sábado, 23 de fevereiro de 2013

COISAS DAS VIDAS






Gertrudes, NUNCA MAIS A ESQUECEREI!
    Quando eu era garoto e morava em Cambuí-MG, num dos natais, eu e minhas irmãs tínhamos ganhado um pintinho de poucos dias de nascido. Cuidamos dele como nosso bichinho de estimação – o que o era na verdade.  Em pouco tempo virou uma enorme galinha que passou a ser chamada de Gertrudes.
            Na véspera da páscoa seguinte, bem cedo, a Gegê - como carinhosamente a apelidamos -, sumiu e nós rodamos os arredores da casa, bairro e a procuramos, enfim, até tarde da noite e, nada:
            - Alguém deve de ter “roubado ela”; ela tava muito gorda e dava uma boa panelada – disse meu rústico pai sem olhar para nós.
            No domingo de páscoa, bem cedo, antes de o sol sair completamente, eu e minhas duas irmãzinhas saímos para continuar a procurá-la e só aparecemos em casa na hora exata do almoço de domingo de páscoa. Meu pai tinha convidado um casal sem filhos, amigo dele e colega de serviço, para almoçar com a gente:
            - Olha Pino – só ele me chamava assim, nunca soube e nem perguntava o por quê -, o Brás trouxe costelas de boi assadas e um frango frito todo destrinchado. Venham logo almoçar que hoje é especial. Vamos logo: - Todos à mesa!
           Foi o melhor almoço de páscoa, que eu me lembro, do tempo de criança, pois carne e, principalmente, frango era só no natal e “ói” lá.
          Passado algumas semanas demos por perdida a Gertrudes e meus pais admitiram, por incrível que pareça, que adotássemos um gatinho vira-latas da última cria da gata de dona Cotinha, nossa vizinha e, não demorou muito, esquecemos a Gegê.
        Alguns anos atrás, quando meu pai ainda era vivo, e conversávamos sobre o “miserê” da época em que ele era “peão de trecho” – como costumamos chamar quem trabalha em construção de estradas -, num dos almoços em que nós todos nos reuníamos:
         - Sabe, Lê aquela páscoa lá em Cambuí em que o Brás tinha trazido costelas bovina assadas e um frango frito - perguntou-me papai.
         - Claro que me lembro “seu Nerso”! Nunca vou me esquecer daquelas costelas e principalmente do frango frito. Lembra que o senhor se zangou comigo porque eu tava chupando até os ossinhos?
           - Nem eu me esqueço, pai – disse minha irmã mais velha.
        - Pois é meus filhos, o Brás tinha levado só as costelas, o frango era a Gertrudes!
            Sem brincadeira, eu estava com a boca cheia e uma coxa de galinha na mão e a larguei na hora e corri para o banheiro, antes das minhas irmãs.

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