ARRET
A NOVA MORADA
Elemento
KBKI
- É ruim de você ir sozinho, hein!
- Eu vou, não é Lê – perguntou-me com as mãozinhas na cintura e um olhar dardejante.
- Claro que vai, Pitéu! Está decidido!
- “E tem como ser ao contrário” – perguntei a mim mesmo, em pensamento.
Quando começou a cair os primeiros pingos de chuva, entramos no portal, na nave-mãe-mestre e dentro dela nos instalamos numa nave de serviço de exploração de solo. A Rô acomodou-se numa cadeira enorme flutuante, porém assim que ela sentou a cadeira amoldou-se no formato para o seu tamanho. Como ela estava irradiante com todas aquelas novidades!
- Seu Lê, coloque a mão direita neste visor da mesa em frente a sua cadeira – instrui-me o major. Kobauski, que também estava na nave, só observava.
- Esta parte eu já sei, Major. Esta nave tem o mesmo sistema da nave menor que já pilotei antes – a Rô me olhou com certa interrogação na cabeça, mas não falou nada, naquela hora.
- Agora pense no local onde está a cratera lá no parque de Virtuália, seu Lê – disse o major.
- Pensei – falei.
- Chegamos – disse o major.
A cratera apareceu no visor enorme que se projetou na parede da nave, em nossa frente:
- Olhem, seu Lê e dona Rô, um robô camuflado vai entrar pela cratera e trazer o meteorito. Portanto, o robô fará toda a operação na invisibilidade e retornará, do buraco, invisível para quem estiver por ali, mas o meteorito não. Se alguém, por ventura, estiver ali perto, vai ver o meteorito saindo da cratera flutuando em direção a nossa nave camuflada e, tão logo entre nesta, também, ficará camuflado, ou seja, parecerá que sumiu no ar.
- Já sei! O indivíduo vai ter uma história fantástica para contar, ah! Ah! Ah - brinquei.
- Olhe Lê, o robô já está saindo e... – falou a Rô...
... - e está levantando uma pedra de trinta e um quilos e trinta e um gramas, seu Lê – disse o Comandante.
- Como sabe o peso exato, Kobauski – perguntei.
Ele apontou para a tela projetada e nela apareceu tudo o que se poderia saber sobre o meteorito, ou seja, peso exato, tamanho e qual era a sua composição. Ele tem exatamente sessenta por cento de KBKI, micro partículas de diamante, dez porcento de Irídio; cinco porcento de Ósmio; cinco porcento de Platina, porém não tem água em seu interior como o meteorito que caiu em Serra Madre.
- Caramba, Comandante, o robô já analisou a pedra? E o que é melhor: Todas as informações na tela já estão em minha língua!
- Era tudo que precisávamos! Mais dezoito quilos e trinta e um gramas de KBKI. Vamos deixar vocês no portal e iremos para Arret – disse o Kobauski.
- Não se esqueça Comandante, que o Nhô vai estar nos esperando com o estoque de Produtos Nhô – lembrou a todos a Rô.
-Bem lembrado, “co-pilota Rô” – falei orgulhoso de minha patroinha.
- Obrigado, dona Rô, o entusiasmo da descoberta de KBKI fez-me esquecer deste detalhe.
- Comandante, diga-me uma coisa, por favor!
- Pode falar, seu Lê!
- O que é KBKI? Algum elemento químico que não consta na tabela periódica da Terra? Ou existe e vocês colocaram outra denominação?
- Não existe na tabela periódica de Mendeleev seu Lê e, tão pouco, entrou na composição geológica deste planeta e em nenhum outro deste sistema solar. É raríssimo em todo o universo, até onde o conhecemos, é claro! Até hoje só o encontramos em meteoritos deste tipo. São resquícios da maior estrela que se tem notícia, e que se possa imaginar, que explodiu nos primórdios deste universo físico aos nossos olhos. Estudos recentes, feitos por nossos cientistas, nos leva a crer que todos os astros de hoje se originou dela.
- Peraí...peraí, peraê! Seria essa grande explosão a mesma que nossas teorias chamam de Big Bang?
- Talvez, seu Lê, quem pode garantir? Há grandes possibilidades de que possa vir a ser – respondeu-me o Comandante, pensativo.
- Mas, por que é tão raríssimo Comandante? Por que os cientistas da Terra ainda não o descobriram, pelo menos em cálculos?
- Por existir em pouquíssima quantidade, seu Lê, e por ser, talvez, um dos componentes do núcleo da “big-star” ou surgido com a desintegração dela. Foi há muito tempo e é só neste espaço - tempo, em que estamos, ele apareceu. E vai demorar muito para os cientistas da Terra chegarem aos cálculos que comprovem a existência dele em teoria, porém só vão descobri-lo de fato quando encontrarem um desses meteoritos que, por enquanto, só foram encontrados aqui em Hy-Brazil mais precisamente, no Vale Virtualiano do Rio do Peixe.
- Quer dizer: - Nesta fresta de tempo – espaço, não é Kobauski – perguntou a Rô.
“- Que é isso, gente! Essa minha patroinha me surpreende cada vez mais” – pensei comigo.
- Ótimo! Que bom que vocês entenderam. Esta tua pergunta diz tudo Dona Rô – respondeu o Kobauski.
- Mas, porque o nome KBKI, Comandante – perguntei.
- Foi uma homenagem prestada a quem encontrou, pela primeira vez, uma pequena rocha que continha cem gramas desse metal em um planeta solitário e errante, ou seja, que não orbita na gravidade de nenhuma estrela - disse Etevaldo antecipando a resposta do pai.
- Ih! Ih! Ih! Matei a charada – disse a Rô e todos nós olhamos para ela que, mais uma vez, demonstrou sua esperteza:
- São as consoantes do nome do Comandante mais a vogal “i”, ih! Ih! Ih!
- É isso mesmo Dona Rô! É uma homenagem ao meu pai – disse o Etevaldo.
No Portal das Pitangueiras, logo depois que a chuva caíra,
o Nhô, realmente, estava esperando com a GMC lotada de derivados de java-porco. O Kobauski, como não queria perder tempo, trouxe em um palete flutuante quase quinhentos quilos de bosda congelada e outro vazio para levar os Produtos Nhô e disse:
- Afaste-se Nhô, vou passar seus produtos para o palete vazio e colocar a bosda na caçamba da GMC!
Dito e feito. O transporte foi feito em fração de segundos e o Nhô falou:
- Eh! Eh! Eh! Vamu fazê uns cincu mir litru di Flô da Bosda. Vô levá essas fruta congelada lá prô frôzi da indústra avuanu. Us funçonaru ainda tão lá mi esperanu. Inté mais prôceis Kobauski, Etevardu i Tenenti. Inté mais seu Lê i dona Rô!
Assim que o Nhô rumou para a indústria:
- Seu Lê, o código para abrir o portal já foi passado para o seu chip cerebral. É só chegar aqui perto das pitangueiras e pensar na palavra “POHDIPÔ” que ele abrirá e vice-versa, porém só funcionará se a Dona Rô estiver junto, OK?
- Ótimo, Comandante, o Lê não vai me deixar de fora das viagens nem que eu queira, ih! Ih! Ih! – riu debochadamente a Rô.
Kobauski continuou a falar:
- O major Karpinski vai ficar com vocês até nossa volta de Arret, porém ele ficará alojado na nave, OK? Sugiro que treinem bastante, pois ele só ficará aqui por três dias terrestres, tempo em que retornaremos para rumarmos para Terra-II. Vocês irão junto, mas pilotando sua própria nave, OK?
- OK, Comandante – falei.
- Agora, vamos para Arret! Até breve seu Lê e Dona Rô! Major Karpinsky, fique à disposição dos dois e até daqui a três dias terrestres.
- OK, Comandante Kobauski, até lá – disse o major.
O Kobauski entrou no portal e nos vimos o espetáculo que é ver uma nave daquele porte adentrar-se em um wormhole e desaparecer num “piscar de olhos”. O major então falou:
- Dona Rô e seu Lê, amanhã cedo os espero na nave do outro lado do portal, OK?
- OK, Karpinsky, boa noite e até amanhã – ele atravessou o portal e este se fechou.
- Vamos descendo para nosso cafofo, Pitéu?
- Sim e sem pressa. Passaremos antes lá na Xerê, OK? Vamos apreciando este caminho que nos leva até ao sítio do Nhô. O crepúsculo aqui neste paraíso é simplesmente divino.
- Tá certo! Vamos ver se deu tudo certo com a bosda congelada.
- Com certeza deu, Lê, e você sempre diz: “se está aos cuidados do Nhô, sempre dá certo”, não é?
- É isso mesmo, Pitéu, dê-me tua mão! Vamos namorando!
- Ah! Lê, eu acho que aqui é o paraíso. Pelo menos era o que eu sempre sonhava.
- Talvez seja, Rô, talvez nossos sonhos nos leve ao paraíso sonhado algum dia!
Continua em 01/11/2013 em:
Uma Nave chamada LAÍ
Uma Nave chamada LAÍ