vamos lá. O Nhô deve
estar preparando a janta.
- Esse aroma que vem lá da cozinha
será a refeição que o Nhô está fazendo?
- É sim! Ele está caprichando. O Nhô
é o Nhô, ah! Ah! Ah!
Depois
da deliciosa janta e de muitas trocas de palavras a Xerê falou:
- Já está na hora de levar a Ritinha prô
berço. Vou dar mamadeira a ela e, também, vou me recolher. Vamos ter muito tempo
para conversarmos dona Rô. Boa noite a todos! Venha Antônio que você já está
até “pescando” sem vara, ah! Ah! Ah!
- Eh! Eh! Eh! Tô memu, ieu tô druminu sentadu!
- Boa noite meus amigos – disse a Rô
e prosseguiu:
- Vamos Lê! Vamos estreiar nosso novo ninho
e eu...
- Pare Lê, o que você está fazendo?
- Vou te levar no colo até lá, meu
pitéu!
Na
manhã seguinte depois de tomarmos café, sentados no banco de madeira feito pelo
Nhô, no pequeno jardim que rodeava nosso cafofo:
- Rô, você antes de me mentalizar para vir
até mim, ia dormir?
- Sim, depois de ficar dois dias
acordada ao teu lado no hospital, estava caindo de cansada e ainda tomei um
medicamento leve que o doutor José Walter me receitou. Iria dormir por mais de
vinte e quatro horas seguidas.
- Ah bom! Então já fique sabendo de
que quando chegar o momento de você acordar lá em Minas Gerais você vai sentir
que tem que ir embora e entrará no 147 e...
- Ah! Então é assim que você fazia
quando vinha para cá, não é?
- É mais ou menos isso Rô – respondi e falei-lhe:
- Já que está aqui com o anel, vamos
caminhar até as duas pitangueiras, lá perto do Rio do Peixe, e fazer uma
experiência, OK?
- Experiência? Ihhhhh! Lá vem você
com esses mistérios, não é?
- Vamos lá, se der certo você vai
conhecer uns amigos meus!
Perto das duas pitangueiras:
- Dê-me as mãos Rô e procure não
pensar em nada. Deixe que só eu mentalize algo, OK?
- OK, vamos lá!
Continua 26/07/2013 em:
Lê
e o
MILAGRE
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