sexta-feira, 26 de julho de 2013

VIDA EM VIRTUÁLIA= Lê e o Milagre

ARRET
A NOVA MORADA


 e o
MILAGRE


            Fechamos os olhos e eu firmei meu pensamento em Arret, nos arretianos e no Kobauski.
            De repente um foco de luz fortíssimo começou a se formar entre as duas árvores de pitangas e o portal começou a abrir surgindo Kobauski e Etevaldo:
            - Lê, o que está acontecendo? Quem são esses seres?
        - Deu certo Rô! Consegui contato com Kobauski. Foi porque segurei sua mão com o anel do chip que tiraram do meu cérebro!
       - Seu Lê, dona Rô, que bom vê-los juntos – disse o Kobauski.
       - Tudo bem pessoal – falou sorrindo o Etevaldo.
      - Lê, eles me conhecem e eu nunca os vi antes!
     - Eu sou Kobauski, dona Rô e, a conheço há muitos e muitos anos. Fui eu que coloquei vocês no mesmo caminho há trinta e um anos, naquele projeto de minério de alumínio no meio da floresta Amazônica – Rô ficou sem entender nada e me falou:
         - Lê, eu não estou entendendo nada eu...
       - Calma Rô, logo você vai entender, mas tenha calma – tentei acalmá-la e dirigi-me ao comandante.
       - Eu estava preocupado Kobauski, mentalizei você por várias vezes e não consegui nada... – o Comandante me interrompeu:
         - Lembra quando tiramos o coágulo que tinha no teu cérebro lá em Arret? Pois é, nos trocamos o chip antigo por outro que demoraria a entrar com os dados em sua memória. Este novo chip vai ser um complemento, ou seja, uma memória à parte, do teu cérebro. O que aconteceu foi que mentalizaste no tempo em que ele não estava, ainda, em atividade. Começou a funcionar há poucos minutos.
      - Uma pergunta comandante: quando retirastes o coágulo houve também interferência na minha coluna cervical? Eu tinha muita dor no pescoço também, e ...- Kobauski me interrompe:
       - Sim seu Lê, você teve uma lesão na terceira e quarta vértebras. Para a ciência atual da Terra o senhor estava tetraplégico, mas interferi com os nossos conhecimentos e técnicas.
        - Está entendendo Rô? Será que os milagres são   realizados assim?
            - Não Lê, não estou entendendo nada! O que os senhores são? Anjos dos céus, por acaso?
            -Calma Rô! Esses são meus amigos de Arret. São daquela raça que te falei quando expliquei sobre a abdução!
            - Então foram vocês que curaram o meu Lê do coágulo e da sequela na coluna?
            - Em partes sim dona Rô! Seu Lê, tudo vai continuar como antes, certo? É só me mentalizar que eu venho até ao senhor. Como sempre, partindo de Virtuália para irmos a Terra-II, Arret ou outra região do universo.
        - OK, Comandante! Poderei levar a Rô numa próxima viagem?
          - Por enquanto não! Ela terá, primeiro, que se adaptar entre o real e a vida em Virtuália. Depois, com certeza, iremos todos juntos. Ela só o encontrará aqui em Virtuália. Quando o senhor não está  em Virtuália ela não conseguirá a transição. Entendidos?
            - Entendi Comandante – respondi-lhe.
       - Eu ainda não "processei" tantas informações, mas vou chegar a um raciocínio lógico, meu senhor!
            Pensei comigo:
            - “Essa é a minha Rô!”
       - Creio que me chamastes para saber o que está acontecendo no portal, não é isso- perguntou-me o Kobauski.
            - Sim, Comandante, eu e o Nhô vimos um clarão, a alguns dias desses, e uma bola de fogo saiu dele subindo acelerado rumo ao infinito e explodiu como uma ogiva nuclear a milhares de quilômetros de nossa atmosfera. Eu não... – fui interrompido:
            - Era o HZZY que tentou ultrapassar o portal. Ele foi esperto, ou seja, colocou a nave dele em controle remoto e usou o código para abrir o portal. Porém, o sistema do portal não reconhecera a espaçonave dele, que era de origem reptiliana. O portal abria e fechava até que ele acelerou ao limite a potência de deslocamento da nave e esta, numa das brechas de abertura, passou e o atrito com as bordas do portal, se fechando, fê-la incendiar-se e ganhou ainda mais velocidade em direção ao infinito do espaço-tempo de Hy –Brasil. Como o sistema de propulsão daquela nave era nuclear houve a desintegração termonuclear.
            - Caramba, Kobauski, não morreu ninguém no interior da nave – perguntei-lhe.
        - Não! Como já disse, ela estava no controle remoto à distância e sem ninguém no seu interior.
            - E o Saile, que sempre estava em companhia do HZZY, não estava com ele?
           - Não seu Lê! Eles, antes disso, haviam voltado para Terra-II. O Saile ficou por lá e HZZY conseguiu ir até Arret sozinho. Lembras que conversamos sobre a raríssima inteligência desse reptiliano? Pois é, ele conseguiu chegar até Arret. Assim que ele entrou no nosso sistema solar passamos a monitorá-lo. Vimos o que ele pretendia, ou seja, ele sabia que para vir à Virtuália, teria que ir a Arret e entrar no wormhole que nos trás até aqui. O portal não é nada mais que a ligação de Arret para Hy-Brasil via wormhole. Por isso é que só de Arret podemos vir para cá e vice-versa.
            - Mas o que ele queria em Hy-Brasil, Kobauski?
            - Ele queria te abduzir, seu Lê – respondeu-me.
            - A mim? Para quê?
     - Pelo seu novo chip implantado. Nele consta todo o conhecimento mais avançado de Arret. Ele iria destruí-lo, seu Lê, pois só assim conseguiria o chip.
            - Mas Kobauski, você falou em “todo o conhecimento mais avançado de Arret” porém, me sinto com a mesma bagagem de conhecimento de antes?
     - Eu sei meu amigo! Esse chip está com esses arquivos bloqueados por enquanto. Só quando estiveres com o pessoal de Arret ou em Arret, ele é desbloqueado. O que consta nele não se mistura com sua memória biológica. E nem é absorvido pelo seu organismo como o senhor pensava.  
        - Acho que, apesar de ser demais avançado para a ciência da Terra, eu entendi.
       - Lê, do que vocês estão falando? Eu estou me sentindo como que ouvindo a conversa entre malucos!
            - Rô, por favor, esta conversa é muito importante. Se você preferir pode voltar à sede do sítio e ficar com a Xerê e a Ritinha. Eu tenho que... – Rô me interrompeu:
            - Negativo! Já que vim para esse mundo eu pretendo ficar a par de tudo e... e...
            - O que está acontecendo Rô – perguntei-lhe assustado vendo que ela estava ficando pálida.
            Kobauski tirou do cinto o desmemorizador e pediu:
            - Dona Rô, olhe para isto!
            Ao olhar Rô ficou paralisada como um autômato e gritei com Kobauski:
            - O que você fez com a minha Rô, Kobauski?
            - Calma meu amigo! Ela estava despertando para a vida real. Quando ela acordar lá em Minas Gerais vai pensar que foi tudo um sonho. Agora vamos levá-la ao 147 que ela tem que retornar  para Minas Gerais.
            - Ah! Entendi! Desculpa-me os gritos amigo – falei meio constrangido.
            - Eu te entendo seu Lê!
          Fomos até meu cafofo e colocamos a Rô no 147 e o levamos para a estrada do sítio.
           - Pronto seu Lê, dentro de um minuto ela vai sair do transe e acordar em uma cama do hospital onde você está internado, lá na real vida mineira.
            Bejei-lhe os lábios, a face, testa e falei-lhe:
          - Daqui a pouco vou estar contigo, na realidade, meu pitéu!        
            Saímos dali e fomos à sede do sítio:
            - Nhô! Ei Nhô - gritei enquanto me aproximava.
            - Ieu tô aqui na horta coienu legumi fresquim prá papinha da Ritinha. Vem cá! A Ritinha tá aqui maizeu.
            - Nhô, adivinha quem está aqui em Hy-Brasil, aliás, aqui no teu sítio?
            - É u Kobausqui i u Etevardu. Ieu vi quandu ocêis passaru na istradinha qui sóbi prô seu cafofu. A dona Rô já foi simbora, Misifiu?
            - Já Nhô! Ela teve que retornar urgente. O senhor também viu ela indo embora?
           - Vi ocêis colocanu iela nu carrin marrão; aí ieu fui colocá a chupeta na boca da Ritinha i quandu oiei di novu u carru i iela tinha si pirulitadu, eh! Eh! Eh! Feiz iguá u sinhô, ô cheja, chega i vai imbora dirrepenti.
            - O Kobauski e o Etevaldo querem conversar com a gente Nhô – falei-lhe.
            - Tá bão! Ispera ieu dibaxu dus pé di carambola qui ieu já vô lá. Vô só intregá a Ritinha prá Xerê. Iela tá fazenu u armoçu i ieu vô pedi préla armentá a quantidadi, eh! Eh! Eh! I tamém falá qui a patroinha tevi di í simbora urgenti!
            - O Kobauski e o filho dele já estão nos aguardando lá, Nhô. O Comandante estava com saudade e vontade de saborear carambolas daqui do teu sítio.
            Quinze minutos depois:
        - I foi issu qui u seu Lê falô prôceis é u qui nóis vimu, Kobausqui – falou o Nhô entregando a mão direita do reptiliano que estava num vidro com álcool.
         - Vou levar para Arret e analisar. Vamos fazer testes de DNA. Lá temos amostra do sangue do HZZY armazenado. Nós usamos o sangue dele para fazer vacina para os reptilianos que habitavam os subterrâneos do oriente médio de Terra-II, lembra-se seu Lê?
            - Ah! Lembro-me sim!
            - Kobauski, e se esta mão não for do HZZY?
         - Seu Lê, vamos aguardar o resultado da análise; não vamos lançar hipótese sobre o assunto, OK?
            - OK, Comandante! Tem toda a razão.
         - Mas fiquem tranquilos que qualquer dúvida ou ocorrência o senhor  pode me chamar, pois com esse novo chip virá eu ou o Etevaldo. E tem outra coisa, se você quiser retornar para a irreal vida normal é só firmar pensamento naquela vida e irás para lá.
            - OK, amigo!
            - Seu Lê, u sinhô num vai falá prêli da famía du seu Frô – perguntou-me o Nhô.
       - O que tem a família dele, seu Lê – perguntou-me o Etevaldo.
            - Eles estão querendo retornar para Virtuália, Etevaldo!  
            - Se é de gosto deles vamos trazê-los de volta. Vamos para Terra-II daqui a cinco dias terrestres. Vocês querem ir – perguntou-nos o Kobauski.
            - Ieu inté qui gostaria Kobausqui, mas num possu dexá minhas minina sozinha aqui nu sítiu i ieu... – Nhô foi interrompido:
            - Eu sei disso Nhô e te entendo – disse o Comandante.
            - Seu Lê, com certeza, o senhor irá conosco, estou certo?
            - Pode contar comigo, Kobauski! Vamos trazer os Flores e o Juliano para a antiga rotina de Virtuália.
            - Ei pessoal, o almoço está pronto – gritou a Xerê.
            - Eh! Eh! Eh! Vamu lá Kobauski, Etevaldo i seu Lê qui u pratu hoji é lombu i custelinha di java-porco – disse-nos Nhô.
           
            O almoço, regado a suco de laranja e acerola, foi alegre e farto até que, por volta das quatorze horas:
            - Bem meus amigos, temos que voltar para Arret. Daqui a cinco dias voltarei para buscá-lo seu Lê! Obrigado pelo almoço Nhô e dona Xerê!
          Despedimo-nos e, eu e o Nhô, acompanhamos os arretianos até próximo ao portal e os vimos partindo. De volta à sede do sítio:
            - Nhô, vou voltar para onde está a patroinha e daqui a quatro dias eu retornarei, OK?
            - Tá bão, patrãozinho i num isqueça qui temu qui colocá a bateria na vermeiona, si não iela nem liga u motor, eh! Eh! Eh!
            Depois de deixar a GMC em ponto de viagem despedi-me do Nhô, Xerê e Ritinha:
            - Até daqui a quatro dias meus amigos!
            - Inté, intão seu Lê!
            - Até logo e de um abraço na dona Rô – disse-me a Xerê.
            Entrei na GMC, dei partida e fui...

            Na UTI do hospital em Minas Gerais:
            - Dr. José Walter! Corra até aqui que o Lê abriu os olhos – gritava a Rô; os médicos e duas enfermeiras vieram correndo:
            - Ôi pessoal! O que aconteceu? Rô o que faço nesta cama de hospital? Eu...
            - Você está voltando de um estado de coma de vários dias, meu amor!
            - Ah! Agora me lembro! E o teco-teco do Nilton? E as minhas coleções de Max Lott e Sobrinhos do Coronel... e você come está?
            - Estou bem e muito melhor agora! Foi um milagre, Lê! Você está curado de tudo!
            - E nossos filhos, nossos netos como estão eu...
            - Eles virão visitá-lo tão logo você saia desta UTI e ir para o quarto, OK?
       - Por favor, dona Rô, o seu Lê tem que passar por uns procedimentos e tem que ser agora!  A senhora terá que sair! Assim que possível a senhora poderá retornar, OK? – falou Dr. Walter.
            - Tá bom, doutor – Rô me deu um beijo e me disse:
            - Vou dar a boa notícia aos nossos filhos e amigos, OK?
            - OK, meu pitéu, até logo!
            Após os procedimentos o Dr. José Walter me disse:
            - Seu Lê, o senhor ficará na UTI por mais uma semana e depois mais uma semana no quarto. Dependendo do avanço de sua melhora dar-lhe-ei alta, OK?
            - OK, doutor, obrigado!
            - Vou chamar a sua esposa, pois tenho que conversar com ela e com o senhor juntos.
            O doutor chamou a Rô e começou a falar:
           - Bem amigos, o Lê  vai permanecer na UTI, como já  disse a ele, por mais uma semana. Uma operação no cérebro é um procedimento muitíssimo delicado, mas creio que não ocorrerão sequelas. Você, agora que despertou, terá as  sessões de  fisioterapia intensificada. Espero que saia da UTI, para o quarto, andando, OK amigo?
            - Ele vai doutor, ele vai, pois isso faz parte do milagre.
          Quando o doutor José Walter saiu, a Rô contou-me o sonho que teve nas vinte e quatro horas que dormiu no quarto do hospital e eu lhe falei:
          - Eu sei desse “sonho” Rô, pois eu estava nele! Não estava?
           - Estava e parecia tão real, mas eu não me lembro direito o nome das pessoas que participaram desse sonho. Só sei que não eram deste mundo. Mas, sonho é sonho, não é Lê?
            - Talvez Rô, talvez!
            Eram dezoito horas e trinta e um minutos quando o Dr. Walter chegou até mim e a Rô, acompanhado do chefe da enfermaria e disse-nos:
            - Amigos, o seu Lê vai ser sedado e, provavelmente irá dormir por mais de quinze horas seguidas. Vamos fazer-lhe vários exames e ele precisará estar nessa situação, portanto, dona Rô, a senhora poderá ir para casa.  Os seus filhos estão aí fora e vou abrir uma exceção e deixá-los visitar o pai. Entrarão um por um e terão dez minutos cada um. Daqui a meia hora voltarei para começarmos o procedimento, OK?
                - OK, doutor, mas vou ficar junto com o Lê até cada um dos meus filhos terminar a visita; irei embora com eles - disse a Rô irredutível.
           Todos os meus três filhos com as noras vieram, porém meus três  netinhos não lhes foi permitido entrar e passado meia hora tiraram-me os sentidos.
Continua em 04/08/2013
UMA NOVA RAÇA


sexta-feira, 19 de julho de 2013

VIDA EM VIRTUÁLIA= Rô em Virtuália

ARRET
A NOVA MORADA
 em
VIRTUÁLIA


            Naquelas primeiras horas da manhã, em meados de primavera, os canteiros de flores da Xerê, tornava a parte da frente da casa do sítio uma das entradas do paraíso. O tapete verde de grama esmeralda se sobressaía entre os diversos tipos e cores de flores que os ladeavam.
            Nhô, Xerê e eu conversávamos, na varanda da cozinha,  sobre as perturbações do sol, de nossa Terra, de Hy-Brasil  e da região Virtualiana do Rio do Peixe.  De repente eu senti, aliás, só eu senti, um perfume que era familiar às minhas narinas. Aspirei profundamente e segurei o ar e pensei:
            - “Ahhhhhh! Esse aroma tem a magia do sorriso da Rô! O que será que...” – um intermitente biiiip... biiiip, de uma buzina de carro, tirou-nos a tranquilidade. Nhô, que estava em pé, foi até onde dava para ver a frente da casa e nos disse, ao ver quem era:
            - Tem um carru piquenu i marrão, cum uma muié piquena drentu!
            - Faça sinal para que ela venha até aqui Nhô – falei-lhe e ele a chamou fazendo sinal com a mão direita.
          - É uma minina, seu Lê, iela tá cum vistidim azú, sandainha i u cabelu di rabu di cavalu!
            - Bãodia moça, percura pur arguém?
            - Eu estou meio confusa! O senhor poderia me dizer onde eu estou?
            Reconheci a voz e corri ao portão. Olhei fixo para a pessoinha que abriu um lindo e conhecido sorriso  estendendo  os dois braços, para  abraços, e disse:
            - Consegui! Consegui chegar até você!
       - Rô, você conseguiu! Você levou a sério o meu último pedido!
            Foram muitos beijos e abraços até que:
        - Ocê num vai apresentá essa bunequinha prá genti, Misifiu?
       -Claro, meus amigos! Nhô e Xerê esta é minha patroinha, a Rô!
        - Inté quinfim nóis ti conhecemu. O seu Lê falava muntchu di ocê i falô qui um dia ocê vinha visitá nóis! Ieu sô Antonho Jeromo da Conceição mais cunhecidu comu Nhô Antonho Benzedô i essa véia é a Sara Léia; Xerê prus mai chegadu!
            - O prazer é meu! 
         - O prazer é nosso em  conhecer o grande e único amor do seu Lê.
         - Minha véia, vamu dá um passeiu cum a Ritinha préla pegá um pôco di sor; us nossu amigu tem muntchu qui conversá.
            Ao ver a Ritinha Rô falou:
            - Que encanto de garotinha! Vocês estão de parabéns!
            - Obrigada dona Rô! Mais tarde a gente proseia melhor, tá bom?
            - Sim, dona Xerê, vai ser um prazer!
            Peguei a mão da patroinha e fomos caminhando rumo às margens do Rio do Peixe e ela me disse:
           - Engraçado, mas parece que você está mais jovem! O mais intrigante é que nós podemos nos tocar como fazíamos quando estávamos juntos lá em Minas Gerais.
            - É difícil de explicar Rô, mas com o tempo entenderás. O importante foi que você  fez tudo que te pedi. – olhei para seu rostinho e disse:
            - Você está linda como sempre!
            - Obrigada Lê, você sempre foi muito amável, galanteador e exageradamente gentil mas, não fiz tudo exatamente como pedistes... – interrompi a sua fala:
      - Como então conseguiste vir até mim?  Eu... - fui interrompido:
           - Lê durante a extração do coágulo de seu cérebro o Dr. José Walter retirou também o chip, ou melhor, o corpo estranho como ele chamou. Ele retirou o chip e me deu. Ele queria fazer uma análise e eu não deixei,  pois queria guardá-lo de recordação. A partir daí mandei fazer o anel de um brinco, antigo e quebrado, de ouro que eu não usava mais. Resumindo: Você não morreu, mas está em coma induzido há treze dias.
            - Há então é por isso que não consegui ir até você: o coma está sendo induzido – raciocinei alto.
       - E o que é melhor, meu amor, você mexeu as pernas e apertou a minha mão mesmo estando desacordado.
           - Então não tive lesão na coluna?
           - Teve sim, mas por milagre, a lesão desapareceu!
           - Isso deve ter uma explicação lógica com certeza, Rô!
            - Claro que tem!  Foi milagre divino, meu amor!
            Conversamos tanto e trocamos tantos afagos que até  nos esquecemos do almoço. Os meus dois amigos não nos perturbaram com nada e, por volta das dezesseis horas, eu perguntei-lhe:
          - Que carro é aquele no qual  você veio?
        - É o 147 ano 1976, marrom no qual você aprendeu a dirigir. Lembra-se dele?
          - Sim, claro! Vamos até ele. Vou matar a saudade, vendo de perto e, o tocando – chegando próximo ao veículo de origem italiana, mas fabricado no Brasil: 
        - Caramba! É ele mesmo, a placa com os números 0031 nunca esqueci! Mas está novinho eu... – Rô me interrompeu dizendo:
       - Quando o comprei ele estava meio surrado, mas mandei reformar e colocar tudo original.
            - Ah! Então está explicado a placa na cor preta!
            - Isso mesmo, igual a sua GMC; não é?
            - Justamente! Vamos até nossa suíte. Posso ir dirigindo?
            - Claro Lê, vamos lá!
            Chegando ao cafofo:
      - Nossa Lê, que cafofo “chique”! Tem certeza que não estamos no paraíso?
            - Pode até não ser o paraíso, mas  ele deve de ser assim! 
          - “Amore”, vamos lá conversar com seus amigos, afinal não aparecemos nem para almoçar.
            - Tem razão Rô, vamos lá. O Nhô deve estar preparando a janta.
            - Esse aroma que vem lá da cozinha será a refeição que o Nhô está fazendo?
            - É sim! Ele está caprichando. O Nhô é o Nhô, ah! Ah! Ah!

            Depois da deliciosa janta e de muitas trocas de palavras a Xerê falou:
            - Já está na hora de levar a Ritinha prô berço. Vou dar mamadeira a ela e, também, vou me recolher. Vamos ter muito tempo para conversarmos dona Rô. Boa noite a todos! Venha Antônio que você já está até “pescando” sem vara, ah! Ah! Ah!
            - Eh! Eh! Eh! Tô memu, ieu tô druminu sentadu!
            - Boa noite meus amigos – disse a Rô e prosseguiu:
            - Vamos Lê! Vamos estreiar nosso novo ninho e eu...
            - Pare Lê, o que você está fazendo?
            - Vou te levar no colo até lá, meu pitéu!
            Na manhã seguinte depois de tomarmos café, sentados no banco de madeira feito pelo Nhô, no pequeno jardim que rodeava nosso cafofo:
            - Rô, você antes de me mentalizar para vir até mim, ia dormir?
            - Sim, depois de ficar dois dias acordada ao teu lado no hospital, estava caindo de cansada e ainda tomei um medicamento leve que o doutor José Walter me receitou. Iria dormir por mais de vinte e quatro horas seguidas.
            - Ah bom! Então já fique sabendo de que quando chegar o momento de você acordar lá em Minas Gerais você vai sentir que tem que ir embora e entrará no 147 e...
            - Ah! Então é assim que você fazia quando vinha para cá, não é?
            - É mais ou menos isso Rô – respondi e falei-lhe:
            - Já que está aqui com o anel, vamos caminhar até as duas pitangueiras, lá perto do Rio do Peixe, e fazer uma experiência, OK?
            - Experiência? Ihhhhh! Lá vem você com esses mistérios, não é?
         - Vamos lá, se der certo você vai conhecer uns amigos meus!
           Perto das duas pitangueiras:
       - Dê-me as mãos Rô e procure não pensar em nada. Deixe que só eu mentalize algo, OK?
           - OK, vamos lá!


Continua 26/07/2013 em:

 e o
MILAGRE





sexta-feira, 12 de julho de 2013

VIDA EM VIRTUÁLIA: PERTURBAÇÕES NO PORTAL


ARRET
A NOVA MORADA
PERTURBAÇÕES NO PORTAL DAS 
PITANGUEIRAS

            No domingo - na parte da manhã -, eu, Nhô, Xerê e a Ritinha, que estava no carrinho de bebê, fomos às margens do Rio do Peixe. Passamos horas pescando nosso almoço. Como sempre foi o Nhô quem pescou enormes surubins e bastou para refeições de, pelo menos, três dias. Os outros peixes que pegávamos os soltavam de volta no rio.
            Depois do almoço, por volta das quatorze horas e trinta e um minutos procuramos nossos cantos para a soneca pós-almoço, ainda mais com a chuva fina e contínua que começava. Dormi direto.
             ...

            Na segunda-feira, por volta das dezoito horas eu e o Nhô terminamos a pintura das paredes, das portas e janelas:
            - Está pronto Nhô! Ficou melhor do que eu esperava.
            - Ficô um treim di doidu, Misifiu – respondeu meu velho amigo e prosseguiu:
            - Puruque ocê perferiu fazê esti cafofu aqui nessi morrêti i afastadu das árvi, seu Lê?
            - É que daqui eu vejo as duas pitangueiras do portal e é pertinho da sede do sítio Nhô – respondi-lhe e emendei:
            - Daqui eu tenho o céu aberto para ficar olhando com o telescópio que encomendei, e que já deve ter chegado, na loja do Bahia Júnior.
            - Tá certu, Misifiu! I tem inté lugá prá ocê guardá um carru piquenu; é só fazê um puxadim coladu nu fundu dessi cafofu. A Vermeiona ocê podi dêxa lá nu garpão memu!
            - Se um dia eu tiver outro carro, e pequeno, eu farei o puxadinho, “Véi”.
            - Us móvei chega quarta-fêra, num é?
            - É sim Nhô! Quarta-feira, à noite, eu já posso dormir por aqui.  Comprei tudo que precisava inclusive roupa de cama, banho  e mesa.
            - Ocê pensô im tudu, seu Lê! Ôce vai fazê as refeição mais ieu i a Xerê num é?
       - Isso eu não troco por nada, Nhô e ajudarei vocês na cozinha, tá bom?
            -Ôce qui sabi i manda patrãozim, linhais, vamu lá prá cunzinha fritá uns pintadu prá janta qui já passa das séti da noiti!
            - OK, Nhô! Antes de ir dormir, lá no quarto de visita da sua casa, eu vou voltar aqui para terminar a faxina. Aí é só esperar os móveis.
            Por volta das vinte e três horas eu resolvi ir dormir. Tudo estava limpo e, aproveitando que não iria chover, deixei portas e janelas abertas para sair o  cheiro de tinta. 
            Ao descer para ir repousar vi claridade entre as duas pitangueiras:
            - Caramba, tem claridade entre as pitangueiras! Será que... não, não pode ser a claridade sumiu. Foi impressão minha!
            Desci e ao chegar à varanda da cozinha do sítio o Nhô me esperava:
            - Ocê, pois reparu lá pras bandas du portá, Misifiu?
            - Sim Nhô! Deu-me a impressão de ter visto claridade lá – respondi-lhe.
       - Ieu tamém, Misifiu! Intão si nóis dois vimu num foi empressão nossa, né memu?
            - É isso mesmo, Nhô!
       - Vamu tomá um cardu di fejão temperadu cum torrada inhantes di drumí, seu Lê? A Xerê já apagô; a Ritinha dêxa a minha véia pregadona, eh! Eh! Eh!
            - Ela é uma ótima mãezona, “Véi”!
          Ao entrarmos na cozinha, ouvimos um estrondo e nos viramos e lá estava o clarão.
            - Uma explosão? Não pode ser o pessoal de Arret, Nhô! Tem alguma coisa estranha acontecendo!
            De repente uma enorme bola de fogo saiu do meio das pitangueiras e rumou para o espaço; foi diminuindo, diminuindo ...  até que desapareceu de nosso campo visual.
            - Ocê viu issu, num viu, Misifiu?
         - Vi sim Nhô – respondi e continuei olhando para o espaço em direção onde a bola de fogo havia desaparecido e de repente:
      - Olha Nhô, na direção onde “aquilo” sumiu – falei apontando para o espaço.
            - U qui qui é issu, seu Lê?
       - Parece uma, mas não tenho certeza, explosão termonuclear, meu amigo. Ainda bem que deve ter ocorrido a mais ou menos um milhão de quilômetros da nossa estratosfera.
          Distraímos-nos olhando aquilo, que para muitos seria um fenômeno da natureza, e não percebemos que havia fogo perto das pitangueiras;  foi a Xerê que, acordando com o barulho, viu e gritou:
            - Olhem meninos, tem fogo lá pros lados do Rio do Peixe!
        Eu e o Nhô corremos  ao galpão e  colocamos pás, enxadas, baldes na carroceria da GMC e aceleramos a Vermelhona até lá.
            Ao chegarmos ao local:
            - Olhe seu Lê, a grama qui fica nu meiu das pitanguêra, tá toda chamuscada i u fogu si ispaiô prô capinzá!
         Peguei o extintor grande de água pressurizada que sempre trago na carroceria da GMC e corri:
            - Nhô, vou apagar o fogo que está na pitangueira à nossa esquerda. Não sei se essas pitangueiras tem alguma coisa a ver com o portal, mas não vou deixar o fogo acabar com nenhuma delas.
            - Tá bão, Misifiu! Ieu vô roçá, cum a foici, us arbustu qui tão despois du fogu; inda bem qui num tem ventu.
        Ficamos quase uma hora combatendo o incêndio e vencemos. Nunca tinha visto um homem com tanta agilidade como esse meu amigo, e com mais de  oitenta anos.
            - Eh! Eh! Eh! Nóis conseguimu, seu Lê! I a pitanguêra, comu iela ficô?
            - A maior parte o calor do fogo a chamuscou, Nhô! Não sei se ela vai sobreviver!
            - Vai sim, Misifiu! Aminhã nóis vem aqui i póda ondi foi quemadu. Iela é uma árvi forti!
            - Será que tem alguma influência no portal? Se tiver o pessoal de Arret só vai aparecer quando ela voltar a ter mais  folhas.
            - Tarveis! Vamu dexá u tempu cuidá dissu, Misifiu!
           - Tem razão “Véi”! Começou a ventar e se tiver algum foco ou alguma brasa, o fogo pode recomeçar!
        - Ôce num fechô as portas i as janelas du teu cafofu, Misifiu? Vamu vortá lá i fechá qui vai chovê – concordando, fomos até lá na GMC, fechei tudo e descemos para a sede do sítio.
            Em alguns minutos, em que saboreávamos o “feijão-amigo” com torradas, a chuva caiu. Começou mansinha e se transformou em um aguaceiro e o Nhô falou:
            - Agora num tem veis prô fôgu, seu Lê, i vai refrescá toda a mata chamuscada.
            - A chuva sempre é abençoada e bem vinda, não é Nhô?
            - Cum certeza, seu Lê!

            Na manhã seguinte, ou seja, na terça-feira, junto das duas pitangueiras:
            - Ansim didia dá prá vê qui u istragu foi grandi numa das pitanguêra, Misifiu.
            - Tens razão Nhô e se as nossas viagens pelo wormhole dependerem dela fazer parte do contexto, jamais veremos o pessoal de Arret e Terra II.
            - É difici sabê, seu Lê. Mai vamu cuidá dessa pitanguêra começanu a podá iela. Vamu dexa só os gaios qui tem fôias viva, tá bão?
            -Tá certo, mas  gostaria de saber o que aconteceu por aqui ontem à noite.
            - U Kobausqui dédi  sabê, seu Lê!
            - Com certeza, “Véi”, mas tento contactar com ele e não consigo. Aí eu fico pensando se é por causa do coágulo que tirei do cérebro ou se foi pelo que aconteceu ontem à noite.
            Depois de tratarmos da pitanguiera, ou seja, podando-a e limpando todo o seu  entorno:
            - Ocê dédi tê pacença seu Lê! Dias mió virão!
            - Tá certo, Nhô! Eu tenho a impressão que em Virtuália o tempo não existe e... – Nhô me interrompeu:
            - Seu Lê ieu tenho qui levá argum sacu di café prontu prá torrá qui vendi lá im  Virtuáia, ocê mi ajuda?
            - Claro meu “chapa”! São aqueles cinco sacos que estão lá no galpão?
            - É eis memu!
            - Vou colocá-los na GMC e...
            - Não seu Lê, nóis vai di carroça. O Bittencourt tá...
          - Já sei: o pangaré tá mais gordo do que os capados de java-porco, não é isso?
            - Eh! Eh! Eh! Issu memu, meu amigu. Despois du armoçu nóis vai, tá bão?
            - Ótimo Nhô! Vou passar lá na loja de eletrônicos do Bahia Júnior ver se o telescópio, que encomendei, chegou!
            - Intão tá intão. Vamu lá prá casa qui a Xerê já dédi tê terminadu u armoçu.
            - OK! Vamos lá!
            Às quinze horas e trinta e um minutos, após entregar os cinco sacos de café na cooperativa fomos até a USV. E na sala do Oscarzinho:
            - Sim, seu Lê e Nhô, nós detectamos no sismógrafo, daqui da universidade, um leve abalo de menos de meio grau na escala convencional. Não há motivos para nos alarmarmos; a intensidade foi muito pouca. Talvez alguma acomodação no subsolo de Hy-Brasil.
            - Tá bom reitor, já que pensas assim, até logo. Qualquer novidade venho te contar, OK?
            - Serei todo ouvido seu Lê! Até logo senhores!
           
            Do lado de fora da USV:
        - Ocê num sintiu firmeza im falá prô Oscarzim sobri a ixplosão nu céu né, Misifiu!
            - Não Nhô, de jeito maneira! 
           - Óia seu Lê, são quaji desessete hora, vamu vortá prá casa qui num sabemu u qui pódi acontecê lá nu locá du portá quandu cumeçá a iscurecê, num é memu?
            - Bem lembrado, “Véi”! Já que resolvemos tudo por aqui podemos ir.  Peguei até meu telescópio lá no Bahia Júnior.
             O Nhô ajeitou o arreio do Bittencourt e perguntou a ele:
            - Ocê tá discansado, meu amigu pangaré? Cumeu toda a aveia cum milhu qui coloquei nu coxim qui nóis sempre trais na carroça, não é? Bebeu toda a água i agora vamu simbora prá casa, certu?
            O cavalo deu dois relinchos diferentes e o Nhô me disse:
            - Ieli falô cum essis relinchus: - Demorô, “Véi”!
            - Ah! Ah! Ah! O senhor é um pândego, Nhô! Ah! Ah! Ah!
         Às dezoito horas e trinta e um minutos chegamos à varanda do sítio e a Xerê se antecipou dizendo:
          - Meninos, ainda agorinha ouvi um barulho lá pelas bandas do Rio do Peixe, parecia barulho daqueles foguetes de vara,  que a gente solta nas festas juninas, mas só fazia o barulho da pólvora queimando quando ele sobe não acontecendo explosão nenhuma!
            - Ocê viu argum crarão Xerê – perguntou o Nhô.
            - Não! Talvez porque ainda estava claro.
            - Nós vamos ficar prestando atenção Xerê. Não precisa ficar assustada, OK?
            - Tá certo seu Lê! Minha preocupação é com o barulho que pode incomodar minha bisnetinha.
            - Se vocês quiserem passar  água nos rostos, ainda dá tempo. A janta estará pronta em meia hora – disse-nos a Xerê.
            - Ieu vô lavá as fuça na bica di água despois di livrá u meu pangaré da carroça- falou o Nhô.
           - Eu vou tomar um banho bem rápido e fazer essa barbicha que já está até coçando – falei retirando-me dali.
            Após o jantar:
            - Nhô, vou lá pro meu canto! Vou montar o telescópio na varanda e armar lá uma rede. Vou ficar na vigília do céu e atento na região do portal.
            - Tá bão, Misifiu! Carqué coisa ocê mi chama.
            - OK! Boa noite Nhô e boa noite Xerê – antes de sair dei um beijo na Ritinha que estava acordada e com os lindos olhos cor de mel arregalados observando tudo.
            Por volta das vinte e quatro horas terminei de montar o telescópio e tive a ideia de direcioná-lo onde, no espaço, tinha ocorrido aquela explosão porém, um clarão perto das pitangueiras chamou-me a atenção. Peguei os binóculos, que ganhei de brinde na compra do telescópio, e vasculhei com os olhos o entorno  do portal e vi:
            - Não é possível, parece que tem alguém querendo acionar o portal e não consegue! Será que tem alguma coisa a ver com aquela bola de fogo que saiu de lá ontem – foquei por alguns minutos onde houve o clarão e tudo estava na mais completa escuridão:
            - Acho que desistiu. Ele não pode passar pelo  portal sem que ele ou a nave tenha o chip; para passar, a pessoa ou tem o chip ou estar dentro de uma nave "chipada", e... – de repente apareceu o clarão novamente e deu para ver um reptiliano tentando ultrapassar o portal porém, aquele não se firmava aberto e o ser retornava.
            - Caramba é um reptiliano! Se o portal tornar a clarear e der para eu ver as mãos dele ... – falei isso e o portal clareou e o ser tentou enfiar as duas mãos pelo pequeno buraco luminoso e gritou de dor e retirou as mãos antes que o portal se fechasse de vez:
            - Pela mão direita, sem dois dedos, não resta dúvida é o HZZY!
            Fiquei ali de “campana” até por volta das duas e meia e pensei:
            - Acho que ele não vai tentar novamente hoje! Vou dormir e amanhã tentarei contatar o Kobauski. Hoje não tenho condições – falei bocejando e deitando na rede.
           
            Quarta-feira, oito horas:
            - Ei seu Lê, quédi u sinhô – gritava o Nhô lá da porta da cozinha.
            Acordei de abrupto e assustado:
            - Caramba – gritei e dei um longo bocejo.  - Acordei muito tarde!
            - Seu Lê, vem tomá café mais us mininu qui vinhéru trazê us seus móvi!
            - Já estou descendo, Nhô – lavei o rosto na pia, do novo banheiro, e desci, pois tinha dormido de roupa e tudo na rede.
            Após o laudo café da manhã descarregamos o caminhão, que trouxe todas as minhas encomendas, e o motorista falou:
            - Senhores, o Antão e o Antônio vão ficar aqui para montar os móveis, OK?
            - OK, amigo! Quando eles terminarem eu os levarei para a cidade e... – fui interrompido:
            - Não será necessário senhor, no final da tarde passarei por aqui para levá-los de volta. Agora terei que ir a Analogicópolis buscar uma mercadoria na filial de lá e por volta das dezessete horas passarei aqui para pegá-los.
            Deixei os dois montando tudo e fui com o Nhô até ao portal. E perto da pitangueira chamuscada:
            - Olhe Nhô, a pitangueira não morreu. As folhas que não foram chamuscadas continuam viscosas!
            - Ieu sabia qui iela é uma árvi muntchu forti, seu Lê!
         - Nhô, olhe aquilo perto da margem do Rio do Peixe! Parece a metade de um jacaré olhando daqui de longe!
       - Vamu lá pertu oiá mió, Misifiu – respondeu-me o “Véi” e acelerou na minha frente:
            - Óia só seu Lê, é a parti di cima dum reptilianu.
       - É mesmo!  E é da cintura para cima. Então ele continuou a tentar a passagem no portal depois que fui dormir.
            - I pelu jeitu ieli só conseguiu passá a metadi dêie, eh! Eh! Eh!
            - Olhe Nhô, a mão direita tem dois dedos a menos e está separada do braço. Só pode ser o HZZY. Vamos pegar a mão e guardá-la num vidro com álcool. Quando o Kobauski vier aqui a gente mostra prá ele, OK?
            - Ocê qui manda, Misifiu! Vô interrá u restu numa cova qui ieu vô abri atrais daquelas pedra pertu du riu qui ieli já  tá fedenu pur dimais.
            Depois de coletar a mão do reptiliano, e o Nhô enterrado o resto, voltei para meu cafofo e o Nhô foi cuidar do almoço, pois hoje teríamos visitas.
            Por volta do meio dia paramos a montagem dos móveis, da banheira de hidromassagem, do sistema de TV, som, rádio-amador e fomos almoçar no varandão da cozinha. O danado do Nhô caprichou no frango com quiabo, couve, angu, saladas, e para abrir o apetite, alguns trago da purinha:
            - Nhô, eu sou um apreciador de aguardente e te digo que não existe purinha igual a que o senhor faz em todo o universo – disse o Antão, um dos montadores.
        - Eh! Eh! Eh! É diveras, Misifiu, nu universu qui nóis cunhecemu, num exesti memu! Né seu Lê?
            - Ah! Ah! Ah! É mesmo Nhô, nem a do Zé das Flores lá em Terra II, ah! Ah! Ah!
            - Eu não entendi nada – disse Antão.
            - Isquéci intonsi, Antão i vamu armuçá!
            Por volta das treze e trinta e um minutos recomeçamos na montagem e lá pelas dezesseis e trinta e um minutos tudo estava pronto e aguardávamos no varandão do Nhô quando:
            - Óia aqui meus amigu u qui ieu perparei: mandioca frita; linguiça i xuriçu di java-porcu – qui a Xerê feis -, i caipirinha di lima cum bastanti gêlu.
       - Nhô, o senhor é o cara – disse o Antônio, o outro montador.
            Foi só começarmos a festa e o caminhão da loja do Bahia Júnior buzinou no portão. O Nhô levantou-se do banquinho, em que estava sentado, e fez sinal para o motorista vir lanchar.
            Uma hora depois
            - Muito obrigado pessoal – agradeci aos funcionários da loja de móveis e eletro-som.
            - Quandu oceis quizé vim pescá ieu tô a disposição – ofereceu-se o Nhô.
            - Tá bom Nhô, nós é que agradecemos! E te garanto que nunca bebi um suco de graviola tão gostoso como o que fizeste – elogiou o motorista.
        - Eh! Eh! Eh! Ieu caprichei, modi qu'ocê num bebi caipirinha!
            Os três subiram no caminhão e deram adeus.
            - Nhô, eu vou lá pro meu cantinho. Tô doido para tomar um banho de banheira e relaxar ouvindo música.
          Por volta das dezenove horas e trinta e um minutos alguém bate na porta:
            - Sô ieu seu Lê, vim ti buscá prá tomá, mais eu i a Xerê, um cardu di inhami cum torrada! Bora lá?
            - Tô pronto, “Véi”! Do jeito que estou comendo, aqui no sítio, vou passar dos oitenta quilos não demora.
            - Eh! Eh! Eh! Vai nada, Misifiu. Ocê cómi muitchu pocu.
            Saboreei o caldo e vi pela primeira vez a Maria Rita comendo uma papinha, aliás, o mesmo caldo encorpado que estávamos degustando e falei:
            - Esse caldo não e muito pesado para ela Xerê?
        - Não é não seu Lê, eu tirei as carnes e amassei bem as torradas que misturei no caldo. Ela adora essas papinhas com "sustância" – respondeu-me a Xerê.
            - Eh! Eh! Eh! Pára di dá a papinha Xerê. Dêxa u seu Lê vê u qui iela apronta – pediu o Nhô e a esposa obedeceu. Quando a Ritinha viu que a Xerê tirou o pratinho de perto dela, começou a espernear, balançar os bracinhos e iniciou um berreiro:
         - Ah! Ah! Ah! Essa guria é boa de garfo – disse a Xerequéia e voltou a dar a papinha e a Ritinha se acalmou. Foi engraçado  vê-la papando e seus lindíssimos olhos lacrimejando.
         Após a janta, enquanto Xerê mimava a Ritinha, eu e o Nhô fomos ao meu cafofo ver as estrelas no telescópio e prosear, e ele na sua esperteza, me perguntou:
            - Ocê acha qui consegui vê Arret ou Terradois cum essi aparêiu, Misifiu?
            - A constelação onde está Arret até que dá para ver Nhô mas, Arret não. É muito longe. Terra-II está muito, mas muito longe mesmo; talvez fique localizado além de nossa imaginação.
            Ficamos até perto das vinte e três horas conversando até que:
            - A prosa tá muntchu boa, Misifiu, mai vô pru meu cantin drumi mais minhas mininas, banoiti!
            - Boa noite Nhô! Também vou dormir.

Continua dia 19/07/2013 em:
em
VIRTUÁLIA