ARRET
A NOVA MORADA
Caboclo D’água
- Nhô, o senhor
se lembra daqueles seres que estavam na caverna junto com os humanos lá de
Terra- II?
-
Alembru sim! U qui é qui tem ieles, misifiu?
Em
uma caverna, lá no sertão do Piauí, tem uns desenhos pré-históricos parecidos
com eles. Nesses desenhos, os seres, adoram uma divindade parecida com o
pessoal da raça do Kobauski! Não é curioso, ou melhor, estranho?
-
Num achu nem istranhu, mai curiosu, patrão! Despois du qui nóis passemu pur
essis mundu afora, nadica di nada é istranhu, eh! Eh! Eh!
-
Talvez, como sempre, tenhas razão, “véi”! Mas, precisamos falar com o Kobauski
sobre a sua correntinha de São Cipriano. Não me sai da cabeça essa história.
-
Ôce é qui sabi, misifiu! Mai, inhantes vamu, hoji di tardinha, lá nu Buteco dus
Cardu visitá nossus amigu. Hoji, aqueie cantô du Vali du Riu du Pêxe vai si
apresentá lá inhantis di ieli viajá pras estranja i cantá prôs gringu!
-
Tudo bem, Nhô! Vamos na GMC e...
-
Não, não seu Lê, nóis vai cum Bittencourt. Ieli tá mutchu gordu i percisandu
di exercíçu. Lembra qui u Biliatu i u
amigu deie feis um reservadu lá nu fundu du butecu pru Bittencourt, quandu a
genti fossi lá visitá ieles?
-
Já me convenceu “véi”, nós vamos de carroça!
-
Ôce dêxa seu negu véi í, num dêxa Xerê?
-
Claro Antônio, pode ir, mas antes tira leite de umas cabras para a Ritinha
mamar mais tarde, ok?
-
Tá bão Xerê, vô tirá agora! Vamu cumigu, seu Lê?
-
Vou sim, amigo e é prá já!
No
caminho do curral das cabras:
-
Seu Lê, já tem uns vinti dia qui trocamu déis java-porcu prum rebanhu di quinzi
cabra i mais dois bodi. Hoji só temu oitu cabra i us dois bodi. Di quatru im quatru dia somi uma
cabra du currá. Num dá prá intendê. Fais quatru dia qui sumiu uma i é bem
capais di hoji sumi ôtra – disse o Nhô pensativo.
-
Ninguém, pela redondeza, sabe que estou aqui, “véi”. Vou esconder a GMC no
galpão e quando voltar da cidade eu virei escondido na carroça, embaixo de uma
lona. O senhor guarda a carroça no galpão e eu vou ficar de olho no curral das
cabras. Hoje a gente pega esse ladrão, ok?
-
Tá certu, seu Lê! Ieli só vem despois da meia noiti, pruque, inhanteis, ieu
sempre tô acordadu i nunca vi nadica di nada!
-
Então tá acertado Nhô!
-
Intão tá, intão!
Dezessete
horas e trinta e um minutos chegando ao Boteco dos Caldos:
-
Eu não acredito! É o seu Lê! Há quanto tempo meu amigo – era o Paulinho
Goró que já estava com a churrasqueira cheia de espetinhos. O local estava lotado por conta
do show do Zoca Poeta – o cantor das cantadas -, e, também da boca-livre
proporcionada pelo nascimento do casal de gêmeos do Paulo di Paulla e da Cindy
Corbélia. Era uma alegria incontestável de todos os amigos em comum.
O relax era total entre caipirinhas,
espetinhos e a música maliciosa do Zoca, até que:
-
Senhoras e senhores, amanhã parto para o exterior e vou lembrar sempre desta
nossa Virtuália e, para finalizar, já são vinte e uma horas e trinta e um
minutos; canto o último e mega sucesso: MILHO CRU!
O alarido foi geral e esta era a
letra da canção:
Eu
plantei
Um
milharal
No
fundo
Do
meu quintal
Vou
comer
Muito
curau,
Pamonha
E
muito mingau!
Pois,
é com
Milho
cru
É
com
Milho
cru
É
com
Milho
cru
Que
eu faço
Pamonha
É
com
Milho
cru
É
com
Milho
cru
Que
eu faço
Pamonha
Que
eu faço
Curau!
É
com
Milho
cru
É
com
Milho
cru
É
com
Milho
cru
Que
eu faço
Cural!
É
com
Milho
cru
Que
eu faço
Mingau!
Olha
o mingau
Pamonha,
pamonha, pamonha...
Olha
o curau!
É
com
Milho
cru
É
com
Milho
cru... (bis)
Eu não acreditava que uma música,
com aquele refrão, fizesse sucesso ou
talvez fosse pelo refrão que o sucesso aconteceu. O Nhô sorrindo me
disse:
-
Essa é prá mandá genti desenti í simbora, num é , misifiu, eh!, Eh! Eh!
-
Só é Nhô, vamos nessa – e saímos quase que escondidos.
Chegando no sítio,na sala de
visitas, quase meia noite:
-
Cadê o seu Lê, meu “Véio”? Eu já preparei o quartinho para ele!
-
Ieli vai drumi na redi lá nu garpão! Ieli vai vê si dá sorti di pregá um sustu
im quem tá robanu nossas cabra, Xerê!
A noite permaneceu com sua
tranquilidade. O silêncio da noite só
era embalado pelo barulho contínuo do remanso do Rio do Peixe em dueto com o Ribeirão Limpo e, por volta das três horas e trinta e um minutos, o Bittencourt deu três
relinchos longos e um curto que me despertou da sonolência; olhei pela fresta da janela do galpão:
-
Ah! Vem um vulto saindo das pedras da Serra Madre e tomando a direção ao curral
das cabras! É hoje!
Peguei duas bombas de festa juninas
– das bem grandes -, que sempre trago várias comigo na GMC, fui sorrateiramente
rumo ao curral em sentido contrário, de encontro ao larápio. Quando ele ia
pular a porteira do curralzinho das cabras eu acendi, rapidamente, uma das
bombas – que mantive com estopim curtíssimo -, e lancei para perto dos
seus pés e em seguida joguei outra. Com o primeiro estrondo o sujeito deu um enorme salto e após o segundo estampido
ele saiu em desabalada carreira e pude ver quem era:
-
É um reptiliano! Mas, está mais parecendo aquele pré-reptiliano da Terra II. Eles
eram bem maiores em estatura!
Com o estrondo, Nhô veio correndo
com um trabuco na mão:
-
Quem era, misifiu?
-
Nhô, por incrível que pareça, é um reptiliano. Mais inacreditável, ainda, é que
ele parece com aqueles lá de Terra II!
-
Ei rapazes! Vocês não vão parar com essa barulheira? Já acordaram a Ritinha
– disse Xerê com a fisionomia cansada.
-Eh!
Eh! Eh! Iela acordô foi pruquê tá na hora da mamadêra deia, Xerê! Ieu já fiz i tá
nu banhu- maria incima da chapa du fugão
- respondeu o Nhô.
-
Obrigado, meu “véi”! Você é um paizão!
-
Nhô, eu tenho que contactar o Kobauski
agora! Será que ele vai ter condição de me atender? Lembra dos problemas que
tivemos com o choque do meteoro em Greise?
-
Ieu achu qui iele já atendeu, seu Lê! Óia lá prus ladu du portá das pitanguêra i
veja aqueies crarão!
-
Tem razão Nhô! Lá vem ele!
-
Boa noite seu Lê! Como vai Nhô, tudo bem?
- Quaji tudu, misifiu!
-
Temos problemas sérios, Kobauski!
-
Creio que já sei do que se trata. Mas, antes quero te devolver isto Nhô – o
comandante tirou da bolsa de seu macacão prateado um pequeno embrulho e o deu
ao preto velho, que ao abri-lo gritou assustado:
-
Mi... mi... minha me... medainha de São Ciprianu!
-
A doutora Kolina a achou perto daquela mina em Terra II! Supomos que seja sua, pois tem as iniciais NAB que
são as iniciais de Nhô Antonio Benzedô!
-
Seu Lê, não tô intendenu mai nadica di nada!
-
Nem eu Nhô! Depois nós conversaremos sobre isso – disse e prossegui dirigindo
a palavra ao Kobauski:
-
Kobauski, acho que tem um reptiliano rondando o sítio do Nhô, ele até já ... –
o comandante me interrompeu:
-
Antes de o senhor me chamar eu já estava a caminho. Ocorreu o seguinte: -
Quando aquele meteoro foi tragado pela estrela Greise, como já sabemos, houve
uma enorme explosão na superfície daquele astro. Houve, então, um apagão geral
em todos os meios de comunicação e
controles eletromecânicos de nossas naves na órbita de Terra II e nas naves que
estavam no solo. Os pré-reptilianos – até podemos chamá-los assim -, aproveitaram essa pane e, alguns casais,
entraram nas naves que estavam de saída de Terra II. Em Arret pegamos três
casais e veio um para Virtuália.
-
Mas não vimos ninguém na nossa nave, Kobauski! E o Etevaldo só nos deixou aqui
e retornou para Arret – disse ao comandante.
-
Lembra que o detector de corpos
estranhos das naves deu pane geral na central das naves mãe da
expedição? Pois é, essa pane só foi consertada em Arret. Corremos um risco
enorme, mas tínhamos que sair de Terra II urgentemente e não poderíamos mais
esperar. O meu filho me falou que quando parou para deixá-los aqui em Hy-Brasil
ele atravessou o portal para chupar umas mangas. Foi aí que o casal de
reptiliano desceu da nave e atravessou, também, o portal. Já sabemos onde se
esconde e quando o Sol estiver à pino, nós vamos capturar e levá-lo para Arret.
-
Intão ôce vai ficá inté a hora du armçu cum nóis, Kobausqui – perguntou o
Nhô.
-
Sim, meu amigo! Espero não atrapalhar em nada – respondeu o Kobauski.
-
Craro qui não, sô! Ôce vai porvá uma rabada cum agrião i jambú qui ieu vô fazê.
Ôce vai adorá, pois é uma cumida dus deusis, eh! Eh! Eh! Mai, inhantis nóis vamu... – o comandante o
interrompeu:
-
Já sei! Vamos tomar aquele café especial produzido aqui no teu sítio com aquela
divina broa de milho feita pelas mãos do Nhô Antônio!
-
Ah! Ah! Ah! O meu amigo comandante sabe das coisas – falei sorrindo.
-
Ôce vêi sozim , Kobausqui?
-
Não Nhô! Veio eu, Klauskis, o piloto – é claro -, e a doutora
Kolina! A doutora ficou perto da mina que é um lugar igualzinho ao de Terra II, onde ela
encontrou sua medalhinha. Ela está colhendo amostras do local para análise.
Assim que amanhecer ela e o piloto virão até aqui para tomarmos café juntos,
OK?
-
Tá bão intão meu amigu!
-
Temos muito que conversar, comandante! Vou começar com uma pergunta que não me
sai da mente e...
-
Qual é a pergunta, seu lê – perguntou o Kobauski e eu fui lhe respondendo
perguntando:
- Nós viajamos para terra II ou voltamos aos
primórdios de nossa Terra?
-
Lembra, seu Lê, de quando falei que se entrarmos em um "wormhole" tudo pode
acontecer – perguntou-me o comandante.
-
Sim, eu me lembro e sei também que o tempo fica complicado de se entender –
respondi-lhe.
-
Então, seu Lê, nós vamos desvendar juntos este mistério! Que achas dessa ideia?
-
Ótima! Por favor, comecemos então pela história da medalhinha do Nhô! Vou te
contar o que ele, na sua corriqueira simplicidade e inteligência, fez: - “ Ele,
naquele dia...”- contei todo o ocorrido e em trinta e um minutos depois:
-
E foi assim, comandante. É algo estranho, muito estranho e de difícil
compreensão – e antes que Kobauski começasse a tentar explicar o ocorrido
ele olhou para o lado das pitangueiras e disse:
-
Olhe, lá vem a Kolina e o piloto!
-
Bom dia meus amigos – disse a
doutora sorrindo.
Todos , à ela responderam e, nessa
hora, a Xerê, que tinha voltado a dormir, acordou com o cheiro da broa fresca e
o aroma do café recém coado e se assustou:
-
Caramba Antônio, quem são essas criaturas? São extraterestres?
-
Inté qui si pódi falá ansim, minha véia. Ieis são di Arret; aquêie lugá prá
adondi ieu i u seu Lê costumamu viajá!
O tamanho pequeno da Xerê contrastava com o trio de visitante e, de
repente, a Ritinha pôs a boca no mundo à chorar de fome:
-
Vocês me dão licença que tenho que dar mamadeira à minha bisnetinha!
-
À vontade, minha senhora, a casa é sua – disse o comandante.
Durante o café , Kobauski
perguntou à Kolina:
-
E as amostras do solo, da vegetação e do orvalho; tem alguma coincidência com o
de Terra II, Kolina?
-
São os mesmos elementos, mas o solo, a vegetação e o orvalho tem o PH alterado,
comandante. E isso é devido a muito tempo sob uma atmosfera poluída. Os lugares,
por coincidência são parecidos!
-
Seu Lê, já faz trinta e um dia que estivemos em Virtópolis e desde então as
explosões na estrela Greise continuam e até aumentaram de intensidade, portando
a trezentos e dez anos – em contagem de
Terra II -, não temos mantido mais contato com Jah e Veh. Não podemos arriscar
e irmos para lá nas condições em que se encontra aquela região do espaço.
Estudos de nossos cientistas constataram que as explosões se acalmarão dentro de,
no mínimo, oito meses terrestres, ou seja, dois mil e quatrocentos anos de
Terra II. Só então poderemos contatar com eles e até de irmos até lá. Antes...
nem pensar, OK?
-
Mas Kobauski, e a idade dos nossos amigos de Virtuália que deixamos lá? Em dois
mil e quatrocentos anos eles já terão morrido a muito tempo – ponderei.
-
É meio confuso, seu Lê mas, para eles e o casal de Arret, só teriam passado
oito meses terráqueo e para os habitantes de Terra II sim, passaram os mais de
dois milênios.
-
Ieu tô cada veis mai querenu intendê essa mistureba di tempu, mai minhas ideia si
imbaraiam mai ainda, eh! Eh! Eh!
-
Então, Kobauski, quando lá chegarmos em janeiro do ano que vem, a civilização
de Terra II já estará bem adiantada desde nossa última visita à ela! Não é?
-
É o que eu imagino, seu Lê, mas só quando isso acontecer teremos certeza –
respondeu o Kobauski.
- Mas você não me respondeu se viajamos para
Terra II ou se viajamos para os primórdios dessa nossa querida Terra, Kobauski!
O comandante retirou do cinturão
prateado, que sempre trás na cintura, um pequeno aparelho, colocou-o sobre a
mesa e o ligou. Digitou um código e apareceu projetado na parede um mapa
celestial que abrangia da Terra à Terra II. Nele estavam assinalados nossa Terra, Arret e a estrela Greise bem mais
distante. Formavam no mapa um triângulo isósceles:
-
Vejam neste mapa a Terra, Arret, Greise e, próximo à estrela outro planeta.
Este é Terra II. Portanto, seu Lê, a Terra II existe assim como podemos ter viajado para os primórdios desta
tua Terra!
“-
Ele não deu certeza” – pensei -, “talvez nem ele saiba, ainda!”
Kobauski prosseguiu:
- Deixemos para nos preocupar com isso em
Janeiro próximo, OK? Agora a prioridade é
pegarmos o casal de pré-reptilianos,
pois vou levá-los para Arret. São três casais que saíram de Terra II, com este
que vieram com vocês. Temos que saber qual o objetivo deles. São mais
inteligentes que os humanos de Terra II, antes de nossa intervenção. Para vocês
terem ideia , eles sabem seu idioma e o nosso apesar de viverem na quase fase
pré-reptiliana. Se o que eles contarem for o mesmo que os outros dois casais
contaram... a coisa ficará preocupante para os planos que temos para Terra II.
-
Está bem, comandante! Tenho outra coisa para lhe falar, ou seja: no Piauí, num
estado da federação do Brasil, tem uma gruta com desenhos ruprestes nas paredes
onde, os traços desenhados, se assemelham à arretianos sendo adorados como
deuses. O que achas disso -
perguntei.
-
Tenho que ver, seu Lê! Vamos pegar um aeromóvel, de dentro da nave que viemos e
vamos até lá! Concordas?
-
Sim, claro e se formos agora, na hora do almoço estaremos de volta –
respondi ao comandante.
-
Nhô, irei eu e o pessoal de Arret, OK? O senhor não se importa, não é?
-
Craru qui não, misifiu! Ieu vô ficá prá perpará a rabada cum agrião i jambú.
Au mei dia vai tá pronta, certu?
-
Ótimo – respondi.
-
Então, vamos agora Kobauski – perguntei.
-
Agora!
Adentramos no portal, entramos no
aeromóvel e, antes de sairmos do portal
rumo ao Piauí:
-
Quer pilotar, seu Lê, é a mesma nave que o senhor manobrou lá em Terra II –
sugeriu o comandante.
-
Mas claro, meu amigo. É pra já – coloquei minha mão na tela de
reconhecimento da pequena nave e acelerei a uma altura de 40.000 pés.
-
Genial essas aeronaves serem imunes aos radares ou qualquer outro aparelho de
detecção, Kobauski! Podemos nos locomover sem medo!
-
É isso mesmo, seu Lê! Sem falar no dispositivo de camuflagem que faz com que a
aeronave “desapareça” na paisagem!
Em trinta e um minutos chegamos a
uma região remota do Piauí e preparei para descer com a nave sobre a montanha
onde tinha a falada caverna:
-
É aqui, comandante! O lugar é praticamente isolado. Vamos descer e te
mostrarei!
Ao sairmos da nave após pousarmos,
Kobauski acionou um dispositivo em seu cinto e a nave parecia estar invisível ,
pois a fuselagem parecia ter tomado as
cores da paisagem, tamanho o poder de camuflagem.
Todos entraram na caverna. Doutora Kolina
começou a pegar pedaços de rochas, pequenas plantas, liquens, fungos e, quando clareei
a parede interna da caverna o espanto foi geral, ao verem os desenhos:
-
Ohhhhh!
-
Kolina, pegue amostras do material que usaram para pintar essas figuras, mas
muito cuidado para não danificar nada, OK?
-
OK, comandante!
-
Seu Lê, creio que nossa raça tenha se
tornado, para eles, uma raça de deuses. Depois da análise vamos saber quanto
tempo tem este acervo de pinturas, OK?
-
OK, amigo! Mas vamos procurar mais alguma coisa no interior dessas grutas!
Procuramos
até por volta das onze horas e trinta e um minutos e não achamos nada.
-
Seu Lê, vamos voltar lá para Hy-Brasil que aqui não tem mais...mais... espere
um pouco! O contador de metais está dando sinal dentro desse pequeno córrego.
Vamos verificar – disse o comandante.
-
Tem um metal brilhando quando eu dirijo o foco da lanterna de LED para aquele
ponto do córrego. Vou pegar para você – agachei e tirei o metal da água e:
-
Não pode ser – gritei.
-
O que é seu Lê – perguntou Kolina.
-
É outra medalhinha de São Cipriano e, até a correntinha é de ouro, mas está
arrebentada!
-
Deixe-me ver, seu Lê!
-
Aqui está, comandante – estiquei meu braço e entreguei-lhe o achado. Ele ,
com uma lupa - com iluminação nas bordas
-, leu nas costas da medalha:
“
Proteja - me SC - 19/11/52”
-
É medalha do mesmo santo! Mas é daqui mesmo, ou seja, tem a data recente. Deve
ser de alguém que perdeu quando passeava
por aqui – disse Kobauski.
-
Incrível coincidência esta data, não é Kobauski? É o dia, mês e ano em que
nasci – falei-lhe e ele, meio que desconversando disse:
-
São coincidências da vida, meu amigo! Vamos voltar que está na hora de pegarmos
os pré-reptilianos.
-
Vamos lá então, comandante! O Nhô não
gosta de esperar quando ele termina de preparar uma refeição. Mania dele, ah!
Ah! Ah!
Em quinze minutos e trinta e um
minutos os arretianos me deixou perto do
portal das pitangueiras e eu disse:
- Kobauski, vou na frente avisar o Nhô que vocês irão demorar ainda uns
trinta e um minutos na captura dos reptilianos, OK?
-
OK seu Lê, está combinado. Já localizamos as duas criaturas e vai ser fácil
pegá-las. Daqui a pouco estaremos lá, OK?
-
OK! OK! – e fui para a sede do sítio.
Ao chegar perto do rancho vi o delegado
Carabina Doze saindo da casa do Nhô. Escondi-me para evitar quaisquer
comentários. Quando o delegado, cabo Tição e mais dois soldados se afastaram do
sítio, em alta velocidade, foi que me aproximei:
-
O que o Carabina queria, Nhô?
-
Ieli está percurando u Cabocro dágua, seu Lê!
-
Caboclo D’ água, meu amigo?
-
É uma criatura mêi homi e mêi pêxe. É fêi di dá sustu até nu coisa ruim. Ieli
comi as vícera das criação. Tem lugar qui chamam ieli di Papa Figu!
-
O Carabina foi para onde?
-
Ieli foi inté Analogicópis buscá u delegadu di lá, pois acha qui didia é mai
fáci pegá u bichu. Ielis vão vortá daqui a maomenu duas hora!
Nisto chegam o Kobauski, o piloto, a
doutora Kolina e eu perguntei:
-
E aí, comandante, conseguiram?
-
Sim, seu Lê! Eles estavam no fundo de uma caverna dormindo e assim vão
permanecer até chegarmos em Arret.
-
A polícia desta região já está procurando por eles, mas não tem a mínima pista;
só boatos!
-
Aí pessoá, u armoçu tá prontu! É só servi nu fugão à lenha. A caipirinha di
laranja-lima tá na muringa. É só caí drentu, eh! Eh! Eh!
-
Kobauski, Kolina e Klauskis us patru grandão i us copão di argila qui ieu feis
prus visitanti de Arret istão incima da pia, OK?
Uma hora depois de agradável prosa e
saboroso almoço a Xerê falou:
-
Antônio, tem um poeirão lá longe, na estrada que vem de Analogicópolis. Devem
ser os delegados vindo para procurar o Caboclo D’ água.
-
Vamos embora Klauskis e Kolina, rápido
– disse o comandante e prosseguiu:
-
Seu Lê, no início de Janeiro entraremos em contato para irmos para Terra II,
isto, se tudo correr bem, OK? Se as perturbações de Greise cessarem , antes
disso, te avisarei com antecedência, OK!
-
OK, meu amigo, vou acompanhá-los até o portal e... – fui interrompido:
-
Não é preciso, meu amigo, fique aqui e , se for o caso, despiste os delegados.
Destruimos qualquer pista naquela caverna, OK?
Kolina estendeu a mão e entregou a
correntinha achada na gruta e falou:
-
Tome, dona Xerequéia, isto é um presente nosso para a Ritinha. Tinha umas
inscrições gravadas atrás e eu as apaguei e escrevi as iniciais MRJC, que são
as inicias do nome dela. Porém deixei a data que já estava nela gravada. Agora
vocês três da família tem correntes iguais. Boa sorte para todos!
Pouco depois a comitiva de delegados
chega ao sítio:
-
Boa tarde, seu Lê! Pescou alguma coisa boa. O Nhô falou que o senhor tinha ido
pescar – perguntou o Carabina.
-
Boa tarde senhores delegados! Peguei uns mandis, mas devolvi para o rio –
respondi e perguntei como quem pergunta por perguntar:
-
Tudo tranquilo, Carabina?
-
Não! Mas vai ficar depois que acharmos quem está devorando criações.
-
Carabina, você encontrou alguma carcaça ou pedaço de uma?
-
Ainda não seu Lê, mas é questão de tempo. Nós vamos achar!
-
Lembra daquele jacaré caolho de
Analogicópolis? É fêmea e deve de ter deixado algum filhote por aí ou,
talvez, seja alguém de outra região que
resolveu roubar as criações da região.
-
Em vinte e quatro horas saberemos. Agora vamos procurar do outro lado da Serra
Madre. Até logo, pessoal!
-
Inté intão, delegadu - respondeu o Nhô por todos nós.
-
Seu Lê, quer provar do manjar de cupuçu antes da soneca pós almoço? Tá uma
delícia – ofereceu a Xerê.
Comi aquela iguaria divina e fui
para a rede embaixo dos pés de siriguela e o Nhô falou:
- Seu Lê, ieu i a Xerê vamu “puxá uma páia” aproveitanu qui a Ritinha
drumiu. Si percisá é só chamá, tá bão?
-
OK, meu amigo! Vou dar uma descansada e depois “mi pirulitá”, como você mesmo
costuma falar!
-
Intão tá, intão, misifiu!
-
Então até, “véi”!
...
-
Lê, acorda! Chegamos ao aeroporto
internacional de Val-de-Cans. Ah! Quanto tempo não venho a Belém – disse a
Rô enquanto me cutucava para acordar de vez.
Continua 07/06/13 em:
As
Três Medalhinhas