sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

VIDA EM VIRTUÁLIA


ARRET
A NOVA MORADA

Stephen Skov

            Enquanto comia, Stephen narrava:
            - Eu estava vindo para o casório do meu amigo Goró e, quando passava pela estrada de chão batido, que margeia Bispo-Cardeal , um ser todo esverdeado e com cara de calango saiu do mato me estendeu a mão com uma garrafa de uísque doze anos. Como eu estava seco de vontade, de tomar umas doses, peguei a garrafa no ato. Quando segurei a garrafa ela tentou me agarrar com suas mãos de quatro garras afiadas. Como eu estava sóbrio e, ele era muitíssimo lento, me livrei dele, saí correndo e ele começou a soltar uns urros horríveis quase me acertando com uma arma que atirava umas bolinhas, que quando caiam no chão, fervia e abria um buraco.  Foi aí que corri até vir parar aqui. Teve uma hora em que vi umas luzes piscando na estrada e corri para o mato. Como conheço a região vim cortando caminho e bebericando uísque.
            - Essa criatura era lenta porque não está adaptada com a  gravidade terrestre; o planeta deles está perdendo a força de atração, que já era a metade da Terra, e eles andam em busca de outra morada, assim como os da raça de Kowauski. As luzes, que vistes, era do carro de polícia. Era o Carabina que ia fazer ocorrência a respeito do chupa cabras que está aparecendo na região – falei ao Stephen.
- Será que era o chupa cabras, moço – perguntou o Stephen e continuou:
- O uísque que ele me deu era genuíno; sequei a garrafa e não estou nem com dor de cabeça!
- Você tem que ir a Santa Casa Sem Misericórdia de Virtuália para tratar desses ferimentos, eles estão inflamados e pode  piorar. Eu e o Nhô vamos deixar você lá e depois vamos para o sítio, certo “véi”?
- Ôce é qui manda seu Lê – respondeu-me o meu amigo ancião e falou ao Stephen:
- Óia, misifiu, essis seus machucadu é cousa di ostru mundu. Minhas erva num dá conta dissu não!

Deixamos o Stephen internado na “Sem Misericórdia”, pois a febre estava aumentando e direcionamos-nos para o sítio.
Perto do sítio um táxi vinha pela estrada e parou do nosso lado:
- Boa tarde Nhô, seu Moço... deixei um gringo lá no teu sítio Nhô!
- Brigadu Firminu! Achu qui já sabemu quem é, né seu Lê?
- Com certeza!
- Então até outra hora, Nhô!
- Intão, inté Firminu!
- O Richard já está de volta! Deve estar entusiasmado com a possibilidade de ir para Arret!
- É memu, misifiu, mais só si u Kobausqui artorizá – completou o meu raciocínio o Nhô.

Quinze minutos depois e a penumbra da noite já dificultava de enxergar longe:
- Ôce consegui vê, daqui, u Ricu na frente du sítiu, misifiu?
- Eu vejo a frente do sítio, mas não vejo ninguém parado lá – respondi.
- Dédi tá lá nus fundu bebenu água du poçu ou comenu carambola; ieli gostô muntchu das minha carambola!
Entrando pela porteira lateral do sítio:
- Óia iele lá! Num falei, tá comenu carambola, eh! Eh!Eh!
- Hello my friends, olha eu de volta! – gritou Richard.
- Banoiti Ricu, ôce tá bão?
- Ótimo, mas não tanto como o velho Nhô Antônio – respondeu o gringo.
- Como vai, seu Lê, tudo ok?
- Tudo bem Richard! Foi providencial a tua vinda. Aqueles seres que te abduziu, creio eu, estão nesta região – informei ao gringo que arregalou os olhos de preocupação.
- Co... como as...assim? Tem certeza?
- Amanhã vamos à Santa Casa Sem Misericórdia para você conversar com o Stephen. Ele viu o ser e quase foi pego por ele. Talvez seja da mesma raça do que falastes.
- Será que estou sendo rastreado por eles, seu Lê?
- Talvez Richard! Depois de falarmos com Stephen vou tentar contato com o Kobauski em Arret. Pode ser que ele antecipe a vinda dele a Virtuália.

Na manhã seguinte acordamos com alguém chamando pelo Nhô. Era o Stephen que tinha fugido da Santa Casa:
- Não tinha porque eu ficar internado, eu não tenho nada! – dizia o sóbrio bebum.
- Como não tem meu amigo? Olhe os seus ferimentos, estão piorando as inflamações!
Nhô que preparava o café ouviu o relincho do seu pangaré e olhou pela janela:
- U qui ôce qué cavalu véi, ieu percisu terminá... - Nhô olhou para o lado do ribeirão e me perguntou:
- Seu Lê, ôce chamô o Kobausqui esta noiti? Vem vê u crarão lá pertu das pitanguera!
- Contatei sim, Nhô! Mentalizei do jeito que ele me ensinou! – respondi-lhe.
- Dédi sê ieli intão que tá querenu passá pelu portá. Vamu toma um café reforçadu qui hoji num vai sê fáci. U café tá prontu tem: pão doci, geleia di amora, brôa di míu, mandioca cuzida, ovu mixidu i sucu di tapereba; vamu forrá u istrongu, pessoá!

Meia hora depois na margem do ribeirão, perto dos pés de pitanga:
- Iei já tá vinu, seu Lê, u bríu armentô de craridadi – gritou o Nhô e de repente, passando pelo portal, entre as duas árvores:
- Bom dia, meus amigos! Aqui estou seu Lê, por que me chamou – perguntou o Kobauski.
- Bom dia, Kobauski! Vamos lá para a sede do sítio. Você toma café e conversaremos – sugeri.

Dez minutos depois, enquanto o alienígena se empanturrava de broa – ele adorava essa iguaria:
- Foi por isso que te chamei – falei ao habitante de Arret, expondo a situação.
- Vamos para Arret agora, mas tenho que examinar esses dois... senhores... quem são?
- Richard – apresentou-se o gringo.
- Stephen Skov, seu criado – identificou-se o sóbrio bebum.
- Cheguem aqui perto e sentem-se de costas para mim. Um do lado do outro – pediu o Kobauski.
Ambos obedeceram e o alien amigo retirou um aparelho - do tamanho de um controle remoto comum -, do bolso do macacão dourado e colocou dois fios, que saiam desse aparelho e, que nas extremidades opostas tinha cada fio, uma ventosa com um eletrodo. Kobauski ligou o aparelho e projetou na parede da varanda uma tela com duas imagens: uma do cérebro do Rick e outra do mesmo órgão do Stephen e, disse:
- Olhem, são dois chips semelhantes. Foram colocados com o mesmo padrão. Vou inutilizá-los, temporariamente, até chegarmos aos laboratórios de Arret. Lá os extrairemos e depois os analisaremos!
- Não vai doer, seu moço - perguntou o Stephen.
- Não, de jeito nenhum! Será simples. Tome essa cápsula, Skov e, passe esse líquido nas tuas feridas que em poucos minutos começarão a coçar e cicatrizarão!
Kobauski pediu-nos que o acompanhasse até ao portal e, posteriormente, até a esfera dourada. Mas, antes, com outro aparelho parecido com um GPS terrestre disse-nos;
- A criatura reptiliana está do outro lado de Serra Madre. Está desnorteada, pois desliguei os chips de vocês dois. Olhe aqui seu Lê, veja as imagens dela!
- Caramba, meu amigo, ele tem cabeça semelhante aos lagartos terrestre e o corpo humanoide! Como consegue essas imagens, Kobauski?
- Utilizo um micro satélite nosso, que está na órbita da Terra. Vamos rápido, não podemos perder tempo – apressava-nos o Kobauski.
Chegando em Arret, eu e o Nhô, ficamos na casa dos parentes de Kobauski conversando com o Etevaldo. Richard e Stephen ficaram no laboratório com os cientistas arreterianos e o Kobauski.
- Não trouxemos o Juliano e nem o Beijo porque se tratava de uma urgência, Etevaldo, mas o que foi tratado antes está valendo, ok! Já está quase tudo pronto lá em Virtuália. Depois do carnaval eles virão para a nova morada.
- Sei disso seu Lê, meu pai já me colocou a par da situação. E por falar nele, aí vem ele:
- Seu Lê, foi bom você ter me chamado, o chip que estava no Richard armazenava todas as informações do cérebro dele e continuava captando, inclusive, imagens – explicava-me o Kobauski.
- Imagens? Como?
- Através dos olhos de quem tem esse tipo de chip. É como que o espírito da pessoa estivesse sendo copiado paralelamente!- tentou explicar o Kobauski.
- Intão iele vai contra as lei du criadô. U ispirtu num pode sê copiadu, iele é únicu – intercedeu o Nhô.
- Foi uma maneira de falar Nhô. Copiam só as informações adquiridas, só isso – disse Kobauski.
- Mas Kobauski, por que tem um chip na cabeça do Stephen? Ele é só um humano que se desiludiu com o mundo – perguntei não entendendo direito.
- Isto é o que você pensa. O Stephen é um cientista de uma nação da antiga URSS, melhor dizendo, de Tadjiquistão. Ele desapareceu de seu país há muito tempo. Pensam, até hoje, que o antigo regime o tenha matado, pois era um arquivo vivo de conhecimentos e não concordava com a situação do seu povo diante da liberdade restrita. Ele fala vários idiomas e tem um QI altíssimo.
- Peraí, cientista? O Stephen?  - espantado ponderei.
- Isso mesmo! Um gênio em física nuclear, quântica, matemática, química e astronomia. O que ele sabe é universal. Em qualquer parte do infinito é aproveitado.
- Eh! Eh! Eh! Ninguém dava nadica di nada prá ieli, alinhais, dava sim: cachaça! – brincou o Nhô.
- Onde eles estão, Kobauski – perguntei preocupado.
- Estão em recuperação em um hospital da capital de Arret. Em algumas horas eles poderão ir para a Terra com vocês. Não vão estranhar o novo Stephen, hein? 
- Pru que, Misifiu – perguntou o Nhô.
- É que depois que removemos o chip de seu cérebro, todas as disfunções do sistema nervoso dele foram curadas. Era o chip que o deixava naquele estado lastimável!
- Então está explicada a abdução e a tentativa de quererem pegá-lo novamente falei e continuei com minhas perguntas:
- Mas, Kobauski, e as informações que os reptilianos, digamos assim, já conseguiram? Creio que a maior parte já está com eles, não é?
- Não, seu Lê, nossos amigos só sofreram a primeira abdução; seria na segunda captura que eles pegariam  os dados. Os chips foram apagados por nós. Eles usam um sistema antiquado. Os nossos... – interrompi o Kobauski:
- “Os nossos”? Então vocês usam o mesmo expediente? Vocês também fazem abdução?
- Fazíamos! Paramos com isso há muito tempo, aqui na Terra! Preferimos os contatos do tipo que fizemos com vocês. Nossas estruturas são semelhantes, ou seja, nossa cadeia de DNA é a mesma, tanto é que o Etevaldo é meu filho com uma asiática terrestre. Em seres inteligentes, de outras espécies, na maioria das vezes, fazemos esses implantes. Porém, os nossos, com o tempo é absolvido pelo organismo do abduzido. As informações nós conseguimos com uma espécie de “via satélite” intergaláctico. Só fazemos abdução uma só vez.
- Deu para entender- falei ao Kobauski.
- Ieu tô meiu boianu, mais ieu preguntu: - quandu podemu vorta pru meu sítiu seu Kobausqui?
- Daqui a pouco eles serão trazidos para cá, faremos uma refeição e voltaremos para seu cafofô, certo Nhô – respondeu pelo pai o Etevaldo.
- Intão tá, intão, Etevardu, nóis vamu isperá –disse nosso preto velho.
- Seu Lê, enquanto eles não chegarem, vamos dar uma volta no pomar, jardim e horta montados com os vegetais que trouxemos da Terra – disse Kobauski.
- Ótimo, vamos sim! O que achas da ideia, Nhô?
- Muintchu bão, patrão!
Passeamos por hora e meia (terráquea) e a diferença entre os vegetais terrestres plantados aqui não tem como comparar; parecem outros vegetais. São mais viscosos, maiores e de aparência superior.
- Seu Lê, o Rick e o Stephen já estão lá em casa. O Etevaldo já me contatou. Vamos voltar! Subam no flutuacar – meio que ordenou o alien amigo.
- Ok! Vamos lá – respondi.
- Seu Kobausqui, aquilu qui pareci uma melancia di pertu daquéias abobras giganti   é u que – perguntou o Nhô.
- É melancia Nhô! Na refeição que faremos teremos dela para vocês provarem – respondeu o pai do Etevaldo.
Alguns minutos depois, na varandona da casa de Kobauski:
- Sabe que carne é essa Nhô Antônio – perguntou o Kobauski.
- Pareci pêxe mais é muntchu saborosu – respondeu o preto velho.
- É surubim! E são de descendência dos do Rio do Peixe – disse o Kobauski.
- Muntchu bão! I a melancia é mais doci e mais vremeia du que as da Terra, mais as sementi são du memou tamanhu – observou o Nhô.
- Que bebida é esta Kobauski – perguntou o novíssimo Stephen.
- É suco de graviola terrestre com arifli, uma fruta natural de nossa antiga morada – respondeu o anfitrião.
- Não dá para falar com o que parece, mas lembra do gostinho da graviola, mas é diferente - completou o Stephen.
- Pai, o portal foi liberado e temos que ir, apressemo-nos – interferiu o Etevaldo.
- Ok, ok! Vamos andando pessoal – falava-nos o Kobauski.
- Como vamos lidar com os reptilianos que estão lá no Vale Virtualiano do Rio do Peixe – perguntei a um dos amigos arretianos.
- Não estão mais! Mandei uma tropa para expulsá-los do seu sistema solar. Através dos chips, retirados dos nossos amigos, foi fácil localizar cada uma das sete expedições deles na Terra. Podem ficar descansados.

Em algumas horas o portal entre as duas pitangueiras se abre e, dele, saem todos os terráqueos e também o Etevaldo.
- Ficarei aqui, pai! Retornarei após o carnaval com nossos amigos, conforme combinado, ok!
- Ok, meu filho! Trabalhe junto com Richard e Stephen nas pesquisas do ouro monoatômico que Rick supõe existir abaixo da jazida de plutônio. Se for do teor que o engenheiro me mostrou viremos buscar cada grama que essa grande jazida produzir – disse Kobauski.

Dezessete horas e onze minutos depois no sítio do Nhô:
- Nhô, eu tenho que retornar ao sítio do meu filho Thiago agora.  No carnaval retornarei para acompanhar a ida da turma para a nova morada, ok!
- Comu ieu semprei digu: ôce é qui sabi, Misifiu! É ingraçadu, pareci qui ôvi arguem ti chamanu! É uma vozinha de muié mais paricida cum vóiz de minininha. Vô lá na frenti oiá quem é! Tá bão seu Lê?
...

- Lê! Ôôôôô... Lêêê, daí dessa espreguiçadeira e volte comigo para a cama! São cinco e quinze da manhã. Venha, vamos aproveitar e dormir até as dez. Depois eu vou fazer surubim frito, arroz de alho,  salada de pepino e rabanetes. De sobremesa, aquela melancia que o Thiago colheu para nós. Veja só que imensa – falou com o pezinho direito, que calçava uma pantufa de pom pons, sobre a enorme e rajada fruta esverdeada.
- Tá certo, meu “pitéu”, afinal férias são para isso e... – fui interrompido:
- Olhe Lê, aquelas luzes que saíram de trás daquela serra? Elas de juntaram com a maior que estava parada e só piscando alternativamente entre vermelho, verde e amarela. Olhe, olhe... estão aumentando os brilhos e acererando... caramba, desapareceram numa velocidade incrível!
- Parece que eles foram embora, Rô. Acho que tem alguma raça superior nos protegendo! – falei.

Continua em:

Da TERRA
A ARRET

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