ARRET
A NOVA MORADA
Stephen
Skov
Enquanto
comia, Stephen narrava:
- Eu estava vindo para o casório do meu
amigo Goró e, quando passava pela estrada de chão batido, que margeia
Bispo-Cardeal , um ser todo esverdeado e com cara de calango saiu do mato me estendeu a mão com uma garrafa de uísque doze anos. Como eu estava seco de vontade, de
tomar umas doses, peguei a garrafa no ato. Quando segurei a garrafa ela tentou
me agarrar com suas mãos de quatro garras afiadas. Como eu estava sóbrio e, ele
era muitíssimo lento, me livrei dele, saí correndo e ele começou a soltar uns
urros horríveis quase me acertando com uma arma que atirava umas bolinhas, que
quando caiam no chão, fervia e abria um buraco. Foi aí que
corri até vir parar aqui. Teve uma hora em que vi umas luzes piscando na estrada e
corri para o mato. Como conheço a região vim cortando caminho e bebericando uísque.
- Essa criatura era lenta porque não
está adaptada com a gravidade terrestre; o planeta deles está perdendo
a força de atração, que já era a metade da Terra, e eles andam em busca de outra
morada, assim como os da raça de Kowauski. As luzes, que vistes, era do carro
de polícia. Era o Carabina que ia fazer ocorrência a respeito do chupa cabras
que está aparecendo na região – falei ao Stephen.
-
Será que era o chupa cabras, moço – perguntou o Stephen e continuou:
-
O uísque que ele me deu era genuíno; sequei a garrafa e não estou nem com dor
de cabeça!
-
Você tem que ir a Santa Casa Sem Misericórdia de Virtuália para tratar desses
ferimentos, eles estão inflamados e pode piorar. Eu e o Nhô vamos
deixar você lá e depois vamos para o sítio, certo “véi”?
-
Ôce é qui manda seu Lê – respondeu-me o meu amigo ancião e falou ao Stephen:
-
Óia, misifiu, essis seus machucadu é cousa di ostru mundu. Minhas erva num dá
conta dissu não!
Deixamos o Stephen internado na “Sem
Misericórdia”, pois a febre estava aumentando e direcionamos-nos para o sítio.
Perto do sítio um táxi vinha pela
estrada e parou do nosso lado:
-
Boa tarde Nhô, seu Moço... deixei um gringo lá no teu sítio Nhô!
-
Brigadu Firminu! Achu qui já sabemu quem é, né seu Lê?
-
Com certeza!
-
Então até outra hora, Nhô!
-
Intão, inté Firminu!
-
O Richard já está de volta! Deve estar entusiasmado com a possibilidade de ir para
Arret!
-
É memu, misifiu, mais só si u Kobausqui artorizá – completou
o meu raciocínio o Nhô.
Quinze minutos depois e a penumbra da
noite já dificultava de enxergar longe:
-
Ôce consegui vê, daqui, u Ricu na frente du sítiu, misifiu?
-
Eu vejo a frente do sítio, mas não vejo ninguém parado lá – respondi.
-
Dédi tá lá nus fundu bebenu água du poçu ou comenu carambola; ieli gostô
muntchu das minha carambola!
Entrando pela porteira lateral do sítio:
-
Óia iele lá! Num falei, tá comenu carambola, eh! Eh!Eh!
-
Hello my friends, olha eu de volta! – gritou Richard.
-
Banoiti Ricu, ôce tá bão?
-
Ótimo, mas não tanto como o velho Nhô Antônio – respondeu
o gringo.
-
Como vai, seu Lê, tudo ok?
-
Tudo bem Richard! Foi providencial a tua vinda. Aqueles seres que te abduziu,
creio eu, estão nesta região – informei ao gringo que arregalou os
olhos de preocupação.
- Co...
como as...assim? Tem certeza?
-
Amanhã vamos à Santa Casa Sem Misericórdia para você conversar com o Stephen.
Ele viu o ser e quase foi pego por ele. Talvez seja da mesma raça do que
falastes.
-
Será que estou sendo rastreado por eles, seu Lê?
-
Talvez Richard! Depois de falarmos com Stephen vou tentar contato com o
Kobauski em Arret. Pode ser que ele antecipe a vinda dele a Virtuália.
Na manhã seguinte acordamos com alguém
chamando pelo Nhô. Era o Stephen que tinha fugido da Santa Casa:
-
Não tinha porque eu ficar internado, eu não tenho nada! – dizia o
sóbrio bebum.
-
Como não tem meu amigo? Olhe os seus ferimentos, estão piorando as inflamações!
Nhô que preparava o café ouviu o
relincho do seu pangaré e olhou pela janela:
-
U qui ôce qué cavalu véi, ieu percisu terminá... - Nhô olhou
para o lado do ribeirão e me perguntou:
-
Seu Lê, ôce chamô o Kobausqui esta noiti? Vem vê u crarão lá pertu das
pitanguera!
-
Contatei sim, Nhô! Mentalizei do jeito que ele me ensinou! – respondi-lhe.
-
Dédi sê ieli intão que tá querenu passá pelu portá. Vamu toma um café reforçadu
qui hoji num vai sê fáci. U café tá prontu tem: pão doci, geleia di amora, brôa
di míu, mandioca cuzida, ovu mixidu i sucu di tapereba; vamu forrá u istrongu, pessoá!
Meia hora depois na margem do ribeirão,
perto dos pés de pitanga:
-
Iei já tá vinu, seu Lê, u bríu armentô de craridadi – gritou o
Nhô e de repente, passando pelo portal, entre as duas árvores:
-
Bom dia, meus amigos! Aqui estou seu Lê, por que me chamou – perguntou
o Kobauski.
-
Bom dia, Kobauski! Vamos lá para a sede do sítio. Você toma café e
conversaremos – sugeri.
Dez minutos depois, enquanto o
alienígena se empanturrava de broa – ele adorava essa iguaria:
-
Foi por isso que te chamei – falei ao habitante de Arret, expondo a situação.
-
Vamos para Arret agora, mas tenho que examinar esses dois... senhores... quem
são?
-
Richard – apresentou-se o gringo.
-
Stephen Skov, seu criado – identificou-se o sóbrio bebum.
-
Cheguem aqui perto e sentem-se de costas para mim. Um do lado do outro – pediu o
Kobauski.
Ambos obedeceram e o alien amigo retirou
um aparelho - do tamanho de um controle remoto comum -, do bolso do macacão
dourado e colocou dois fios, que saiam desse aparelho e, que nas extremidades
opostas tinha cada fio, uma ventosa com um eletrodo. Kobauski ligou o aparelho
e projetou na parede da varanda uma tela com duas imagens: uma do cérebro do
Rick e outra do mesmo órgão do Stephen e, disse:
-
Olhem, são dois chips semelhantes. Foram colocados com o mesmo padrão. Vou
inutilizá-los, temporariamente, até chegarmos aos laboratórios de Arret. Lá os
extrairemos e depois os analisaremos!
-
Não vai doer, seu moço - perguntou o Stephen.
-
Não, de jeito nenhum! Será simples. Tome essa cápsula, Skov e, passe esse
líquido nas tuas feridas que em poucos minutos começarão a coçar e cicatrizarão!
Kobauski pediu-nos que o acompanhasse
até ao portal e, posteriormente, até a esfera dourada. Mas, antes, com outro aparelho
parecido com um GPS terrestre disse-nos;
-
A criatura reptiliana está do outro lado de Serra Madre. Está desnorteada, pois
desliguei os chips de vocês dois. Olhe aqui seu Lê, veja as imagens dela!
- Caramba,
meu amigo, ele tem cabeça semelhante aos lagartos terrestre e o corpo humanoide!
Como consegue essas imagens, Kobauski?
-
Utilizo um micro satélite nosso, que está na órbita da Terra. Vamos rápido, não
podemos perder tempo – apressava-nos o Kobauski.
Chegando em Arret, eu e o Nhô, ficamos na
casa dos parentes de Kobauski conversando com o Etevaldo. Richard e Stephen
ficaram no laboratório com os cientistas arreterianos e o Kobauski.
-
Não trouxemos o Juliano e nem o Beijo porque se tratava de uma urgência,
Etevaldo, mas o que foi tratado antes está valendo, ok! Já está quase tudo
pronto lá em Virtuália. Depois do carnaval eles virão para a nova morada.
-
Sei disso seu Lê, meu pai já me colocou a par da situação. E por falar nele, aí
vem ele:
-
Seu Lê, foi bom você ter me chamado, o chip que estava no Richard armazenava todas
as informações do cérebro dele e continuava captando, inclusive, imagens –
explicava-me o Kobauski.
-
Imagens? Como?
-
Através dos olhos de quem tem esse tipo de chip. É como que o espírito da
pessoa estivesse sendo copiado paralelamente!- tentou
explicar o Kobauski.
-
Intão iele vai contra as lei du criadô. U ispirtu num pode sê copiadu, iele é
únicu – intercedeu o Nhô.
-
Foi uma maneira de falar Nhô. Copiam só as informações adquiridas, só isso – disse
Kobauski.
-
Mas Kobauski, por que tem um chip na cabeça do Stephen? Ele é só um humano que
se desiludiu com o mundo – perguntei não entendendo direito.
-
Isto é o que você pensa. O Stephen é um cientista de uma nação da antiga URSS,
melhor dizendo, de Tadjiquistão. Ele desapareceu de seu país há muito tempo.
Pensam, até hoje, que o antigo regime o tenha matado, pois era um arquivo vivo
de conhecimentos e não concordava com a situação do seu povo diante da
liberdade restrita. Ele fala vários idiomas e tem um QI altíssimo.
- Peraí,
cientista? O Stephen? - espantado
ponderei.
- Isso mesmo! Um gênio em física nuclear, quântica, matemática, química e
astronomia. O que ele sabe é universal. Em qualquer parte do infinito é
aproveitado.
-
Eh! Eh! Eh! Ninguém dava nadica di nada prá ieli, alinhais, dava sim: cachaça!
– brincou o Nhô.
-
Onde eles estão, Kobauski – perguntei preocupado.
-
Estão em recuperação em um hospital da capital de Arret. Em algumas horas eles
poderão ir para a Terra com vocês. Não vão estranhar o novo Stephen, hein?
- Pru que, Misifiu – perguntou o
Nhô.
-
É que depois que removemos o chip de seu cérebro, todas as disfunções do
sistema nervoso dele foram curadas. Era o chip que o deixava naquele estado
lastimável!
-
Então está explicada a abdução e a tentativa de quererem pegá-lo novamente falei e continuei com minhas perguntas:
-
Mas, Kobauski, e as informações que os reptilianos, digamos assim, já
conseguiram? Creio que a maior parte já está com eles, não é?
-
Não, seu Lê, nossos amigos só sofreram a primeira abdução; seria na segunda
captura que eles pegariam os dados. Os chips foram apagados por nós. Eles usam
um sistema antiquado. Os nossos... – interrompi o Kobauski:
-
“Os nossos”? Então vocês usam o mesmo expediente? Vocês também fazem abdução?
- Fazíamos!
Paramos com isso há muito tempo, aqui na Terra! Preferimos os contatos do tipo
que fizemos com vocês. Nossas estruturas são semelhantes, ou seja, nossa cadeia
de DNA é a mesma, tanto é que o Etevaldo é meu filho com uma asiática
terrestre. Em seres inteligentes, de outras espécies, na maioria das vezes,
fazemos esses implantes. Porém, os nossos, com o tempo é absolvido pelo
organismo do abduzido. As informações nós conseguimos com uma espécie de “via
satélite” intergaláctico. Só fazemos abdução uma só vez.
-
Deu para entender- falei ao Kobauski.
-
Ieu tô meiu boianu, mais ieu preguntu: - quandu podemu vorta pru meu sítiu seu
Kobausqui?
-
Daqui a pouco eles serão trazidos para cá, faremos uma refeição e voltaremos
para seu cafofô, certo Nhô – respondeu pelo pai o Etevaldo.
-
Intão tá, intão, Etevardu, nóis vamu isperá –disse nosso preto velho.
-
Seu Lê, enquanto eles não chegarem, vamos dar uma volta no pomar, jardim e
horta montados com os vegetais que trouxemos da Terra – disse
Kobauski.
- Ótimo,
vamos sim! O que achas da ideia, Nhô?
-
Muintchu bão, patrão!
Passeamos por hora e meia (terráquea) e
a diferença entre os vegetais terrestres plantados aqui não tem como comparar;
parecem outros vegetais. São mais viscosos, maiores e de aparência superior.
-
Seu Lê, o Rick e o Stephen já estão lá em casa. O Etevaldo já me contatou.
Vamos voltar! Subam no flutuacar – meio que ordenou o alien amigo.
-
Ok! Vamos lá – respondi.
- Seu Kobausqui, aquilu qui pareci uma
melancia di pertu daquéias abobras giganti
é u que – perguntou o Nhô.
-
É melancia Nhô! Na refeição que faremos teremos dela para vocês provarem – respondeu o
pai do Etevaldo.
Alguns minutos depois, na varandona da
casa de Kobauski:
-
Sabe que carne é essa Nhô Antônio – perguntou o Kobauski.
-
Pareci pêxe mais é muntchu saborosu – respondeu o preto velho.
-
É surubim! E são de descendência dos do Rio do Peixe – disse o
Kobauski.
-
Muntchu bão! I a melancia é mais doci e mais vremeia du que as da Terra, mais
as sementi são du memou tamanhu – observou o Nhô.
-
Que bebida é esta Kobauski – perguntou o novíssimo Stephen.
-
É suco de graviola terrestre com arifli, uma fruta natural de nossa antiga
morada – respondeu o anfitrião.
-
Não dá para falar com o que parece, mas lembra do gostinho da graviola, mas é
diferente - completou o Stephen.
-
Pai, o portal foi liberado e temos que ir, apressemo-nos –
interferiu o Etevaldo.
-
Ok, ok! Vamos andando pessoal – falava-nos o Kobauski.
-
Como vamos lidar com os reptilianos que estão lá no Vale Virtualiano do Rio do Peixe – perguntei
a um dos amigos arretianos.
-
Não estão mais! Mandei uma tropa para expulsá-los do seu sistema solar. Através
dos chips, retirados dos nossos amigos, foi fácil localizar cada uma das sete
expedições deles na Terra. Podem ficar descansados.
Em algumas horas o portal entre as duas
pitangueiras se abre e, dele, saem todos os terráqueos e também o Etevaldo.
-
Ficarei aqui, pai! Retornarei após o carnaval com nossos amigos, conforme
combinado, ok!
-
Ok, meu filho! Trabalhe junto com Richard e Stephen nas pesquisas do ouro
monoatômico que Rick supõe existir abaixo da jazida de plutônio. Se for do teor
que o engenheiro me mostrou viremos buscar cada grama que essa grande jazida
produzir – disse Kobauski.
Dezessete horas e onze minutos depois no
sítio do Nhô:
-
Nhô, eu tenho que retornar ao sítio do meu filho Thiago agora. No carnaval retornarei para acompanhar a ida
da turma para a nova morada, ok!
-
Comu ieu semprei digu: ôce é qui sabi, Misifiu! É ingraçadu, pareci qui ôvi
arguem ti chamanu! É uma vozinha de muié mais paricida cum vóiz de minininha.
Vô lá na frenti oiá quem é! Tá bão seu Lê?
...
...
-
Lê! Ôôôôô... Lêêê, daí dessa espreguiçadeira e volte comigo para a cama! São
cinco e quinze da manhã. Venha, vamos aproveitar e dormir até as dez. Depois eu
vou fazer surubim frito, arroz de alho, salada de pepino e rabanetes. De
sobremesa, aquela melancia que o Thiago colheu para nós. Veja só que imensa –
falou com o pezinho direito, que calçava uma pantufa de pom pons, sobre a
enorme e rajada fruta esverdeada.
-
Tá certo, meu “pitéu”, afinal férias são para isso e... – fui
interrompido:
-
Olhe Lê, aquelas luzes que saíram de trás daquela serra? Elas de juntaram com a
maior que estava parada e só piscando alternativamente entre vermelho, verde e
amarela. Olhe, olhe... estão aumentando os brilhos e acererando... caramba,
desapareceram numa velocidade incrível!
- Parece
que eles foram embora, Rô. Acho que tem alguma raça superior nos protegendo! – falei.
Continua em:
Da TERRA
A ARRET
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