sexta-feira, 19 de julho de 2013

VIDA EM VIRTUÁLIA= Rô em Virtuália

ARRET
A NOVA MORADA
 em
VIRTUÁLIA


            Naquelas primeiras horas da manhã, em meados de primavera, os canteiros de flores da Xerê, tornava a parte da frente da casa do sítio uma das entradas do paraíso. O tapete verde de grama esmeralda se sobressaía entre os diversos tipos e cores de flores que os ladeavam.
            Nhô, Xerê e eu conversávamos, na varanda da cozinha,  sobre as perturbações do sol, de nossa Terra, de Hy-Brasil  e da região Virtualiana do Rio do Peixe.  De repente eu senti, aliás, só eu senti, um perfume que era familiar às minhas narinas. Aspirei profundamente e segurei o ar e pensei:
            - “Ahhhhhh! Esse aroma tem a magia do sorriso da Rô! O que será que...” – um intermitente biiiip... biiiip, de uma buzina de carro, tirou-nos a tranquilidade. Nhô, que estava em pé, foi até onde dava para ver a frente da casa e nos disse, ao ver quem era:
            - Tem um carru piquenu i marrão, cum uma muié piquena drentu!
            - Faça sinal para que ela venha até aqui Nhô – falei-lhe e ele a chamou fazendo sinal com a mão direita.
          - É uma minina, seu Lê, iela tá cum vistidim azú, sandainha i u cabelu di rabu di cavalu!
            - Bãodia moça, percura pur arguém?
            - Eu estou meio confusa! O senhor poderia me dizer onde eu estou?
            Reconheci a voz e corri ao portão. Olhei fixo para a pessoinha que abriu um lindo e conhecido sorriso  estendendo  os dois braços, para  abraços, e disse:
            - Consegui! Consegui chegar até você!
       - Rô, você conseguiu! Você levou a sério o meu último pedido!
            Foram muitos beijos e abraços até que:
        - Ocê num vai apresentá essa bunequinha prá genti, Misifiu?
       -Claro, meus amigos! Nhô e Xerê esta é minha patroinha, a Rô!
        - Inté quinfim nóis ti conhecemu. O seu Lê falava muntchu di ocê i falô qui um dia ocê vinha visitá nóis! Ieu sô Antonho Jeromo da Conceição mais cunhecidu comu Nhô Antonho Benzedô i essa véia é a Sara Léia; Xerê prus mai chegadu!
            - O prazer é meu! 
         - O prazer é nosso em  conhecer o grande e único amor do seu Lê.
         - Minha véia, vamu dá um passeiu cum a Ritinha préla pegá um pôco di sor; us nossu amigu tem muntchu qui conversá.
            Ao ver a Ritinha Rô falou:
            - Que encanto de garotinha! Vocês estão de parabéns!
            - Obrigada dona Rô! Mais tarde a gente proseia melhor, tá bom?
            - Sim, dona Xerê, vai ser um prazer!
            Peguei a mão da patroinha e fomos caminhando rumo às margens do Rio do Peixe e ela me disse:
           - Engraçado, mas parece que você está mais jovem! O mais intrigante é que nós podemos nos tocar como fazíamos quando estávamos juntos lá em Minas Gerais.
            - É difícil de explicar Rô, mas com o tempo entenderás. O importante foi que você  fez tudo que te pedi. – olhei para seu rostinho e disse:
            - Você está linda como sempre!
            - Obrigada Lê, você sempre foi muito amável, galanteador e exageradamente gentil mas, não fiz tudo exatamente como pedistes... – interrompi a sua fala:
      - Como então conseguiste vir até mim?  Eu... - fui interrompido:
           - Lê durante a extração do coágulo de seu cérebro o Dr. José Walter retirou também o chip, ou melhor, o corpo estranho como ele chamou. Ele retirou o chip e me deu. Ele queria fazer uma análise e eu não deixei,  pois queria guardá-lo de recordação. A partir daí mandei fazer o anel de um brinco, antigo e quebrado, de ouro que eu não usava mais. Resumindo: Você não morreu, mas está em coma induzido há treze dias.
            - Há então é por isso que não consegui ir até você: o coma está sendo induzido – raciocinei alto.
       - E o que é melhor, meu amor, você mexeu as pernas e apertou a minha mão mesmo estando desacordado.
           - Então não tive lesão na coluna?
           - Teve sim, mas por milagre, a lesão desapareceu!
           - Isso deve ter uma explicação lógica com certeza, Rô!
            - Claro que tem!  Foi milagre divino, meu amor!
            Conversamos tanto e trocamos tantos afagos que até  nos esquecemos do almoço. Os meus dois amigos não nos perturbaram com nada e, por volta das dezesseis horas, eu perguntei-lhe:
          - Que carro é aquele no qual  você veio?
        - É o 147 ano 1976, marrom no qual você aprendeu a dirigir. Lembra-se dele?
          - Sim, claro! Vamos até ele. Vou matar a saudade, vendo de perto e, o tocando – chegando próximo ao veículo de origem italiana, mas fabricado no Brasil: 
        - Caramba! É ele mesmo, a placa com os números 0031 nunca esqueci! Mas está novinho eu... – Rô me interrompeu dizendo:
       - Quando o comprei ele estava meio surrado, mas mandei reformar e colocar tudo original.
            - Ah! Então está explicado a placa na cor preta!
            - Isso mesmo, igual a sua GMC; não é?
            - Justamente! Vamos até nossa suíte. Posso ir dirigindo?
            - Claro Lê, vamos lá!
            Chegando ao cafofo:
      - Nossa Lê, que cafofo “chique”! Tem certeza que não estamos no paraíso?
            - Pode até não ser o paraíso, mas  ele deve de ser assim! 
          - “Amore”, vamos lá conversar com seus amigos, afinal não aparecemos nem para almoçar.
            - Tem razão Rô, vamos lá. O Nhô deve estar preparando a janta.
            - Esse aroma que vem lá da cozinha será a refeição que o Nhô está fazendo?
            - É sim! Ele está caprichando. O Nhô é o Nhô, ah! Ah! Ah!

            Depois da deliciosa janta e de muitas trocas de palavras a Xerê falou:
            - Já está na hora de levar a Ritinha prô berço. Vou dar mamadeira a ela e, também, vou me recolher. Vamos ter muito tempo para conversarmos dona Rô. Boa noite a todos! Venha Antônio que você já está até “pescando” sem vara, ah! Ah! Ah!
            - Eh! Eh! Eh! Tô memu, ieu tô druminu sentadu!
            - Boa noite meus amigos – disse a Rô e prosseguiu:
            - Vamos Lê! Vamos estreiar nosso novo ninho e eu...
            - Pare Lê, o que você está fazendo?
            - Vou te levar no colo até lá, meu pitéu!
            Na manhã seguinte depois de tomarmos café, sentados no banco de madeira feito pelo Nhô, no pequeno jardim que rodeava nosso cafofo:
            - Rô, você antes de me mentalizar para vir até mim, ia dormir?
            - Sim, depois de ficar dois dias acordada ao teu lado no hospital, estava caindo de cansada e ainda tomei um medicamento leve que o doutor José Walter me receitou. Iria dormir por mais de vinte e quatro horas seguidas.
            - Ah bom! Então já fique sabendo de que quando chegar o momento de você acordar lá em Minas Gerais você vai sentir que tem que ir embora e entrará no 147 e...
            - Ah! Então é assim que você fazia quando vinha para cá, não é?
            - É mais ou menos isso Rô – respondi e falei-lhe:
            - Já que está aqui com o anel, vamos caminhar até as duas pitangueiras, lá perto do Rio do Peixe, e fazer uma experiência, OK?
            - Experiência? Ihhhhh! Lá vem você com esses mistérios, não é?
         - Vamos lá, se der certo você vai conhecer uns amigos meus!
           Perto das duas pitangueiras:
       - Dê-me as mãos Rô e procure não pensar em nada. Deixe que só eu mentalize algo, OK?
           - OK, vamos lá!


Continua 26/07/2013 em:

 e o
MILAGRE





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