sexta-feira, 14 de junho de 2013

VIDA EM VIRTUÁLIA: O TECO TECO

ARRET
A NOVA MORADA

O Teco - Teco
           

            Tudo estava tranquilo às dezoito horas e trinta e um minutos daquela sexta-feira. Nem parecia ter passado os quase, três meses de minha estadia na fazenda do Nilton Júnior.
            Eu estava no varandão da frente do escritório/residência no meu habitual laser quando:
            - Seu Lê, confirmamos a fertilização da centésima trigésima primeira vaca Nelore PO. Nosso aproveitamento é de quase oitenta por cento – disse-me Ribamar, o excelente técnico agrícola e expert em inseminação artificial.
            Larguei a revista-em-quadrinhos – o popular gibi -, d’Os Sobrinhos do Coronel que estava lendo e disse:
            - Que ótimo Riba! Se continuarmos assim em três anos este rebanho vai estar enorme e de primeira qualidade!
            - Estamos alcançando nossos objetivos estudados seu Lê – falou o maranhense e me perguntou:
            -Seu Lê, esses gibis que o senhor está lendo são das personagens Max Lott e d’Os Sobrinhos do Coronel?
            - São sim Riba! Eu tenho uma coleção de quase cinco mil gibis diversos lá na minha casa em Minas Gerais. Porém, tenho só os trinta e um últimos números da coleção do Max Lott; a coleção raríssima desse “herói” vai até o número cento e oitenta e quatro. A d’Os Sobrinhos me faltam mais de cento e trinta e um dos quatrocentos e oitenta e quatro números publicados.
            - Que coincidência, seu Lê, o meu tio, que tem mais de setenta anos de idade, possui essas duas coleções completas e várias outras, inclusive: almanaques anuais, almanaques de férias escolares, edições especiais e as edições extras! Ele quer vender tudo mas, só vende o lote todo. Se o senhor quiser eu...
            - Quero! Claro que quero – falei afoito e perguntei:
            - Onde ele mora Riba?
            - Em Carutapera, no Maranhão. Ele quer trocar de carro e precisa vender para completar o valor do veículo dos sonhos dele. Se o senhor quiser eu telefono para ele e marcamos de nos encontrar lá na cidadezinha dele.
            - Vamos fazer melhor! Você liga para ele, me apresenta e eu trato direto com ele, ok?
            - OK, seu Lê eu ligo e...
            - Ligue agora do telefone aqui da sede! – disse-lhe.
            Depois de trinta e um minutos conversando com o Raimundo – tio do Ribamar -, desliguei o telefone e:
            - Pronto Riba, já tratei de tudo. Vamos para Soure agora e dormir lá. Amanhã cedo vamos para Carutapera. Comprei todos os gibis do seu tio! Vamos lá pagar e pegar as coleções. De Soure até lá nós vamos no Teco-teco da fazenda; de lá vamos para Belém. Na capital vou ficar até segunda-feira para resolver assuntos junto a Secretaria da Fazenda Estadual e aproveitarei para despachar os gibis para Juiz de Fora através de uma transportadora terrestre. E, se você quiser , pode ficar lá em Carutapera ou em Belém já que você está aqui na fazenda há três meses direto – falei entusiasmado.
            - Ótimo seu Lê, eu precisava mesmo ir lá ao Maranhão e... – interrompi o Riba:
            - Você pode retornar no outro fim de semana. Depois, que você retornar, vou dar ao Jeremias uma semana de folga também, OK?
            - OK! O Jerê vai ficar super contente. Ele vai aproveitar e trazer a mulher dele para morar aqui também!
            - Ele está certo, não é bom ficar longe da esposa quando são recém-casados. A mulher dele ainda trabalha como técnica em laticínios – perguntei-lhe.
            - Ela estava trabalhando numa indústria de derivados do leite lá em Lagoa da Prata em Minas mas, fez um acerto rescisório com a empresa para poder vir para cá!
            - É muita coincidência Riba; mas muita mesmo!
            - Por que seu Lê?
            - O Juninho aceitou meu conselho e vamos aumentar, aliás, triplicar nosso rebanho de búfalos e em três meses vamos industrializar leite bubalino  na fabricação de muçarela e outros produtos. Vamos precisar de uma técnica em laticínios. É ou não é uma coincidência?
            - Caramba! É tudo de bom para todos nós. Posso falar com o Jerê?
            - Faça melhor, chame-o aqui para conversarmos enquanto nós jantamos. Vamos tratar de tudo, ou seja, salário de uma técnica que vem de Minas para o Marajó, residência, plano de saúde... tudo o que é de direito e lei, OK?
            - OK! OK! Seu Lê – respondeu o Ribamar felicíssimo pelo amigo.
            E assim foi feito.
            Sábado, dez e trinta e um minutos descemos numa rudimentar pista de pouso  em uma fazenda perto de Carutapera, ao norte do Maranhão:
            - Seu Lê, o senhor é um excelente piloto – disse o Riba.
            - Pilotar esse avião pequeno não é difícil, Riba, é só questão de prática!
            - Olha lá está o meu tio nos esperando. Ele veio na Chevrolet Veraneio dele – disse o sobrinho apontando para um senhor que estava ao lado de um velho e surrado veículo verde limão.
            Após as apresentações, nós fomos até a residência do Raimundo Nonato e ele propôs, aliás, exigiu:
            - Vocês vão almoçar comigo! Vou fazer  peixe com molho de camarão graúdo de nossa região costeira. Não aceito desculpas!
            Eu estava agoniado para ver as coleções de gibis até que, depois de uma rodada de cervejas geladas e mandioca com carne de sol – como tira gosto enquanto esperávamos o almoço-, Raimundo me chamou para uma varanda lateral, onde guardava o carro, e me disse:
            - As coleções estão nessas quatro caixas grandes de papelão, seu Lê! Pode verificar uma por uma se quiser.
            Abri a primeira caixa da fila e meus olhos marejaram, pois ali estava, na minha frente, parte de um sonho meu.  Peguei nas mãos o primeiro número do gibi do Max Lott. O estado de conservação era espetacular apesar de já ter mais de sessenta e cinco anos de publicado.
            O convite da família do Raimundo me fez ficar na fazenda até domingo à tarde quando nos despedimos e eu, deixando o Riba com os tios, rumei para Belém.
            Durante o voo:
            - Todos os meus sonhos materiais se concretizam. Quando é que eu ia imaginar que conseguiria essas coleções no interior do Maranhão? E o que é mais espetacular é estando eu na Ilha do Marajó!
            Segunda-feira, por volta das catorze horas e trinta e um minutos, após ter mandado minhas caixas com as coleções para Minas Gerais, por uma transportadora terrestre e resolvida a pendência junto  ao órgão fazendário do estado do Pará, telefonado para a Rô, levantei voo para voltar para Soure:
            - Eita vida boa, sô! Ih caramba, falei trinta e um minutos com a patroinha, ao telefone, e não falei dos gibis que eu mandei para casa. Ainda bem que coloquei um bilhete para ela numa das caixas.
            - A semana que vem o Juninho estará de volta e ele vai encontrar tudo funcionando organizadamente e, o projeto dos queijos de leite de búfala, em andamento. Vou ficar por dois meses quieto em casa junto da Rô, do Max Lott, dos meus netos e d’Os Sobrinhos do Coronel.
            Alguns minutos depois:
            - Lá está o campo de aviação de Soure, mas vou precisar de cuidado para aterrizar, pois, tem muitos urubus rodeando alguma carniça perto da cabeceira da pista- falei isso e comecei a preparar o teco-teco para o pouso e um barulho enorme, de algo se chocando com o aviãozinho, fez com que eu perdesse o controle da aeronave e esta foi de encontro à copa de uma castanheira e perdi os sentidos.
             
...
            - Seu Lê! Seu Lê, u sinhô tá bem? U qui ôvi , misifiu?
            - Eu... eu... perdi o controle da GMC após bater em alguma coisa que atravessou a pista, Nhô!
            - Ôce si machucô- preocupado perguntou o meu amigo e observou:
            - Óia só quem evem cheganu! É u Paulin Goró cum a Vaneidi!
            Os meus sentidos foram apagando aos poucos e só deu para ouvir o Nhô falando ao Paulo di Paulli:
            - Vamu levá ieli nu HU da Universidadi Siderá di Virtuáia na Vaneidi!             
            - Vamos sim Nhô e rápido, porque ele está desmaiando!
            ...
            Na cabeceira da pista do campo de aviação de Soure:
            - Rápido minha gente, nós temos que tirar o piloto de lá! O avião vai despencar do alto da castanheira e, se ele não morreu, vai morrer – gritava um dos funcionários do local.
            - Eu... estou... vivo mas não consigo me mexer do pescoço para baixo – eu gritava com a pouca força que ainda restava.
            - Calma moço, vamos tirá-lo daí e levá-lo para o melhor hospital de Belém em um taxi aéreo que deixou turistas alemães aqui no arquipélago – disse o piloto da empresa de taxi aéreo.
            - Esse teco-teco pertence às empresas do senhor Nilton Bezerra.  Podem levá-lo que o Juninho pagará todas as despesas – disse o responsável pelo arcaico aeroporto.

            Dentro do outro avião, indo para Belém, eu continuava a não sentir o resto do corpo:
            - Eu... eu... não estou conseguindo respirar... minha cabeça dói muito... acho que vou desmaiar...

            ...
            No HU da USV recuperei os sentidos e perto de mim estava o Dr. José Walter que falou:
            - Não foi nada seu Lê! Apenas uma queda de pressão devido ao susto. O senhor pode ir para o sítio do Nhô, se quiser.
            - Eu levo o senhor na Vaneide, seu Lê – ofereceu-se o Paulino que estava comigo desde que desmaiei e perguntei-lhe:
            -Por quanto tempo fiquei desacordado Goró?
            - Só Trinta e um minutos seu Lê – respondeu-me e continuou a falar:
            - O Nhô falou que não era nada, mas que era bom tirar umas radiografias para ver se tinha quebrado alguma costela. Ele disse que tinha certeza que o senhor não se machucara gravemente.
            - Cadê ele?
            - Ele tinha tanta certeza que o senhor estava bem que preferiu ficar no sítio destrinchando a capivara que bateu na GMC do senhor. Vou levar o senhor de volta ao sítio e trazer a minha parte do bicho. A capivara pesava quase oitenta quilos, seu Lê.
            - Caramba! Então deve ter acabado com minha vermelhona?
            - Só amassou um pouco o para-choque e o para-lama. Foi mais barulho e susto.
            - Podemos ir para o sítio, seu Lê – perguntou-me o Paulinho.
            - Sim, vamos agora! Dr. José Walter, muito obrigado por tudo, OK?
            - Tudo bem, pode ir! Vou avisar ao reitor Oscar que o senhor já está indo para o sítio do Nhô. Falarei que está ótimo.  Ele não pode vir  pois esta em uma reunião com o prefeito Jairo Edson.
            - OK! Então vamos Goró!
            Chegando ao sítio vi que a GMC estava dentro do galpão e corri até ela. O Nhô me viu e disse:
            - Eh! Eh! Eh! Correndu ansim dá prá vê qui ôce tá bom, seu Lê! Ieu to muntchu contenti!
            - Eu estou melhor que antes “Véi”!
            Olhei a vermelhona e constatei que não fora nada sério e perguntei:
            - Quem a colocou no galpão, Nhô?
            - Ieu, seu Lê! Esti pretu véi num é tão Bittencourt ansim, eh! Eh! Eh! Ôce si isqueceu qui ieu já dirigi inté caminhão Reo di gasogênio – incrível, mas o pangaré ouvindo seu nome, pois pastava ali perto, deu um longo relincho que parecia entender a ofensa.
            - Seu Lê, ieu tô perparanu um churrascu di uma banda di capivara. A ôtra u Goró...- Nhô foi interrompido pelo Paulinho:
            - Nhô e seu Lê, já coloquei a outra banda do bicho na minha minivan sul-coreana – a Vaneide -, já vou para o Boteco dos Caldos. Hoje teremos churrasquinhos exóticos.
            - Ah! Ah! Ah! Então Vaneide não é nenhuma mulher? Pensei que a Cindy estava sendo traída, ah! Ah! Ah!
            - Isso não vai acontecer nunca, seu Lê, eh! Eh! Eh! – gargalhou o Goró.

            Fiquei na tranquilidade do sítio até o décimo terceiro dia da última visita dos arretianos. Pouco antes do horário combinado, eu já estava próximo ao portal com todos os sentidos apurados. De repente, do nada, mas absolutamente nada, na escuridão do céu coberto de nuvens pesadas e sem luar tudo começou. Entre as duas pitangueiras – distantes cento e trinta e um metros entre si -, um pequeno foco luminoso começou a surgir, e em questão de trinta e um segundos, o portal estava aberto o suficiente para o Kobauski atravessar e me dizer:
            - Venha seu Lê, entremos e partamos! Nem desaceleramos o sistema de navegação da nave-mãe.
            - OK! Comandante, vamos nessa!

Continua no dia 21/06/2013 em:
ARRET
A NOVA MORADA

O coágulo


Um comentário:

  1. Para entender este texto tu tens que ir lá no início dos textos. Com o passar da leitura dos primeiros textos é que irás entender -
    cronologicamente -,este e os outros, até o final, ok?
    Se quiseres contatos eis meu e-mail:
    lecinof@gmail.com

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