Gertrudes, NUNCA
MAIS A ESQUECEREI!
Quando eu era garoto e morava em
Cambuí-MG, num dos natais, eu e minhas irmãs tínhamos ganhado um pintinho de
poucos dias de nascido. Cuidamos dele como nosso bichinho de estimação – o que
o era na verdade. Em pouco tempo virou
uma enorme galinha que passou a ser chamada de Gertrudes.
Na
véspera da páscoa seguinte, bem cedo, a Gegê - como carinhosamente a apelidamos
-, sumiu e nós rodamos os arredores da casa, bairro e a procuramos, enfim, até
tarde da noite e, nada:
- Alguém deve de ter “roubado ela”; ela tava
muito gorda e dava uma boa panelada – disse meu rústico pai sem olhar para
nós.
No
domingo de páscoa, bem cedo, antes de o sol sair completamente, eu e minhas
duas irmãzinhas saímos para continuar a procurá-la e só aparecemos em casa na
hora exata do almoço de domingo de páscoa. Meu pai tinha convidado um casal sem
filhos, amigo dele e colega de serviço, para almoçar com a gente:
- Olha Pino – só ele me chamava assim,
nunca soube e nem perguntava o por quê -, o
Brás trouxe costelas de boi assadas e um frango frito todo destrinchado. Venham
logo almoçar que hoje é especial. Vamos logo: - Todos à mesa!
Foi o
melhor almoço de páscoa, que eu me lembro, do tempo de criança, pois carne e, principalmente,
frango era só no natal e “ói” lá.
Passado
algumas semanas demos por perdida a Gertrudes e meus pais admitiram, por
incrível que pareça, que adotássemos um gatinho vira-latas da última cria da
gata de dona Cotinha, nossa vizinha e, não demorou muito, esquecemos a Gegê.
Alguns
anos atrás, quando meu pai ainda era vivo, e conversávamos sobre o “miserê” da
época em que ele era “peão de trecho” – como costumamos chamar quem trabalha em
construção de estradas -, num dos almoços em que nós todos nos reuníamos:
- Sabe, Lê aquela páscoa lá em Cambuí em que
o Brás tinha trazido costelas bovina assadas e um frango frito - perguntou-me
papai.
- Claro que me lembro “seu Nerso”! Nunca vou
me esquecer daquelas costelas e principalmente do frango frito. Lembra que o
senhor se zangou comigo porque eu tava chupando até os ossinhos?
- Nem eu me esqueço, pai – disse minha
irmã mais velha.
- Pois é meus filhos, o Brás tinha levado só
as costelas, o frango era a Gertrudes!
Sem
brincadeira, eu estava com a boca cheia e uma coxa de galinha na mão e a
larguei na hora e corri para o banheiro, antes das minhas irmãs.
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