ARRET
A NOVA MORADA
ISON COMET
Por uma hora
fiquei olhando o céu até que um clarão se fez longe, no horizonte, e seguido de
um distante trovoar, pensei alto:
-
Só deu para ver raríssimos e rápidos rastros de luzes, nada fora do natural.
Aproxima-se uma tempestade de verão; vou levar a cadeira de praia para a
varanda e esperar a borrasca chegar. Nesta época do ano, os temporais, são muito pesados e bonitos – coloquei a
espreguiçadeira no varandão e...
- Caramba,
o Jairo Edson deveria mandar jogar saibro nessa estrada. Poxa, a GMC atolou de vez! Vou esperar esta tempestade
passar para sair da cabine e te desatolar! Ok, Vermelhona? Não vou forçar sua
mecânica e nem os pneus. Já que você não
ficou no leito da estrada, vou tirar um
cochilo. São quatro horas dessa madrugada chuvosa. Vou deitar neste banco
macio e, lá pelas seis horas a chuva deve parar e, com o dia amanhecendo, fica mais
fácil – disse em um monólogo com minha GMC '55 e procurando no
dial do rádio, a Sideral AM de Virtuália:
-
Incrível, às quatro horas da manhã a rádio, que é, dizem, propriedade do prefeito,
transmite um programa gravado da IEASV onde o pastor Jairo fala e agradece a
honestidade ferrenha dos fiéis em relação ao dízimo de sua igreja. E o pior é que, aqui nesta região, só ela é sintonizada - desliguei o rádio e fiquei a ouvir o ritmo da chuva batendo na caminhonete.
Às sete horas acordei com alguém batendo
no vidro da porta:
-
Seu Lê, seu Lê, o senhor está bem?
Assustei realmente com a cara encostada
no vidro da porta. Era o Carabina Doze que deixou crescer barba e bigode.
Ajeitei-me no banco e baixei o vidro e
respondi:
-
Bom dia, delegado! Eu estou bem! Ficamos atolados ontem à noite e resolvi
dormir na caminhonete!
-
Ontem, desde cedo, choveu muito aqui no Vale do Rio do Peixe. Estou indo ao
sítio do Nhô para ver se o ribeirão e o rio saíram de seus leitos e se ele
precisa de ajuda – disse-me o delegado.
Desci da GMC e, por incrível que pareça,
a estrada estava sequinha. O que aconteceu foi que a caminhonete derrapou e foi
parar, com a roda traseira, em um buraco no acostamento. Foi só ligar o motor,
engatar a primeira marcha que a possante saiu do buraco.
-
Já que a senhor vai ao sítio do Nhô, eu
o acompanho, Carabina!
-
Ok, seu Lê! O senhor veio para o aniversário do Paulinho Goró?
-
Sim! Ele faz quarenta e cinco anos nesta sexta-feira da paixão. Faz
aniversário, também, que ele deixou o álcool. Foi a cinco anos que ele, numa sexta-feira
“santa”, fez a promessa de nunca mais ingerir bebida alcoólica e a está
cumprindo até hoje. Faz, também, um ano em que ele a Cindy se casaram, não é
isso?
-
É sim! Eles casaram na última páscoa, e hoje tenho outra novidade para o
senhor, seu Lê!
-
Qual Delegado, o senhor conseguiu prender o chupa-cabras?
-
Não, seu Lê, isso eu não consegui, pois eu tenho quase certeza que esse bicho
não existe. A novidade é que a Cindy, com seus quarenta e três anos está
grávida!
-
É mesmo, Carabina? Então o Paulinho está quatro vezes de parabéns –
disse-lhe.
-Vai
haver um festão lá no Boteco dos Caldos hoje à noite. Em plena sexta-feira
“santa” vamos fazer um “auê” para o Paulo.
-
Essa eu não perderei de jeito nenhum. Vamos então até ao sítio do Nhô? Vai à frente,
Carabina, eu o sigo!
-
OK, vamos lá!
Ao chegar ao sítio:
-
Nhô... ei Nhô, cadê você,”véi”- eu gritava, buzinava e nada dele
responder.
-
Não estou gostando seu Lê, o Nhô deveria estar na horta a esta hora do dia – falou o
Carabina.
-
Vamos lá perto do rio e ribeirão ver se o localizamos – disse o
delegado.
-
O Bittencourt está pastando perto da bica de água que vem da mina. É sinal que
ele não saiu do sítio – acrescentei.
-
Tens razão, seu Lê.
Na beira da junção rio e ribeirão:
-
Nem o rio e nem o ribeirão saíram do leito, não houve enchente e nem ele esteve por aqui,
Delegado!
-
É mesmo seu Lê – respondeu o Carabina e se espantou ao olhar para o
topo da serra Madre:
-
Olhe lá em cima da serra, seu Lê – falava e apontava aquela fumaça escura
na mata, - com certeza o Nhô está lá. Vamos lá rápido!
Em meia hora lá estávamos ofegantes e
fomos recepcionados:
-
Bãodia, Delegadu! Bãodia patrão Lê! Ôceis percurava ieu?
-
Sim, Nhô e lavamos um susto enorme não o encontrando no sítio. O que houve – perguntei.
-
Hoji cedu, era cincu hora, quandu u tempu limpô i parô di chuvê ieu vi um
crarão descê du céu qui alumio toda a serra Madri i, despois, deu um istrondu.
Ieu tava peganu água fresca na bica prá fazê café i vi quandu u clarão desceu
na serra i cumeçô a pegar fogu: ieu curri prá cá com uma inxada prô modi di
apagá u fogu, mai u fogu num espaiô só ficô essi buracu nu chão. Tão venu?
-
Estamos sim Nhô, deve ter sido um pequeno meteorito. Vejam só, ele bateu no
granito, logo depois da camada de terra e, ainda tem fragmentos dele. Mais tarde
voltaremos aqui para pegar uma amostra para análise, ok? – falei com
uma curiosidade sem tamanho.
-
Intão tá, intão, Misifiu! Vamu lá prô sítio qui deixei a vazia d’água nu fogu;
a essa artura já dédi tá frevenu – disse-nos o Nhô.
No varandão da cozinha do cafofô:
-
Ah! Nhô, esse teu café com broa eu só encontro igual lá em casa, quando a
patroinha prepara para mim.
-
É memu seu Lê? Quandu a patroinha vai vim cunhecê a genti aqui im Virtuaia – perguntou o
Nhô.
-
Breve, Nhô, muito breve!
-
Nhô e seu Lê, a conversa e o café estão ótimos, mas tenho que voltar à
delegacia e relatar o que vi e arquivar para justificar a minha ausência, pois
já são quase nove horas!
-
Tudu bem Carabina! Ostru dia ôce vorta i
trais a sua patroa, pois fais um tempão qui iela num vem buscá erva prá
gastrite – falou o Nhô.
-
Ela não tem mais se queixado de azia, Nhô; vai ver se curou com as ervas – respondeu
Carabina.
-
Carabina, quando for de noite a gente se encontra lá no Boteco de Caldos, ok – falei-lhe.
-
Ok! Ok! Então, tchau para vocês – disse o Delegado indo para Virtuália.
-
Nhô, o senhor sabe que a Cindy está grávida – perguntei.
-
Sei! Ieu sabia qui iela ia ficá prenha. Uns tempu atrais iela mi percurô i pidiu uma
garrafada prá continuá férti i despois di ieu cunversá co’iela, fiquei sabenu
qui iela cumeçô a tê as regra cum catorzi anu. A idade déia, hoji, é di
quarenta i treis anu i despois das garrafadas era fáci iela prenhá.
-
E tem outra, o Paulinho é um caboclo forte que nem um touro, não é Nhô?
-
É memu, e ieli usa garrafada das mema erva qui ieu perparu i qui é muntchu
percurada. Ôce sabi qualé misifiu?
-
O senhor me falou há muito tempo que já não me lembro. Pode repetir para eu
escrever, Nhô?
-
Eh! Eh! Eh! Tá percisadu seu Lê – debochou o velho.
-
Nunca é demais se precaver, não é “véi”, ah! Ah! Ah!
-
Intão tá, intão! Iscrivinha aí:
-
Uma garrafa di pinga pura ô di vinhu tinto suavi; um punhado de nó-di-cachorru
du Matu Grossu – só servi dessi lugá -; catuaba; simenti di melancia torrada i
muída; tribulu terretri – issu é difici di achá nu matu, só tem im farmácia;
cipó cravu i marapuana. Coloca tudo drentu da garrafa i dêxa uns seti dia i
despois tomá uma talagada todo dia inhanteis du armoçu i janta. É tiru i queda,
misifiu.
-
Mas Nhô, o Paulinho não bebe álcool!
-
Ieu sei, seu Lê! Ieli pegô todo us ingredienti, soco tudu num pilão, despois
moeu nu muedô di café i coloca nu fejão quandu ieli perpara u pratu di cumida.
Taí u segredu dus dois, eh! Eh! Eh!
- Ah!
Ah! O senhor é sábio Nhô, ah! Ah! Ah!
-
Mudando de assunto, o senhor está ouvindo falar dos meteoros que choca com
nossa estratosfera; das chuvas de meteoritos que caem na Terra e do enorme
meteoro que passou raspando a este planeta, Nhô?
-
Ovi falá dessas istrela cadentis i ieu veju issu toda noiti, seu Lê. Onti memu
ieu vi um monti deias rasganu u céu i até acumpanhei c’us meus zóius essi qui
quase caiu na minha cabeça, eh! Eh! Eh!
-
O que estará acontecendo, hein “véi”?
-
Misifiu, ieu achu qui a véia morada du Kobausqui já tá vinu na nossa direção – falou o meu
sábio amigo.
-
Será, Nhô? Mas os grandes observatórios da Terra não detectaram nada até agora!
-
Pois é seu Lê dessas istrela cadenti, qui anda cainu quaji nas nossas molêra,
eis só ficam sabenu despois du istragu! Fica dificulitosu aquerditá nu qui eis
fala i u pió: u qui iscondi, i num fala!
-
Mais uma vez tens razão. Mas, por outro lado, o que adiantaria saber que
estamos em rota de colisão para a destruição total com qualquer objeto que
seja? Não poderíamos fazer nada, não é mestre?
-
Pois é seu Lê, o mió é oiá prá frenti e si disviá das pedras du caminho pruquê
as qui vem di cima, mandadu pela natureza, num tem jeitu!
-
Falou e disse “véi”! E por falar em “coisas que caem do céu” vamos lá onde caiu
aquela “estrela cadente” para ver se conseguimos algum pedacinho para análise!
-
Vamu sim, misifiu! Ieu só vô porvá e corrigi o tempêru dessa fejoada qui tá nu
fugão de lenha, deisdi a meia noiti di onti i nóis vai, tá bão?
-
Tá bom! São nove e meia, até as onze horas estaremos de volta – e assim
fizemos.
Perto da pequena cratera, onde caiu o
meteorito:
-
Deve ter sido pequeno! Não devia pesar nem cem gramas, Nhô!
-
Veja, ele bateu no granito e se espatifou! Foi, como se pulverizado, por todos
os lados!
-
Ói u qui ieu incontrei, misifiu, um pedacim di um metá que tem umas pintinha
amarela. Veja comu ieli bría – falou o Nhô.
Peguei o minúsculo pedaço de metal e
falei:
-
Parece ouro! Seria ouro, Nhô?
-
Só inu lá nu perfessor Oscarzim, seu Lê. Ieli vai vê naquêies apareiu i ti dá a certeza – respondeu o
Nhô.
-
Tens razão! Vou lá mais tarde, na Universidade Sideral de Virtuália, o senhor
quer ir junto, meu amigo?
-
Ô, Craro misifiu! Ieu ia na cidadi memu. Hoji é sexta-fêra i u meu fumu di
corda acabô. Ieu num ficu sem pitá meu paiêro di jeitu manêra. Mai nóis vai só despois
da sesta du armoçu di hoji. Num isqueça qui a fejoada já dédi tá pronta, seu
Lê!
Olhei para meu antiguíssimo relógio
ômega de pulso, herança de meu pai e falei:
-
São quase onze horas, vamos descer de volta para o sítio; lá pelas três da
tarde o Bittencourt nos levará para a cidade, ok Nhô?
-
Tá certu, vamu descê pela tria ondi prantei uns ananais. Achu qui já dédi tê
arguns maduru, seu Lê!
Quinze para o meio dia, no rancho, eu
descascava um dos suculentos ananás:
-
Que fruta cheirosa, não é Nhô?
- É
memu! Nóis levamu déia para Arret, lembra misifiu? Tô imaginanu u tamanhu déias lá na nova morada – disse –me o
Nhô enquanto refogava a couve.
Alguns minutos depois, durante o almoço:
-
Caramba, Nhô, essa feijoada está muito, mas muito saborosa , caramba!
-
Eh! Eh! É memu misifiu, tresantonti a Xerê matô uns java-porcu prá vendê as parti nobri pru Butecu di Cardu;
prô Restô; pru Pratu Feitchu da Maria i iela sempre separa umas parti qui ieu usu
nas minha fejoada. Ieu vô aproveitá, qui vô na cidade, i vô levá um tantu prá iela.
Iela disse qui adora a minha fejoada i sempri copera cum inheu. Mas achu qui é
isperteza deia, ô cheja, iela mi dá essas parti di java-porcu, uns pedaçu di
linguiça i um nacu di jabá, aí, ieu ficu
sem jeitu di num reservá um tanticu di fejoada p’réla.
-
A Xerequéia é uma boa pessoa, não é Nhô?
-É
sim, Misifiu, é boa cunzinhêra tamém, mais u qui iela num gosta é di cunzinhá,
eh!Eh! Eh!
Por volta das quinze horas, depois de
sestearmos por duas horas:
-
Vamu seu Lê, u Bittencourt já está atreladu na carroça – sacudiu-me,
na rede, o Nhô.
-
Vamos sim, meu amigo! É prá já!
No caminho para Virtuália:
-
Óia seu Lê, aquéia luiz cortanu u céu, óia cumu bría, cumu é rápida!
Ao olhar, só deu tempo de ver a
silenciosa explosão na estratosfera:
-
Nhô, a coisa está ficando preocupante; já estamos vendo essas explosões até à
luz do dia !
- Issu
sempri acunteceu, Misifiu, ieu sempre vi. Inté quandu estava nus campu de
batáia, na Itáia, na sigunda guerra mundiá, ieu via i sabia qui num era bomba pruque
espocava muntchu artu e num fazia baruiu; íngua a esta di agorinha!
Na USV, no laboratório de ciências:
-
Seu Lê e seu Antônio, com uma análise rápida detectei vários metais neste
fragmento e entre eles, tem um, que não deveria estar junto – falou
Oscarzinho.
- Qual é este metal professor –
perguntei.
-
Se ele existe neste fragmento é porque alguém, que não foi a natureza, o
colocou aí. Trata-se de ouro monoatômico.
-
Interessante não é Oscar – falei trocando de olhares com o esperto Nhô.
Ao sairmos do laboratório falei ao
reitor:
-
Pode ficar com esse fragmento, depois o Nhô lhe mostra o lugar onde ele foi encontrado,
ok?
-
Ok, senhores! A USV lhes agradece!
-
Então até mais tarde no Bar dos Caldos. O Senhor vai ao aniversário do Goró,
não vai?
- Vou,
claro que vou! Encontrar-nos-emos lá – respondeu-nos.
Do lado de fora da Universidade Sideral
de Virtuália:
-
O senhor entendeu, não é “Véi”?
-
Craro, Misifiu, u oru monatoncu qui tava naquéia pedrinha foi colocadu pelus
pessoá du Kobausqui, num é issu?
-
Quase isto, esperto! Esse meteorito é parte de um meteoro que passou pela
atmosfera da velha morada e a partícula de ouro, que estava fugindo da
atmosfera, se agregou a ele. O senhor tem razão, o que está “chuvendo” na Terra
já indica que a antiga morada se aproxima.
-
Mai issu demorará muntchu num é , seu Lê – perguntou ancião.
-
Ninguém pode dizer isso com certeza Nhô, ninguém!
-
Mais seu Lê, cum tanta tenicologia, será qui essi pessoá, das ciênça, das
grandi cidadi, já num tá venu ieli atravéis dessas máquinas qui vê longi?
-
Talvez Nhô, mas mesmo que soubessem não falariam. Já imaginou a baderna que ia
virar a humanidade?
-
É memu, Misifiu, ia virá uma boiada estorada, eh! Eh!Eh!
-
Mas acho que ninguém ainda sabe se a antiga morada está perto do nosso sistema
solar. Se tivesse próximo, com certeza, algum astrônomo amador já a teria visualizado
e colocado a “boca no trombone”. Mais tarde, quando o Oscarzinho nos procurar
para ver a cratera do meteorito, vamos conversar com ele a respeito, ok?
-
Comu ieu sempre digu: ôce é qui manda Misifiu!
-
Nhô, antes de irmos lá no Goró, vamos lá na Xerê deixar a feijoada e
aproveitarmos para visitá-la – sugeri -lhe.
-
Ieu tava pensanu nissu, misifiu; ôce adivinhô meus pensamentu!
No casebre da Xerequéia:
-
Até que enfim vocês vieram me visitar! Como vai seu Lê? E você, “véi” gente
boa? – disse Xerê e acariciando o focinho do Bittencourt lhe
perguntou:
-
E você, pangaré, sempre bonito e forte! Como está? - o cavalo
eirado deu um longo relincho; foi de assustar.
-
Eu estou ótimo, Xerê – falei e prossegui –
você está com excelente aparência!
-
Óia aqui u qui ieu truxei p’rôce, véia assanhada – Nhô
destampou a grande vasilha e o cheiro da iguaria fez-nos salivar e Xerê falou:
-
Nossa, Nhô, o senhor é um anjo, aliás, um deus da culinária!
-
Eh! Eh! Eh! Num ixagera, misifia!
-
Vamos entrar gente, vou terminar de colocar ração nos coxos dos java-porcos e
passar um café. Ainda tenho café colhido lá no seu sítio Nhô.
-
É memu, misifia, quandu percisar di mais é só mi avisá. Tem uma coieta toda lá
secanu. Sumana qui vem já tá bão. Dédi tê uns treis saco di sessenta quilu – disse o Nhô
à Xerê.
-
Eu aviso sim, “véi”, e vou reservar uns
miúdos de java-porco. Semana que vem tenho mais encomendas do pessoal de
Virtuália e também de Analogicópolis.
-
Intão tá, intão!
Meia hora depois:
-
Esse café é bom mesmo, Nhô e esses biscoitos de polvilho estão ótimos – disse aos
amigos.
-
Os biscoitos de polvilho eu comprei na padaria do Portuga, ih! Ih! Ih!
-
Como vai a criação de java-porco, Xerê – perguntei-lhe.
-
Está indo mais ou menos, seu Lê. Eu precisava de um cachaço mais potente; o
Reni Porquinho já não está bom como antes, aliás, ele já era um macho "meia-boca", ih! Ih! Ih!
-
Nós vamos arrumar dois bons e bem grandes. Em breve nós lhe os entregaremos.
Conhecemos um lugar onde eles crescem bonitos por demais, não é Nhô?
-
Nem mi fali, Misifiu, us animá di Arret, qué dizê, daquéa terra são uns
bitelão!
-
Bem Xerê, a conversa está muito boa, mas temos que ir que já está quase na hora
da festa do Goró! Você vai?
-
Vou, mas só que depois do culto na nova congregação que estou frequentando: Los
Sobrevivientes de Nibiru. A pessoa que ministra essa nova verdade é um sujeito
esquisito, tem a pele que não é branca, nem negra, nem morena é... só vendo!
Ele é cego, ou pelo menos parece, mas enxerga dentro de nossas mentes. Ele não
sai para “canto” nenhum, só fica dentro de onde o seu tablado está instalado.
Ele não fala em dízimo e diz que tudo que estava escrito antes é uma farsa.
Ele, outro dia, falou que... – interrompi a Xerequéia:
-
Onde fica o templo dessa nova religião Xerê?
-
Não tem templo igual às faraônicas religiões que conhecemos; ele tem uma enorme
tenda, onde ele mora e a armou na periferia da cidade. Sabe aquele descampado
enorme que tem depois daquela castanheira centenária na saída para
Analogicópolis? Fica lá!
-
I tem idu muntcha genti nessis curtu, amiga? – perguntou
Nhô.
-
Olha, no começo éramos dez catadores de recicláveis e alguns mendigos que
dormem ali naquela região perto do ferro-velho do Péchato, mas agora tá indo
até dondoca aposentada lá. Tá beirando umas trezentas pessoas. Amanhã tem culto
às dezessete horas e um minuto. Os cultos nunca atrasam e vai até quando a luz
da enorme fogueira – que ele acende – estiver acesa; lá pelas dezenove horas!
Nesses trinta dias, em que ele apareceu, só está preparando os nossos espíritos
para a revelação e, como ele mesmo diz: “- Vocês vão me chamar de louco, mas é
a pura e cristalina verdade!”
-
Ele fuma ou bebe alguma coisa? Você pode informar isto, Xerê – perguntei.
-
Eu não vi, mas o Tatá Bispo-Cardeal, aquele seminarista que doou toda a fortuna
para a ONG - Los Sobrevivientes de Nibiru -, e não se tornou padre e sim um
obreiro da IEVSV (Igreja Eva-angélica Sideral de Virtuália), é quem está
acompanhando e ajudando ele. O Delfino, do Restô, para quem eu vendo carne de
java-porco, dias atrás, me perguntou se aquele piazito crente tinha virado
pinguço, pois ele vive comprando aguardente lá no restaurante dele.
-
Ingraçadu, tem uns vinti dia qui u Gaúchu mi tem compradu muntcha das pinga qui
ieu fabricu. Inté istranhei mai num preguntei nadica di nada u pruquê di ieli
tá compranu tanta purinha. Inhantes era trinta i cincu litru por méis i, hoji,
é essa mema quantidadi, só qui di seti im seti dia – acrescentou
o Nhô.
-
Que eu saiba, esse delicado piazito não ingere bebida alcoólica – completei
-
É para o tal sujeito, seu Lê – disse a Xerequéia.
-
Como assim – perguntei.
-
Ele não bebe outra coisa a não ser cachaça. E parece que não fica embriagado.
Ele, quando inicia o culto, sentado como um Buda, já toma um copo liso. No
começo achei que era água, mas era aguardente.
-
Nhô, vamos indo lá para o Boteco dos Caldos; já são quase dezessete horas e
talvez possamos ajudá-los em alguma coisa. Xerê, amanhã nós passaremos aqui à
tarde para acompanhá-la ao culto, podemos? – perguntei.
-
Claro, meus amigos, amanhã esperarei vocês!
-
Intão tá, intão, Xerê!
-
Até , “véi” – respondeu a Xerê.
-Tchau
Xerê!
-
Tchau seu Lê!
Desatrelamos o Bittencourt da carroça e
o deixamos no quintal gramado do casebre da Xerequéia.
No Boteco de Caldos:
-
Seu Lê, Nhô que prazerão em vê-los – alegre nos abraçava o Goró.
-
Oi gente, espere um minuto que vou estar abraçando vocês – falou
alegremente a Cindy, com sua peculiar “perfeição” gramatical.
-
Meus parabéns, Paulo; tu és um homem de caráter – cumprimentei-o.
-
Obrigado amigo Lê, te agradeço por tudo – respondeu-me.
-
Ôce tá corado, misifiu! I ôce, Cindy, tá cum uma barriga muntchu grandi prá
treis méis. Ôce já sabi u secçu du bebê?
-
Já sim, Nhô! Sabem da novidade: é uma menina e um menino –
respondeu a Cindy Corbélia.
-
Mais qui maravia, misifiu, qui notícia boa, sô!
O Paulinho era só felicidade e
arrastou-nos para uma mesa reservada para nós, pois ele tinha certeza que
viríamos. Pegou um copo com água de coco e propôs um brinde no qual todos
concordaram. Estavam no Boteco, além de nós e os proprietários: o técnico do
Gauchito FC – seu Jorjão; o técnico do Brasinha de Virtuália – seu Sid Ney Pena
e este me intimou:
-
Lê, nos te convidamos para amanhã dar o pontapé inicial do clássico amistoso - Brasinha de Virtuália versus Gauchito. Comemoraremos os quarenta e sete anos do nosso Brasinha de Virtuália Atlétic Club . O jogo será num campo neutro, no Mauazinho Futebol Club, e terá um troféu patrocinado pelo Boteco dos Caldos.
O nome do troféu é Paulo di Paulli! O senhor e o Nhô irão, estou certo?
-
Eu irei com certeza, mas faço-te uma pergunta: - os irmãos Roberto e Régis;
Barriga; Edson Véia; Flávio Tadinha; Zé Beiço; Fortaleza; o goleiro vesgo Jonatah
irão jogar para o Brasinha?
-
Com certeza, Lê, são titulares – falou o Sid Ney.
-
Lá estarei amigos – confirmei o convite, por minha parte.
O Boteco estava reservado aos amigos do
Goró e estava lotado. Caldos, churrasquinhos, caipirinhas e refrescos eram em
abundância e tudo ao som da melhor dupla sertaneja do Vale Virtualiano do Rio
do Peixe: João Peroba e Sucupira acompanhada pelo sanfoneiro Bico Doce.
Às dez horas em ponto cessou toda a
barulheira e nos despedimos de todos.
-
Seu Lê, ieu vô drumi lá na casa da Xerê. Iela mi convidô. Já qui amanhã cedu u
sinhô vai vê o crássico du futibó virtualianu é mió nóis ficá puraqui está
noiti; num é memu?
- Está
certo Nhô, vou pernoitar no hotel União do Vale. Vou ver o jogo que começa as
dez horas e depois almoçar com o Oscarzinho no Restô. Vou verificar com o
professor o que ele sabe sobre as chuvas de meteoritos que está ocorrendo e,
conforme o desenrolar da conversa, falo para ele sobre Arret. Depois vou tirar
um cochilo até a hora do culto.
Uma hora e trinta minutos depois de eu
dar o pontapé inicial, o Brasinha estava ganhando de dois a zero do Gauchito.
Barriga fez os dois gols. O interessante é que o goleiro, do Brasinha, Jonatah
Vesgo defendeu dois penaltes e, os dois, chutados pelo Everton. Após uma hora
e, com a entrega do troféu ao Sid Ney Pena, todos foram festejar no churrasco
na vala, isto é, fizeram uma valeta e dentro colocaram carvão e a carne era
colocada em estacas ao lado desta vala, armado nos fundos do campo do Gauchito.
Fiquei por ali uma hora e pasmei pela harmonia e amizade do pessoal das duas
equipes. Isso não se vê mais na realidade.
Duas horas da tarde no Restô:
-
“Buenas” tarde patrão, quer experimentar um bom vinho tinto suave lá dos meus
pampas enquanto espera o Oscar – sugeriu Delfino, proprietário do
restaurante.
-
Quero sim, obrigado! Pode trazer uma jarra e duas taças que o Oscar já está
chegando – respondi ao Gaúcho.
-
Boa tarde Delfino; boa tarde seu Lê! Estou atrasado –
perguntou-nos o reitor.
-
Boa tarde - respondemos e eu continuei a falar:
-
Cheguei ainda agorinha! O Gaúcho vai trazer um vinho enquanto esperamos o peixe
à moda da casa ficar pronto!
-
Ótimo, adoro vinho tinto suave! E peixe então? É tudo de bom – disse
Oscar.
Conversamos por todo o tempo em que
saboreamos o surubim com arroz branco, pirão e saladas. E cheguei à conclusão e
pensei:
-
Não devo falar nada sobre Arret, antiga morada, raça do Kobauski, viagens transitórias,
choques de planetas... nada! Não acho seguro, visto que, o que falado pelo
Oscar, sobre as chuvas de meteoritos, não passava de conhecimentos teóricos,
nada mais.
-
Bem professor, foi um prazer almoçar contigo, porém tenho que ir encontrar com
o Nhô e voltarmos ao sítio dele!
-
Está bem seu Lê, qualquer dia desses vou ao sítio ver onde caiu o meteorito,
por favor, avise o Nhô, ok?
-
Falarei com o Nhô a respeito – respondi e fui me retirando, após
acertar as despesas com o Gaúcho.
No Boteco dos Caldos, dezesseis horas e
quarenta minutos:
-
Boa tarde, seu Lê! Está procurando o Nhô? Ele está na cozinha proseando com o
Lezivo e o Biliato – falou-me o Paulinho.
-
Boa tarde Paulo! Obrigado, vou até lá.
Na cozinha o Nhô termina uma “aula” de
como fazer uma super feijoada de java-porco para os donos do Boteco.
-
Boa tarde, meu povo – cumprimentei-os.
-
Boa tarde, seu Lê – responderam os dois empresários do ramo de alimentos.
-
Ôce já tá prontu, seu Lê – perguntou-me o Nhô.
-
Já estou pronto, Nhô, vamos para o culto?
-
Vamu sim! U Bittencourt já tá inté atreladu na carroça!
-
Eu vi a carroça ali na frente, aliás, eu e o pangaré nos vimos – respondi.
Despedimos de todos e, no meio do
percurso para o culto, na saída para Analogicópolis:
-
Ingraçadu, misifiu, tô achanu u tempu mêi isquisitu – comentou o
Nhô.
-
Também estou achando alguma coisa estranha, que não sei o que é, “véi, será
que... – Nhô me interrompeu:
-
Óia nu céu, seu Lê, que cores mais bunita e dançanu! O qui qui é issu?
-
É um tipo de crepúsculo boreal ou austral, Nhô! É um fenômeno que acontece
quando o Sol expele muito plasma em suas explosões!
-
Num intendi nadica di nada, mais é muntchu bunitu!
O fenômeno terrestre, no céu, foi
extinguindo; a escuridão foi se acentuando, pois não era noite de lua cheia e
Nhô me perguntou:
-
Seu Lê, u qui tá fartanu acontecê? Será que vai sê brevi qui a veia morada vai
acertá a Terra?
-
Pode ser Nhô, pode ser! Mas, que está tudo esquisito, isso está!
Na tenda, na saída de Analogicópolis:
-
Óia só, misifiu, quanta genti! Óia o dotô Fabrício e a noiva deie– disse o
velho amigo surpreso.
-
Qual será a nova ideia desse sujeito? Estou curioso, Nhô!
-
Ieu tamém, seu Lê!
Fomos recebidos pelo Tatá que quis nos
colocar próximo ao pastor, mas preferimos ficar afastados , só observando.
O ser estranho usava um capuz negro da
cor da túnica, não mostrava o rosto e ao aproximar-se da imensa fogueira, para
sentar-se numa pequena plataforma acima do nível do chão, houve um repentino
aumento das chamas da fogueira.
-
Ohhhhhh! – foi o murmúrio da plateia.
-
Ôce viu issu, misifiu – perrguntou-me o Nhô.
-
Vi sim “véi”, e vi, também, um sujeito todo de negro – meio escondido -, jogando um produto no
meio da fogueira. Faz parte do show para impressionar.
Houve um sepulcral silêncio até que o ser
se sentou à moda Buda, ingeriu um copo americano de um líquido transparente e
falou guturalmente:
-
Boa noite irmãos! Em nome da Mente Toda Poderosa eu vos saúdos!
- A
que Mente Toda Poderosa você se refere senhor...
senhor...senhor, como posso lhe chamar – perguntou
uma obreira , imensamente gorda, da IEASV que estava acompanhada de outras
dezenas de seguidora da igreja do pastor Jairo Edson. Todas estavam ali,
visivelmente, intencionadas a tumultuar o culto da "nova ideia".
O ser ergueu a cabeça e fitou aquela
senhora e vociferou:
-
Eu sou Ison Comet e falo daquela Mente Superior que criou a partícula bosônica,
aquela que a ciência chama de bóson de Higgs e, com ela, construiu tudo o que
existe: incluindo você, minha senhora!
-
Se não falas do meu deus és um enviado do gramulhão. E eu te amarro em nome do
filho do meu deus – respondeu Rolecina da IEVSV.
-
Tu adoras um deus criado pelo homem e venera a figura de uma lenda criada pela
imponente igreja que detém uma fortuna incalculável. Não tens noção de como é
essa Mente Poderosa que criou tudo que existe e... Ison Comet
foi interrompido pela obreira:
-
Vai-te “de retro” satanás eu te... eu te... Cof!...Cof! – a senhora
obreira abriu os enormes braços na esperança de respirar e caiu durinha para
frente. O tumulto foi geral:
-
Você a matou filho das trevas – gritou uma das amigas de Rolecina.
Corremos para atendê-la, mas o doutor
Fabrício adiantou-se e constatou óbito dizendo:
-
Foi infarto fulminante; já chamei a ambulância da Santa Casa Sem Misericórdia!
O estranho levantou-se e foi se
retirando apressado e houve a mesma arte pirotécnica na sua saída.
- Chamemos
a polícia, esse demônio matou nossa
colega – gritou outra obreira.
-
Eu sou da polícia! Sou o cabo Tição. Não houve crime nenhum. Ela morreu do
coração. Se as senhoras quiserem acompanhem a dona Rolecina até a Santa Casa e
chamem o delegado para fazer um BO!
A senhora calou-se e com as outras
entoaram cânticos Eva-angélicos da pop star gospel, a cantora, Donamala.
-
Venha Nhô, vamos conversar com esse sujeito. Parece que ele tem realmente outra
ideia das coisas – falei puxando o velho amigo pelo braço e saímos do
tumulto.
-
Vamu sim, misifiu, inté ieu fiquei curiosu. As ideia deie mêi que pareci c' as
minha.
Na entrada da tenda fomos barrados pelo
Tatá Bispo-Cardeal:
-
Desculpe seu Lê, mas o pastor Ison está em retiro espiritual e não pode... – ele foi
interrompido:
-
Quem é obreiro?
-
É o seu Lê e o Nhô Antonio Benzedô eles...
-
Deixe-os entrar, quero conhecê-los!
No interior da luxuosa tenda o pastor
esta de costas para um sofisticadíssimo computador conectado a outros tipos de
aparelhos inclusive um pequeno telescópio. Na tela do monitor, de 32” de HD,
estava o mapa mundial com áreas assinaladas nos diversos continentes - inclusive
em HY-BRAZIL -, cidade de Virtuália.
-
Sentem-se senhores, já vou atendê-los!
Pensei comigo:
-
Êpa, peraí, peraí...peraê, a Xerê acha que o sujeito é deficiente visual! Não é o que parece!
O pastor despejou, de uma garrafa em um
copo, um líquido branco e virou de um gole só garganta abaixo e o Nhô exclamou:
-
Eh! Eh! Essi chêru é das branquinha qui ieu façu lá nu meu sítio! Dá prá senti
u chêru da caiana di longi, eh! Eh! Eh!
-
Em que posso ajudá-los senhores?
-
É a respeito do que vimos e ouvimos nós...
-
O que viram foi o que viram, e o que ouviram de minha parte, é a minha verdade!
Eu trago, assim como outros iguais a mim espalhados pelos quatro cantos da
Terra, a verdade sobre tudo e também o que está por vir em breve! Esta
humanidade vive na mentira desde quando o homo - sapiens foi manipulado
geneticamente. Eu sou um dos enviados para esclarecer: doa a quem doer!
De repente o pastor tirou o capuz, os
óculos escuro e fitou-nos dizendo:
-
Por favor, queiram se retirar, outro dia conversaremos e...
-
Ieu só queria ti fazê uma pregunta i... – Nhô foi interrompido:
-
Seguranças, por favor, acompanhem esses dois senhores até a saída do nosso
acampamento!
Não teve como dialogar e fomos levados
até a saída por dois enormes mulatos que não eram da região.
-
Nhô, vamos à delegacia falar com o Carabina!
-
Tá bão, misifiu!
-
Nhô, o que o senhor ia perguntar para aquele pastor?
-
Ieu ia preguntar prele de que praneta iele vêi! Ieli num pareci dêssi mundu!
Na delegacia as, exatamente, vinte e uma
horas e um minuto:
-
Seu Lê, eu já estive lá na Santa Casa e registrei o BO; amanhã cedo vamos
buscar o pastor para conversar com ele. Já que vocês viram o que aconteceu,
gostaria que estivessem aqui! Vai ser por volta das nove horas!
-
Estaremos aqui, Delegado – falei-lhe.
Na volta para o sítio:
-
Si u sinhô pudesse entrá im contatu cum u Kobausqui tarveis ieli arresolvessi
issu!
-
Já mentalizei uma mensagem para ele, Nhô, se ele sentir que ocorre algo
estranho, ele deverá nos contactar. Lembra que ele falou que seria bom evitar
as viagens enquanto não diminuíssem as tempestades solares?
-
É memu, misifiu, ieli falô"qui seria bão evitá" i não qui num faria, eh! Eh!
Eh!
Perto do sítio, por volta das vinte e
duas horas e trinta minutos:
-
Olha Nhô, aquele clarão lá pelos lados do ribeirão será que...
-
Ieu nun vi nada seu Lê! Foi impressão du sinhô. Dédi sê reflexu de arguma
coisa!
-
Acho que não “véi”, já vamos saber quando chegarmos ao sítio!
Paramos a carroça no galpão e o Nhô
conversava com o Bittencourt enquanto o desatrelava da carroça:
-
Ôce mi descurpa viu pangaré! Sei qui ôce num gosta di puxá carroça di noiti,
mais foi uma necessidadi, tá bão – o cavalo deu um relincho e saiu em
direção ao seu reservado.
Ao chegarmos à varanda da cozinha:
- Olá
seu Lê! Como vai Nhô Antonio?
-
Banoite, Kobausqui! Eh! Eh! Eh! O seu Lê tinha razão, ele viu um crarão nas
bandas du riberão.
-
Se o senhor me chamou, sabendo dos riscos, deve ser alguma coisa muito grave. O
que acontece, seu Lê?
- Boa
noite Kobauski! Gostaríamos de saber sobre a trajetória da antiga morada; está acontecendo
fenômenos estranhos em nosso planeta e...
-
Calma, seu Lê! A antiga morada sofreu uma colisão com um meteoro que passou por
este sistema solar há mil novecentos e cinquenta e dois anos terrestres. Esse meteoro
viajava a 80.000 Km/ht (ht = hora terrestre) e chocou-se inteiro com a velha
morada acontecendo uma imensa explosão. A luz dessa explosão não foi vista aqui
na Terra, porém fragmentos dessa hecatombe já estão colidindo com a sagrada
atmosfera terrestre.
-
O que você está me dizendo é que a velha morada explodiu –
perguntei-lhe.
-
Quase isso. Partiu-se em três grandes pedaços e o menor deles, do tamanho de
vossa Lua, está vindo para este sistema solar.
-
Chiiiii, seu Lê, achu mio nóis si pirulitá para Arret – disse Nhô.
-
Não há o que temer, por enquanto. Temos muitos anos terrestres antes de
qualquer tragédia.
-
Tem outra coisa Kobauski; acho que tem mais gente controlada pelos reptilianos
aqui na Terra – expliquei o que aconteceu e o Kobauski pediu que o
levasse até ao pastor naquele momento e, assim o fizemos. Coloquei, na
caminhonete, a capota, que sempre trago
desmontado na carroceria da GMC e Kobauski se acomodou na trazeira da
Vermelhona.
Em meia hora lá estávamos perto da
barraca. Era quase meia noite e só o clarão do monitor do computador do pastor
iluminava o interior da tenda. Eu vi e falei:
-
Olha Kobauski, tem dois seguranças, vai ser difícil chegar nele!
Kobauski pediu para o Nhô ficar na
caminhonete e pediu que eu o acompanhasse. Apontou na direção dos seguranças
uma espécie de pistola e dela, após acioná-la, saiu um feixe de luz e os dois
morenos caíram, lentamente, por terra sem emitir nenhum som.
Entramos de supetão dentro da tenda. O
pastor estava distraído, sem capuz e sem óculos especial e ao nos ver foi paralisado
pelo flash emitido pela arma do Kobauski e, caiu ao chão.
O arretiano tirou do bolso do macacão um
aparelho que eu já o vira usar e o encostou na cabeça do pastor e disse-me:
-
Olhe aqui, seu Lê, o chip entre o cérebro e o cerebelo! Foi abduzido pelos
reptilianos. O que vai nos ajudar é que este chip está ligado em rede com
outros seis chips em cérebros de terráqueos em diversas partes do globo
terrestre. Nossa tecnologia permite que copiemos todos os dados de todos eles e
depois os inutilizamos sem causar nenhum dano aos abduzidos.
-
Mas Kobauski, você não vai remover os chips das cabeças deles – perguntei.
-
Não será necessário! Eles são tão minúsculos que não influenciará em nada –
explicando-me isto, falou:
-
Pronto, já copiei todos os dados dessa rede e queimei os circuitos dos chips.
Vamos aproveitar que aqui nessa tenda tem um computador e analisar rapidamente
o resumo do que eles pretendiam!
-
Mas, como, meu amigo? Como vai passar, desse seu equipamento, os dados em reptiliano para a tecnologia
do computador terrestre?
-
Seu Lê, depois de tanto tempo afugentando esses outros aliens e participando da rotina terráquea, foi facílimo
fazer um conversor de nossas tecnologias para a de vocês e vice versa.
-
Hummm..., entendi!
Depois de quase duas horas assistindo o
resumo do projeto reptiliano Kobauski concluiu:
-
Entendeu, seu Lê, eles estavam criando uma anti-religião. Esta seria exatamente
o contrário da que usam na Terra há milênios. Era um projeto ousado e criativo.
-
Depois do que vi fico na dúvida: “Qual, das duas, será a anti religião com certeza?”
Eu sempre vou ter as minhas dúvidas sobre as verdades dessas crenças. É um fato
a pensar e pensar muito à fundo.
-
Os reptilianos, que implantaram esses chips nos abduzidos, são da mesma
expedição que expulsamos para fora do seu sistema solar na última vez que
estivemos aqui. Eles já haviam implantado essa rede antes de abortarem a
expedição.
-
Então essa missão deles está encerrada?
-
Com certeza seu Lê, estejam onde estiverem não vão conseguir nada com os chips
implantados em rede.
-
O que vai acontecer com este pastor quando voltar ao estado normal – perguntei
ao Kobauski.
-
Vai voltar a ser o que ele era antes, não vai se lembrar de nada que o chip o
induzia a fazer. Apagamos, também, os
programas incluídos no computador dele só ficando o que já existia antes, só os
programas de fábrica e emiti uma frequência que destruiu qualquer cópia dos
arquivos que, por ventura, tenha sido gravado em qualquer tipo de backup
guardados num raio de dez quilômetros.
-
Se é assim, dá para ver o que ele era na realidade. Deixe-me dar uma
pesquisada, Kobauski, vai ser rápido – falei.
-
Ok! Enquanto isso vou lá prá caminhonete falar com o Nhô; ele deve estar
cansado de nos esperar, certo?
- Certo,
tá ok!
Ao verificar os dados do IP do micro
do pastor deu para ver que ele, na verdade, é um “esperto” que ganhava a vida
como pastor e era de uma seita chamada: “Los Sobrevivientes de Nibiru”, cuja
matriz, dizem, ficava localizada perto de Puno no Peru, próximo ao Lago
Titicaca.
-
“Tenho certeza de que o pastor Jairo Edson vai correr com ele daqui da região!”
– pensei alto.
Verifiquei e tive a certeza que na
memória do micro não havia ficado resquício de nada. Tinha, agora, só os
programas normais de fábrica.
O pastor mostrou sinal de que estava
voltando a si e ao sair da tenda vi que os seguranças também estavam se
recuperando e corri para a caminhonete e rumamos para o sítio do Nhô.
Continua em:
UMA
NOVA VIAGEM
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