sexta-feira, 7 de junho de 2013

VIDA EM VIRTUÁLIA : AS TRÊS MEDALHINHAS

ARRET
A NOVA MORADA

As Três  Medalhinhas
           
            - Puxa, já chegamos - respondi-lhe dando uma espreguiçada.
            - Já? Poxa foram longas horas! Onde estavas? “Viajando” para Virtuália durante nossa viagem, ah! Ah! Ah!
            - Vai rindo, vai! Você vai acabar me seguindo para lá qualquer dia desses!
            - Por favor, senhor, apresse-se que temos que embarcar outros passageiros – disse-me uma aeromoça com uma cara “azeda” que, pelo visto, envelheceu na profissão que não gostava.
            Em questão de trinta e um minutos, já estávamos acomodados confortavelmente em uma balsa a caminho de Soure. Rô me falou:
            - Olha só que paisagem mais linda! É como se estivéssemos rumando para o paraíso!
            - Mas nos estamos indo para um dos paraísos deste Brasilzão desgovernado, Rô!
            - Você fez bem em dispensar o teco-teco da fazenda do Nilton Júnior. Além de ser um aviãozinho antigo, o que me causa medo, angústia e mau presságio, estaríamos perdendo esse visual incrível!
            - Tem razão, pitéu! Sempre tens razão – falei isso e beijei-lhe a face e ela me olhou sorrindo do jeito que eu amo vê-la sorrir.
            - Rô, vou até ao comandante verificar se as encomendas do Juninho estão nesta balsa, OK?
            - OK, mas não demore!
            Na cabine de comando:
            - São caixas de madeira com uns botijões dentro – perguntou o comandante.
            - Sim! Vieram de Minas Gerais até Belém e depois seriam enviados de balsa para Marajó – respondi-lhe.
            - Eu desembarquei esses volumes ontem no porto de Soure – informou o comandante Viegas.
            - Ótimo! Muito obrigado – agradeci e voltei à poltrona ao lado da Rô:
            - E aí Lê, tudo certo?
            - Sim! As caixas já estão em Soure; chegaram ontem!
            Cerca de cinco horas depois em Soure, desembarcamos nossas bagagens e uma voz conhecida nos chamou:
            - Olá meus amigos de fé! Seu Lê e dona Rô, há quanto tempo que não nos vemos?
            - E aí Juninho, como estás – perguntei-lhe.
            - Tudo maravilhoso! Está é Nonata, minha noiva!
            - Nossa Juninho que garota bonita – falei exagerando no elogio e percebido pela Rô que emendou:
            - É a típica mulher paraense, linda! Vocês terão lindos filhos!
            - Agradecida, gente! Fico até avexada de tantos elogios – respondeu Nonata.
            Juninho empurrou um dos carrinhos com algumas  bagagens até a caminhonete cabine dupla - modelo C-10 -, perguntando:
            - Lembra-se dessa possante, seu Lê?          
            Olhei, tentei lembrar e, quando vi a placa:
            - Lembrei! Placa de Mateus Leme – MG!
            - Era daquela construtora mineira que devia muito dinheiro de fretes de combustíveis à transportadora do seu pai e, ele aceitou esta caminhonete como pagamento!
            - Isso mesmo! Papai acatou os teus conselhos e ainda pegou dois caminhões seminovos. Dois meses depois, de meu pai acertar a dívida, a construtora faliu!
            - Seu Lê, daqui até a sede da fazenda são trinta e um minutos nesta caminhonete; se sairmos agora nós chegaremos lá pouco antes do horário costumeiro que vocês jantam ou vocês preferem comer algo de... – interrompi o Juninho. Tirei do bolso uma via de conhecimento de carga, mostrei a ele e disse:
            - Vamos aguardar o pessoal do porto trazer estes seis volumes, OK?
            - OK! Eles já estão trazendo  – disse o Nilton Júnior e pediu aos funcionários da balsa:
            - Por favor, senhores acomodem os volumes na carroceria daquela C-10 amarela, eu os ajudo OK?
            E assim foi feito.
            Quando os volumes estavam acondicionados e amarrados, no compartimento de cargas da caminhonete, Juninho perguntou-me:
            - Nossa Seu Lê, o que tem nessas embalagens?
            Peguei uns certificados de dentro de minha pasta e entreguei-lhe dizendo:
            - Isto tudo é o nosso presente de casamento para vocês! São doses de sêmen de Nelore PO premiados. São para vocês começarem um rebanho da mais alta linhagem!
            - Só o senhor mesmo para ter uma ideia dessas para presente. Era tudo o que eu precisava. A fazenda que meu pai me presenteou, tem seiscentas cabeças sendo que quatrocentas e oitenta e quatro são fêmeas estão aptas para começar a procriar. Com isto vou alavancar nosso rebanho com ótima qualidade.
            - Você já trabalhou com inseminação artificial, meu rapaz – perguntei-lhe.
            - Ainda não, mas agora vou antecipar tudo que estava programado para daqui a um mês. Vou começar a semana que vem. A Nonata é veterinária e contratamos dois técnicos em agropecuária e eles têm prática nisto, seu Lê! Já temos tudo engatilhado. Tenho toda a aparelhagem para fazer isso.
            - Nessas seis embalagens, doutora Nonata, contém seis botijões apropriados para armazenar sêmen em nitrogênio líquido. Quatro contêm as doses de sêmen e as outras duas só tem nitrogênio para vocês irem repondo nas que tem os sêmenes, pois quando vocês abri-las, para tirar as dosagens, o nitrogênio escapará em forma de gás. No final do dia vocês completam com o nitrogênio de reserva. Quando uma esvaziar, vocês levam de teco-teco para encher em Belém. Terão sempre uma cheia em estoque. Entenderam?
            - Claro, meu amigo, o senhor pensou em tudo - elogiou-me o Juninho.
            - Depois informarei a vocês os fornecedores selecionados  de sêmen  aqui na região. Quando utilizarem todos os que te trouxe, você poderá comprar mais – se for interessante -, ou colher dos próximos touros PO que, com certeza irão nascer aqui na fazenda, OK?
            - OK, seu Lê – respondeu a doutora Nonata.
            Subimos na C-10 e rumamos para a fazenda. Como já passava das dezessete horas e trinta e um minutos, resolvemos que nem lanche nós faríamos; jantaríamos na fazenda quando chegássemos.
            Por volta das dezoito horas e trinta e um minutos, já estávamos alojados em uma das suítes da, na verdade, agropecuária, do Juninho. De repente umas batidas suaves na porta se fizeram ouvir e uma voz conhecida perguntou:
            - Seu Lê e dona Rô, venham para o varandão de refeições. Vamos saborear peixe assado na grelha e salada mista de legumes. Estão a fim?
            Abri a porta de abrupto e respondi:
            - Ainda pergunta meu garoto?
            Ficamos por um bom tempo saboreando as iguarias e conversando sobre tudo e Juninho me falou:
            - Nosso casamento será aqui mesmo na fazenda. Um bufê de Belém está providenciando tudo. Já casamos no civil em Soure e o padre da paróquia da igreja de Soure virá aqui nos casar no religioso.
            - Ótimo Juninho! Então terei o prazer de ver toda a família Bezerra reunida, não é?
            - Podes crer meu amigo!
            - Seu Lê, eu gostaria de conversar sobre uma proposta profissional, seu seja, nós vamos à viagem de lua de mel por vários lugares do mundo e isto durará em torno de sessenta e dois dias, certo? Eu vou precisar de alguém de confiança para administrar esta fazenda por uns três meses. Como já nos conhecemos, gostaria que me ajudasse nessa empreitada. O que achas?
            - Posso te dar a resposta amanhã à tarde, Júnior – respondi-lhe.
            - Claro, seu Lê e tomara que seja positiva. O senhor me fala o valor a lhe ser pago sem medo e vergonha, OK?
            - Medo e vergonha são duas palavras que há muito saiu do meu dicionário, ah!Ah!Ah!
            - Eu que o diga – brincou a Rô sorrindo.
           
            À noite, por volta dos trinta e um minutos, na cama da nossa suíte:
            - O que você acha da proposta do garoto do Nilton, Rô?
            - Ótima! Você precisa deste ar puro daqui do Marajó. Mas, você vai cobrar dele – perguntou-me a patroinha.
            - Se eu não der o preço ele não vai permitir que eu faça sem honorários e é capaz até de postergar a lua de mel deles. Vou pedir para ele estipular um valor só para descarga de nossas consciências. Seja qual for o preço aceitarei sem questionar.
            - Tá certo! O que você decidir tá feito – falou a Rô bocejando e continuou:
            - Porém, uma semana depois do casório eu volto para nossa casa em Minas Gerais. Não podemos deixar nossas coisas três meses sem a presença de um de nós dois, OK?
            - OK! OK! Vou acertar que de mês em mês vou ficar três dias lá na nossa casa!
            - Então tá, então – disse-me a Rô me beijando e desejando boa noite.
           
            Foram dias de absoluta tranquilidade depois do casório, até que chegara o dia do embarque de minha mulher de volta para Juiz de Fora e, no setor de embarque do aeroporto internacional Júlio Cezar Ribeiro , também conhecido como de Val-De-Cans, em Belém:
            - Pode ficar tranquilo, Lê, o Thiago, a mulher dele e nossos netinhos estarão no Galeão me esperando para me levar para casa. Liguei para ele agorinha e foram eles que propuseram em ir me buscar.
            - Ah! Agora sim eu fico tranquilíssimo!
            - OK! Então tchau que já estão embarcando – falou a Rô dando-me um beijo.
            Voltei para Soure na balsa do meio dia e de Soure para a fazenda fui na Amarelona que tinha deixado no estacionamento do pequeno porto.
            No dia seguinte, que seria sábado, levantei-me cedo, tomei um café da manhã reforçado e, como iria ficar sozinho na sede da fazenda, liberei a cozinheira na sexta e disse a ela que retornasse só na segunda-feira: e falei em voz alta:
            - Não vou fazer nada hoje - falei em voz alta.
            Lá pelas dez horas, depois de ler os jornais via computador, fui à cozinha e preparei uma fritada de camarões. Preparei, em um isopor com gelo, algumas cervejas long neck – daquelas que só são produzidas no Pará -, e fui para debaixo de uma árvore extremamente alta e que proporcionava muita sombra à beira da baia:
            - Vou ficar na espreguiçadeira e jogar o anzol na água, porém o que pescar vou devolver à baia de Marajó!
            As horas foram passando e ao meio dia, lá pela metade das cervejas e toda a fritada de camarões eu...

            ...
            - Ô de casa - gritei do portão e vi que alguém olhou pela janela, após arredar um pouco a cortina:
            - É o seu Lê, Antônio – ouvi a Xerê falar. E a porta da sala se abriu junto com o costumeiro e alegre sorriso de meu amigo.
            - Cheja bem vindu, meu amigu! Nóis tava falanu di ôce inda agurinha – disse-me o Nhô.
            - Sei que falavam bem, não é – respondi perguntando:
            - Tudo bem com vocês?
            - Nós estamos ótimos seu Lê, de uma olhada na Ritinha dormindo no carrinho de bebê e diga se não é a coisinha mais linda deste mundo – falou a Xerê.
            - Nhô, como ela está cada vez mais  parecida com vocês? É incrível!
            - Eh! Eh! Eh! É diveras, misifiu. Issu num tem ixpricação! Fala pressi seu amigu  nêgu véi:
            - Arguma coisa gravi trôxe ôce di vorta prá Rai-Brasí?
            - Sim, meu amigo, aquela história das medalhinhas, ainda me perturba a mente. O senhor  lembra se tinham duas medalhinhas iguais, mas com as gravações diferentes – perguntei-lhe.
            - Falanu diveras, mai diveras memu, ieu só tenhu certeza da qui a Ritinha – a qui foi minha premera muié -, mi deu di presenti quandu ieu fiz sessenta anu. U interessante é qui iela tava lavanu rôpa nu Riberão Limpu i achô essa medáia pertu di uma pedra meia afundada na areia. U brio du ôru é qui chamô a atenção deia. Iela levô no Jojô da relojaria e ieli gravô meu nomi verdaderô nas costa dessi santu. Quem falô qui era São Ciprianu foi u Julianu, seu Lê. A ôtra qui a dotora Kolina mim deu ieu num alembru déia.
            - Será que o pessoal de Arret não sabe o seu nome verdadeiro, senhor Antônio Jerônimo da Conceição?
            - Num sabi memu, misifiu! Só si ôce falô prêlis!
            - Eu não falei prá ninguém. Nem para a Xerê – disse-lhe.
            - Isso é verdade, meu preto! Só soube recentemente e através dessa história das correntinhas – completou a Xerê.
            - U interessanti é qui u Kobausqui pidiu prá ieu i a Xerê usá sempri ielas nu pescoçu i a Ritinha usá, inquantu fô pititinha, presa cum arfineti na rôpa. I iele dissi bem ansim:
            “- Seu Nhô u sinhô i sua famía mantêm essas medainhas sempri pertu dus seus corpu, OK?”
            - Dessa novidade eu não sabia! Quando estiver com o Kobauski vou esclarecer de vez essa história, certo Nhô?
            - Certu, seu Lê! U sinhô é qui sabi, eh! Eh! Eh!
            - Eu estive pensando em levar essas medalhas para o professor e reitor Oscar, da USV, analisar no laboratório de física, química e biologia da universidade! O que achas Nhô?
            - Taí uma boa ideia, misifiu! Só tem uma coisica!
            - Qual Nhô?
            - Minha famía num pódi ficá longi das medainhas. Foi órdi du comandanti Kobausqui!
            - Bem lembrado “Véi”! Vamos todos lá amanhã cedo! O que achas?
            - Vô pedi prá Xerê si perpará e arrumá a Ritinha prá nóis í lá amanhã cedu. Nóis vai di carroça seu Lê. É qui u Bitencourt tá percisanu fazê...
            - Já sei! Ele precisa de exercícios, não é?
            - Issu memu! Essi pangaré tá muntchu gordu,  forgadu  i sôrtu pelu pastu, eh! Eh! Eh!
            - Mudando de assunto Nhô, o que houve com o boato sobre o “Caboclo D` água”?
            - Ah! Seu Lê, u Carabina Dozi i u delegadu Trimillim di Analogicópis prenderu um casá di andariu martrapilhu qui andava pressas banda. Sabi aquêie dia im qui ieli falô qui ia vascuiá u ôtru ladu da Serra Madri?
            - Lembro sim “Véi”!
            - Poizé, foi naquêie dia bem di tardinha, qui eies prenderu um casá. Quandu iele capturaru essas pessoa, passaru aqui nu sítiu i u Carabina falô bem ansim prêu i prá Xerê:
            - "Nhô, nóis prendemu essis dois melianti enquantu estava assanu, nas brasas di uma foguêra, uma banda di um cabritu. Eies mi garantiru qui foi a Xerê qui tinha dadu a eies. Eu quandu vi i senti u chêro tive a impressão qui era carni di porcu. Esperei terminá di assar i mastiguei um nacu i, reamenti, era carni di porcu. A muié do mendigu dissi qui foi ocêis qui tinha dadu a eies. Só pra descarga di conscença mi diz si eia mintiu i... Xerê interrompeu ieli falanu:
            - Eles não mentiram Carabina! Ontem eles passaram por aqui e lhes servimos café com broas, mandioca e nhame. Eles comeram e quando iam saindo dei a eles a metade de uma leitoa de java porco que morreu esmagada por um cachaço enorme. Os dois delegados agradeceram a nossa informação, entraram no camburão e levaram o casal para onde eles estavam acampados e o deixou livre.
            - E depois disso – perguntei ao Nhô.
            - Óia seu Lê, comu num sumiu mai nadica di nada pur aqui, ieles incerraru u casu.
            - Nós sabemos e não podemos falar o que houve, não é meus amigos – perguntei.
            - Deveras seu Lê, deveras – respondeu o Nhô.
            - Seu Lê, ôce mi ajuda a coiê uns legumi módi ieu perpará uma sopa prá janta?
            - Lógico ! O que vai colocar nessa sopa?
            - Nhame, mandioca, batata baroa, batata ingresa, pimentão, pimenta biquinhu, tomati, cebola, carni di sor, maçarão, jambú i u meu tempero qui é aqueie segredu qui u sinhô sabi, eh! Eh! Eh!
            - Já deu até água na boca “véi”!
            - I prá acompanhá tem uma fornada di pão feitcha ind’ agorinha!
            - Caramba Nhô, desse jeito vou passar dos oitenta quilos e... – fui interrompido:
            - I inquantu nóis fais u jantá nóis bibirica umas purinha cum raiz amarga qui é bão pru istrongu, prá quem num tem mais visicula i ajuda a ismagrecê, eh! Eh! Eh!
            Por volta das dezenove horas e trinta e um minutos, após a saborosa refeição, a Xerê bocejando nos disse:
            - Vocês me dão licença que vou aproveitar o sono da Ritinha e vou dormir também. Amanhã às sete horas vamos para Virtuália. Não esqueçam, rapazes!
            Eu e o Nhô trocamos algumas palavras e fomos dormir. Ele com a família e eu na rede no varandão.

            Na manhã seguinte, por volta das oito horas e trinta e um minutos, na Universidade Sideral de Virtuália - USV:
            - Seu Lê, há quanto tempo não nos vemos – perguntou o Oscarzinho em seu “trono” na sua sala na USV.
            - Desde a comemoração da gravidez da Cindy no Boteco dos Caldos- respondi.
            - Olá senhor Nhô e família! Vocês estão com aparências joviais – disse simpaticamente o reitor à família Jerônimo da Conceição.
            - Oi, perfessô Oscá! U sinhô tamém tá ótimu!
            - O que querem de mim além de matar a saudade?
            -Oscar, nós queremos que você analise três medalhinhas de ouro. É para sanar algumas dúvidas à cerca delas – falei-lhe e o Oscar pegando as três joias disse:
            - Vou fazer análise da qualidade do ouro e depois tirar um raio-X de cada uma. Parece muito pesada para uma medalhinha deste tamanho, OK?
            -OK, professor! Podemos ficar aguardando aqui por perto – perguntei-lhe.
            - Sim é claro! Dentro de no máximo trinta e um minutos terei as respostas das análises. Vou eu mesmo fazer as análises. Podem me acompanhar exceto na hora do Raio-X, OK?
             Há meia hora que durou as análises parecia trezentos anos tal a minha angústia, até que:
            - Pronto seu Lê! Aqui estão os resultados, ou seja, as medalhinhas e as correntinhas são do mais puro ouro monoatômico.  Gostaria de conhecer o joalheiro que fez esse trabalho tão perfeito. Tem até pupila esculpida nos olhos do santo. É incrível! O engraçado é que em seu interior tem uma particularidade, ou seja, uma tem três pedrinhas redondas de um metal que não conheço; outra tem duas pedrinhas e na terceira tem apenas uma pedrinha. Porém, quando a passei - uma por uma -, no aparelho de Raio X, aconteceu algo estranho!
            - O que ocorreu professor – perguntei.
            - Uma delas soltou três clarões e as outras dois e um clarão respectivamente – falou isto e nos entregou as medalhinhas e saímos;
            - Muito obrigado mais uma vez Oscar – agradeci.
            - De nada, meus amigos! Quando precisar de alguma coisa e estiver ao meu alcance, podem vir me procurar que os ajudarei OK?

            Voltamos para o sítio sem visitar ninguém em Virtuália e no percurso eu e o Nhô fomos trocando pensamentos a respeito:
            - Sabe, Nhô, essas três medalhas devem ser uma espécie de código cósmico. O que achas?
            - É muntchu compricadu prôs miolu dessi pretu véi, seu Lê!
            - O mais intrigante é como ela nos chegou às mãos – disse a Xerê.
            - Tem razão Xerê, mas tudo deve ter uma explicação e vamos consegui-la com nosso amigo arretiano Kobauski – quando falei isto passávamos cerca de uns cem metros do portal das  pitangueiras e o Nhô gritou tão alto que o Bittencourt se assustou e soltou um relincho de protesto que foi acompanhado pelo início de um choro estridente e forte da Ritinha e a Xerê falou:
            - Xiiiii... agora danou-se! O que foi meu preto?
            - Chegou arretianu nu portá seu Lê! Óia só comu ainda bría!
             Às onze horas e trinta e um minutos chegamos ao portão lateral do sítio e vimos, sentado no murinho do varandão da cozinha o Kobauski que saboreava carambolas e... pasmem:
            - Nhô aquele que acompanha o Kobauski é o reptiliano que ele levou, daqui da região, para Arret?
            - Pódi num sê ieli, misifiu mai pareci – respondeu o negro velho.
            - É ele sim Nhô! Neste também faltam dois dedos da mão direita, como naquele que ele levou para Arret!
            - Sí ôce tá falanu, seu Lê; tá ditu!
            Descemos da carroça e o Kobauski se aproximou:
            - Seu Lê, Nhô, Xerê e Ritinha... pelo que vejo estão ótimos - respondi, em seguida,  por todos:
            - Estamos sim comandante! E pelo visto você também!
            - Meus amigos eu lhes apresento o HZZY! Ele é reptiliano e recebeu grande parte de nossos conhecimentos, ou seja, terráqueo e arretiano. Irá nos ajudar na nossa próxima ida a Terra-II. HZZY tinha uma inteligência raríssima a ser ativada  e nós só ajudamos a aperfeiçoá-la.
            Olhei para aqueles olhos alaranjados e pupilas verticais como a de um gato quando exposto a muita claridade e pensei:
            “– Que coisa mais feia é esse sujeito visto de perto! O folclórico capeta deve ser parecido com ele, ah! Ah! Ah!”
            O ser espichou a mão direita e falou com voz gutural e horripilante:
            - Então o senhor é o Lê que o comandante sempre fala? Muito prazer!
            - Olá HZZY, tudo bem?
            A Xerê nos interrompeu:
            - Vocês fiquem à vontade que eu vou banhar a Ritinha para tirar a poeira da estrada, dar a ela uma mamadeira e pô-la para dormir – falou isto e foi se retirando seguida do Nhô que emendou:
            - Ieu vô terminá u armoçu qui dexei quaji prontu inhantis di i pra Virtuáia. Ôce i u seu companhêru vão armoçá cum nóis num é Kobausqui?
            - Se vai nos dar esse presente nós aceitamos, meu nobre amigo – disse o Kobauski que prosseguiu no diálogo:
            - Não precisa fazer nada especial para o HZZY, pois ele só come carne crua, insetos e ovos diversos!
            - Cruis credu... qué dizê, vô buscá uns ovos di pata, di galinha i tirá, da geladêra, um pernil di leitoa di java porcu prêli, tá bão Kobausqui?
            - Ótimo Nhô!
            - Intão oceis vão prosiá lá dibaixu da carambolêra qui ieu vô perpará u varandão pro nossu armoçu!
            Nhô saiu para cuidar de temperar a salada de folhas verdes, a de legumes, do arroz de alho, feijão tropeiro, as bistecas de java porco e da refeição do HZZY.

            Em baixo da caramboleira:
            - Seu Lê, vocês destruíram os chips de proteção e localização da família do Nhô! Por quê?
            - Ah! Então é essa a função deles dentro das medalhas? Por pura curiosidade! Pedi para um amigo meu analisá-las e foi só isso que ele fez. Eu pensei que nelas tivesse algum código e... – fui interrompido:
            - Não se trata nada disso, meu amigo. São chips protegidos com ouro monoatômico, no caso as medalhas. São diferentes dos que usamos internamente em corpos vivos.  Não achamos prudente instalarmos chips nos corpos deles. São muito idosos e a neném muito novinha! Entendeu?
            - Sim, e peço-lhe desculpas! Mas e agora, vão ficar sem os chips de localização e proteção?
            - Devolva-me as três medalhinhas que vou substituir os chips por outros que nem grande exposição ao césio-157, direcionado e concentrado, queimará a memória destes novos tipos de chips, OK?
            - OK, Comandante e o que... – novamente fui interrompido:
            - Mas não foi para isso que vim aqui. Vim para avisá-lo que podemos viajar para a Terra-II, pois a estrela Greise voltou à sua tranquilidade de antes, OK?
            - OK!OK! E quando partiremos – perguntei-lhe.
            - Daqui a treze dias terrenos virei buscá-lo; aos trinta e um minutos de um sábado!
            - Não poderei levar o Nhô, Kobauski?
            - Não! Ele agora é necessário aqui com a família e desta vez vamos ficar lá por um bom tempo. Estás de acordo?
            - Sim, afinal eu entrei nessa história e vou até ao fim!
            - Ei pessoá! O armoçu tá prontu, pódi vim todu mundu!
            Olhei para meu Ômega – herdado do Nelsão -, e pensei:
            “–Meio dia em ponto! O Nhô é de uma pontualidade impressionante!”

            Sentamos à mesa e o HZZY pegou a cesta com ovos numa mão e na outra o pernil e sentou-se num banco debaixo do pé de carambolas.
            O almoço estava digno dos deuses e de onde seu estava dava para ver o HZZY comendo e pensei:
            “– É o próprio gramulhão comendo ovos, ah! Ah! Ah!”
            O Nhô também reparou nos modos do reptiliano se refestelando e trocamos olhares cúmplices.
            Uma hora e trinta e um minutos depois do saboroso almoço:
            - Seu Lê, temos que ir para Arret agora. Não se esqueça da data combinada, OK?
            - OK, Comandante – respondi-lhe.
            - Nhô, Xerê e seu Lê, não se esqueçam de preservar as medalhinhas com os novos chips, conforme os instrui antes. Foi ótimo revê-los e saborear teu almoço, Nhô!
            - Ieu sempri ponhu caprichu quandu ôceis vem puraqui, eh! Eh! Eh!
            - Então, boa sorte a todos e até a volta – despediu-se o arretiano.
            - Boa viagem – falamos quase os três juntos.
            Meia hora e um minuto depois:
            - Ieu gostaria di í cum ôce para Terradois, seu Lê, mai num vô dêxa a Xerê i a nossa pretinha sozinha aqui, di jeitu manêra. Nem qui fossi prá í pro céu, eh! Eh! Eh!
            - Nhô, sei que o senhor reparou no HZZY se alimentando e, também prestou atenção nos olhares dele e eu te pergunto:
            - O que achas dele?
            - Óia seu Lê, ieli pareci um animar felinu esperanu a hora da presa dá uma brechinha i atacá. Ieli comenu aquêies ovos parecia u “capeta chupanu manga”, eh! Eh! Eh! Eh!
            - Ah! Ah! Ah! Foi o que eu também vi nele comendo e sem saber como é o gramulhão chupando manga, “Véi”, ah! Ah! Ah!
            - Ei meninos, por favor, riam das piadas mais baixinho, pois a nossa pretinha acabou de se empanturrar de mamadeira, arrotou e dormiu. Vou tirar um coxilo, OK? – brincou a Xerê.
            - U seu pretu véi pódi í cuchilá mai ôce, Xerê?
            - Só si você não quiser, assanhado. Mas é prá cochilar mesmo, tá!
            - Intão tá, intão, eh! Eh! Eh!
            - Ah! Ah! Ah! Vocês são as minhas alegrias nesta vida em Virtuália! Vou tirar uma soneca embaixo das seriguelas e depois “mi pirulitá”, OK amigos?
            - Tá bão misifiu! Mai cuidadu cum u temporá qui tá armanu lá longi, na serra Peitchu di Moça. Quandu u Peitchu fica nubrinadu a chuva chega aqui im uma hora i trinta minutu, eh! Eh! Eh!

            Direcionei-me para a rede armada nos pés de seriguelas e literalmente apaguei.


            Uma hora e vários minutos depois fui acordado por um vento forte e acompanhado por um aguaceiro danado:
            - Ei seu Lê, seu Lê! Saia debaixo dessa castanheira que esta chuva é de raio e um pode acertar a árvore e te atingir – gritou o Ribamar, um dos técnicos agrícola da fazenda do Juninho.
            - Obrigado, meu jovem – foi só eu agradecer, sair de lá e um corisco podou a copa da árvore da jovem castanheira. O estrondo foi ensurdecedor:
            - Égua Mano, se o senhor estivesse lá, já era! Engraçado como está este tempo, seu Lê; chuva de raio assim não é tão comum. Eu nunca fiquei tão perto de um raio!
            - Realmente você salvou minha vida amigo! O clima deste mundo está todo estranho!
            - Ainda bem que desliguei toda rede elétrica e de telefone da tomada – disse o jovem esperto.
            - Se continuar assim teremos que instalar uma chave temporizadora, ou seja, começou a tempestade de raios ela desligará tudo sozinha.
            - Boa ideia, seu Lê – falou o Riba caminhando para o alojamento dele.
           
Continua em 14/06/2013:
ARRET
A NOVA MORADA

O Teco - Teco

2 comentários:

  1. Sensacionais esses personagens. É uma miscelânea que se encaixam numa criatividade
    de dar inveja.

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  2. Para entender este texto tu tens que ir lá no início dos textos. Com o passar da leitura dos primeiros textos é que irás entender -
    cronologicamente -,este e os outros, até o final, ok?
    Se quiseres contatos eis meu e-mail:
    lecinof@gmail.com

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