ARRET
A NOVA
MORADA
As Três Medalhinhas
- Puxa, já chegamos - respondi-lhe dando
uma espreguiçada.
- Já? Poxa foram longas horas! Onde estavas?
“Viajando” para Virtuália durante nossa viagem, ah! Ah! Ah!
- Vai rindo, vai! Você vai acabar me seguindo para lá
qualquer dia desses!
- Por favor, senhor, apresse-se que temos que embarcar
outros passageiros – disse-me uma aeromoça com uma cara “azeda” que, pelo visto,
envelheceu na profissão que não gostava.
Em questão de
trinta e um minutos, já estávamos acomodados confortavelmente em uma balsa a
caminho de Soure. Rô me falou:
- Olha só que paisagem mais linda! É como se
estivéssemos rumando para o paraíso!
- Mas nos estamos indo para um dos paraísos deste
Brasilzão desgovernado, Rô!
- Você fez bem em dispensar o teco-teco da fazenda do
Nilton Júnior. Além de ser um aviãozinho antigo, o que me causa medo, angústia
e mau presságio, estaríamos perdendo esse visual incrível!
- Tem razão, pitéu! Sempre tens razão – falei isso e beijei-lhe a
face e ela me olhou sorrindo do jeito que eu amo vê-la sorrir.
- Rô, vou até ao comandante verificar se as
encomendas do Juninho estão nesta balsa, OK?
- OK, mas não demore!
Na cabine de
comando:
- São caixas de madeira com uns botijões
dentro – perguntou o comandante.
- Sim! Vieram de Minas Gerais até Belém e
depois seriam enviados de balsa para Marajó – respondi-lhe.
- Eu desembarquei esses volumes ontem no
porto de Soure – informou o comandante Viegas.
- Ótimo! Muito obrigado – agradeci e
voltei à poltrona ao lado da Rô:
- E aí Lê, tudo certo?
- Sim! As caixas já estão em Soure; chegaram
ontem!
Cerca de cinco horas
depois em Soure, desembarcamos nossas bagagens e uma voz conhecida nos chamou:
- Olá meus amigos de fé! Seu Lê e dona Rô, há
quanto tempo que não nos vemos?
- E aí Juninho, como estás – perguntei-lhe.
- Tudo maravilhoso! Está é Nonata, minha
noiva!
- Nossa Juninho que garota bonita – falei exagerando no elogio
e percebido pela Rô que emendou:
- É a típica mulher paraense, linda! Vocês
terão lindos filhos!
- Agradecida, gente! Fico até avexada de tantos elogios – respondeu Nonata.
Juninho empurrou
um dos carrinhos com algumas bagagens até a caminhonete cabine dupla - modelo C-10
-, perguntando:
- Lembra-se dessa possante, seu Lê?
Olhei, tentei
lembrar e, quando vi a placa:
- Lembrei! Placa de Mateus Leme – MG!
- Era daquela construtora mineira que devia muito
dinheiro de fretes de combustíveis à transportadora do seu pai e, ele aceitou
esta caminhonete como pagamento!
- Isso mesmo! Papai acatou os teus conselhos e ainda
pegou dois caminhões seminovos. Dois meses depois, de meu pai acertar a dívida,
a construtora faliu!
- Seu Lê, daqui até a sede da fazenda são
trinta e um minutos nesta caminhonete; se sairmos agora nós chegaremos lá pouco
antes do horário costumeiro que vocês jantam ou vocês preferem comer algo de...
– interrompi o Juninho. Tirei do bolso uma via de conhecimento de carga,
mostrei a ele e disse:
- Vamos aguardar o pessoal do porto trazer
estes seis volumes, OK?
- OK! Eles já estão trazendo – disse o Nilton Júnior e
pediu aos funcionários da balsa:
- Por favor, senhores acomodem os volumes na
carroceria daquela C-10 amarela, eu os ajudo OK?
E assim foi
feito.
Quando os volumes
estavam acondicionados e amarrados, no compartimento de cargas da caminhonete,
Juninho perguntou-me:
- Nossa Seu Lê, o que tem nessas embalagens?
Peguei uns
certificados de dentro de minha pasta e entreguei-lhe dizendo:
- Isto tudo é o nosso presente de casamento
para vocês! São doses de sêmen de Nelore PO premiados. São para vocês começarem
um rebanho da mais alta linhagem!
- Só o senhor mesmo para ter uma ideia
dessas para presente. Era tudo o que eu precisava. A fazenda que meu pai me
presenteou, tem seiscentas cabeças sendo que quatrocentas e oitenta e quatro
são fêmeas estão aptas para começar a procriar. Com isto vou alavancar nosso
rebanho com ótima qualidade.
- Você já trabalhou com inseminação artificial, meu rapaz
–
perguntei-lhe.
- Ainda não, mas agora vou antecipar tudo que estava
programado para daqui a um mês. Vou começar a semana que vem. A Nonata é
veterinária e contratamos dois técnicos em agropecuária e eles têm prática
nisto, seu Lê! Já temos tudo engatilhado. Tenho toda a aparelhagem para fazer
isso.
- Nessas seis embalagens, doutora Nonata, contém seis
botijões apropriados para armazenar sêmen em nitrogênio líquido. Quatro contêm
as doses de sêmen e as outras duas só tem nitrogênio para
vocês irem repondo nas que tem os sêmenes, pois quando vocês abri-las, para
tirar as dosagens, o nitrogênio escapará em forma de gás. No final do dia vocês
completam com o nitrogênio de reserva. Quando uma esvaziar, vocês levam de
teco-teco para encher em Belém. Terão sempre uma cheia em estoque. Entenderam?
- Claro, meu amigo, o senhor pensou em tudo - elogiou-me o Juninho.
- Depois informarei a vocês os fornecedores selecionados de sêmen aqui na região. Quando utilizarem todos os que te trouxe,
você poderá comprar mais – se for interessante -, ou colher dos próximos
touros PO que, com certeza irão nascer aqui na fazenda, OK?
- OK, seu Lê – respondeu a doutora Nonata.
Subimos na C-10 e
rumamos para a fazenda. Como já passava das dezessete horas e trinta e um
minutos, resolvemos que nem lanche nós faríamos; jantaríamos na fazenda quando
chegássemos.
Por volta das
dezoito horas e trinta e um minutos, já estávamos alojados em uma das suítes
da, na verdade, agropecuária, do Juninho. De repente umas batidas suaves na
porta se fizeram ouvir e uma voz conhecida perguntou:
- Seu Lê e dona Rô, venham para o varandão
de refeições. Vamos saborear peixe assado na grelha e salada mista de legumes.
Estão a fim?
Abri a porta de
abrupto e respondi:
- Ainda pergunta meu garoto?
Ficamos por um
bom tempo saboreando as iguarias e conversando sobre tudo e Juninho me falou:
- Nosso casamento será aqui mesmo na
fazenda. Um bufê de Belém está providenciando tudo. Já casamos no civil em
Soure e o padre da paróquia da igreja de Soure virá aqui nos casar no
religioso.
- Ótimo Juninho! Então terei o prazer de ver toda a
família Bezerra reunida, não é?
- Podes crer meu amigo!
- Seu Lê, eu gostaria de conversar sobre uma proposta
profissional, seu seja, nós vamos à viagem de lua de mel por vários lugares do
mundo e isto durará em torno de sessenta e dois dias, certo? Eu vou precisar de
alguém de confiança para administrar esta fazenda por uns três meses. Como já
nos conhecemos, gostaria que me ajudasse nessa empreitada. O que achas?
- Posso te dar a resposta amanhã à tarde, Júnior – respondi-lhe.
- Claro, seu Lê e tomara que seja positiva.
O senhor me fala o valor a lhe ser pago sem medo e vergonha, OK?
- Medo e vergonha são duas palavras que há muito saiu do
meu dicionário, ah!Ah!Ah!
- Eu que o diga – brincou a Rô sorrindo.
À noite, por
volta dos trinta e um minutos, na cama da nossa suíte:
- O que você acha da proposta do garoto do
Nilton, Rô?
- Ótima! Você precisa deste ar puro daqui do Marajó. Mas,
você vai cobrar dele – perguntou-me a patroinha.
- Se eu não der o preço ele não vai permitir
que eu faça sem honorários e é capaz até de postergar a lua de mel deles. Vou
pedir para ele estipular um valor só para descarga de nossas consciências. Seja
qual for o preço aceitarei sem questionar.
- Tá certo! O que você decidir tá feito –
falou a Rô bocejando e continuou:
- Porém, uma semana depois do casório eu
volto para nossa casa em Minas Gerais. Não podemos deixar nossas coisas três
meses sem a presença de um de nós dois, OK?
- OK! OK! Vou acertar que de mês em mês vou ficar três
dias lá na nossa casa!
- Então tá, então – disse-me a Rô me beijando e desejando boa
noite.
Foram dias de
absoluta tranquilidade depois do casório, até que chegara o dia do embarque de minha mulher de volta para Juiz
de Fora e, no setor de embarque do aeroporto internacional Júlio Cezar Ribeiro , também conhecido como de Val-De-Cans, em Belém:
- Pode ficar tranquilo, Lê, o Thiago, a
mulher dele e nossos netinhos estarão no Galeão me esperando para me levar para
casa. Liguei para ele agorinha e foram eles que propuseram em ir me buscar.
- Ah! Agora sim eu fico tranquilíssimo!
- OK! Então tchau que já estão embarcando – falou a Rô dando-me um
beijo.
Voltei para Soure
na balsa do meio dia e de Soure para a fazenda fui na Amarelona que tinha deixado no
estacionamento do pequeno porto.
No dia seguinte,
que seria sábado, levantei-me cedo, tomei um café da manhã reforçado e, como
iria ficar sozinho na sede da fazenda, liberei a cozinheira na sexta e disse a
ela que retornasse só na segunda-feira: e falei em voz alta:
- Não vou fazer nada hoje - falei em voz alta.
Lá pelas dez
horas, depois de ler os jornais via computador, fui à cozinha e preparei uma
fritada de camarões. Preparei, em um isopor com gelo, algumas cervejas long neck
– daquelas que só são produzidas no Pará -, e fui para debaixo de uma árvore
extremamente alta e que proporcionava muita sombra à beira da baia:
- Vou ficar na espreguiçadeira e jogar o
anzol na água, porém o que pescar vou devolver à baia de Marajó!
As horas foram
passando e ao meio dia, lá pela metade das cervejas e toda a fritada de
camarões eu...
...
- Ô de casa - gritei do portão e vi que
alguém olhou pela janela, após arredar um pouco a cortina:
- É o seu Lê, Antônio – ouvi a Xerê
falar. E a porta da sala se abriu junto com o costumeiro e alegre sorriso de
meu amigo.
- Cheja bem vindu, meu amigu! Nóis tava
falanu di ôce inda agurinha – disse-me o Nhô.
- Sei que falavam bem, não é – respondi
perguntando:
- Tudo bem com vocês?
- Nós estamos ótimos seu Lê, de uma olhada na
Ritinha dormindo no carrinho de bebê e diga se não é a coisinha mais linda
deste mundo – falou a Xerê.
- Nhô, como ela está cada vez mais parecida com
vocês? É incrível!
- Eh! Eh! Eh! É diveras, misifiu. Issu num tem
ixpricação! Fala pressi seu amigu nêgu véi:
- Arguma coisa gravi trôxe ôce di vorta prá Rai-Brasí?
- Sim, meu amigo, aquela história das medalhinhas, ainda
me perturba a mente. O senhor lembra se tinham duas medalhinhas iguais, mas
com as gravações diferentes – perguntei-lhe.
- Falanu diveras, mai diveras memu, ieu só
tenhu certeza da qui a Ritinha – a qui foi minha premera muié -, mi deu di
presenti quandu ieu fiz sessenta anu. U interessante é qui iela tava lavanu
rôpa nu Riberão Limpu i achô essa medáia pertu di uma pedra meia afundada na
areia. U brio du ôru é qui chamô a atenção deia. Iela levô no Jojô da relojaria
e ieli gravô meu nomi verdaderô nas costa dessi santu. Quem falô qui era São
Ciprianu foi u Julianu, seu Lê. A ôtra qui a dotora Kolina mim deu ieu num
alembru déia.
- Será que o pessoal de Arret não sabe o seu
nome verdadeiro, senhor Antônio Jerônimo da Conceição?
- Num sabi memu, misifiu! Só si ôce falô prêlis!
- Eu não falei prá ninguém. Nem para a Xerê – disse-lhe.
- Isso é verdade, meu preto! Só soube
recentemente e através dessa história das correntinhas – completou a Xerê.
- U interessanti é qui u Kobausqui pidiu prá
ieu i a Xerê usá sempri ielas nu pescoçu i a Ritinha usá, inquantu fô
pititinha, presa cum arfineti na rôpa. I iele dissi bem ansim:
“- Seu Nhô u sinhô i sua famía mantêm essas medainhas
sempri pertu dus seus corpu, OK?”
- Dessa novidade eu não sabia! Quando estiver com o
Kobauski vou esclarecer de vez essa história, certo Nhô?
- Certu, seu Lê! U sinhô é qui sabi, eh! Eh! Eh!
- Eu estive pensando em levar essas medalhas para o
professor e reitor Oscar, da USV, analisar no laboratório de física, química e
biologia da universidade! O que achas Nhô?
- Taí uma boa ideia, misifiu! Só tem uma coisica!
- Qual Nhô?
- Minha famía num pódi ficá longi das medainhas. Foi órdi
du comandanti Kobausqui!
- Bem lembrado “Véi”! Vamos todos lá amanhã cedo! O que
achas?
- Vô pedi prá Xerê si perpará e arrumá a
Ritinha prá nóis í lá amanhã cedu. Nóis vai di carroça seu Lê. É qui u Bitencourt
tá percisanu fazê...
- Já sei! Ele precisa de exercícios, não é?
- Issu memu! Essi pangaré tá muntchu gordu, forgadu i sôrtu pelu pastu, eh! Eh! Eh!
- Mudando de assunto Nhô, o que houve com o boato sobre o
“Caboclo D` água”?
- Ah! Seu Lê, u Carabina Dozi i u delegadu Trimillim di
Analogicópis prenderu um casá di andariu martrapilhu qui andava pressas banda.
Sabi aquêie dia im qui ieli falô qui ia vascuiá u ôtru ladu da Serra Madri?
- Lembro sim “Véi”!
- Poizé, foi naquêie dia bem di tardinha, qui eies
prenderu um casá. Quandu iele capturaru essas pessoa, passaru aqui nu sítiu i u
Carabina falô bem ansim prêu i prá Xerê:
- "Nhô, nóis prendemu essis dois melianti enquantu
estava assanu, nas brasas di uma foguêra, uma banda di um cabritu. Eies mi
garantiru qui foi a Xerê qui tinha dadu a eies. Eu quandu vi i senti u chêro
tive a impressão qui era carni di porcu. Esperei terminá di assar i mastiguei
um nacu i, reamenti, era carni di porcu. A muié do mendigu dissi qui
foi ocêis qui tinha dadu a eies. Só pra descarga di conscença mi diz si eia mintiu i... – Xerê interrompeu ieli falanu:
- Eles não mentiram Carabina! Ontem eles passaram por
aqui e lhes servimos café com broas, mandioca e nhame. Eles comeram e quando
iam saindo dei a eles a metade de uma leitoa de java porco que morreu esmagada
por um cachaço enorme. Os dois delegados agradeceram a nossa informação,
entraram no camburão e levaram o casal para onde eles estavam acampados e o
deixou livre.
- E depois disso – perguntei ao Nhô.
- Óia seu Lê, comu num sumiu mai nadica di
nada pur aqui, ieles incerraru u casu.
- Nós sabemos e não podemos falar o que houve, não é meus
amigos – perguntei.
- Deveras seu Lê, deveras – respondeu o
Nhô.
- Seu Lê, ôce mi ajuda a coiê uns legumi
módi ieu perpará uma sopa prá janta?
- Lógico ! O que vai colocar nessa sopa?
- Nhame, mandioca, batata baroa, batata ingresa,
pimentão, pimenta biquinhu, tomati, cebola, carni di sor, maçarão, jambú i u
meu tempero qui é aqueie segredu qui u sinhô sabi, eh! Eh! Eh!
- Já deu até água na boca “véi”!
- I prá acompanhá tem uma fornada di pão feitcha ind’
agorinha!
- Caramba Nhô, desse jeito vou passar dos
oitenta quilos e... – fui interrompido:
- I inquantu nóis fais u jantá nóis bibirica
umas purinha cum raiz amarga qui é bão pru istrongu, prá quem num tem mais
visicula i ajuda a ismagrecê, eh! Eh! Eh!
Por volta das
dezenove horas e trinta e um minutos, após a saborosa refeição, a Xerê
bocejando nos disse:
- Vocês me dão licença que vou aproveitar o
sono da Ritinha e vou dormir também. Amanhã às sete horas vamos para Virtuália.
Não esqueçam, rapazes!
Eu e o Nhô
trocamos algumas palavras e fomos dormir. Ele com a família e eu na rede no
varandão.
Na manhã
seguinte, por volta das oito horas e trinta e um minutos, na Universidade
Sideral de Virtuália - USV:
- Seu Lê, há quanto tempo não nos vemos –
perguntou o Oscarzinho em seu “trono” na sua sala na USV.
- Desde a comemoração da gravidez da Cindy
no Boteco dos Caldos- respondi.
- Olá senhor Nhô e família! Vocês estão com
aparências joviais – disse simpaticamente o reitor à família Jerônimo da
Conceição.
- Oi, perfessô Oscá! U sinhô tamém tá
ótimu!
- O que querem de mim além de matar a saudade?
-Oscar, nós queremos que você analise três medalhinhas de
ouro. É para sanar algumas dúvidas à cerca delas – falei-lhe e o Oscar pegando
as três joias disse:
- Vou fazer
análise da qualidade do ouro e depois tirar um raio-X de cada uma. Parece muito
pesada para uma medalhinha deste tamanho, OK?
-OK, professor! Podemos ficar aguardando aqui
por perto – perguntei-lhe.
- Sim é claro! Dentro de no máximo trinta e
um minutos terei as respostas das análises. Vou eu mesmo fazer as análises.
Podem me acompanhar exceto na hora do Raio-X, OK?
Há meia hora que durou as análises parecia
trezentos anos tal a minha angústia, até que:
- Pronto seu Lê! Aqui estão os resultados,
ou seja, as medalhinhas e as correntinhas são do mais puro ouro monoatômico. Gostaria de conhecer o joalheiro que fez esse
trabalho tão perfeito. Tem até pupila esculpida nos olhos do santo. É incrível!
O engraçado é que em seu interior tem uma particularidade, ou seja, uma tem
três pedrinhas redondas de um metal que não conheço; outra tem duas pedrinhas e
na terceira tem apenas uma pedrinha. Porém, quando a passei - uma por uma -, no
aparelho de Raio X, aconteceu algo estranho!
- O que ocorreu professor – perguntei.
- Uma delas soltou três clarões e as outras
dois e um clarão respectivamente – falou isto e nos entregou as medalhinhas
e saímos;
- Muito obrigado mais uma vez Oscar –
agradeci.
- De nada, meus amigos! Quando precisar de alguma coisa e
estiver ao meu alcance, podem vir me procurar que os ajudarei OK?
Voltamos para o
sítio sem visitar ninguém em Virtuália e no percurso eu e o Nhô fomos trocando
pensamentos a respeito:
- Sabe, Nhô, essas três medalhas devem ser
uma espécie de código cósmico. O que achas?
- É muntchu compricadu prôs miolu dessi pretu véi, seu
Lê!
- O mais intrigante é como ela nos chegou às mãos – disse a Xerê.
- Tem razão Xerê,
mas tudo deve ter uma explicação e vamos consegui-la com nosso amigo arretiano
Kobauski – quando falei isto passávamos cerca de uns cem metros do portal das pitangueiras e o Nhô gritou tão alto que o Bittencourt se assustou e soltou um
relincho de protesto que foi acompanhado pelo início de um choro estridente e
forte da Ritinha e a Xerê falou:
- Xiiiii... agora danou-se! O que foi meu
preto?
- Chegou arretianu nu portá seu Lê! Óia só comu ainda
bría!
Às onze horas e trinta e um minutos chegamos ao portão
lateral do sítio e vimos, sentado no murinho do varandão da cozinha o Kobauski que
saboreava carambolas e... pasmem:
- Nhô aquele que acompanha o Kobauski é o reptiliano que
ele levou, daqui da região, para Arret?
- Pódi num sê ieli, misifiu mai pareci – respondeu o negro velho.
- É ele sim Nhô! Neste também faltam dois
dedos da mão direita, como naquele que ele levou para Arret!
- Sí ôce tá falanu, seu Lê; tá ditu!
Descemos da
carroça e o Kobauski se aproximou:
- Seu Lê, Nhô, Xerê e Ritinha... pelo que
vejo estão ótimos - respondi, em seguida, por todos:
- Estamos sim comandante! E pelo visto você
também!
- Meus amigos eu lhes apresento o HZZY! Ele é reptiliano
e recebeu grande parte de nossos conhecimentos, ou seja, terráqueo e arretiano.
Irá nos ajudar na nossa próxima ida a Terra-II. HZZY tinha uma inteligência
raríssima a ser ativada e nós só ajudamos a aperfeiçoá-la.
Olhei para
aqueles olhos alaranjados e pupilas verticais como a de um gato quando exposto
a muita claridade e pensei:
“– Que coisa mais feia é esse sujeito visto
de perto! O folclórico capeta deve ser parecido com ele, ah! Ah! Ah!”
O ser espichou a
mão direita e falou com voz gutural e horripilante:
- Então o senhor é o Lê que o comandante
sempre fala? Muito prazer!
- Olá HZZY, tudo bem?
A Xerê nos
interrompeu:
- Vocês fiquem à vontade que eu vou banhar a
Ritinha para tirar a poeira da estrada, dar a ela uma mamadeira e pô-la para
dormir – falou isto e foi se retirando seguida do Nhô que emendou:
- Ieu vô terminá u armoçu qui dexei quaji
prontu inhantis di i pra Virtuáia. Ôce i u seu companhêru vão armoçá cum nóis
num é Kobausqui?
- Se vai nos dar esse presente nós
aceitamos, meu nobre amigo – disse o Kobauski que prosseguiu no diálogo:
- Não precisa fazer nada especial para o HZZY,
pois ele só come carne crua, insetos e ovos diversos!
- Cruis credu... qué dizê, vô buscá uns ovos di pata, di
galinha i tirá, da geladêra, um pernil di leitoa di java porcu prêli, tá bão
Kobausqui?
- Ótimo Nhô!
- Intão oceis vão prosiá lá dibaixu da carambolêra qui
ieu vô perpará u varandão pro nossu armoçu!
Nhô saiu para
cuidar de temperar a salada de folhas verdes, a de legumes, do arroz de alho,
feijão tropeiro, as bistecas de java porco e da refeição do HZZY.
Em baixo da
caramboleira:
- Seu Lê, vocês destruíram os chips de
proteção e localização da família do Nhô! Por quê?
- Ah! Então é essa a função deles dentro das medalhas? Por
pura curiosidade! Pedi para um amigo meu analisá-las e foi só isso que ele fez.
Eu pensei que nelas tivesse algum código e... – fui interrompido:
- Não se trata nada disso, meu amigo. São
chips protegidos com ouro monoatômico, no caso as medalhas. São diferentes dos que usamos
internamente em corpos vivos. Não
achamos prudente instalarmos chips nos corpos deles. São muito idosos e a neném
muito novinha! Entendeu?
- Sim, e peço-lhe desculpas! Mas e agora, vão ficar sem
os chips de localização e proteção?
- Devolva-me as três medalhinhas que vou substituir os
chips por outros que nem grande exposição ao césio-157, direcionado e
concentrado, queimará a memória destes novos tipos de chips, OK?
- OK, Comandante e o que... – novamente fui interrompido:
- Mas não foi para isso que vim aqui. Vim
para avisá-lo que podemos viajar para a Terra-II, pois a estrela Greise voltou
à sua tranquilidade de antes, OK?
- OK!OK! E quando partiremos – perguntei-lhe.
- Daqui a treze dias terrenos virei
buscá-lo; aos trinta e um minutos de um sábado!
- Não poderei levar o Nhô, Kobauski?
- Não! Ele agora é necessário aqui com a família e desta
vez vamos ficar lá por um bom tempo. Estás de acordo?
- Sim, afinal eu entrei nessa história e vou até ao fim!
- Ei pessoá! O armoçu tá prontu, pódi vim todu mundu!
Olhei para meu
Ômega – herdado do Nelsão -, e pensei:
“–Meio dia em ponto! O Nhô é de uma
pontualidade impressionante!”
Sentamos à mesa e
o HZZY pegou a cesta com ovos numa mão e na outra o pernil e sentou-se num
banco debaixo do pé de carambolas.
O almoço estava
digno dos deuses e de onde seu estava dava para ver o HZZY comendo e pensei:
“– É o próprio gramulhão comendo ovos, ah! Ah!
Ah!”
O Nhô também
reparou nos modos do reptiliano se refestelando e trocamos olhares cúmplices.
Uma hora e trinta
e um minutos depois do saboroso almoço:
- Seu Lê, temos que ir para Arret agora. Não
se esqueça da data combinada, OK?
- OK, Comandante – respondi-lhe.
- Nhô, Xerê e seu Lê, não se esqueçam de
preservar as medalhinhas com os novos chips, conforme os instrui antes. Foi ótimo revê-los e
saborear teu almoço, Nhô!
- Ieu sempri ponhu caprichu quandu ôceis vem
puraqui, eh! Eh! Eh!
- Então, boa sorte a todos e até a volta – despediu-se o arretiano.
- Boa viagem – falamos quase os três
juntos.
Meia hora e um
minuto depois:
- Ieu gostaria di í cum ôce para Terradois,
seu Lê, mai num vô dêxa a Xerê i a nossa pretinha sozinha aqui, di jeitu manêra.
Nem qui fossi prá í pro céu, eh! Eh! Eh!
- Nhô, sei que o senhor reparou no HZZY se
alimentando e, também prestou atenção nos olhares dele e eu te pergunto:
- O que achas dele?
- Óia seu Lê, ieli pareci um animar felinu esperanu a
hora da presa dá uma brechinha i atacá. Ieli comenu aquêies ovos parecia u “capeta
chupanu manga”, eh! Eh! Eh! Eh!
- Ah! Ah! Ah! Foi o que eu também vi nele comendo e sem saber
como é o gramulhão chupando manga, “Véi”, ah! Ah! Ah!
- Ei meninos, por favor, riam das piadas mais baixinho,
pois a nossa pretinha acabou de se empanturrar de mamadeira, arrotou e dormiu.
Vou tirar um coxilo, OK? – brincou a Xerê.
- U seu pretu véi pódi í cuchilá mai ôce,
Xerê?
- Só si você não quiser, assanhado. Mas é prá cochilar
mesmo, tá!
- Intão tá, intão, eh! Eh! Eh!
- Ah! Ah! Ah! Vocês são as minhas alegrias nesta vida em
Virtuália! Vou tirar uma soneca embaixo das seriguelas e depois “mi pirulitá”,
OK amigos?
- Tá bão misifiu! Mai cuidadu cum u temporá qui tá armanu
lá longi, na serra Peitchu di Moça. Quandu u Peitchu fica nubrinadu a chuva
chega aqui im uma hora i trinta minutu, eh! Eh! Eh!
Direcionei-me
para a rede armada nos pés de seriguelas e literalmente apaguei.
Uma hora e vários
minutos depois fui acordado por um vento forte e acompanhado por um aguaceiro
danado:
- Ei seu Lê, seu Lê! Saia debaixo dessa
castanheira que esta chuva é de raio e um pode acertar a árvore e te atingir –
gritou o Ribamar, um dos técnicos agrícola da fazenda do Juninho.
- Obrigado, meu jovem – foi só eu
agradecer, sair de lá e um corisco podou a copa da árvore da jovem castanheira.
O estrondo foi ensurdecedor:
- Égua Mano, se o senhor estivesse lá, já
era! Engraçado como está este tempo, seu Lê; chuva de raio assim não é tão
comum. Eu nunca fiquei tão perto de um raio!
- Realmente você salvou minha vida amigo! O
clima deste mundo está todo estranho!
- Ainda bem que desliguei toda rede elétrica
e de telefone da tomada – disse o jovem esperto.
- Se continuar assim teremos que instalar
uma chave temporizadora, ou seja, começou a tempestade de raios ela desligará
tudo sozinha.
- Boa ideia, seu Lê – falou o Riba caminhando para o alojamento dele.
Continua em 14/06/2013:
ARRET
A NOVA
MORADA
O Teco - Teco
Sensacionais esses personagens. É uma miscelânea que se encaixam numa criatividade
ResponderExcluirde dar inveja.
Para entender este texto tu tens que ir lá no início dos textos. Com o passar da leitura dos primeiros textos é que irás entender -
ResponderExcluircronologicamente -,este e os outros, até o final, ok?
Se quiseres contatos eis meu e-mail:
lecinof@gmail.com