sábado, 16 de fevereiro de 2013

VIDA EM VIRTUÁLIA


ARRET
A NOVA MORADA

Da TERRA
A ARRET



                Onze horas de domingo, Rô me acorda com um chamego:
         - Levanta paixão, já preparei o café!  Sabe o que temos?
         Numa lenta e longa espreguiçada respondi:
         - Huááááááá... broa, queijo fresco, mel, mamão, melancia, ovos mexidos com ervas, suco de romã e café coado agorinha!
- Cruzes! Acertou tudo! Não vale, você estava fingindo que dormia e me viu preparando o desjejum! Pô Lê! Você se esconde para me ver fazendo as coisas desde o início de nosso namoro; já tem trinta e três anos! Você não enjoa não?
- Nunca vou enjoar! Mas desta vez eu sonhei com isso e só repeti o que vi no sonho, ah! Ah!Ah!
- Tá bom, tá bom, mas levanta e vamos tomar nosso café e quero que você escolha, no freezer, o surubim para o almoço. Depois você vai à horta e colhe uns pepinos e rabanetes, ok?
         - Ok, patroinha! Nossa como você está mandona hoje!
- Ah! Ah! Ah! Não reclama que eu sei que você gosta!

Duas horas da tarde e o almoço estava pronto: surubim frito arroz de alho, salada de alface, tomates,  pepinos e rabanetes; tudo regado a vinho tinto suave e água da mina.
Depois da sesta:
- Vamos andar pelo sítio, Lê, à tardinha está uma beleza – convidou-me a minha paixão.
- Claro! Vamos lá que à noite vamos assistir um clássico na sala de TV, ou melhor, dizendo, no cinema particular.
- Ótimo e já escolhi o filme: Vinhas da Ira! Lembra quando vimos esse filme?
- Lembro! Foi num cinema na Praça da Estação em Juiz de Fora. Como vou esquecer se depois tomamos uma chuva de molhar até os ossos e peguei uma gripe que me derrubou?

Os dez dias no sítio “voaram”. Renovamo-nos uns dez anos.
Na manhã do décimo dia:
- Ei vovô! Vovó Rô, nós chegamos – era Lorenzo e Enrico que vieram com os pais para passar o carnaval longe da baderna generalizada. Apenas de bermudas e tênis os nossos dois netinhos se soltaram sítio a fora.
- Pai, mãe, vocês estão com ótimas aparências – elogiou nos Thiago.
- É mesmo, Dona Rô, a senhora está com uma pele ótima - Brincou minha nora.
- Obrigado filhos, estes dez dias encheu-nos de novas energias – respondeu-lhes a Rô.
- Dona Rô e seu Lê, venham até à sala que vou lhes dar uns presentes – disse nossa nora.
Abri o meu pacote e era uma toalha vermelha, tamanho gigante, do meu time de futebol preferido. Eu adoro as letras entrelaçadas harmoniosamente do distintivo do meu Colorado.
- Olha Lê, que saída de praia bonita – alegre falava a Rô.
Agradecemos de coração e o meu filho me  perguntou:
- Pai, vocês precisam ir hoje para o Pará, sexta-feira? Vão na segunda-feira?
- Não podemos filho, já está tudo reservado com antecedência e com as promoções garantidas. E, talvez, depois vamos passar uma semana na fazenda do Amilton lá no Mato Grosso!
- Tá bom, tem mais é que aproveitar – conformado falou o Thiago.
- Vamos sair daqui há pouco. Vou deixar a caminhonete na pousada da tua prima lá em Queimados ela vai nos levar até o Galeão. Na volta pegaremos a caminhonete e retornaremos para Juiz de Fora.

Tudo aconteceu como planejado:
- Tio, tia Rô, boa viagem e divirtam-se lá em Salinas! Quando retornarem vocês ficarão uns dias lá na minha pousada; não adianta negar, pois vou tirar o rotor do distribuidor da GMC e só o devolverei, no mínimo, uma semana depois – disse-me a Kelly, mas com certeza dessa estadia não escaparemos.

Já abordo do jato a trinta e três pés de altura a Rô me disse:
- Não vai dormir ainda. Espere os serviços de bordo servir a refeição, ok?
Alguns minutos depois da frugal refeição, pedi à Rô, com tom de brincadeira:
- Posso “me desligar” desse mundo real agora, patroa?
Rô sorriu deu-me uma bicoca e falou:
- Pode! Ah! Ah! Ah! Eu também vou me desligar, mas vou mergulhar neste livro que achei no meio das tuas coisas, olhe?
Vi o nome na capa: O Décimo Segundo Planeta de Zacharias Setsing, e pensei:
- Que ótimo – pensei -, não vai demorar e ela irá comigo para Arret...
...

- Ingraçadu, seu Lê, num tinha ninguém lá fora chamanu ôce! Será qui a idadi tá mi fazenu ovi coisa, eh! Eh! Eh! Eh!
- Ah! Ah! – deve ser uma voz do outro mundo, Nhô, ah! Ah!
- Seu Lê, eu, o Etevaldo e o Stephen vamos até onde colhi as amostras de terra com traços de plutônio e ouro monoatômico, quer ir com a gente – perguntou-me o Rick.
- Claro que quero! Eu ainda não entendi o porquê de o seu pai não ter localizado esse ouro quando ele o andava procurando na região – falei cheio de dúvidas.

Meia hora depois, do outro lado da Serra Madre:
- Olhe seu Lê, essas marcas no chão e a vegetação queimada; foi aqui que os reptilianos aterrissaram – falou-me Etevaldo. Apontando aquele local escondido na mata fechada.
- Que barulho é este que faz esse teu aparelho, Etevaldo- perguntei-lhe.
- É um detector de ouro monoatômico. Preste atenção como ele emite dois sinais distintos, ou seja, um mais estridente, este é o do ouro; o outro mais fraco são os outros minerais. Veja essa luz amarela que pisca intermitentemente: é do plutônio.
- Então os outros aliens também procuram o mesmo mineral que vocês – perguntei ao Etevaldo.
- Talvez, mas é provável que procurassem  o plutônio, pois a propulsão das naves de reconhecimento deles, ainda, é antiquada e utilizam a radiação.
- Por favor, seu Lê, olhe aqui no visor do meu aparelho o porquê que meu pai não localizou este veio de ouro – me aproximei  e vi no visor, nitidamente, uma enorme barreira.
- Estou vendo, Etevaldo, mas não sei o que é!
- Eu explico, meu amigo – interrompeu o Rick – é uma enorme barreira natural de galena - mineral que contém grande percentual de chumbo.
- É isso mesmo!  Papai não havia trazido este aparelho, pois foi inventado depois que ele saiu à procura desse metal – concluiu o Etevaldo e continuou:
- A descoberta do Rick é viável de exploração, porém será bastante trabalhosa. Ela ficará aí como um estoque estratégico, ok?
- Você é quem sabe Etevaldo - falei e continuei o diálogo:
- Mas se ela é tão profunda como o Rick conseguiu essa amostra a céu aberto?
- É bem provável que antigamente, por aqui, passava um riacho que vinha do subterrâneo da Serra Madre. Temos que colher amostra do Ribeirão Limpo; talvez ele também traga traços desses minerais.
- Ok! Mas depois faremos isso, pois quero ir ver o Papy e a Mamy – falou o filho adotivo.
- Vamos então que não demorará anoitecer. Iremos na minha caminhonete. Se você não se importar em ir na carroceria, Etevaldo!
- Claro que não me importo; eu não caibo dentro da cabine mesmo!

Na sede do sítio do Nhô;
- Ôceis têm certeza qui num qué qui ieu perpari a janta? Num vai demorá nadica di nada – insistiu o Nhô.
- Não, meu amigo, o Etevaldo vai jantar com o Juliano e os Flores, eu, Rick e o Stephan vamos a Casa Dos Caldos. Tomaremos caldo e mataremos a saudade dos nossos amigos.

Em Virtuália, após deixar o aliem nos Flores; na Casa dos Caldos:
- E então, seu Lê, o que achou do caldo de peixe – perguntou-me o Biliato.
- Ótimo muito bom mesmo! Onde conseguistes piranha para fazer esta delícia – perguntei ao Bili.
- Comprei congelada de um fornecedor de fora do município.
- O ensopado de músculos bovino está “dos deuses”, Lezivo – falou o Richard.
- Vocês vieram para o carnaval, seu Lê – perguntou o Lezivo.
- Sim, vimos para ver o desfile de fantasias do Clube Comercial de Virtuália. Vamos ver se desta vez o Juliano leva o prêmio!
- Sei não, seu Lê, o Julho Baiano vendeu até o fusquinha para investir na fantasia dele. Dizem que o valor do prêmio é cem mil dinheiros – disse o Lezivo.
- Você sabe o tema da fantasia dele?
- Não, seu Lê, ninguém sabe desse segredo, mas a fantasia dele está sendo feita fora da cidade. O Julho está sumido já há mais de quarenta e cinco dias – disse o Lezivo.
- Então a parada vai ser boa! – falei e me ajeitando para sair.

De volta à casa dos Flores:
- Boa noite, seu Thomas, como tem passado – perguntei ao Zé das Flores.
- Eu estou ótimo, seu Lê! Vocês já jantaram?
- Já sim obrigado! Onde estão Ju, Beijo e Etevaldo?
- Estão lá no ateliê do Juliano, nos fundos do terreno – respondeu-me.
- Ok! Nós vamos até eles!

No galpão, que Juliano transformou em ateliê, estão: ele, Beijo e as filhas do Zé das Flores:
- Seu Lê, o desfile é depois de amanhã e como o Etevaldo veio nos visitar vou incluí-lo no mesmo.  Ele vai ser o principal na hora de minha apresentação. Desfilará com a roupa de astronauta com que ele chegou à Terra; de acordo com o meu tema, ele será o único meio - aliens a desfilar como um extraterrestre – entusiasmado falou o Juliano e eu não o desanimei.
- Se o tema é aquele que você disse anteriormente, tenho certeza que desta vez você ganha!
Passamos a noite no quarto de hóspede dos Flores e na manhã seguinte eu e o Rick voltamos para o sítio do Nhô. Lá chegando, por volta das nove horas:
- Ei, Nhô, cadê você? – gritei.
- Ieu to aqui na horta, misifiu; vim coiê umas verdura p’ru armoçu! Já deixei as traias di pescá na mesa da varanda. Podi i lá pegá i í pescá no Riu du Pêxe. Vô perpará a salada i u arrois i isperá ôceis trazê us pintadus p’rá nóis fritá, tá bão?
- Ok, Nhô! Então até! Lá pelo meio dia nós vamos trazer os peixes – falei e rumamos para pegar as tralhas e irmos pescar.
- Óia, si ôceis num pescá nada, ôceis num si preocupa não, viu! Tem frangu au môio pardu qui fiz prá janta di onti i sobrô muntchu, tá bão?
- Tá bom Nhô, tchau! – respondi e falei ao Rick:
- Dá vontade de nem ir pescar, pois o franco ao molho pardo do Nhô é irresistível!
- Mas o bom da pescaria é pescar, não é seu Lê – disse-me o Richard.
- Justamente Rick! Hoje vamos tirar o dia para o laser, mas amanhã, sábado,  vamos conferir tudo que está arrumado para a viagem. Depois,  à noite, teremos o desfile do Juliano e a família Flores, após o desfile, na manhã seguinte: - Rumo a Arret, ok?
- Estou ansioso, seu Lê – disse o Richard.
- Incrível, estamos há quase três horas aqui, nesta barranca do rio, e só pescamos três pintados – falei chateado ao meu amigo que respondeu:
- O Nhô quer que levemos pintados, não é? Pegamos mais de vinte peixes de até três quilos e soltamos. Não é norma do Nhô só tirarmos da água o peixe que estava planejado tirar?
- É isso mesmo, tens razão – respondi.
- Cada pintado desses tem, em média, mais de meio quilo e dá um para cada de nós, não é, Lê? Que tal limpá-los e irmos almoçar com o Nhô? Já é quase meio dia!
- Está certo Rick, vamos lá e, além do mais, tem lá o melhor frango ao molho pardo do universo nos esperando, ah! Ah! Ah!
Quarenta e cinco minutos depois na varanda da cozinha do Nhô:
- Tá prontu, seu Lê i Ricu! Vem cume! Inhantis vamu bibiricá uma pinguinha cum limão qui é uma cosa di doidio!
Depois do almoço ficamos proseando até à tardinha e todos os assuntos giravam em torno da viagem e, à noitinha, após jantarmos o indescritível frango ao molho pardo, fomos para Virtuália.
...

Virtuália, sábado de carnaval, vinte e duas horas, Praça Bispo – Cardeal  lotada e o prefeito pede a palavra no cento do palco armado:
- Senhoras e senhores, vamos dar início ao grande, digo, ao desfile de carnaval deste ano. Teremos somente dois participantes já que ninguém se atreveu a se inscrever, visto que, Julho Baiano e Juliano são imbatíveis. Senhores jurados vamos então ao primeiro a entrar na passarela – neste instante rufam os tambores e o prefeito prossegue:
- O primeiro a desfilar é o Juliano com seu conjunto de fantasias intitulado:
 “ Astronauta Juju e sua expedição de ETs”!
Entram no palco: Juliano vestido de astronauta todo rosa, Beijo e as irmãs, todos fantasiados de extraterrestres. A grande surpresa é Etevaldo vestido com sua roupa genuína de astronauta e comandante de uma esquadrilha de bolas douradas de Arret.
- Ohhhhhhhhh!... – foi a exclamação geral.
- Bah!  Tchê, que sujeito enorme e feio! De que querência veio esse vivente? – perplexo exclamava o Delfino Drew, o gaúcho.
Após a surpresa veio a repulsa e o Nhô comentou comigo:
- Tá venu seu Lê, com u povu jurga pela aparença? Si conhecesse o Etevardu saberia qui u qui iele tem di tamanhu i feiura tem em dobro de candura i curtura!
- É assim mesmo, Nhô! Imagina se soubessem que ele é realmente um aliem?
Quinze minutos depois:
- E agora o outro concorrente, Julho Baiano com a fantasia: O Rei das Selvas Civilizado – gritava o prefeito querendo impor uma voz de FM que ele não tinha.
Julho Baiano, que estava sumido de Virtuália há quarenta e cinco dias, entra vestindo um terno verde enorme, com camisa amarela e no pescoço, uma gravata feita de cipó importado da África. A roupa enorme para ele estava apertada, pois fizera o regime para engordar por conta do concurso de rei Momo que ele vencera há dois meses. O mesmo concurso que ele derrotou o Juliano. Julho estava com 208 kg e o Juliano não passou dos 98 quilos; o peso era o quesito maior para ser o rei do carnaval.
Uma hora depois de Julho ter saído da passarela, e com a enjoativa música eletrônica, veio o resultado:
- Este já está ganho! Essa de incluir o Etevaldo em cima da hora foi jogada de mestre, ah! Ah! Ah! – pensava o Juliano.
- Atenção, atenção! Que troem os tambores – disse o Jairo Edson e por vinte segundos os tambores rufaram e:
- O vencedor é o Rei das Selvas Civilizado!
Juliano soltou o capacete de astronauta, voltou ao palco e no microfone gritou:
- Eu protesto! Eeeeeeuuuu Protesssstoooo! A minha fantasia e o tema são bem superiores à simplicidade desse ... desse... gordão!
- Juju! Juju! Juju! – gritava a plateia e Jairo tira o microfone de Juliano:
- Calma senhores, muita calma! A explicação é a seguinte: No edital do concurso reza que os participantes têm que ser do município ou nele residir há, pelo menos,  dez anos. Essa criatura de dois metros e meio não é de Virtuália! De onde ele é Juliano – perguntou o prefeito.
Juliano abaixou a cabeça e desceu sem reação do palco. Não poderia falar que aquela criatura era o filho adotivo dele. Pior ainda, que era um extraterrestre verdadeiro.
- Vamos embora para casa Etevaldo e, rápido, senão esse povo vai fazer especulações e a coisa vai se complicar – falou Juliano puxando toda a família rumo ao cemitério.
- Nóis vai atrais deis, patrão – perguntou o Nhô.
- Claro que sim, vamos lá pessoal – Stephen, Rick, Nhô e eu rumamos para a casa dos Flores na GMC ’55.

Na casa do Zé das Flores:
- Pare de chorar o leite derramado, Juju, meu amor! – procurava consolar Beijo a sua paixão.
- Vamos embora desta cidade, deste planeta injusto, seu Lê! – choramingava Juliano.
- OK! São vinte e três horas e trinta minutos. Vamos colocar tudo que o Kobauski pediu na GMC e na Variant e encaminhamo - nos para o sítio do Nhô. Vamos levar primeiro as mudas, sementes e o Etevaldo. Depois, você volta Juliano na Variant para buscar a família do seu Zé das Flores – orientei o pessoal e, assim foi feito.

Domingo de carnaval, oito horas da manhã:
- Pronto! Já está tudo armazenado nas três bolas douradas. As pessoas estão todas prontas! Podemos partir agora, seu Lê - perguntou o chefe da expedição de êxodo, o Etevaldo.
- Sim, podemos – falei em seguida.
O portal sumiu de entre as pitangueiras após forte clarão e rumarmos para Arret.
E, como a duração de um relâmpago, as bolas chegaram e pairavam nos céus de Arret:
- Olhe só, seu Zé das Flores, como é bonito Arret – falou Juliano.
- É realmente não dá para explicar o que vejo – respondeu o Thomas.
- Vamos descer no complexo de laboratórios de pesquisas ao norte da capital – Biguecite. Vocês vão ficar o equivalente a dois dias terrestres, fazendo testes e se adaptando à nova morada. Exceto o seu Lê e o Nhô que voltarão à Terra assim que eles quiserem, ok?
Etevaldo tem como resposta um “ok” geral.

Assim foi feito e, na casa de Kobauski, horas depois:
- Seu Lê e Nhô, depois do almoço vamos ver os cientistas dando destinação às mudas e sementes que trouxemos. Vamos ver as residências que foram preparadas para os Flores, Rick, Juliano e Beijo. Vou mostrar-lhes uma, quase, réplica do sítio do Nhô Antônio para onde ele e o senhor ficarão hospedados quando vierem à Arret, ok?
- Ótimo!  Não achas Nhô – perguntei ao preto velho.
- Só venu prá crê, seu Lê, eh! Eh! Eh! Eh!

Á tardinha no cafofô aterriano do Nhô:
- Issu é dimais, seu Lê. É quaji iguazinhu ! Óia, tem inté a bica dágua qui vem di uma mina. Mais, a horta i u pomar pareci sê bem mais mió qui u lá di casa, eh! Eh! Eh! Eh!
- É Nhô, o Etavaldo está querendo que o senhor fique de vez por aqui – falei ao meu amigo em tom de brincadeira.
- Podi inté sê, seu Lê, mais as minhas lembrança e sodadi istão na minha Terra i é lá qui queru terminá us meus dia. Aqui só para passiá i, ansim memu, juntu cum u sinhô!
- Tá certo “véi”! Você tem razão!

Depois de nossos dois amigos, também, estarem nas suas residências, ficou combinado que todos os sábados arretianos eles se reuniriam na casa do Kobauski para troca de ideias. E, por sinal, aquele seria o primeiro sábado da reunião e, também, porque no domingo seguinte, eu e o Nhô seríamos trazidos de volta à Terra.
- Seu Lê, nós, digo, eu e os Flores, gostaríamos de pedir ao senhor para dar uma satisfação lá em Virtuália para o nosso sumiço nós... – interrompi o Juliano:
- Pode deixar que já está tudo acertado. Esqueceram que vocês entregaram seus cargos à prefeitura? Esquecem que trouxemos todos os seus pertences nas duas bolas douradas de cargas? – relembrei os duvidosos.
- É verdade - falou o Beijo.
- Tenho que falar uma coisa muito importante a todos – falou Kobauski.
- Fale, então! Do jeito que o senhor se expressou até fiquei com medo – agoniado disse Richard.
- A partir de quarta-feira que vem no calendário terráqueo, o sol daquele sistema solar estará entrando na fase final das grandes explosões que acontecem de onze em onze anos. Portanto, não poderemos fazer nossas viagens por, pelo menos, até findar esse período. Talvez leve no máximo, mais um ano terrestre. Apesar de nossas espaçonaves estarem livres dos perigos das ondas eletromagnéticas do seu Sol, não vamos arriscar, certo seu Lê? Entenderam, pessoal?
Todos me olharam e só eu falei:
- Está certo, Kobauski! Quando vocês tiverem certeza da segurança, entre em contato conosco. Mas como farão isso?
- Enviaremos um mensageiro através do portal – disse Kobauski.
- Neste período de um ano, seu Lê, muitas coisas vão acontecer em Arret. Vamos preparar uma expedição para um outro sistema solar onde tem , segundo nossos estudos, um planeta quase igual a Terra. Vamos prepará-lo para quando nossa antiga morada entrar em rota de colisão com sua Terra vocês já estarão habitando lá; pelo menos os escolhidos pelos nossos líderes – disse o Kobauski.
- Então já entendi o porquê de você trazer a família Flores, o Juliano, Stephen e Richard para cá: eles já são os primeiros escolhidos, não é?
- Ok, seu Lê, é isso mesmo. Com eles vamos iniciar a formação de uma nova civilização. Lá nessa nova Terra já tem, presumimos um povo pré-histórico semelhante aos terráqueos ou á nós os arretianos. Teremos que fazer o mesmo que  fizeram na sua Terra!
- Eu e o Nhô, isto é, se tivermos vivos até lá, poderemos acompanhar?
- É lógico que estarão vivos e poderão nos acompanhar, porém, não intervirão em nada, ok?
- Ok, Kobauski! Vai ser uma aventura e tanto!
- Eh! Eh! Eh! O negu véi aqui já tá prontu pressa impeleitada!

Arret, madrugada de domingo. O primeiro sol já está há duas horas arreteanas no céu dando àquele universo uma penumbra, como se fosse um pré-amanhecer terrestre:
- Podemos dar ignição, comandante?
- Só um instante, imediato Yauski! Seu Lê, Nhô, estão preparados?
- Sim – respondi.
- Ieu já to todU amarradu, Kobausqui – respondeu o Nhô.
- Pode dar a partida! Em pouco tempo estaremos no seu sítio Nhô! – disse o Kobauski.

Instantes depois, por volta das dezessete horas, eu e o Nhô, já estávamos na varanda do sítio:
- Podi inté sê bão lá nu mundu du  Etevardu, mai ieu num troco essi meu cafofu pur nada, seu Lê!
- Tens razão “véi”, eu também não! Vamos sentir saudades dos nossos amigos, não é Nhô?
- É memu, mai u tempu passa dipressa é só u sinhô querê, não é? Eh! Eh! Eh!Eh!
- Passa mesmo Nhô e eu tenho que voltar para curtir meus dias de férias com a patroinha. Na semana santa eu venho te visitar e rever, também, os outros amigos que ficaram em Virtuália!
- Tá bão intão, patrão e, ieu, vô aproveitá i dá uma discansada pruque essas vindas du outro mundu mi dêxa arrebentadu. Ingraçadu é qui quandu ieu vô daqui prá lá num sintu nenhuma cancêra. Linhais, lá em Arret, ieu mi sintu mais jóvi!
- É o ar de lá, a água, tudo lá parece melhor que nosso poluído planeta Terra, Nhô!
- É verdadi... é verdadi! Ôce qué jantá inhantis di í simbora, misifiu?
- Não Nhô, eu só vou colocar água no radiador da “vermelhona” e acelerar, ok?
- Tá bão intão, misifiu, boa viaji i ieu ti aguardu na sumana santa, viu?
- Certo, pode esperar, eu virei!
...
- Tio Lê e  tia Rô, que bom que estão aqui! Quando a senhora me telefonou eu dei até pulos de alegria. Venham no meu carro, vamos para a minha pousada – disse-nos minha sobrinha Kelly no estacionamento do aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro e continuou perguntando:
- Vocês não iam para o Mato Grosso, na fazenda do tal amigo?
- Não Kelly, quase nos esquecemos que vamos ser padrinhos de casamento da Ana Paula. Ela se casa depois de amanhã à tarde. Ela já nos telefonou apavorada. Temos que pegar a GMC e sair, o mais tardar, amanhã bem cedo – disse - lhe a Rô.
- Mas pode contar conosco na semana santa; vamos ficar na tua pousada uma semana, ok? –falei a querida sobrinha.
- Então tá, então! Vamos lá para casa que deixei o Ronaldo acendendo a churrasqueira. Lembra-se daqueles amigos seu e do meu marido? Montaram uma dupla sertaneja e estão lá e vão cantar até tarde para a gente!
- “Ô trem bão, sô!” O Ronaldo sempre às voltas com a música sertaneja, não e Kelly – disse-lhe.
- Ele é tão bom marido que eu acabei gostando desse tipo de música, tio! Vamos lá?
- Ok! Vamos lá, então -  respondemos em duo, eu e a Rô.
  
Continua em:
OS TRÊS PASTORES

Um comentário:

  1. Para entender este texto tu tens que ir lá no início dos textos. Com o passar da leitura dos primeiros textos é que irás entender -
    cronologicamente -,este e os outros, até o final, ok?
    Se quiseres contatos eis meu e-mail:
    lecinof@gmail.com

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