sexta-feira, 12 de julho de 2013

VIDA EM VIRTUÁLIA: PERTURBAÇÕES NO PORTAL


ARRET
A NOVA MORADA
PERTURBAÇÕES NO PORTAL DAS 
PITANGUEIRAS

            No domingo - na parte da manhã -, eu, Nhô, Xerê e a Ritinha, que estava no carrinho de bebê, fomos às margens do Rio do Peixe. Passamos horas pescando nosso almoço. Como sempre foi o Nhô quem pescou enormes surubins e bastou para refeições de, pelo menos, três dias. Os outros peixes que pegávamos os soltavam de volta no rio.
            Depois do almoço, por volta das quatorze horas e trinta e um minutos procuramos nossos cantos para a soneca pós-almoço, ainda mais com a chuva fina e contínua que começava. Dormi direto.
             ...

            Na segunda-feira, por volta das dezoito horas eu e o Nhô terminamos a pintura das paredes, das portas e janelas:
            - Está pronto Nhô! Ficou melhor do que eu esperava.
            - Ficô um treim di doidu, Misifiu – respondeu meu velho amigo e prosseguiu:
            - Puruque ocê perferiu fazê esti cafofu aqui nessi morrêti i afastadu das árvi, seu Lê?
            - É que daqui eu vejo as duas pitangueiras do portal e é pertinho da sede do sítio Nhô – respondi-lhe e emendei:
            - Daqui eu tenho o céu aberto para ficar olhando com o telescópio que encomendei, e que já deve ter chegado, na loja do Bahia Júnior.
            - Tá certu, Misifiu! I tem inté lugá prá ocê guardá um carru piquenu; é só fazê um puxadim coladu nu fundu dessi cafofu. A Vermeiona ocê podi dêxa lá nu garpão memu!
            - Se um dia eu tiver outro carro, e pequeno, eu farei o puxadinho, “Véi”.
            - Us móvei chega quarta-fêra, num é?
            - É sim Nhô! Quarta-feira, à noite, eu já posso dormir por aqui.  Comprei tudo que precisava inclusive roupa de cama, banho  e mesa.
            - Ocê pensô im tudu, seu Lê! Ôce vai fazê as refeição mais ieu i a Xerê num é?
       - Isso eu não troco por nada, Nhô e ajudarei vocês na cozinha, tá bom?
            -Ôce qui sabi i manda patrãozim, linhais, vamu lá prá cunzinha fritá uns pintadu prá janta qui já passa das séti da noiti!
            - OK, Nhô! Antes de ir dormir, lá no quarto de visita da sua casa, eu vou voltar aqui para terminar a faxina. Aí é só esperar os móveis.
            Por volta das vinte e três horas eu resolvi ir dormir. Tudo estava limpo e, aproveitando que não iria chover, deixei portas e janelas abertas para sair o  cheiro de tinta. 
            Ao descer para ir repousar vi claridade entre as duas pitangueiras:
            - Caramba, tem claridade entre as pitangueiras! Será que... não, não pode ser a claridade sumiu. Foi impressão minha!
            Desci e ao chegar à varanda da cozinha do sítio o Nhô me esperava:
            - Ocê, pois reparu lá pras bandas du portá, Misifiu?
            - Sim Nhô! Deu-me a impressão de ter visto claridade lá – respondi-lhe.
       - Ieu tamém, Misifiu! Intão si nóis dois vimu num foi empressão nossa, né memu?
            - É isso mesmo, Nhô!
       - Vamu tomá um cardu di fejão temperadu cum torrada inhantes di drumí, seu Lê? A Xerê já apagô; a Ritinha dêxa a minha véia pregadona, eh! Eh! Eh!
            - Ela é uma ótima mãezona, “Véi”!
          Ao entrarmos na cozinha, ouvimos um estrondo e nos viramos e lá estava o clarão.
            - Uma explosão? Não pode ser o pessoal de Arret, Nhô! Tem alguma coisa estranha acontecendo!
            De repente uma enorme bola de fogo saiu do meio das pitangueiras e rumou para o espaço; foi diminuindo, diminuindo ...  até que desapareceu de nosso campo visual.
            - Ocê viu issu, num viu, Misifiu?
         - Vi sim Nhô – respondi e continuei olhando para o espaço em direção onde a bola de fogo havia desaparecido e de repente:
      - Olha Nhô, na direção onde “aquilo” sumiu – falei apontando para o espaço.
            - U qui qui é issu, seu Lê?
       - Parece uma, mas não tenho certeza, explosão termonuclear, meu amigo. Ainda bem que deve ter ocorrido a mais ou menos um milhão de quilômetros da nossa estratosfera.
          Distraímos-nos olhando aquilo, que para muitos seria um fenômeno da natureza, e não percebemos que havia fogo perto das pitangueiras;  foi a Xerê que, acordando com o barulho, viu e gritou:
            - Olhem meninos, tem fogo lá pros lados do Rio do Peixe!
        Eu e o Nhô corremos  ao galpão e  colocamos pás, enxadas, baldes na carroceria da GMC e aceleramos a Vermelhona até lá.
            Ao chegarmos ao local:
            - Olhe seu Lê, a grama qui fica nu meiu das pitanguêra, tá toda chamuscada i u fogu si ispaiô prô capinzá!
         Peguei o extintor grande de água pressurizada que sempre trago na carroceria da GMC e corri:
            - Nhô, vou apagar o fogo que está na pitangueira à nossa esquerda. Não sei se essas pitangueiras tem alguma coisa a ver com o portal, mas não vou deixar o fogo acabar com nenhuma delas.
            - Tá bão, Misifiu! Ieu vô roçá, cum a foici, us arbustu qui tão despois du fogu; inda bem qui num tem ventu.
        Ficamos quase uma hora combatendo o incêndio e vencemos. Nunca tinha visto um homem com tanta agilidade como esse meu amigo, e com mais de  oitenta anos.
            - Eh! Eh! Eh! Nóis conseguimu, seu Lê! I a pitanguêra, comu iela ficô?
            - A maior parte o calor do fogo a chamuscou, Nhô! Não sei se ela vai sobreviver!
            - Vai sim, Misifiu! Aminhã nóis vem aqui i póda ondi foi quemadu. Iela é uma árvi forti!
            - Será que tem alguma influência no portal? Se tiver o pessoal de Arret só vai aparecer quando ela voltar a ter mais  folhas.
            - Tarveis! Vamu dexá u tempu cuidá dissu, Misifiu!
           - Tem razão “Véi”! Começou a ventar e se tiver algum foco ou alguma brasa, o fogo pode recomeçar!
        - Ôce num fechô as portas i as janelas du teu cafofu, Misifiu? Vamu vortá lá i fechá qui vai chovê – concordando, fomos até lá na GMC, fechei tudo e descemos para a sede do sítio.
            Em alguns minutos, em que saboreávamos o “feijão-amigo” com torradas, a chuva caiu. Começou mansinha e se transformou em um aguaceiro e o Nhô falou:
            - Agora num tem veis prô fôgu, seu Lê, i vai refrescá toda a mata chamuscada.
            - A chuva sempre é abençoada e bem vinda, não é Nhô?
            - Cum certeza, seu Lê!

            Na manhã seguinte, ou seja, na terça-feira, junto das duas pitangueiras:
            - Ansim didia dá prá vê qui u istragu foi grandi numa das pitanguêra, Misifiu.
            - Tens razão Nhô e se as nossas viagens pelo wormhole dependerem dela fazer parte do contexto, jamais veremos o pessoal de Arret e Terra II.
            - É difici sabê, seu Lê. Mai vamu cuidá dessa pitanguêra começanu a podá iela. Vamu dexa só os gaios qui tem fôias viva, tá bão?
            -Tá certo, mas  gostaria de saber o que aconteceu por aqui ontem à noite.
            - U Kobausqui dédi  sabê, seu Lê!
            - Com certeza, “Véi”, mas tento contactar com ele e não consigo. Aí eu fico pensando se é por causa do coágulo que tirei do cérebro ou se foi pelo que aconteceu ontem à noite.
            Depois de tratarmos da pitanguiera, ou seja, podando-a e limpando todo o seu  entorno:
            - Ocê dédi tê pacença seu Lê! Dias mió virão!
            - Tá certo, Nhô! Eu tenho a impressão que em Virtuália o tempo não existe e... – Nhô me interrompeu:
            - Seu Lê ieu tenho qui levá argum sacu di café prontu prá torrá qui vendi lá im  Virtuáia, ocê mi ajuda?
            - Claro meu “chapa”! São aqueles cinco sacos que estão lá no galpão?
            - É eis memu!
            - Vou colocá-los na GMC e...
            - Não seu Lê, nóis vai di carroça. O Bittencourt tá...
          - Já sei: o pangaré tá mais gordo do que os capados de java-porco, não é isso?
            - Eh! Eh! Eh! Issu memu, meu amigu. Despois du armoçu nóis vai, tá bão?
            - Ótimo Nhô! Vou passar lá na loja de eletrônicos do Bahia Júnior ver se o telescópio, que encomendei, chegou!
            - Intão tá intão. Vamu lá prá casa qui a Xerê já dédi tê terminadu u armoçu.
            - OK! Vamos lá!
            Às quinze horas e trinta e um minutos, após entregar os cinco sacos de café na cooperativa fomos até a USV. E na sala do Oscarzinho:
            - Sim, seu Lê e Nhô, nós detectamos no sismógrafo, daqui da universidade, um leve abalo de menos de meio grau na escala convencional. Não há motivos para nos alarmarmos; a intensidade foi muito pouca. Talvez alguma acomodação no subsolo de Hy-Brasil.
            - Tá bom reitor, já que pensas assim, até logo. Qualquer novidade venho te contar, OK?
            - Serei todo ouvido seu Lê! Até logo senhores!
           
            Do lado de fora da USV:
        - Ocê num sintiu firmeza im falá prô Oscarzim sobri a ixplosão nu céu né, Misifiu!
            - Não Nhô, de jeito maneira! 
           - Óia seu Lê, são quaji desessete hora, vamu vortá prá casa qui num sabemu u qui pódi acontecê lá nu locá du portá quandu cumeçá a iscurecê, num é memu?
            - Bem lembrado, “Véi”! Já que resolvemos tudo por aqui podemos ir.  Peguei até meu telescópio lá no Bahia Júnior.
             O Nhô ajeitou o arreio do Bittencourt e perguntou a ele:
            - Ocê tá discansado, meu amigu pangaré? Cumeu toda a aveia cum milhu qui coloquei nu coxim qui nóis sempre trais na carroça, não é? Bebeu toda a água i agora vamu simbora prá casa, certu?
            O cavalo deu dois relinchos diferentes e o Nhô me disse:
            - Ieli falô cum essis relinchus: - Demorô, “Véi”!
            - Ah! Ah! Ah! O senhor é um pândego, Nhô! Ah! Ah! Ah!
         Às dezoito horas e trinta e um minutos chegamos à varanda do sítio e a Xerê se antecipou dizendo:
          - Meninos, ainda agorinha ouvi um barulho lá pelas bandas do Rio do Peixe, parecia barulho daqueles foguetes de vara,  que a gente solta nas festas juninas, mas só fazia o barulho da pólvora queimando quando ele sobe não acontecendo explosão nenhuma!
            - Ocê viu argum crarão Xerê – perguntou o Nhô.
            - Não! Talvez porque ainda estava claro.
            - Nós vamos ficar prestando atenção Xerê. Não precisa ficar assustada, OK?
            - Tá certo seu Lê! Minha preocupação é com o barulho que pode incomodar minha bisnetinha.
            - Se vocês quiserem passar  água nos rostos, ainda dá tempo. A janta estará pronta em meia hora – disse-nos a Xerê.
            - Ieu vô lavá as fuça na bica di água despois di livrá u meu pangaré da carroça- falou o Nhô.
           - Eu vou tomar um banho bem rápido e fazer essa barbicha que já está até coçando – falei retirando-me dali.
            Após o jantar:
            - Nhô, vou lá pro meu canto! Vou montar o telescópio na varanda e armar lá uma rede. Vou ficar na vigília do céu e atento na região do portal.
            - Tá bão, Misifiu! Carqué coisa ocê mi chama.
            - OK! Boa noite Nhô e boa noite Xerê – antes de sair dei um beijo na Ritinha que estava acordada e com os lindos olhos cor de mel arregalados observando tudo.
            Por volta das vinte e quatro horas terminei de montar o telescópio e tive a ideia de direcioná-lo onde, no espaço, tinha ocorrido aquela explosão porém, um clarão perto das pitangueiras chamou-me a atenção. Peguei os binóculos, que ganhei de brinde na compra do telescópio, e vasculhei com os olhos o entorno  do portal e vi:
            - Não é possível, parece que tem alguém querendo acionar o portal e não consegue! Será que tem alguma coisa a ver com aquela bola de fogo que saiu de lá ontem – foquei por alguns minutos onde houve o clarão e tudo estava na mais completa escuridão:
            - Acho que desistiu. Ele não pode passar pelo  portal sem que ele ou a nave tenha o chip; para passar, a pessoa ou tem o chip ou estar dentro de uma nave "chipada", e... – de repente apareceu o clarão novamente e deu para ver um reptiliano tentando ultrapassar o portal porém, aquele não se firmava aberto e o ser retornava.
            - Caramba é um reptiliano! Se o portal tornar a clarear e der para eu ver as mãos dele ... – falei isso e o portal clareou e o ser tentou enfiar as duas mãos pelo pequeno buraco luminoso e gritou de dor e retirou as mãos antes que o portal se fechasse de vez:
            - Pela mão direita, sem dois dedos, não resta dúvida é o HZZY!
            Fiquei ali de “campana” até por volta das duas e meia e pensei:
            - Acho que ele não vai tentar novamente hoje! Vou dormir e amanhã tentarei contatar o Kobauski. Hoje não tenho condições – falei bocejando e deitando na rede.
           
            Quarta-feira, oito horas:
            - Ei seu Lê, quédi u sinhô – gritava o Nhô lá da porta da cozinha.
            Acordei de abrupto e assustado:
            - Caramba – gritei e dei um longo bocejo.  - Acordei muito tarde!
            - Seu Lê, vem tomá café mais us mininu qui vinhéru trazê us seus móvi!
            - Já estou descendo, Nhô – lavei o rosto na pia, do novo banheiro, e desci, pois tinha dormido de roupa e tudo na rede.
            Após o laudo café da manhã descarregamos o caminhão, que trouxe todas as minhas encomendas, e o motorista falou:
            - Senhores, o Antão e o Antônio vão ficar aqui para montar os móveis, OK?
            - OK, amigo! Quando eles terminarem eu os levarei para a cidade e... – fui interrompido:
            - Não será necessário senhor, no final da tarde passarei por aqui para levá-los de volta. Agora terei que ir a Analogicópolis buscar uma mercadoria na filial de lá e por volta das dezessete horas passarei aqui para pegá-los.
            Deixei os dois montando tudo e fui com o Nhô até ao portal. E perto da pitangueira chamuscada:
            - Olhe Nhô, a pitangueira não morreu. As folhas que não foram chamuscadas continuam viscosas!
            - Ieu sabia qui iela é uma árvi muntchu forti, seu Lê!
         - Nhô, olhe aquilo perto da margem do Rio do Peixe! Parece a metade de um jacaré olhando daqui de longe!
       - Vamu lá pertu oiá mió, Misifiu – respondeu-me o “Véi” e acelerou na minha frente:
            - Óia só seu Lê, é a parti di cima dum reptilianu.
       - É mesmo!  E é da cintura para cima. Então ele continuou a tentar a passagem no portal depois que fui dormir.
            - I pelu jeitu ieli só conseguiu passá a metadi dêie, eh! Eh! Eh!
            - Olhe Nhô, a mão direita tem dois dedos a menos e está separada do braço. Só pode ser o HZZY. Vamos pegar a mão e guardá-la num vidro com álcool. Quando o Kobauski vier aqui a gente mostra prá ele, OK?
            - Ocê qui manda, Misifiu! Vô interrá u restu numa cova qui ieu vô abri atrais daquelas pedra pertu du riu qui ieli já  tá fedenu pur dimais.
            Depois de coletar a mão do reptiliano, e o Nhô enterrado o resto, voltei para meu cafofo e o Nhô foi cuidar do almoço, pois hoje teríamos visitas.
            Por volta do meio dia paramos a montagem dos móveis, da banheira de hidromassagem, do sistema de TV, som, rádio-amador e fomos almoçar no varandão da cozinha. O danado do Nhô caprichou no frango com quiabo, couve, angu, saladas, e para abrir o apetite, alguns trago da purinha:
            - Nhô, eu sou um apreciador de aguardente e te digo que não existe purinha igual a que o senhor faz em todo o universo – disse o Antão, um dos montadores.
        - Eh! Eh! Eh! É diveras, Misifiu, nu universu qui nóis cunhecemu, num exesti memu! Né seu Lê?
            - Ah! Ah! Ah! É mesmo Nhô, nem a do Zé das Flores lá em Terra II, ah! Ah! Ah!
            - Eu não entendi nada – disse Antão.
            - Isquéci intonsi, Antão i vamu armuçá!
            Por volta das treze e trinta e um minutos recomeçamos na montagem e lá pelas dezesseis e trinta e um minutos tudo estava pronto e aguardávamos no varandão do Nhô quando:
            - Óia aqui meus amigu u qui ieu perparei: mandioca frita; linguiça i xuriçu di java-porcu – qui a Xerê feis -, i caipirinha di lima cum bastanti gêlu.
       - Nhô, o senhor é o cara – disse o Antônio, o outro montador.
            Foi só começarmos a festa e o caminhão da loja do Bahia Júnior buzinou no portão. O Nhô levantou-se do banquinho, em que estava sentado, e fez sinal para o motorista vir lanchar.
            Uma hora depois
            - Muito obrigado pessoal – agradeci aos funcionários da loja de móveis e eletro-som.
            - Quandu oceis quizé vim pescá ieu tô a disposição – ofereceu-se o Nhô.
            - Tá bom Nhô, nós é que agradecemos! E te garanto que nunca bebi um suco de graviola tão gostoso como o que fizeste – elogiou o motorista.
        - Eh! Eh! Eh! Ieu caprichei, modi qu'ocê num bebi caipirinha!
            Os três subiram no caminhão e deram adeus.
            - Nhô, eu vou lá pro meu cantinho. Tô doido para tomar um banho de banheira e relaxar ouvindo música.
          Por volta das dezenove horas e trinta e um minutos alguém bate na porta:
            - Sô ieu seu Lê, vim ti buscá prá tomá, mais eu i a Xerê, um cardu di inhami cum torrada! Bora lá?
            - Tô pronto, “Véi”! Do jeito que estou comendo, aqui no sítio, vou passar dos oitenta quilos não demora.
            - Eh! Eh! Eh! Vai nada, Misifiu. Ocê cómi muitchu pocu.
            Saboreei o caldo e vi pela primeira vez a Maria Rita comendo uma papinha, aliás, o mesmo caldo encorpado que estávamos degustando e falei:
            - Esse caldo não e muito pesado para ela Xerê?
        - Não é não seu Lê, eu tirei as carnes e amassei bem as torradas que misturei no caldo. Ela adora essas papinhas com "sustância" – respondeu-me a Xerê.
            - Eh! Eh! Eh! Pára di dá a papinha Xerê. Dêxa u seu Lê vê u qui iela apronta – pediu o Nhô e a esposa obedeceu. Quando a Ritinha viu que a Xerê tirou o pratinho de perto dela, começou a espernear, balançar os bracinhos e iniciou um berreiro:
         - Ah! Ah! Ah! Essa guria é boa de garfo – disse a Xerequéia e voltou a dar a papinha e a Ritinha se acalmou. Foi engraçado  vê-la papando e seus lindíssimos olhos lacrimejando.
         Após a janta, enquanto Xerê mimava a Ritinha, eu e o Nhô fomos ao meu cafofo ver as estrelas no telescópio e prosear, e ele na sua esperteza, me perguntou:
            - Ocê acha qui consegui vê Arret ou Terradois cum essi aparêiu, Misifiu?
            - A constelação onde está Arret até que dá para ver Nhô mas, Arret não. É muito longe. Terra-II está muito, mas muito longe mesmo; talvez fique localizado além de nossa imaginação.
            Ficamos até perto das vinte e três horas conversando até que:
            - A prosa tá muntchu boa, Misifiu, mai vô pru meu cantin drumi mais minhas mininas, banoiti!
            - Boa noite Nhô! Também vou dormir.

Continua dia 19/07/2013 em:
em
VIRTUÁLIA

Um comentário:

  1. Para entender este texto tu tens que ir lá no início dos textos. Com o passar da leitura dos primeiros textos é que irás entender -
    cronologicamente -,este e os outros, até o final, ok?
    Se quiseres contatos eis meu e-mail:
    lecinof@gmail.com

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