ARRET
A NOVA MORADA
Da TERRA
A ARRET
Onze horas de domingo, Rô me acorda com um
chamego:
- Levanta paixão, já preparei o café! Sabe o que temos?
Numa lenta e longa
espreguiçada respondi:
- Huááááááá... broa, queijo
fresco, mel, mamão, melancia, ovos mexidos com ervas, suco de romã e café coado
agorinha!
-
Cruzes! Acertou tudo! Não vale, você estava fingindo que dormia e me viu
preparando o desjejum! Pô Lê! Você se esconde para me ver fazendo as coisas
desde o início de nosso namoro; já tem trinta e três anos! Você não enjoa não?
- Nunca
vou enjoar! Mas desta vez eu sonhei com isso e só repeti o que vi no sonho, ah!
Ah!Ah!
- Tá
bom, tá bom, mas levanta e vamos tomar nosso café e quero que você escolha, no
freezer, o surubim para o almoço. Depois você vai à horta e colhe uns pepinos e
rabanetes, ok?
- Ok, patroinha! Nossa como você está mandona hoje!
- Ah!
Ah! Ah! Não reclama que eu sei que você gosta!
Duas horas da tarde e o almoço estava pronto:
surubim frito arroz de alho, salada de alface, tomates, pepinos e rabanetes; tudo regado a vinho tinto
suave e água da mina.
Depois da sesta:
- Vamos
andar pelo sítio, Lê, à tardinha está uma beleza – convidou-me a minha paixão.
-
Claro! Vamos lá que à noite vamos assistir um clássico na sala de TV, ou
melhor, dizendo, no cinema particular.
- Ótimo
e já escolhi o filme: Vinhas da Ira! Lembra quando vimos esse filme?
-
Lembro! Foi num cinema na Praça da Estação em Juiz de Fora. Como vou esquecer
se depois tomamos uma chuva de molhar até os ossos e peguei uma gripe que me
derrubou?
Os dez dias no sítio “voaram”. Renovamo-nos
uns dez anos.
Na manhã do décimo dia:
- Ei
vovô! Vovó Rô, nós chegamos – era Lorenzo e Enrico que vieram com os pais
para passar o carnaval longe da baderna generalizada. Apenas de bermudas e
tênis os nossos dois netinhos se soltaram sítio a fora.
- Pai,
mãe, vocês estão com ótimas aparências – elogiou nos Thiago.
- É
mesmo, Dona Rô, a senhora está com uma pele ótima - Brincou minha nora.
-
Obrigado filhos, estes dez dias encheu-nos de novas energias – respondeu-lhes a Rô.
- Dona
Rô e seu Lê, venham até à sala que vou lhes dar uns presentes – disse nossa nora.
Abri o meu pacote e era uma toalha vermelha,
tamanho gigante, do meu time de futebol preferido. Eu adoro as letras
entrelaçadas harmoniosamente do distintivo do meu Colorado.
- Olha
Lê, que saída de praia bonita – alegre falava a Rô.
Agradecemos de coração e o meu filho me perguntou:
- Pai,
vocês precisam ir hoje para o Pará, sexta-feira? Vão na segunda-feira?
- Não podemos
filho, já está tudo reservado com antecedência e com as promoções garantidas.
E, talvez, depois vamos passar uma semana na fazenda do Amilton lá no Mato
Grosso!
- Tá
bom, tem mais é que aproveitar – conformado falou o Thiago.
- Vamos
sair daqui há pouco. Vou deixar a caminhonete na pousada da tua prima lá em
Queimados ela vai nos levar até o Galeão. Na volta pegaremos a caminhonete e
retornaremos para Juiz de Fora.
Tudo aconteceu como planejado:
- Tio,
tia Rô, boa viagem e divirtam-se lá em Salinas! Quando retornarem vocês ficarão
uns dias lá na minha pousada; não adianta negar, pois vou tirar o rotor do
distribuidor da GMC e só o devolverei, no mínimo, uma semana depois – disse-me a Kelly, mas com
certeza dessa estadia não escaparemos.
Já abordo do jato a trinta e três pés de
altura a Rô me disse:
- Não
vai dormir ainda. Espere os serviços de bordo servir a refeição, ok?
Alguns minutos depois da frugal refeição, pedi
à Rô, com tom de brincadeira:
- Posso
“me desligar” desse mundo real agora, patroa?
Rô sorriu deu-me uma bicoca e falou:
- Pode!
Ah! Ah! Ah! Eu também vou me desligar, mas vou mergulhar neste livro que achei
no meio das tuas coisas, olhe?
Vi o nome na capa: O Décimo Segundo Planeta de
Zacharias Setsing, e pensei:
- Que ótimo
–
pensei -, não vai demorar e ela irá
comigo para Arret...
...
-
Ingraçadu, seu Lê, num tinha ninguém lá fora chamanu ôce! Será qui a idadi tá
mi fazenu ovi coisa, eh! Eh! Eh! Eh!
- Ah!
Ah! – deve ser uma voz do outro mundo, Nhô, ah! Ah!
- Seu
Lê, eu, o Etevaldo e o Stephen vamos até onde colhi as amostras de terra com
traços de plutônio e ouro monoatômico, quer ir com a gente – perguntou-me o Rick.
- Claro
que quero! Eu ainda não entendi o porquê de o seu pai não ter localizado esse
ouro quando ele o andava procurando na região – falei cheio de dúvidas.
Meia hora depois, do outro lado da Serra
Madre:
- Olhe
seu Lê, essas marcas no chão e a vegetação queimada; foi aqui que os
reptilianos aterrissaram – falou-me Etevaldo. Apontando aquele local escondido na mata
fechada.
- Que
barulho é este que faz esse teu aparelho, Etevaldo- perguntei-lhe.
- É um
detector de ouro monoatômico. Preste atenção como ele emite dois sinais
distintos, ou seja, um mais estridente, este é o do ouro; o outro mais fraco
são os outros minerais. Veja essa luz amarela que pisca intermitentemente: é do
plutônio.
- Então
os outros aliens também procuram o mesmo mineral que vocês – perguntei ao Etevaldo.
-
Talvez, mas é provável que procurassem o
plutônio, pois a propulsão das naves de reconhecimento deles, ainda, é antiquada
e utilizam a radiação.
- Por
favor, seu Lê, olhe aqui no visor do meu aparelho o porquê que meu pai não
localizou este veio de ouro – me aproximei e vi no
visor, nitidamente, uma enorme barreira.
- Estou
vendo, Etevaldo, mas não sei o que é!
- Eu
explico, meu amigo – interrompeu o Rick – é
uma enorme barreira natural de galena - mineral que contém grande percentual de
chumbo.
- É
isso mesmo! Papai não havia trazido este
aparelho, pois foi inventado depois que ele saiu à procura desse metal – concluiu o Etevaldo e
continuou:
- A
descoberta do Rick é viável de exploração, porém será bastante trabalhosa. Ela
ficará aí como um estoque estratégico, ok?
- Você
é quem sabe Etevaldo - falei e continuei o diálogo:
- Mas
se ela é tão profunda como o Rick conseguiu essa amostra a céu aberto?
- É bem
provável que antigamente, por aqui, passava um riacho que vinha do subterrâneo
da Serra Madre. Temos que colher amostra do Ribeirão Limpo; talvez ele também
traga traços desses minerais.
- Ok!
Mas depois faremos isso, pois quero ir ver o Papy e a Mamy – falou o filho adotivo.
- Vamos
então que não demorará anoitecer. Iremos na minha caminhonete. Se você não se
importar em ir na carroceria, Etevaldo!
- Claro
que não me importo; eu não caibo dentro da cabine mesmo!
Na sede do sítio do Nhô;
- Ôceis
têm certeza qui num qué qui ieu perpari a janta? Num vai demorá nadica di nada – insistiu o Nhô.
- Não,
meu amigo, o Etevaldo vai jantar com o Juliano e os Flores, eu, Rick e o
Stephan vamos a Casa Dos Caldos. Tomaremos caldo e mataremos a saudade dos
nossos amigos.
Em Virtuália, após deixar o aliem nos Flores;
na Casa dos Caldos:
- E então,
seu Lê, o que achou do caldo de peixe – perguntou-me o Biliato.
- Ótimo
muito bom mesmo! Onde conseguistes piranha para fazer esta delícia – perguntei ao Bili.
-
Comprei congelada de um fornecedor de fora do município.
- O
ensopado de músculos bovino está “dos deuses”, Lezivo – falou o Richard.
- Vocês
vieram para o carnaval, seu Lê – perguntou o Lezivo.
- Sim,
vimos para ver o desfile de fantasias do Clube Comercial de Virtuália. Vamos
ver se desta vez o Juliano leva o prêmio!
- Sei
não, seu Lê, o Julho Baiano vendeu até o fusquinha para investir na fantasia
dele. Dizem que o valor do prêmio é cem mil dinheiros – disse o Lezivo.
- Você
sabe o tema da fantasia dele?
- Não,
seu Lê, ninguém sabe desse segredo, mas a fantasia dele está sendo feita fora
da cidade. O Julho está sumido já há mais de quarenta e cinco dias – disse o Lezivo.
- Então
a parada vai ser boa! – falei e me ajeitando para sair.
De volta à casa dos Flores:
- Boa
noite, seu Thomas, como tem passado – perguntei ao Zé das Flores.
- Eu
estou ótimo, seu Lê! Vocês já jantaram?
- Já
sim obrigado! Onde estão Ju, Beijo e Etevaldo?
- Estão
lá no ateliê do Juliano, nos fundos do terreno – respondeu-me.
- Ok!
Nós vamos até eles!
No galpão, que Juliano transformou em ateliê,
estão: ele, Beijo e as filhas do Zé das Flores:
- Seu
Lê, o desfile é depois de amanhã e como o Etevaldo veio nos visitar vou
incluí-lo no mesmo. Ele vai ser o
principal na hora de minha apresentação. Desfilará com a roupa de astronauta
com que ele chegou à Terra; de acordo com o meu tema, ele será o único meio -
aliens a desfilar como um extraterrestre – entusiasmado falou o Juliano e eu não o desanimei.
- Se o
tema é aquele que você disse anteriormente, tenho certeza que desta vez você
ganha!
Passamos a noite no quarto de hóspede dos
Flores e na manhã seguinte eu e o Rick voltamos para o sítio do Nhô. Lá
chegando, por volta das nove horas:
- Ei,
Nhô, cadê você? – gritei.
- Ieu
to aqui na horta, misifiu; vim coiê umas verdura p’ru armoçu! Já deixei as
traias di pescá na mesa da varanda. Podi i lá pegá i í pescá no Riu du Pêxe. Vô
perpará a salada i u arrois i isperá ôceis trazê us pintadus p’rá nóis fritá,
tá bão?
- Ok, Nhô!
Então até! Lá pelo meio dia nós vamos trazer os peixes – falei e rumamos para
pegar as tralhas e irmos pescar.
- Óia,
si ôceis num pescá nada, ôceis num si preocupa não, viu! Tem frangu au môio
pardu qui fiz prá janta di onti i sobrô muntchu, tá bão?
- Tá
bom Nhô, tchau! – respondi e falei ao Rick:
- Dá
vontade de nem ir pescar, pois o franco ao molho pardo do Nhô é irresistível!
- Mas o
bom da pescaria é pescar, não é seu Lê – disse-me o Richard.
-
Justamente Rick! Hoje vamos tirar o dia para o laser, mas amanhã, sábado, vamos conferir tudo que está arrumado para a
viagem. Depois, à noite, teremos o
desfile do Juliano e a família Flores, após o desfile, na manhã seguinte: -
Rumo a Arret, ok?
- Estou
ansioso, seu Lê – disse o Richard.
-
Incrível, estamos há quase três horas aqui, nesta barranca do rio, e só
pescamos três pintados – falei chateado ao meu amigo que respondeu:
- O Nhô
quer que levemos pintados, não é? Pegamos mais de vinte peixes de até três
quilos e soltamos. Não é norma do Nhô só tirarmos da água o peixe que estava
planejado tirar?
- É
isso mesmo, tens razão – respondi.
- Cada
pintado desses tem, em média, mais de meio quilo e dá um para cada de nós, não é,
Lê? Que tal limpá-los e irmos almoçar com o Nhô? Já é quase meio dia!
- Está
certo Rick, vamos lá e, além do mais, tem lá o melhor frango ao molho pardo do
universo nos esperando, ah! Ah! Ah!
Quarenta e cinco minutos depois na varanda da
cozinha do Nhô:
- Tá
prontu, seu Lê i Ricu! Vem cume! Inhantis vamu bibiricá uma pinguinha cum
limão qui é uma cosa di doidio!
Depois do almoço ficamos proseando até à
tardinha e todos os assuntos giravam em torno da viagem e, à noitinha, após
jantarmos o indescritível frango ao molho pardo, fomos para Virtuália.
...
Virtuália, sábado de carnaval, vinte e duas
horas, Praça Bispo – Cardeal lotada e o
prefeito pede a palavra no cento do palco armado:
-
Senhoras e senhores, vamos dar início ao grande, digo, ao desfile de carnaval
deste ano. Teremos somente dois participantes já que ninguém se atreveu a se
inscrever, visto que, Julho Baiano e Juliano são imbatíveis. Senhores jurados
vamos então ao primeiro a entrar na passarela – neste instante rufam os
tambores e o prefeito prossegue:
- O
primeiro a desfilar é o Juliano com seu conjunto de fantasias intitulado:
“ Astronauta Juju e sua expedição de ETs”!
Entram no palco: Juliano vestido de astronauta
todo rosa, Beijo e as irmãs, todos fantasiados de extraterrestres. A grande
surpresa é Etevaldo vestido com sua roupa genuína de astronauta e comandante de
uma esquadrilha de bolas douradas de Arret.
-
Ohhhhhhhhh!... – foi a exclamação geral.
-
Bah! Tchê, que sujeito enorme e feio! De
que querência veio esse vivente? – perplexo exclamava o Delfino Drew, o
gaúcho.
Após a surpresa veio a repulsa e o Nhô
comentou comigo:
- Tá
venu seu Lê, com u povu jurga pela aparença? Si conhecesse o Etevardu saberia
qui u qui iele tem di tamanhu i feiura tem em dobro de candura i curtura!
- É
assim mesmo, Nhô! Imagina se soubessem que ele é realmente um aliem?
Quinze minutos depois:
- E
agora o outro concorrente, Julho Baiano com a fantasia: O Rei das Selvas
Civilizado – gritava o prefeito querendo impor uma voz de FM que ele não
tinha.
Julho Baiano, que estava sumido de Virtuália
há quarenta e cinco dias, entra vestindo um terno verde enorme, com camisa
amarela e no pescoço, uma gravata feita de cipó importado da África. A roupa
enorme para ele estava apertada, pois fizera o regime para engordar por conta
do concurso de rei Momo que ele vencera há dois meses. O mesmo concurso que ele
derrotou o Juliano. Julho estava com 208 kg e o Juliano não passou dos 98
quilos; o peso era o quesito maior para ser o rei do carnaval.
Uma hora depois de Julho ter saído da
passarela, e com a enjoativa música eletrônica, veio o resultado:
- Este
já está ganho! Essa de incluir o Etevaldo em cima da hora foi jogada de mestre,
ah! Ah! Ah! – pensava o Juliano.
-
Atenção, atenção! Que troem os tambores – disse o Jairo Edson e por vinte segundos os
tambores rufaram e:
- O
vencedor é o Rei das Selvas Civilizado!
Juliano soltou o capacete de astronauta,
voltou ao palco e no microfone gritou:
- Eu
protesto! Eeeeeeuuuu Protesssstoooo! A minha fantasia e o tema são bem superiores à
simplicidade desse ... desse... gordão!
- Juju!
Juju! Juju! – gritava a plateia e Jairo tira o microfone de Juliano:
- Calma
senhores, muita calma! A explicação é a seguinte: No edital do concurso reza que os participantes têm que ser do
município ou nele residir há, pelo menos, dez anos. Essa criatura de dois metros e meio
não é de Virtuália! De onde ele é Juliano – perguntou o prefeito.
Juliano abaixou a cabeça e desceu sem reação
do palco. Não poderia falar que aquela criatura era o filho adotivo dele. Pior
ainda, que era um extraterrestre verdadeiro.
- Vamos
embora para casa Etevaldo e, rápido, senão esse povo vai fazer especulações e a
coisa vai se complicar – falou Juliano puxando toda a família rumo ao cemitério.
- Nóis
vai atrais deis, patrão – perguntou o Nhô.
- Claro
que sim, vamos lá pessoal – Stephen, Rick, Nhô e eu rumamos para a casa dos Flores na GMC
’55.
Na casa do Zé das Flores:
- Pare
de chorar o leite derramado, Juju, meu amor! – procurava consolar Beijo a
sua paixão.
- Vamos
embora desta cidade, deste planeta injusto, seu Lê! – choramingava Juliano.
- OK!
São vinte e três horas e trinta minutos. Vamos colocar tudo que o Kobauski
pediu na GMC e na Variant e encaminhamo - nos para o sítio do Nhô. Vamos levar
primeiro as mudas, sementes e o Etevaldo. Depois, você volta Juliano na Variant
para buscar a família do seu Zé das Flores – orientei o pessoal e, assim foi feito.
Domingo de carnaval, oito horas da manhã:
-
Pronto! Já está tudo armazenado nas três bolas douradas. As pessoas estão todas
prontas! Podemos partir agora, seu Lê - perguntou o chefe da expedição de êxodo, o
Etevaldo.
- Sim,
podemos – falei em seguida.
O portal sumiu de entre as pitangueiras após
forte clarão e rumarmos para Arret.
E, como a duração de um relâmpago, as bolas
chegaram e pairavam nos céus de Arret:
- Olhe
só, seu Zé das Flores, como é bonito Arret – falou Juliano.
- É
realmente não dá para explicar o que vejo – respondeu o Thomas.
- Vamos
descer no complexo de laboratórios de pesquisas ao norte da capital –
Biguecite. Vocês vão ficar o equivalente a dois dias terrestres, fazendo testes
e se adaptando à nova morada. Exceto o seu Lê e o Nhô que voltarão à Terra
assim que eles quiserem, ok?
Etevaldo tem como resposta um “ok” geral.
Assim foi feito e, na casa de Kobauski, horas
depois:
- Seu
Lê e Nhô, depois do almoço vamos ver os cientistas dando destinação às mudas e
sementes que trouxemos. Vamos ver as residências que foram preparadas para os
Flores, Rick, Juliano e Beijo. Vou mostrar-lhes uma, quase, réplica do sítio do
Nhô Antônio para onde ele e o senhor ficarão hospedados quando vierem à Arret,
ok?
- Ótimo! Não achas Nhô – perguntei ao preto velho.
- Só
venu prá crê, seu Lê, eh! Eh! Eh! Eh!
Á tardinha no cafofô aterriano do Nhô:
- Issu
é dimais, seu Lê. É quaji iguazinhu ! Óia, tem inté a bica dágua qui vem di uma
mina. Mais, a horta i u pomar pareci sê bem mais mió qui u lá di casa, eh! Eh!
Eh! Eh!
- É
Nhô, o Etavaldo está querendo que o senhor fique de vez por aqui – falei ao meu amigo em tom
de brincadeira.
- Podi
inté sê, seu Lê, mais as minhas lembrança e sodadi istão na minha Terra i é lá qui
queru terminá us meus dia. Aqui só para passiá i, ansim memu, juntu cum u
sinhô!
- Tá
certo “véi”! Você tem razão!
Depois de nossos dois amigos, também, estarem
nas suas residências, ficou combinado que todos os sábados arretianos eles se
reuniriam na casa do Kobauski para troca de ideias. E, por sinal, aquele seria
o primeiro sábado da reunião e, também, porque no domingo seguinte, eu e o Nhô
seríamos trazidos de volta à Terra.
- Seu
Lê, nós, digo, eu e os Flores, gostaríamos de pedir ao senhor para dar uma
satisfação lá em Virtuália para o nosso sumiço nós... – interrompi o Juliano:
- Pode
deixar que já está tudo acertado. Esqueceram que vocês entregaram seus cargos à
prefeitura? Esquecem que trouxemos todos os seus pertences nas duas bolas
douradas de cargas? – relembrei os duvidosos.
- É
verdade - falou o Beijo.
- Tenho
que falar uma coisa muito importante a todos – falou Kobauski.
- Fale,
então! Do jeito que o senhor se expressou até fiquei com medo – agoniado disse Richard.
- A
partir de quarta-feira que vem no calendário terráqueo, o sol daquele sistema
solar estará entrando na fase final das grandes explosões que acontecem de onze
em onze anos. Portanto, não poderemos fazer nossas viagens por, pelo menos, até
findar esse período. Talvez leve no máximo, mais um ano terrestre. Apesar de
nossas espaçonaves estarem livres dos perigos das ondas eletromagnéticas do seu
Sol, não vamos arriscar, certo seu Lê? Entenderam, pessoal?
Todos me olharam e só eu falei:
- Está
certo, Kobauski! Quando vocês tiverem certeza da segurança, entre em contato
conosco. Mas como farão isso?
-
Enviaremos um mensageiro através do portal – disse Kobauski.
- Neste
período de um ano, seu Lê, muitas coisas vão acontecer em Arret. Vamos preparar
uma expedição para um outro sistema solar onde tem , segundo nossos estudos, um
planeta quase igual a Terra. Vamos prepará-lo para quando nossa antiga morada
entrar em rota de colisão com sua Terra vocês já estarão habitando lá; pelo
menos os escolhidos pelos nossos líderes – disse o Kobauski.
- Então
já entendi o porquê de você trazer a família Flores, o Juliano, Stephen e
Richard para cá: eles já são os primeiros escolhidos, não é?
- Ok,
seu Lê, é isso mesmo. Com eles vamos iniciar a formação de uma nova
civilização. Lá nessa nova Terra já tem, presumimos um povo pré-histórico
semelhante aos terráqueos ou á nós os arretianos. Teremos que fazer o mesmo que
fizeram na sua Terra!
- Eu e
o Nhô, isto é, se tivermos vivos até lá, poderemos acompanhar?
- É
lógico que estarão vivos e poderão nos acompanhar, porém, não intervirão em
nada, ok?
- Ok,
Kobauski! Vai ser uma aventura e tanto!
- Eh!
Eh! Eh! O negu véi aqui já tá prontu pressa impeleitada!
Arret, madrugada de domingo. O primeiro sol já
está há duas horas arreteanas no céu dando àquele universo uma penumbra, como
se fosse um pré-amanhecer terrestre:
-
Podemos dar ignição, comandante?
- Só um
instante, imediato Yauski! Seu Lê, Nhô, estão preparados?
- Sim – respondi.
- Ieu
já to todU amarradu, Kobausqui – respondeu o Nhô.
- Pode
dar a partida! Em pouco tempo estaremos no seu sítio Nhô! – disse o Kobauski.
Instantes depois, por volta das dezessete
horas, eu e o Nhô, já estávamos na varanda do sítio:
- Podi
inté sê bão lá nu mundu du Etevardu, mai
ieu num troco essi meu cafofu pur nada, seu Lê!
- Tens
razão “véi”, eu também não! Vamos sentir saudades dos nossos amigos, não é Nhô?
- É
memu, mai u tempu passa dipressa é só u sinhô querê, não é? Eh! Eh! Eh!Eh!
- Passa
mesmo Nhô e eu tenho que voltar para curtir meus dias de férias com a
patroinha. Na semana santa eu venho te visitar e rever, também, os outros
amigos que ficaram em Virtuália!
- Tá
bão intão, patrão e, ieu, vô aproveitá i dá uma discansada pruque essas vindas
du outro mundu mi dêxa arrebentadu. Ingraçadu é qui quandu ieu vô daqui prá lá
num sintu nenhuma cancêra. Linhais, lá em Arret, ieu mi sintu mais jóvi!
- É o
ar de lá, a água, tudo lá parece melhor que nosso poluído planeta Terra, Nhô!
- É
verdadi... é verdadi! Ôce qué jantá inhantis di í simbora, misifiu?
- Não
Nhô, eu só vou colocar água no radiador da “vermelhona” e acelerar, ok?
- Tá
bão intão, misifiu, boa viaji i ieu ti aguardu na sumana santa, viu?
-
Certo, pode esperar, eu virei!
...
- Tio Lê
e tia Rô, que bom que estão aqui! Quando
a senhora me telefonou eu dei até pulos de alegria. Venham no meu carro, vamos
para a minha pousada – disse-nos minha sobrinha Kelly no estacionamento do aeroporto do
Galeão no Rio de Janeiro e continuou perguntando:
- Vocês
não iam para o Mato Grosso, na fazenda do tal amigo?
- Não
Kelly, quase nos esquecemos que vamos ser padrinhos de casamento da Ana Paula.
Ela se casa depois de amanhã à tarde. Ela já nos telefonou apavorada. Temos que
pegar a GMC e sair, o mais tardar, amanhã bem cedo – disse - lhe a Rô.
- Mas
pode contar conosco na semana santa; vamos ficar na tua pousada uma semana, ok?
–falei
a querida sobrinha.
- Então
tá, então! Vamos lá para casa que deixei o Ronaldo acendendo a churrasqueira. Lembra-se
daqueles amigos seu e do meu marido? Montaram uma dupla sertaneja e estão lá e
vão cantar até tarde para a gente!
- “Ô
trem bão, sô!” O Ronaldo sempre às voltas com a música sertaneja, não e Kelly – disse-lhe.
- Ele é
tão bom marido que eu acabei gostando desse tipo de música, tio! Vamos lá?
- Ok!
Vamos lá, então - respondemos em duo, eu e a
Rô.
Continua em:
OS TRÊS PASTORES