sexta-feira, 31 de maio de 2013

VIDA EM VIRTUÁLIA


ARRET
A NOVA MORADA

Caboclo D’água

            - Nhô, o senhor se lembra daqueles seres que estavam na caverna junto com os humanos lá de Terra- II?
            - Alembru sim! U qui é qui tem ieles, misifiu?
            Em uma caverna, lá no sertão do Piauí, tem uns desenhos pré-históricos parecidos com eles. Nesses desenhos, os seres, adoram uma divindade parecida com o pessoal da raça do Kobauski! Não é curioso, ou melhor, estranho?
            - Num achu nem istranhu, mai curiosu, patrão! Despois du qui nóis passemu pur essis mundu afora, nadica di nada é istranhu, eh! Eh! Eh!
            - Talvez, como sempre, tenhas razão, “véi”! Mas, precisamos falar com o Kobauski sobre a sua correntinha de São Cipriano. Não me sai da cabeça essa história.
            - Ôce é qui sabi, misifiu! Mai, inhantes vamu, hoji di tardinha, lá nu Buteco dus Cardu visitá nossus amigu. Hoji, aqueie cantô du Vali du Riu du Pêxe vai si apresentá lá inhantis di ieli viajá pras estranja i cantá prôs gringu!
            - Tudo bem, Nhô! Vamos na GMC e...
            - Não, não seu Lê, nóis vai cum Bittencourt. Ieli tá mutchu gordu i percisandu di  exercíçu. Lembra qui u Biliatu i u amigu deie feis um reservadu lá nu fundu du butecu pru Bittencourt, quandu a genti fossi lá visitá ieles?
            - Já me convenceu “véi”, nós vamos de carroça!
            - Ôce dêxa seu negu véi í, num dêxa Xerê?
            - Claro Antônio, pode ir, mas antes tira leite de umas cabras para a Ritinha mamar mais tarde, ok?
            - Tá bão Xerê, vô tirá agora! Vamu cumigu, seu Lê?
            - Vou sim, amigo e é prá já!
            No caminho do curral das cabras:
            - Seu Lê, já tem uns vinti dia qui trocamu déis java-porcu prum rebanhu di quinzi cabra i mais dois bodi. Hoji só temu oitu cabra i us  dois bodi. Di quatru im quatru dia somi uma cabra du currá. Num dá prá intendê. Fais quatru dia qui sumiu uma i é bem capais di hoji sumi ôtra – disse o Nhô pensativo.
            - Ninguém, pela redondeza, sabe que estou aqui, “véi”. Vou esconder a GMC no galpão e quando voltar da cidade eu virei escondido na carroça, embaixo de uma lona. O senhor guarda a carroça no galpão e eu vou ficar de olho no curral das cabras. Hoje a gente pega esse ladrão, ok?
            - Tá certu, seu Lê! Ieli só vem despois da meia noiti, pruque, inhanteis, ieu sempre tô acordadu i nunca vi nadica di nada!
            - Então tá acertado Nhô!
            - Intão tá, intão!
            Dezessete horas e trinta e um minutos chegando ao Boteco dos Caldos:
            - Eu não acredito! É o seu Lê! Há quanto tempo meu amigo – era o Paulinho Goró que já estava com a churrasqueira cheia  de espetinhos. O local estava lotado por conta do show do Zoca Poeta – o cantor das cantadas -, e, também da boca-livre proporcionada pelo nascimento do casal de gêmeos do Paulo di Paulla e da Cindy Corbélia. Era uma alegria incontestável de todos os amigos em comum.
            O relax era total entre caipirinhas, espetinhos e a música maliciosa do Zoca, até que:
            - Senhoras e senhores, amanhã parto para o exterior e vou lembrar sempre desta nossa Virtuália e, para finalizar, já são vinte e uma horas e trinta e um minutos; canto o último e mega sucesso: MILHO CRU!
            O alarido foi geral e esta era a letra da canção:

            Eu plantei
            Um milharal
            No fundo
            Do meu quintal

            Vou comer
            Muito curau,
            Pamonha
            E muito mingau!

            Pois, é com
            Milho cru
            É com
            Milho cru
            É com
            Milho cru
            Que eu faço
            Pamonha
            É com
            Milho cru
            É com
            Milho cru
            Que eu faço
            Pamonha
            Que eu faço
            Curau!

            É com
            Milho cru
            É com
            Milho cru
            É com
            Milho cru
            Que eu faço
            Cural!
            É com
            Milho cru
            Que eu faço
            Mingau!

            Olha o mingau
            Pamonha, pamonha, pamonha...
            Olha o curau!

            É com
            Milho cru
            É com
            Milho cru... (bis)

            Eu não acreditava que uma música, com aquele refrão, fizesse sucesso ou  talvez fosse pelo refrão que o sucesso aconteceu. O Nhô sorrindo me disse:
            - Essa é prá mandá genti desenti í simbora, num é , misifiu, eh!, Eh! Eh!
            - Só é Nhô, vamos nessa – e saímos quase que escondidos.
            Chegando no sítio,na sala de visitas, quase meia noite:
            - Cadê o seu Lê, meu “Véio”? Eu já preparei o quartinho para ele!
            - Ieli vai drumi na redi lá nu garpão! Ieli vai vê si dá sorti di pregá um sustu im quem tá robanu nossas cabra, Xerê!
           
            A noite permaneceu com sua tranquilidade. O silêncio da noite  só era embalado pelo barulho contínuo do remanso do Rio do Peixe em dueto com o Ribeirão Limpo e, por volta das três horas e trinta e um minutos, o Bittencourt deu três relinchos  longos  e um curto que me despertou da sonolência;  olhei pela fresta da janela do galpão:
            - Ah! Vem um vulto saindo das pedras da Serra Madre e tomando a  direção ao curral das cabras! É hoje!
            Peguei duas bombas de festa juninas – das bem grandes -, que sempre trago várias comigo na GMC, fui sorrateiramente rumo ao curral em sentido contrário, de encontro ao larápio. Quando ele ia pular a porteira do curralzinho das cabras eu acendi, rapidamente, uma das bombas – que mantive com estopim curtíssimo -, e lancei para perto dos seus  pés e em seguida joguei  outra. Com o primeiro estrondo o sujeito  deu um enorme salto e após o segundo estampido ele saiu em desabalada carreira e pude ver quem era:
            - É um reptiliano! Mas, está mais parecendo aquele pré-reptiliano da Terra II. Eles eram bem maiores em estatura!
            Com o estrondo, Nhô veio correndo com um trabuco na mão:
            - Quem era,  misifiu?
            - Nhô, por incrível que pareça, é um reptiliano. Mais inacreditável, ainda, é que ele parece com aqueles lá de Terra II!
            - Ei rapazes! Vocês não vão parar com essa barulheira? Já acordaram a Ritinha – disse Xerê com a fisionomia  cansada.
            -Eh! Eh! Eh! Iela acordô foi pruquê tá na hora da mamadêra deia, Xerê! Ieu já fiz i tá nu banhu- maria incima da chapa du  fugão - respondeu o Nhô.
            - Obrigado, meu “véi”! Você é um paizão!
            - Nhô, eu  tenho que contactar o Kobauski agora! Será que ele vai ter condição de me atender? Lembra dos problemas que tivemos com o choque do meteoro em Greise?
            - Ieu achu qui iele já atendeu, seu Lê! Óia lá prus ladu du portá das pitanguêra i veja aqueies crarão!
            - Tem razão Nhô! Lá vem ele!
            - Boa noite seu Lê! Como vai Nhô, tudo bem?
            -  Quaji tudu, misifiu!
            - Temos problemas sérios, Kobauski!
            - Creio que já sei do que se trata. Mas, antes quero te devolver isto Nhô – o comandante tirou da bolsa de seu macacão prateado um pequeno embrulho e o deu ao preto velho, que ao abri-lo gritou assustado:
            - Mi... mi... minha me... medainha de São Ciprianu!
            - A doutora Kolina a achou perto daquela mina em Terra II! Supomos  que seja sua, pois tem as iniciais NAB que são as iniciais de  Nhô Antonio Benzedô!
            - Seu Lê, não tô intendenu mai nadica di nada!
            - Nem eu Nhô! Depois nós conversaremos sobre isso – disse e prossegui dirigindo a palavra ao Kobauski:
            - Kobauski, acho que tem um reptiliano rondando o sítio do Nhô, ele até já ... – o comandante me interrompeu:
            - Antes de o senhor me chamar eu já estava a caminho. Ocorreu o seguinte: - Quando aquele meteoro foi tragado pela estrela Greise, como já sabemos, houve uma enorme explosão na superfície daquele astro. Houve, então, um apagão geral em todos os meios de comunicação  e controles eletromecânicos de nossas naves na órbita de Terra II e nas naves que estavam no solo. Os pré-reptilianos – até podemos chamá-los assim -, aproveitaram essa pane e, alguns casais, entraram nas naves que estavam de saída de Terra II. Em Arret pegamos três casais e veio um para Virtuália.
            - Mas não vimos ninguém na nossa nave, Kobauski! E o Etevaldo só nos deixou aqui e retornou para Arret – disse ao comandante.
            - Lembra que o detector de corpos  estranhos das naves deu pane geral na central das naves mãe da expedição? Pois é, essa pane só foi consertada em Arret. Corremos um risco enorme, mas tínhamos que sair de Terra II urgentemente e não poderíamos mais esperar. O meu filho me falou que quando parou para deixá-los aqui em Hy-Brasil ele atravessou o portal para chupar umas mangas. Foi aí que o casal de reptiliano desceu da nave e atravessou, também, o portal. Já sabemos onde se esconde e quando o Sol estiver à pino, nós vamos capturar e levá-lo para  Arret.
            - Intão ôce vai ficá inté a hora du armçu cum nóis, Kobausqui – perguntou o Nhô.
            - Sim, meu amigo! Espero não atrapalhar em nada – respondeu o Kobauski.
            - Craro qui não, sô! Ôce vai porvá uma rabada cum agrião i jambú qui ieu vô fazê. Ôce vai adorá, pois é uma cumida dus deusis, eh! Eh! Eh! Mai,  inhantis nóis vamu... – o comandante o interrompeu:
            - Já sei! Vamos tomar aquele café especial produzido aqui no teu sítio com aquela divina broa de milho feita pelas mãos do Nhô Antônio!
            - Ah! Ah! Ah! O meu amigo comandante sabe das coisas – falei sorrindo.
            - Ôce vêi sozim , Kobausqui?
            - Não Nhô! Veio  eu,  Klauskis, o piloto – é claro -, e a doutora Kolina! A doutora ficou perto da mina que é  um lugar igualzinho ao de Terra II, onde ela encontrou sua medalhinha. Ela está colhendo amostras do local para análise. Assim que amanhecer ela e o piloto virão até aqui para tomarmos café juntos, OK?
            - Tá bão intão meu amigu!
            - Temos muito que conversar, comandante! Vou começar com uma pergunta que não me sai da mente e...
            - Qual é a pergunta, seu lê – perguntou o Kobauski e eu fui lhe respondendo perguntando:
            -  Nós viajamos para terra II ou voltamos aos primórdios de nossa Terra?
            - Lembra, seu Lê, de quando falei que se entrarmos em um  "wormhole" tudo pode acontecer – perguntou-me o comandante.
            - Sim, eu me lembro e sei também que o tempo fica complicado de se entender – respondi-lhe.
            - Então, seu Lê, nós vamos desvendar juntos este mistério! Que achas dessa ideia?
            - Ótima! Por favor, comecemos então pela história da medalhinha do Nhô! Vou te contar o que ele, na sua corriqueira simplicidade e inteligência, fez: - “ Ele, naquele dia...”- contei todo o ocorrido e em trinta e um minutos depois:
            - E foi assim, comandante. É algo estranho, muito estranho e de difícil compreensão – e antes que Kobauski começasse a tentar explicar o ocorrido ele olhou para o lado das pitangueiras e disse:
            - Olhe, lá vem a Kolina e o piloto!
            - Bom dia meus amigos – disse  a doutora sorrindo.
            Todos , à ela responderam e, nessa hora, a Xerê, que tinha voltado a dormir, acordou com o cheiro da broa fresca e o aroma do café recém coado e se assustou:
            - Caramba Antônio, quem são essas criaturas? São extraterestres?
            - Inté qui si pódi falá ansim, minha véia. Ieis são di Arret; aquêie lugá prá adondi ieu i u seu Lê costumamu viajá!
            O tamanho pequeno da Xerê  contrastava com o trio de visitante e, de repente, a Ritinha pôs a boca no mundo à chorar de fome:
            - Vocês me dão licença que tenho que dar  mamadeira à minha bisnetinha!
            - À vontade, minha senhora, a casa é sua – disse o comandante.
            Durante o café , Kobauski perguntou à Kolina:
            - E as amostras do solo, da vegetação e do orvalho; tem alguma coincidência com o de Terra II, Kolina?
            - São os mesmos elementos, mas o solo, a vegetação e o orvalho tem o PH alterado, comandante. E isso é devido a muito tempo sob uma atmosfera poluída. Os lugares, por coincidência são parecidos!
            - Seu Lê, já faz trinta e um dia que estivemos em Virtópolis e desde então as explosões na estrela Greise continuam e até aumentaram de intensidade, portando a trezentos  e dez anos – em contagem de Terra II -, não temos mantido mais contato com Jah e Veh. Não podemos arriscar e irmos para lá nas condições em que se encontra aquela região do espaço. Estudos de nossos cientistas constataram que as explosões se acalmarão dentro de, no mínimo, oito meses terrestres, ou seja, dois mil e quatrocentos anos de Terra II. Só então poderemos contatar com eles e até de irmos até lá. Antes... nem pensar, OK?
            - Mas Kobauski, e a idade dos nossos amigos de Virtuália que deixamos lá? Em dois mil e quatrocentos anos eles já terão morrido a muito tempo – ponderei.
            - É meio confuso, seu Lê mas, para eles e o casal de Arret, só teriam passado oito meses terráqueo e para os habitantes de Terra II sim, passaram os mais de dois milênios.
            - Ieu tô cada veis mai querenu intendê essa mistureba di tempu, mai minhas ideia si imbaraiam mai ainda, eh! Eh! Eh!
            - Então, Kobauski, quando lá chegarmos em janeiro do ano que vem, a civilização de Terra II já estará bem adiantada desde nossa última visita à ela! Não é?
            - É o que eu imagino, seu Lê, mas só quando isso acontecer teremos certeza – respondeu o Kobauski.
            -  Mas você não me respondeu se viajamos para Terra II ou se viajamos para os primórdios dessa nossa querida Terra, Kobauski!
            O comandante retirou do cinturão prateado, que sempre trás na cintura, um pequeno aparelho, colocou-o sobre a mesa e o ligou. Digitou um código e apareceu projetado na parede um mapa celestial que abrangia da Terra à Terra II. Nele estavam assinalados  nossa Terra, Arret e a estrela Greise bem mais distante. Formavam no mapa um triângulo isósceles:
            - Vejam neste mapa a Terra, Arret, Greise e, próximo à estrela outro planeta. Este é Terra II. Portanto, seu Lê, a Terra II existe assim como  podemos ter viajado para os primórdios desta tua  Terra!
            “- Ele não deu certeza” – pensei -, “talvez nem ele saiba, ainda!”
            Kobauski prosseguiu:
            -  Deixemos para nos preocupar com isso em Janeiro próximo, OK? Agora  a prioridade é  pegarmos o casal de pré-reptilianos, pois vou levá-los para Arret. São três casais que saíram de Terra II, com este que vieram com vocês. Temos que saber qual o objetivo deles. São mais inteligentes que os humanos de Terra II, antes de nossa intervenção. Para vocês terem ideia , eles sabem seu idioma e o nosso apesar de viverem na quase fase pré-reptiliana. Se o que eles contarem for o mesmo que os outros dois casais contaram... a coisa ficará preocupante para os planos que temos para Terra II.
            - Está bem, comandante! Tenho outra coisa para lhe falar, ou seja: no Piauí, num estado da federação do Brasil, tem uma gruta com desenhos ruprestes nas paredes onde, os traços desenhados, se assemelham à arretianos sendo adorados como deuses. O que achas disso  - perguntei.
            - Tenho que ver, seu Lê! Vamos pegar um aeromóvel, de dentro da nave que viemos e vamos até lá! Concordas?
            - Sim, claro e se formos agora, na hora do almoço estaremos de volta – respondi ao comandante.
            - Nhô, irei eu e o pessoal de Arret, OK? O senhor não se importa, não é?
            - Craru qui não, misifiu! Ieu vô ficá prá perpará a rabada cum agrião i jambú. Au mei dia vai tá pronta, certu?
            - Ótimo – respondi.
            - Então, vamos agora Kobauski – perguntei.
            - Agora!
            Adentramos no portal, entramos no aeromóvel e, antes de  sairmos do portal rumo ao Piauí:
            - Quer pilotar, seu Lê, é a mesma nave que o senhor manobrou lá em Terra II – sugeriu o comandante.
            - Mas claro, meu amigo. É pra já – coloquei minha mão na tela de reconhecimento da pequena nave e acelerei a uma altura de 40.000 pés.
            - Genial essas aeronaves serem imunes aos radares ou qualquer outro aparelho de detecção, Kobauski! Podemos nos locomover sem medo!
            - É isso mesmo, seu Lê! Sem falar no dispositivo de camuflagem que faz com que a aeronave “desapareça” na paisagem!
            Em trinta e um minutos chegamos a uma região remota do Piauí e preparei para descer com a nave sobre a montanha onde tinha a falada caverna:
            - É aqui, comandante! O lugar é praticamente isolado. Vamos descer e te mostrarei!
            Ao sairmos da nave após pousarmos, Kobauski acionou um dispositivo em seu cinto e a nave parecia estar invisível , pois a fuselagem parecia ter tomado  as cores da paisagem, tamanho o poder de camuflagem.
            Todos entraram na caverna. Doutora Kolina começou a pegar pedaços de rochas, pequenas plantas, liquens, fungos e, quando clareei a parede interna da caverna o espanto foi geral, ao verem os desenhos:
            - Ohhhhh!
            - Kolina, pegue amostras do material que usaram para pintar essas figuras, mas muito cuidado para não danificar nada, OK?
            - OK, comandante!
            - Seu Lê, creio que nossa raça tenha  se tornado, para eles, uma raça de deuses. Depois da análise vamos saber quanto tempo tem este acervo de pinturas, OK?
            - OK, amigo! Mas vamos procurar mais alguma coisa no interior dessas grutas!
            Procuramos até por volta das onze horas e trinta e um minutos e não achamos nada.
            - Seu Lê, vamos voltar lá para Hy-Brasil que aqui não tem mais...mais... espere um pouco! O contador de metais está dando sinal dentro desse pequeno córrego. Vamos verificar – disse o comandante.
            - Tem um metal brilhando quando eu dirijo o foco da lanterna de LED para aquele ponto do córrego. Vou pegar para você – agachei e tirei o metal da água e:
            - Não pode ser – gritei.
            - O que é seu Lê – perguntou Kolina.
            - É outra medalhinha de São Cipriano e, até a correntinha é de ouro, mas está arrebentada!
            - Deixe-me ver, seu Lê!
            - Aqui está, comandante – estiquei meu braço e entreguei-lhe o achado. Ele , com uma lupa  - com iluminação nas bordas -, leu nas costas da medalha:
            “ Proteja - me SC -  19/11/52”
            - É medalha do mesmo santo! Mas é daqui mesmo, ou seja, tem a data recente. Deve ser de alguém que perdeu  quando passeava por aqui – disse Kobauski.
            - Incrível coincidência esta data, não é Kobauski? É o dia, mês e ano em que nasci – falei-lhe e ele, meio que desconversando disse:
            - São coincidências da vida, meu amigo! Vamos voltar que está na hora de pegarmos os pré-reptilianos.
            - Vamos lá então, comandante!           O  Nhô não gosta de esperar quando ele termina de preparar uma refeição. Mania dele, ah! Ah! Ah!
            Em quinze minutos e trinta e um minutos os arretianos me  deixou perto do portal das pitangueiras e eu disse:
            - Kobauski, vou na frente avisar o Nhô que vocês irão demorar ainda uns trinta e um minutos na captura dos reptilianos, OK?
            - OK seu Lê, está combinado. Já localizamos as duas criaturas e vai ser fácil pegá-las. Daqui a pouco estaremos lá, OK?
            - OK! OK! – e fui para a sede do sítio.
            Ao chegar perto do rancho vi o delegado Carabina Doze saindo da casa do Nhô. Escondi-me para evitar quaisquer comentários. Quando o delegado, cabo Tição e mais dois soldados se afastaram do sítio, em alta velocidade, foi que me aproximei:
            - O que o Carabina queria, Nhô?
            - Ieli está percurando u Cabocro dágua, seu Lê!
            - Caboclo D’ água, meu amigo?
            - É uma criatura mêi homi e mêi pêxe. É fêi di dá sustu até nu coisa ruim. Ieli comi as vícera das criação. Tem lugar qui chamam ieli di Papa Figu!
            - O Carabina foi para onde?
            - Ieli foi inté Analogicópis buscá u delegadu di lá, pois acha qui didia é mai fáci pegá u bichu. Ielis vão vortá daqui a maomenu duas hora!
            Nisto chegam o Kobauski, o piloto, a doutora Kolina e eu perguntei:
            - E aí, comandante, conseguiram?
            - Sim, seu Lê! Eles estavam no fundo de uma caverna dormindo e assim vão permanecer até chegarmos em Arret.
            - A polícia desta região já está procurando por eles, mas não tem a mínima pista; só boatos!
            - Aí pessoá, u armoçu tá prontu! É só servi nu fugão à lenha. A caipirinha di laranja-lima tá na muringa. É só caí drentu, eh! Eh! Eh!
            - Kobauski, Kolina e Klauskis us patru grandão i us copão di argila qui ieu feis prus visitanti de Arret istão incima da pia, OK?
            Uma hora depois de agradável prosa e saboroso almoço a Xerê falou:
            - Antônio, tem um poeirão lá longe, na estrada que vem de Analogicópolis. Devem ser os delegados vindo para procurar o Caboclo D’ água.
            - Vamos embora Klauskis  e Kolina, rápido – disse o comandante e prosseguiu:
            - Seu Lê, no início de Janeiro entraremos em contato para irmos para Terra II, isto, se tudo correr bem, OK? Se as perturbações de Greise cessarem , antes disso, te avisarei com antecedência, OK!
            - OK, meu amigo, vou acompanhá-los até o portal e... – fui interrompido:
            - Não é preciso, meu amigo, fique aqui e , se for o caso, despiste os delegados. Destruimos qualquer pista naquela caverna, OK?
            Kolina estendeu a mão e entregou a correntinha achada na gruta e falou:
            - Tome, dona Xerequéia, isto é um presente nosso para a Ritinha. Tinha umas inscrições gravadas atrás e eu as apaguei e escrevi as iniciais MRJC, que são as inicias do nome dela. Porém deixei a data que já estava nela gravada. Agora vocês três da família tem correntes iguais. Boa sorte para todos!

            Pouco depois a comitiva de delegados chega ao sítio:
            - Boa tarde, seu Lê! Pescou alguma coisa boa. O Nhô falou que o senhor tinha ido pescar – perguntou o Carabina.
            - Boa tarde senhores delegados! Peguei uns mandis, mas devolvi para o rio – respondi e perguntei como quem pergunta por perguntar:
            - Tudo tranquilo, Carabina?
            - Não! Mas vai ficar depois que acharmos quem está devorando criações.
            - Carabina, você encontrou alguma carcaça ou pedaço de uma?
            - Ainda não seu Lê, mas é questão de tempo. Nós vamos achar!
            - Lembra  daquele jacaré caolho de Analogicópolis? É fêmea e deve de ter deixado algum filhote por aí ou, talvez,  seja alguém de outra região que resolveu roubar as  criações da região.
            - Em vinte e quatro horas saberemos. Agora vamos procurar do outro lado da Serra Madre. Até logo, pessoal!
            - Inté intão, delegadu - respondeu o Nhô por todos nós.
            - Seu Lê, quer provar do manjar de cupuçu antes da soneca pós almoço? Tá uma delícia – ofereceu a Xerê.
            Comi aquela iguaria divina e fui para a rede embaixo dos pés de siriguela e o Nhô falou:
            - Seu Lê, ieu i a Xerê vamu “puxá uma páia” aproveitanu qui a Ritinha drumiu. Si percisá é só chamá, tá bão?
            - OK, meu amigo! Vou dar uma descansada e depois  “mi pirulitá”, como você mesmo costuma falar!
            - Intão tá, intão, misifiu!
            - Então até, “véi”!

            ...
            - Lê, acorda!  Chegamos ao aeroporto internacional de Val-de-Cans. Ah! Quanto tempo não venho a Belém – disse a Rô enquanto me cutucava para acordar de vez.

Continua  07/06/13 em:

As Três  Medalhinhas
           
            

sexta-feira, 24 de maio de 2013

COISAS DA VIDA: "ÍNDIGO"

Í n D i G o
        Meu filho e sua esposa foram à capital mineira participar de um evento condizente com a área em que eles atuam profissionalmente. Viajaram para lá na quarta-feira à tarde e retornariam domingo, da mesma semana, à noite. Lê meu marido, levou o casal.
            Deixaram, sob minha responsabilidade, a “guarda” do meu netinho de quase quatro anos. O outro, de quase dois, ficou com a avó materna.
            Na quarta-feira, por volta das doze horas e trinta e um minutos, fui tirar o carro da garagem para levar o Lorenzo à escolinha e nada de dar, sequer, sinal no painel quando ligava a chave de contato. Desisti do carro e fui terminar de arrumar o meu netinho para a escola.
            - Vamos passear de ônibus até sua escolinha; tá bom Lorenzo?
            - Êêêbaaaa! Faz um tempão que não ando de coletivo – respondeu o pirralhinho e pensei:
            “- Caramba, como esse menino sabe que esses ônibus urbanos são conhecidos, também, como coletivos?”
            Embarcamos em um ônibus lotado com quase cem por cento de adolescentes indo ou voltando da escola e nenhum lugar vago para eu, que levava o netinho no colo, sentar, até que:
            - Sente-se aqui, minha senhora – disse um senhorzinho mais ou menos de minha idade que estava sentado ao lado de um rapazote com cabelos esquisitos e brincos em ambas as orelhas.
            Agradeci e me sentei! Para o Lorenzo, era tudo festa! Seus olhinhos brilhavam e ele prestava atenção a tudo.
            No ponto de embarque e desembarque seguinte o trocador, do alto do seu trono, gritou:
            - Por favor, pessoal, vamos dar um passinho para trás. Tem mais gente para embarcar!
            E o Lorenzo falou:
            - Nossa vovó, o ônibus já está lotado e ele disse que vai entrar mais gente!!
            O trocador tornou a gritar e ninguém deu ouvido. O Lorenzo observou:
            - Ah! Ah! Ninguém nem se mexeu, Vó! Tá todo mundo usando fones de ouvido e ouvindo música bem alta!
            Lorenzo que estava sentado no meu colo, perto do trocador, ficou em pé sobre minhas pernas e danou a balançar os bracinhos como “boneco de posto” – aqueles de propaganda, cheio de ar e molas. Aí sim, todos olharam na direção dele e, em consequência, da do trocador – que ainda berrava “passinho atrás, por favor” -, e deram vários passos abrindo espaço para mais gente se acomodar apertadamente.
            - Vó, por que não vimos de carro – perguntou já agoniado, o meu neto.
            - Ele deu defeito! Não quis “pegar” na partida, querido - respondi.
            - É sujeira nos cabos que sai da bateria, Vovó!
            Pensei:
            “-Peraí... como esse meninozinho sabe disso com menos de quatro anos e eu, com quase sessenta, não o sei?”
            - Sabe, Vovó Rô é só limpar onde o cabo é ligado na bateria! É só tirar aquela “coisa” branca que nasci ali!
            - Tá bom Lorenzo, depois eu vejo isso! Mas como você sabe disso?
            - É que aconteceu com o carro do papai e eu prestei atenção no que ele fez!
            - Ah, tá bom! Então, assim que eu voltar para casa, vou fazer isso também, OK? Mas agora vamos descer que chegamos ao nosso ponto!
            - Tá bom Vovó!
            No portão da escolinha ganhei um abraço e um beijo e:
            - Até mais tarde, Vovó Rô!
            Já em casa peguei o telefone, o cartão de uma oficina mecânica, que guardo colado com ímã, na lateral da geladeira, e li:
            - Lourenço Netto - eletricista de automóveis!
            - Ah! Ah! Ah! Se não fosse o nome desse eletricista eu não lembraria o que meu netinho me falou!
            Fui até a garagem, abri o capô do meu carro popular e lá estavam as borras brancas nos bornes da bateria.
            “- Como fazer para desconectar os cabos” – perguntei a mim mesmo em pensamento.
            Lembrei-me: “– Sabe vovó, é só limpar onde o cabo é ligado! É só tirar aquela “coisa” branca...”
            - Então é só limpar, não é?
            Peguei uma garrafa PET de dois litros, enchi de água com um pouco de bicarbonato de sódio – como faço para limpar o forno do fogão a gás -, e esguichei nos bornes e as borras brancas se dissolveram. Peguei uma escova e escovei os bornes e os cabos, encaixados neles, ao mesmo tempo, porém sem tirá-los do lugar. Joguei outra garrafada de água limpa, sem nada.
            Entrei no carro, coloquei a chave e... bingo! O carro funcionou na primeira virada de chave!  Desliguei e repeti a operação por mais duas vezes e disse, com aquele prazer de ter sanado o defeito:
            - Consertei!
            Meus olhos lacrimejaram e lembrei-me o que a pediatra disse a mim e minha nora na última consulta pediátrica, dos meus dois netinhos:
            - O Lorenzo é uma criança índigo, minhas amigas!
            Minha nora me explicou o significado do termo usado pela pediatra e entendi ou, acho ter entendido. Mas, tenho uma certeza:
            - Esse garotinho, de quase quatro anos, é muito inteligente e esperto além, é claro, de muito bonito!

Próxima sexta-feira 31/05/13:
ARRET
A NOVA MORADA
Caboclo D’água