CHERRY
Tínhamos
três gatos em minha residência: um persa mestiço; uma persa mestiça e uma persa
legítima. Todos tratados com zelo e carinho. Todos têm suas identificações com
nomes próprios e apelidos. Todos com carteirinha de vacinação e ficha no hospital veterinário do bairro. Há alguns dias a persa pura, por
apelido Cherry, cujo nome verdadeiro Cherry Al Rinhas Prima, começou a ficar amuada,
não queria comer e nem bebia água:
- O que você tem Cherry – perguntei na esperança
de que ela, com um olhar ou miado, me transmitisse alguma coisa. Ela sequer me
olhou. Saiu de perto de mim e foi para o fundo do sítio. Disse “sítio”, porque
o natal e a virada do ano fomos para o sítio de meu filho que, a pedido dele e
dos netinhos, levamos os três bichanos.
- Deve ser saudades lá de casa, Lê –
disse-me a minha patroazinha.
Não dei atenção à Cherry, aliás, ninguém deu. No dia
dois de Janeiro eu estava digitando um texto para o meu blog e a tal gatinha
legítima, estava debaixo da escrivaninha e sem querer pisei em sua cauda e ela
sequer miou. E, eu, com o susto pedi que ela saísse e ela não obedeceu. Então, estupidamente,
empurrei-a com o pé direito e disse:
- Vai brincar lá no terreiro, gata teimosa!
A Cherry deu um miado tão triste e agudo, foi para o
terreiro e ficou embaixo de uma chuva torrencial, toda encolhidinha:
- Meu São Nunca do Vale Virtualiano do Rio
do Peixe; o que você tem Cherrizinha – peguei a gatinha, coloquei-a em sua
gaiola de transporte, entramos na GMC ’55 e fui, junto com a Rô, rumo ao hospital
veterinário em Juiz de Fora.
Resumindo:
A
Cherry ficou internada e, no oitavo dia, a veterinária falou-me, pelo telefone:
- Seu Lê, vou simplificar a explicação do
diagnóstico final da sua gatinha: se a Cherry fosse um ser humano só o que o
salvaria seria um transplante de rins! Não existe nenhuma possibilidade de
salvá-la. Peço-lhe autorização para sacrificá-la!
- Está dada a autorização, doutora
Cíntia – foram minhas últimas palavras.
Quando passei no hospital para acertar as despesas com
o internamento e sepultamento da Cherry a doutora me disse:
- Os gatinhos persas, legítimos, tem essa
anomalia: certa quantidade morre com insuficiência renal!
Eu pergunto: Houve maus tratos com a Cherry? Uma coisa
é certa: Eu nunca mais vou esquecer o miado que Cherry deu ao arredá-la com o
pé debaixo de minha escrivaninha.
Em tempo:
Para os que só pensam em dinheiro, digo-lhes: - A despesa hospitalar com a Cherry ficou em torno de R$2.484,84!
Nenhum comentário:
Postar um comentário